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                                 PARTE III - FINAL

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     Os dias correram, minha pressão havia normalizado totalmente, não precisei tomar uma medicação continuada, o que muito me animou, e quando saiu o resultado de todos os exames, confesso que estranhei,  não deu nenhum tipo de alteração no organismo, e, também não havia ingerido nenhuma droga, só me restou respirar aliviada, e sem nada mais a fazer minha vida seguiu, na escola tudo calmo, na universidade...bom na universidade as investidas de Nina tornara-se mais discretas e espaçadas, acreditei que ela tinha desistido de mim, e de certa forma até forçava uma amizade que não tinha como existir, Giuliano continuou com suas teorias conspiratórias e sempre que podia estava por perto, ele não dava brecha a Nina, se ela quisesse me cantar, ou algo do tipo seria na frente dele, isso dificultou bastante sua vida.

    Estava esperando ansiosa na sala, Fleur estava no quarto se arrumando para dar a sua primeira aula na universidade e queria fazer surpresa quanto ao figurino, quando saiu usava uma bata branca com matizes de vermelho na ponta, além de calça jeans e mocassins, estava linda, realmente linda.

  - E então meu amor?.

  - Nossa, desse jeito os alunos nem vão conseguir prestar atenção na matéria...

  - Boba...vamos amor quero chegar cedo para me mostrar o campus, estou tão animada, nem acredito que vou dar aula onde me formei, aliás, nem estou acreditando que passei amor...

  - Se eu soubesse que ia fazer a prova eu tinha ido assistir a banca.

  - Tá vendo, por isso que não falei, eu ia ficar nervosa, gaguejar, por isso pedi para Alice não te contar nada, quando ela me ligou para dar o resultado estava arrumando minhas coisas para voltar para casa, estava desesperada.

  - Vem aqui minha Fleur, senta aqui no meu colo.

  - Tá, só não me amasse, hein?, quero chegar direitinha para dar aula.

  - Eu espero para comemorar a noite, sem pressa alguma...

  - Alguém já disse que você é tarada?.

  - Por você meu amor, por você.

  - Agora vamos?.

   Pegamos nosso material e chegamos realmente bem mais cedo ao campus, mostrei a biblioteca, o jardim, apresentei alguns alunos que pararam para me cumprimentar e seguimos para sala dos professores, estranhei não ver Giuliano por ali, ele sempre é o primeiro a chegar pois mora do lado da universidade, mas, o tempo foi passando e nada dele, já ia pegar o telefone para ligar quando Nina entrou na sala.

  - Professores, boa noite, o Professor Giuliano não pode comparecer as aulas pois está com um pequeno problema de ordem orgânica...

   Ao dizer isso Nina buscou meu rosto da mesa e piscou descaradamente antes de continuar a fala.

  - Com isso os dois últimos tempos serão vagos, se quiser ir embora mais cedo Samy, por mim tudo bem, precisando de uma carona é só falar.

  Ela falou voltando a piscar, eu tossi evidentemente incomodada com suas piscadelas nada sedutoras, e me adiantei antes que ela inventasse uma nova investida.

  - Obrigada, eu prefiro esperar a Fleur, não sei se te apresentei Nina, essa é Fleur, meu amor.

   Nina sorriu sem graça, levou a mão atrás do pescoço e coçou delicadamente.

  - Muito prazer Fleur, não quero ser chata, mas, essa sala é exclusiva para professores e profissionais da universidade, infelizmente você vai ter que se retirar.

   Fleur sorriu, levantou ajeitando a bata e vi que ela estava louca para sapecar a mão na cara deslavada de Nina, mas, não o fez, apenas continuou a sorrir e falou com um ar supremo entre o deboche e a mal disfarçada irritação.

  - Ora, mas, deixe que me apresente direitinho, sou Fleur de Alcântara Stewart, nova professora de Fundamentos de Saúde Ambiental. Ah, que falha a minha, me desculpe Samy, esqueci de mencionar que também levo o Galaretto, desde que casei com minha Samy.

  - Ah, não sabia que eram casadas...

  - Sim, nos chamamos de namoradas porque nossa relação é assim, um eterno clima de namoro.

  Nina sorriu sem graça, estendeu a mão em cumprimento a Fleur.

  - Seja bem vinda a nossa equipe querida.

  - Obrigada Nina, mas...nossa, que mão gelada, creio que teve uma queda de pressão, é bom fazer um check-up, sabe como é, o tempo vai passando e temos que administrar os problemas que chegam com a idade.

- Agradeço o conselho, mas, sei me cuidar, com licença...

   Segurei o riso e Nina saiu riscando os pés no chão, quatro aulas voaram, e de fato terminei bem mais cedo, aproveitei o tempo livre para ligar para o Giuliano, ao constatar que ele estava bem e sabendo que era apenas ressaca de uma pizza de calabresa com refrigerante, desliguei e depois esqueci da vida lendo um livro na sala dos professores, enquanto esperava Fleur dar suas duas últimas aulas, estava concentrada, e quando respirei em apreensão com o capítulo, senti o perfume de Nina atrás de mim, estava tão fixada na leitura que não tinha reparado que ela havia entrado na sala.

  - Fico feliz que esteja bem Samy...

   Virei assustada e dei de cara com seu sorriso, ela deu a volta na mesa e sentou na minha frente, segurando o rosto entre o anguloso e o delicado com as mãos de unhas curtas pintadas de vermelho, seus olhos cor de âmbar que tanto me atraíram um dia, piscavam maliciosamente em minha direção, por fim, ela soltou um som de desagrado antes de falar.

  - Sua mulher sempre é desagradável daquele jeito, ou ela é tão insegura que precisou falar da minha idade para se sentir bem?. Se ela chegar linda como eu sou aos cinquenta anos, vai ter que levantar as mãos para o céu.

  - Sabe Nina, minha Fleur é uma das mulheres mais gentis e educadas que conheço na vida, mas, ela não aguentou suas piscadelas sedutoras, não a culpo, e se quer saber, achei bem feito e até mesmo engraçado.

     Ela aproximou a mão do meu rosto contornando meu maxilar, fiquei incomodada com o toque, sentindo uma leve irritação com sua insistência.

- Samy, quando era minha aluna você era uma pessoa tão mais divertida e relaxada, as coisas fluíam melhores...não foi a toa que me apaixonei por aquela garotinha tão inteligente e sensata, ao mesmo tempo tão bem humorada, sincera e engraçada. Fomos felizes, não fomos?, sinceramente, nunca fui tão feliz na vida antes e infelizmente, nem depois de você, porquê se recusa a me dar uma chance?.

- Me diga Nina, quais das partes você não está entendendo quando falo que amo a Fleur, somos felizes e não vou trai-la?, acho que vou ter que explicar tudo de novo, mas, ok, se quer mesmo voltar ao passado, vamos a ele, deixa te contar...quando me conheceu eu era uma criança, entrei da faculdade muito cedo, você me seduziu, foi a minha primeira mulher, e o pior, me deixou a ver navios, foi embora sem dar a menor satisfação além de uma carta, quando voltou queria retomar nosso namoro como se nada tivesse acontecido, me desculpa, mas, não tinha como, acha que uma carta me pedindo para te esperar era suficiente?, ai você voltou depois de quatro longos anos e já tinha recomeçado a minha vida depois de sofrer muito, você imagina como foi terminar a faculdade de coração estraçalhado?. Nina, eu demorei muito para me reconstruir, então, por favor peço que me deixe em paz de uma vez por todas.

- Meu amor, se eu falasse que ia embora, com certeza ia me pedir para ficar e não ia conseguir te dizer um não, eu te amava, ainda te amo...mas, era meu sonho, batalhei a vida inteirinha para isso, imagine se eu, Nina Viegas Simões, filha de pais semi analfabetos, um dia pensei em concluir um doutorado em Sorbonne?, fui sangrando também, mas, quando retornei a primeira coisa que fiz foi te procurar, você já tinha concluído a faculdade, estava até trabalhando, eu te procurei, implorei, me humilhei, tentei voltar o nosso namoro de todas as formas, mas, quando realmente percebi que não queria mais nada comigo fui morar um tempo no Canadá, mas, nunca te esqueci...nunca, foi ai que resolvi voltar ao Brasil, estava e estou decidida te conquistar de qualquer jeito, foi quando descobri que estava ensinando na Universidade de São Paulo e tive que mexer todos os meus pauzinhos para conseguir vir para cá...amor, não precisa se separar dessa Fleur, não precisa, só...

    Estava pronta para responder quando vi Fleur na porta.

- Atrapalho?.

- Claro que não meu amor, eu e Nina estávamos só relembrando a época em que ela me deu aula.

    Fleur se aproximou e me abraçou por trás, beijando meu pescoço.

- Ela foi tua tia no prezinho?.

- Hahahahah não amor, Nina foi minha professora na universidade.

     Nina passou a mão por dentro dos cachos e sorriu da forma mais debochada que conseguiu.

- Na verdade fui uma excelente professora na cama, Samy era tão inexperiente quando namoramos tadinha, tremia toda quando me viu nua pela primeira vez, achou que não fosse dar conta de certo.

    Vi que Fleur não gostou do comentário, mas, ela não levou o curso da conversa para onde Nina estava desejando, apenas cruzou os braços para falar tranquilamente.

- Acho que preciso de agradecer, foi uma excelente professora, deixou Samy preparadinha para que eu me esbaldasse de tanta felicidade, você deve lembrar que ela é uma delícia, e para minha sorte atualmente é toda minha.

    Depois da fala, Fleur desabotoou três botões da minha camisa e deslizou os dedos entre os meus seios me fazendo arrepiar e suspirar.

- Mais tarde meu amor...

    E saiu sorrindo deixando Nina completamente sem graça.

- Acho que sua esposa não vai facilitar em nada a minha vida, vocês poderiam ter uma relação aberta, seria assim até te ter só para mim.

- Respeito quem escolhe relacionar-se assim, mas, para nós não dá, como vê sou um corpo inacessível, desista Nina, você não tem mais chances comigo.

- É o que veremos minha cara, é o que veremos...

    A volta para casa foi silenciosa, mas, a certa altura resolveu romper o silêncio e perguntar.

- Samy, vou perguntar uma vez, e saiba que será a última...você sente alguma coisa pela Nina?.

- Não meu amor, ela é passado, totalmente.

     Fleur virou levemente o rosto para me olhar, percebendo a sinceridade das minhas palavras respirou aliviada e sorriu.

- Te amo minha Samy.

- Também te amo, muito minha flor.

    Em seguida Fleur ligou o som, balançando a cabeça e batucando na direção quando começou os primeiros acordes de Calibre do Paralamas do Sucesso.

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Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo

Sem saber o calibre do perigo

Eu não sei d'aonde vem o tiro...

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     Cantamos juntas e dentro daquele momento percebemos que nosso amor era tudo o que precisávamos para ser feliz, juntas éramos invencíveis.

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Por que caminhos você vai e volta?

Aonde você nunca vai?

Em que esquinas você nunca para?

A que horas você nunca sai?

Há quanto tempo você sente medo?

Quantos amigos você já perdeu?

Entrincheirado, vivendo em segredo

E ainda diz que não é problema seu

E a vida já não é mais vida

No caos ninguém é cidadão

As promessas foram esquecidas

Não há estado, não há mais nação

Perdido em números de guerra

Rezando por dias de paz

Não vê que a sua vida aqui se encerra

Com uma nota curta nos jornais

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo

Sem saber o calibre do perigo

Eu não sei d'aonde vem o tiro

Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo

Sem saber o calibre do perigo

Eu não sei d'aonde vem o tiro.

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Dedico esse conto a todas as pessoas que saem e não mais retornam, por diferentes motivos, estendo a dedicatória a família e amigos, na esperança que todos encontrem as respostas que tanto procuram!.

Um abraço apertado,

Sabrina Miranda

Fim do capítulo