1. Quando você se "descobriu" como escritora?

Eu posso dizer que desde criança? Eu colecionava folhas em branco antes de ser alfabetizada com a certeza de que elas me seriam úteis para algum objetivo, eu ia precisar delas. Contava histórias as outras crianças quando não sabia escrever e depois que aprendi, não parei. Foi um processo longo até decidir publicar pela primeira vez. Mas posso dizer que escrever sempre esteve em meu DNA.

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2. Como você constrói seus personagens?

Surge a idéia da história. Vem num flash e vai tomando conta da minha cabeça. Eu sempre procuro construir personagens o mais próximo da realidade. Vejo as coisas, os fatos  e as pessoas no mundo. São a minha inspiração. Na minha concepção e para as minhas histórias, quero pessoas de verdade vivendo situações que podem ser verdadeiras. Nem inteiramente boas, nem inteiramente más. Conheço Helenas, Mayas, Geges, Rafaels, Armandos. Não recrimino personagens inteiramente fantasiosos - longe de mim. Cada um tem seu estilo. Esse é o meu. 

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3. Esperava todo sucesso e repercussão de Apartamento 52?

A gente sonha, mas sempre fiquei receosa de esperar demais. Sou extremamente autorcritca e isso as vezes atrapalha. Tinha a esperança de que as pessoas lessem e confesso que contrariei algumas previsões - de ninguém próximo - de que não daria certo. De que tinha muito personagem (É um condomino, não é mesmo?), de que era real demais, etc.   Fico muito feliz de receber, por exemplo, depoimentos que dão esperança para alguém que está numa situação parecida com a Helena, ou o Rafael. 

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4. Como lida com as críticas maldosas?

Já recebi e posso dizer, já fui vitima. Porque esse tipo de critica tem o objetivo de destruir você e o que você representa, o que você escreve. Sinto muita raiva - não sou de ferro - porque isso é maldade. É diferente da pessoa não gostar e pontuar. Normalmente quem não gosta, fala olha não gostei, não é meu estilo. A critica perversa vai ponto a ponto destruindo o outro. Reajo com raiva do que ela representa para o escritor, para o ser humano. De resto descarto, porque a critica maldosa pra mim diferentemente da critica autentica - é lixo. 

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5. Qual a personagem que escreveu que considera que tenha passado mais veracidade?.

Difícil. Sempre busco a maior proximidade com a verdade, então posso dizer que todos eles guardam veracidade. Todos tem. Mas posso dizer que o mais difícil de construir foi Rafael, por ser um homem trans e esse não é meu lugar de fala. Por isso, pedi a ajuda a uma amigo que é um homem trans e foi a vivência dele que eu trouxe para o livro. 

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6. Que conselhos daria para quem quer começar a escrever?

Perseverança, força e foco. Muita gente vai dizer não faça. As vezes são até serão cruéis. Mas não desista. Veja as plataformas que melhor se adaptam a seu estilo e siga em frente. Escreva. Não desista.

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7. Tem alguma característica que considere um traço marcante na sua escrita?.

Não consigo desvincular o que escrevo dos problemas sociais, de questões serias que vivemos, no âmbito, econômico, político e social. Essa é a minha pegada. Não conseguiria escrever por exemplo, o romance pelo romance - nada contra quem faça. Cada um tem seu estilo e nenhum é mais importante que o outro. Mas, eu escrevo assim. 

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8. Quem você admira como escritora?

Tem muita gente boa. De fora do Brasil: Virginia Wolf, Audre Lord. Aqui:  Kárina Dias, Diedra Roiz, Marina Poterclis, Adriana P. Silva. Tem autoras que não publicaram livros pela Amazon, mas eu curto muito a Van Rodrigues, Emiliane Hott a Sabrina Miranda, escreve no Lettera. Cada uma no seu estilo

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9. O que você gosta de fazer nas horas vagas?.

Tenho pouquissímo tempo livre. Mas, ficar com minha mulher, Lucélia. Assistir filme, ler,  Tomar agua de coco na praia, Caminhar no parque - adoro a natureza - agora nem posso por causa da pandemia. Mas basicamente é isso. 

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10. Tem alguma obra que considere o livro da sua vida? Porquê?

Todo livro tem seu lugar e sua importância claro. Mas, escrevi um livro, ainda sem nome, em 2012. A personagem inclusive aparece um pouquinho em Apartamento 52 - a Celina, melhor amiga de Helena- esse livro mexe muito comigo. Ele depois de escrito ficou guardado esses anos todos. Estou revendo ele aos poucos. Tem 95% de mim e por ter tanto de mim, acho que ele é o livro da minha vida. Até o fim de 2021 colocarei ele no mundo. 

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11. Se puder responder diga se tem algo novo a caminho e o tema.

Tenho varias historias. Cabeça não para. Tenho um livro com o título provisório de: Rosa Amarela, é um romance de época. Tenho o spinoff de Angela e o livro de Celina, que falei antes. 

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12. O que te deixa mais feliz e mais triste no mundo literário?.

O que me deixa mais feliz é saber que as pessoas estão lendo meu livro. Receber o feedback e algumas amizades que venho construindo por causa da literatura. O que me deixa mais triste é presenciar tanta vaidade e discriminação, principalmente com os novos. Ninguém é melhor porque tem um livro publicado. Ninguém deixa de ser bom porque não publicou ainda. É um desserviço falar do outro que escreve. Já sofremos tanto com discriminação, pra que isso aqui? Discriminar porque está começando, ou porque isso ou aquilo. Todo mundo pode conquistar seu publico e seu espaço.

Fim do capítulo