Sweet Sixteen - pt. 1
14 de outubro de 2017 - Festa de aniversário da Rowan
Andar pelo aeroporto para alguém que aparece na TV já é uma tarefa difícil, agora imagine se você ainda estiver toda arrumada para uma festa de dezesseis anos? Isso mesmo, chuva de flashes por todos os lados. Tentei ser basiquinha, mas acho que esse não é bem meu forte. Como sabia que precisaria descer já arrumada do avião, escolhi o vestido mais simples que fui capaz, longo e sem estampas. As costas nuas, o tecido de cetim vermelho e o salto agulha de quinze centímetros eram meros detalhes.
Além do namorado de Rowan, eu era a única da série que iria à sua festa. Parte do pessoal estava ocupado com alguns compromissos da emissora, enquanto a outra parte estava atolada em projetos pessoais. Não que eu fosse muito diferente. Poucas horas antes de meu voo, precisei gravar uma participação musical em um late show e o dia anterior tinha sido completamente preenchido com as gravações de uma série de comerciais temáticos para a Disney.
Rowan tinha conseguido ser liberada de ir para Phoenix cedo no dia anterior, afinal era seu aniversário e tinha que lidar com as preparações da festa. Eu queria muito tê-la acompanhado. Mas como viram, seria impossível com minha agenda lotada. Precisei pegar o voo mais próximo do fim de minha gravação do late show, horário que já estaria em cima do início da festa. Fiz várias contas matemáticas para garantir que não chegaria muito tarde na festa e fiz quase o impossível com a velocidade que me arrumei. Todo planejamento foi por água abaixo quando meu voo atrasou por mais de uma hora. Passei a maquiagem no banheiro do aeroporto, ao invés de passar no avião como planejado e precisei comer um lanche para aguentar a fome. Quando finalmente pousei em Phoenix a festa já havia começado há duas horas e meu celular já estava cheio de "cadês você" enviados por Rowan e por todos seus parentes que me conheciam.
A festa era na cobertura de um prédio comercial no centro da cidade. Subi o elevador ansiosa, brincava com as juntas dos dedos enquanto encarava os números no pequeno painel de LED aumentarem. Assim que a porta se abriu dei de cara com uma tia-avó de Rowan, da qual mal lembrava o nome, porém que se lembrava muito bem de mim. A velha me deu um abraço longo e apertado, depois se ofereceu para guardar minha bolsa em um lugar seguro, já que ela parecia pesada e não combinava nada com meu vestido. Aceitei na mesma hora e logo me vi livre para procurar a garota pelo salão.
O lugar era enorme e não poderia estar mais cheio. De tantas as vezes que visitei a casa de seus avós na cidade, nada me indicaria que a Rowan conhecia tantas pessoas ali. Andei devagar por entre as mesas, acenando para uma pessoa ou outra que sabia quem era, enquanto meus olhos vasculharam o lugar à procura da morena.
Vaguei sem rumo por um tempo até que a avistei. Meus olhos brilharam e minha respiração pesou quando encontrei sua imagem. Ela estava de costas, mas nunca a confundiria com ninguém. Vestia um longo vestido off-shoulder preto, colado até a cintura e com uma saia rodada cheia de camadas. Só precisei assisti-la dançar para levar minha mente longe. Me imaginei chegando por suas costas e plantando vagarosos beijos, que iam da extremidade de seu ombro até a altura de sua nuca, minha mão passaria por sua cintura até chegar a sua barriga e a puxaria para mais perto de mim, a pressionando contra meu corpo, enquanto isso, a outra subiria até seus cabelos, afastando-os e garantindo que não entrassem no caminho de meus beijos.
Me aproximei sem prestar nenhuma atenção a meu redor, como se tudo que existisse naquele mar de gente fosse Rowan, só saí do transe quando sua mãe apontou para mim a fazendo virar-se de supetão. Ela saiu correndo e me apertou forte ao me alcançar. Fiquei sem reação no início, mas logo comecei a dar pulinhos junto a ela.
- Você veio, você veio, você veio!
- Eu vim, eu vim, eu viiim! - entoei com a mesma empolgação que ela usava.
- Pensei que você não iria conseguir chegar... - disse me soltando, depois pegando minhas mãos e balançando-as de um lado para o outro enquanto falava. - Estou tão feliz que conseguiu!
- Eu te disse, não perderia sua festa por nada - abri-lhe um sorriso e olhei-a nos olhos. Após minha fala, e um curto momento de silêncio, minha atenção se voltou a seu novo corte de cabelo, um long bob reto na altura dos ombros, que acentuou ainda mais sua beleza.
- Gostou? - perguntou parecendo ansiosa pela minha resposta.
- Amei - falei quase num sussurro sem conseguir tirar meus olhos dela. - O Mike vai te matar - comentei me obrigando a voltar a realidade.
- Tô nem aí - balançou os ombros com um sorriso travesso no rosto e me puxou em direção a pista de dança.
Assim que atingimos o centro da pista, uma música lenta começou a tocar e todos à nossa volta se dividiram em pares. Não vi outra solução que não fosse estender a mão e chamá-la para dançar comigo. Ela soltou alguns risinhos tímidos, mas logo enroscou-se em meu pescoço, enquanto aproveitei para pousar minhas mãos na curva de suas costas.
Meu coração teimava em não se comportar e, com nossos corpos colados, eu temia que ela pudesse sentir o quão forte ele batia.
E, mais uma vez, nada existia. Só eu, ela e aquela música melosa que se tornaria minha favorita pelos próximos meses. Era incapaz de tirar os olhos dos seus e, por algum motivo, ela também não parecia querer desviá-los. O toque de sua pele em minha nuca fazia toda aquela região se arrepiar. A cada segundo que se passava, parecia que nossos rostos se aproximavam mais, até o ponto em que nossas testas se encostaram e nossas pálpebras se fecharam. Ficamos assim por um bom tempo, balançando para lá e pra cá lentamente, sem nem mesmo nos importar muito com o ritmo da música. Eu não me lembrava de nenhum momento da minha vida que fui mais feliz. Não queria nunca mais ter que sair de seus braços.
Mesmo depois da música lenta cessar e dar lugar a uma mais agitada, meus braços continuavam ao redor de Rowan, ela já havia afastado o rosto e soltado meu pescoço, mas eu não me movi um centímetro para longe. Meus olhos contemplavam sua bela face. Meu coração ainda batia rápido. Tudo que eu conseguia pensar era em como eu queria aquela garota para mim, para sempre.
- Brini? - me chamou.
A soltei rapidamente e comecei a dançar a nova música desajeitadamente o que a fez cair na gargalhada. Acompanhei sua risada e peguei uma de suas mãos para fazê-la se balançar freneticamente comigo. Pouco depois ouvimos vozes gritando seu nome de não muito longe. Quando voltamos nossas atenções para onde a chamavam, vimos três de suas amigas rodearem Curran, que parecia não ter chegado há muito tempo, e gesticularem para que Rowan se aproximasse. Apesar de querer ignorá-lo, acenei discretamente para o garoto quando nossos olhos se encontraram.
- Vamos? - perguntou Rowan já tentando me puxar em tal direção.
- Não, agora não - respondi firmando os pés onde estava e me desvencilhando de sua mão. - Eu vou pegar algo para beber, já já me junto a vocês.
Com essas palavras dei-lhe as costas e fui na direção contrária, à procura de um lugar mais calmo, onde pudesse ficar sozinha.
Encontrei o lugar onde sua família guardava seus pertences pessoais, que por consequência era onde sua tia havia guardado minha bolsa. Peguei meu maço de cigarros e isqueiro e saí pela porta de vidro, que avistei assim que entrei no cômodo. A porta dava na sacada do prédio e parecia ser a única que chegava ali sem estar trancada.
Me apoiei no guarda-corpo e acendi meu primeiro cigarro. O céu estava claro naquela noite e a lua, mesmo minguante, estava linda. Tragava vagarosamente enquanto me perdia em meus pensamentos. Imaginava todo um futuro em que teria a Rowan ao meu lado. Imaginava passear com ela de mãos dadas, imaginava meus lábios tocando nos seus, sempre que quisesse, imaginava piadas ruins e brincadeiras sem graça e... Curran apareceu em minha mente. Foi um choque de realidade que eu precisava ter. Não era comigo que ela teria essas coisas, não era comigo que ela queria estar e eu tinha que aceitar isso. Por mais que doesse eu devia parar de me apegar a pequenas coisinhas, sinais imaginários que me davam esperanças que as coisas poderiam mudar. Eu tinha que aceitar a realidade.
Nem sei por quanto tempo fiquei ali, nem quantos cigarros havia fumado, só percebi que estava longe há tempos quando ouvi a porta abrir.
- Hey... - ouvi a voz doce de Rowan dizer atrás de mim. O tom que usava me fez arrepiar e o cheiro de seu perfume se aproximando de mim, quase sobrepondo a fumaça do cigarro, me encheu de uma urgência em respirar fundo para senti-la - O que faz aqui?
Sorri discretamente e me virei uns poucos graus, apenas o suficiente para avistá-la de relance se recostando no portal, e depois levantei minha mão para que ela pudesse ver o cigarro.
- Isso já percebi - disse após um riso soprado, tão baixo quanto a voz. - Quero saber porque veio fumar.
Dei de ombros em resposta e tornei minha atenção para o céu novamente:
- Não sei. Só senti vontade de um cigarro.
- Mas você só fuma quando alguma coisa te incomoda... - soava preocupada, me fazendo querer melhorar minhas feições para animá-la, mas não conseguindo fazê-lo. - O que está acontecendo, bae? - completou e em seguida deu alguns passos em minha direção.
- Nada está acontecendo - retruquei, ainda não olhando em sua direção e dando mais um trago demorado no fumo. - Acho que só estou cansada do dia corrido.
- Deus, você não sabe nem mentir… - me desacreditou, parando ao meu lado e balançando a cabeça da esquerda para direita. - Por favor, me fala o que é - se apoiou no corrimão e encostou o braço no meu.
Seu toque leve e quente me fez virar o rosto para encará-la. Assim que meus olhos encontraram os dela esqueci tudo que ia dizer. Todas as mentirinhas, todas as desculpas, qualquer palavra que eu pudesse usar para fazer-lá ignorar o assunto, sumiram. Mergulhar naqueles olhos, naqueles lindos, lindos olhos me levava para outro estado de espírito. O jeito que a luz da lua iluminava sua pele a fazia, se é que isso era possível, ficar ainda mais bonita. Toda a situação me impedia de pensar claramente. Era impossível ser racional. Não sabia o que deveria ser dito, só sabia o que eu queria fazer.
-Bae? - me chamou depois que passei alguns bons segundos deslumbrada com sua visão.
- Não é... - balbuciei. - Quer dizer... - soltei alguns segundos após a primeira frase. - É só que... - tentei mais uma vez porém me frustrei novamente por não conseguir completar o raciocínio.
- É só que o que?
- É só que nada - concluí desviando o olhar e levando o cigarro novamente a meus lábios.
Antes do fumo chegar ao seu destino, sua mão quente encontrou a minha e num movimento fugaz o cigarro já estava indo de encontro a sua boca ao invés da minha.
- O que você está fazendo? - questionei, enquanto a assistia encher as bochechas e logo em seguida soltar a fumaça, sem nem ao menos tragá-la.
- Fumando, igual você - revidou de maneira desafiadora, fazendo sua melhor cara de má.
Ri alto de sua pose.
- O que foi?
- Você sabe que não é assim que faz né? - perguntei afirmando, num tom de zombaria.
- Então como é, ein?
- Primeiro, você precisa segurar a fumaça dentro da boca por um tempo, segundo você tem que respirar um pouco da fumaça, senão não surte efeito nenhum.
- Eu já sabia - colocou o cigarro na boca de novo, dessa vez tentando cautelosamente seguir minhas instruções. Porém, no exato momento em que pareceu tentar mandar a fumaça para dentro, desencadeou uma crise de tosse que me fez rir ainda mais. - Para de rir! Sua ridícula! - reclamou indignada assim que se recuperou.
- Me dá isso aqui, você é nova demais para fumar - ordenei, tentando tomá-lo de sua mão, mas ela rapidamente ergueu-o o mais alto que conseguia.
- Você fala como se você fosse muito mais velha do que eu quando começou com isso.
- Não é porque eu comecei a fazer merd* cedo, que você deva também - falei com certa dificuldade, quase me pendurando em seu braço na tentativa de alcançar sua mão. Meu salto, um tanto mais alto que o dela, facilitava um pouco a missão, mas minha pouca altura continuava a ser uma desvantagem. - Agora me devolve isso logo - meu corpo estava muito perto do seu enquanto me esticava tudo o que conseguia. Quando estava prestes a alcançá-lo, seus dedos o deixaram escapar, derrubando-o há treze andar do solo. Desviei o olhar para acompanhá-lo e relaxei de minha posição.
Pude sentir seus olhos fitarem meu rosto. Tinha várias piadinhas em mente, mas assim que encontrei suas feições elas desapareceram. Rowan me olhava seriamente, sem nada dizer. Desci os braços, saí da ponta dos pés e, em um impulso incontrolável, deixei a destra subir em direção a seu rosto. Acariciei-a com as costas da mesma, de forma lenta, sentindo cada curva de sua face. Uma vez que minha mão a tocou, a garota fechou os olhos e, de modo que pareceu instintivo, a senti inclinar-se para facilitar meu toque.
Abri a mão e deixei meu polegar fazer o caminho do contorno de seu rosto até a boca, onde deixei o dígito passar levemente, tentando não me perder na maciez que encontrei. Seus olhos continuaram fechados por um tempo, até abri-los para encarar o fundo dos meus. Um nó se criou em minha garganta e enquanto nos encarávamos senti as palavras preencherem minha boca e "eu te amos" vagarem por minha mente.
- Rowan... - suspirei.
- Sim?
- Eu te... eu... - respirei fundo. Não conseguiria dizer. Não com tal facilidade. Mas também não conseguiria me controlar.
Fechei os olhos e guiei o rosto em sua direção, já antecipando que a rejeição acontecesse, quando senti seus lábios macios nos meus. Uma sensação indescritível invadiu o meu ser enquanto o mundo à minha volta desaparecia mais uma vez. Deslizei a mão até sua nuca e a pressionei levemente, a trazendo para mais perto. Senti seus lábios me darem entrada e deixei com que nossas línguas se tocassem. Nos movimentamos devagar e a senti ficar cada vez mais aberta a meu toque.
Eu não pensava em nada. Não precisava. Aliás, de que servem pensamentos complexos quando se está no paraíso?
Fim do capítulo
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