Capitulo 9
A Última Rosa -- Capítulo 9
Um ruído, então, separou-as e ambas se viraram, olhando para Vitória parada à porta.
-- Posso servir o jantar?
Marcela voltou-se para a governanta com o semblante surpreendentemente tranquilo.
-- Está bem, Vitória -- respondeu Marcela, um pouco decepcionada. Aquela mulher tinha o dom de interrompê-la em seus momentos mais românticos -- Pode servir o jantar. Já estamos indo -- ela olhou para a esposa e sorriu -- Vamos amor.
Jessica concordou com um gesto de cabeça enquanto se posicionava para empurrar a cadeira. Se Marcela podia agir como se nada houvesse acontecido entre elas minutos atrás, então ela também podia. Se é assim que quer, então, que assim seja!
Durante a refeição, Jessica sentiu-se pouco à vontade, um desejo incontrolável de chorar. Marcela não parava de mencionar as festas às quais elas frequentavam, deixando sempre claro que nessas ocasiões ela dançava muito e Jessica nunca a deixava só, nem por um instante. Jessica escutava aquele monólogo, visivelmente triste, sentindo-se culpada por sua infelicidade.
Jessica jamais tinha visto Marcela tão amargurada e disposta a tortura-la como naquela noite. Jessica respirou fundo, não devia se importar mais com isso. Sabia qual seria a sua vida após o acidente. Foi trazida de repente à realidade, ao ouvir a voz dela.
-- Não vai provar a sobremesa? Está uma delícia! -- ela deu uma risadinha rouca.
-- Sou alérgica a coco -- respondeu, irritada -- Parece que a Vitória faz de propósito.
Marcela deu uma sonora gargalhada.
-- Não sei o que deu nela -- ela murmurou e saboreou mais uma colherada da sobremesa -- Para a sua felicidade, a nova cozinheira já chegou.
-- Ah, aí sim! -- Jessica disse, sorrindo -- Tempero diferente -- acrescentou, se levantando para conduzir a cadeira -- Então, para comemorarmos essa boa notícia, hoje o cafezinho será na sala.
-- Espera! -- ela jogou o guardanapo sobre a mesa -- Tenho mais uma novidade.
Jessica levantou uma sobrancelha e a fitou desconfiada.
-- Hum, mais uma novidade? E qual é?
-- Decidi seguir o seu conselho -- ela girou a cadeira e agilmente se afastou da mesa -- Contratei uma secretária.
Jessica abriu um sorriso largo, olhos verdes cintilando de contentamento. Ela se aproximou sorrindo e abraçou-a.
-- Enfim, pela primeira vez resolveu me ouvir.
-- Não fique tão feliz. Será por um período de experiência -- Marcela fez questão de frisar -- Você sabe que sou muito exigente na contratação de empregados.
-- Mesmo assim -- Jessica, estava feliz por ela. Mais que uma secretária, Marcela precisava de uma companhia -- Já é um bom começo.
Marcela balançou a cabeça, seus cabelos caíram sobre os ombros e costas.
-- Quem sabe.
Na manhã seguinte, Michelle levantou com dor de cabeça. A noite tinha sido bem agitada. A conversa com Valquíria a deixou muito preocupada e ela dormiu muito mal. Precisava do emprego e daquele lugar para se esconder. Quanto mais pensava no assunto, mais convencida ficava de que sua estadia na casa seria curta. Ao olhar o relógio ficou assustada. Aquela hora já devia estar pronta para iniciar o seu trabalho.
Tomou um bom banho, vestiu uma calça preta sob medida, uma blusa branca e desceu, pronta para enfrentar a chefe.
A casa parecia vazia e a mesa do café posta para uma pessoa.
Intrigada, Michelle ergueu as sobrancelhas. Já ia procurar Vitória quando ela apareceu como um fantasma, ao seu lado.
-- Bom dia, Michelle. Vamos tomar café?
-- Bom dia. Sim, eu gostaria.
Vitória inclinou a cabeça.
-- Então, vamos até a cozinha.
Michelle não se moveu. Vitória estranhou a sua postura.
-- Algum problema?
-- Não. Apenas pensei que a senhora Marcela tomasse o café da manhã com a esposa.
A governanta deu um sorriso amarelo.
-- A dona Marcela nunca se levanta antes das oito. Por isso, sempre toma o café sozinha.
-- Ah! Sim -- Michelle balbuciou.
Vitória abriu a porta da cozinha. Valquiria já estava sentada à enorme mesa. Michelle percebeu o suave aroma de bolo e empadão, pois na mesa abundavam estes mantimentos, assim como ovos e pães.
-- Bom dia, Michelle -- ela falou, preguiçosa.
-- Bom dia, Valquiria -- disse, curvando-se para pegar a garrafa de café.
-- Como passou a noite? -- ela perguntou e ficou esperando atentamente pela resposta.
O estômago de Michelle se contraiu, mas a expressão do rosto permaneceu a mesma.
-- Bem -- ela respondeu, com o queixo erguido. Resistiu à vontade de dizer: Só não dormi melhor por sua culpa. Sua chata!
-- Ótimo, eu também -- ela deu um breve sorriso -- Sente-se. Não vai crescer mais do que isso.
Michelle puxou uma cadeira e sentou-se à frente da amiga.
-- Então -- começou Valquiria -- Um mês inteiro é bastante tempo, tenho fé que conquiste a confiança da poderosa e consiga o emprego.
Michelle olhou-a surpresa.
-- Não foi o que você disse ontem.
-- Sim. Porém, pensei um pouco melhor e tive uma ideia -- Valquiria serviu-se de café, depois tomou um gole olhando-a por sobre a xícara.
-- Que ideia? -- perguntou ela, cheia de curiosidade e receio.
Valquiria pegou uma fatia de pão, passou geléia e deu uma grande mordida.
-- Porque não come?
-- Só quero um pouco de café e algumas torradas -- deu uma olhada no relógio de pulso -- Vamos, fale-me sobre a sua ideia.
-- Coisa simples -- ela inclinou a cabeça, havia um sorriso irônico em seu rosto -- A Vitória me contou que, ao contrário da dona Marcela, a sua esposa é uma pessoa muito justa. Sempre defende os empregados, é gentil e muito educada.
-- E daí? O que isso tem a ver? -- perguntou sem entender.
-- Sua boba! Não percebe que ela pode ser a sua grande aliada?
Michelle ergueu as sobrancelhas.
-- Como?
Valquiria inclinou-se sobre a mesa e pegou a mão de Michelle.
-- É só usar todo o seu charme e encanto para conquistá-la.
Michelle quase se engasgou com o café.
-- Não sou esse tipo de pessoa -- retrucou ela, contrariada -- Não sou uma interesseira destruidora de lares -- ela levantou bem a cabeça e assumiu a melhor pose de ofendida.
-- Como você é esquentadinha. Em nenhum momento falei em seduzi-la. Quando falo em conquistá-la, falo em amizade e confiança.
Michelle deu um suspiro profundo.
-- Menos mal -- ela a olhou de esguelha, desconfiada -- Do jeito que a dona Marcela é ciumenta, sequer vou chegar a conhecê-la.
Dando um suspiro cheio de desânimo, Valquiria afastou a cadeira e se levantou.
-- Vamos enfrentar a fera. Depois, voltamos ao assunto.
Tia Inês examinou o rapaz de cima a baixo.
-- Sei não, Pepe Legal -- ela o achou extremamente extravagante e falava alto até demais -- Conte-me um pouco do seu passado.
-- Acho melhor não falarmos sobre o meu passado.
-- Porque? O seu passado o condena?
-- O meu passado não me condena, tia. Ele me mata de vergonha.
Tia Inês coçou a nuca.
-- A esposa da minha sobrinha é muito exigente. Tem que ser um profissional muito bom para trabalhar naquela casa.
-- Isso não vai ser problema. Tenho muita experiência, principalmente habilidade para lidar com patroas chatas. E ainda tenho boas referências.
Inês estava receosa, mas também compadecida com a situação do rapaz.
-- Você é de sair?
-- Sim. Às vezes eu vou no mercado, ou na padaria comprar pão.
-- Não foi bem isso que eu perguntei, mas tá. Você tem namorado?
-- Sou apaixonado por um bofe lindo, lindo, tia -- respondeu sorridente.
Tia Inês balançou a cabeça.
-- Tô vendo que está de quatro por esse rapaz.
-- Ainda não, tia. Mas, vou ficar.
A senhora ficou horrorizada com a resposta, mas fingiu não ter entendido o que acabava de ouvir.
-- Sabe meu querido, eu não consigo imaginar como um pai tem coragem de abandonar um filho só por ser homossexual -- disse olhando-o com carinho -- Que infeliz você deve ter sido.
Pepe voltou-se e encarou-a com uma fisionomia triste.
-- Eu até que fui uma criança feliz, tia -- ele sorriu ao lembrar-se de sua infância -- Sabia que eu nasci na água?
-- Que legal! Aquela modalidade de nascimento em que a mulher fica dentro da água e o bebê chega ao mundo por meio aquático, assim como estava no útero. Foi em uma piscina?
-- Não, tia. Foi em uma banheira de alumínio. Minha mãe se abaixou para lavar as partes íntimas e eu, bum. Caí de cabeça na água.
-- Hum -- a jovem senhora fez uma pausa longa, antes de continuar -- Eu vou falar com a minha sobrinha. Porém, não garanto nada.
Pepe abraçou-a forte. Beijou a mão e a bochecha dela.
-- Bigadu, bigadu, bigadu -- depois se afastou dando pulinhos e batendo palminhas.
Inês ficou observando o rapaz se afastar.
-- Seja o que Deus quiser.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
HelOliveira
Em: 11/12/2020
Ahhh o encontro nao foi hoje....
Mas continuo esperando...
Pepe.me.lembra alguém...kk vai ser divertido acompanhar essa figura...isso se a Marcela não não matar o bichinho
Bjos
Resposta do autor:
Olá Hel
Mais uns dois capítulos e elas finalmente se encontram.
Beijos
NovaAqui
Em: 11/12/2020
Olha você dificultando o encontro das duas kkkk
Pepe legal? Kkkkk isso foi demais Jessycat vai amar, já Marcela vai demiti-lo antes de contratar rsrs
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Olá
Só mais uns dois capítulos e finalmente o encontro.
Pepe vai o meu gay mais abusado. Espere e verá.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]