22 de outubro de 2016 - Último dia de filmagens da 3ª temporada de Girl Meets World

 — Eu te amo, peaches! — disse pela milésima vez e me enviou o olhar sonhador de sempre. Seus olhos eram hipnotizantes, me faziam crer que não existia nada no mundo além de nós duas.

— Eu também te amo, Rowan  — deixei sair num suspiro. Naquele momento eu pude sentir meu coração quase saindo pela boca. Minha respiração pesou e o silêncio ensurdecedor à minha volta fez com que eu me afundasse mais naqueles olhos. Pena que durou pouco.

COOOORTA!

A voz do diretor ecoou no estúdio e me fez voltar a mim.

— Merda — resmunguei baixinho.

— Você me ama, você me ama, você me ama! — cantarolava me cutucando nas costelas com ambos os indicadores. 

Pedi que cessasse, mas ela fingiu-se de surda e continuou a cantoria. O resto dos presentes se divertiam com a brincadeira, as risadas eram altas, o que só me deixava ainda mais instável,  minha cabeça ficou a mil e meu coração não se acalmava por motivo nenhum. O sangue me subiu de uma maneira que não aguentei:

— Para Rowan! Mas que inferno — gritei bruscamente. Me arrependi no exato momento que fechei a boca. Todo o estúdio se calou e Rowan pareceu murchar de uma vez. Ela me sussurrou um pedido de desculpas meio sem graça, meio sem força e meu coração se partiu na mesma hora. Meus olhos se encheram de lágrimas, levantei da poltrona e me dirigi ao camarim sem nem olhar para trás.

Uma vez que já estava longe o suficiente, ouvi o diretor autorizando uma pausa de cinco minutos. Fechei a porta com força e reclinei minhas costas nela, passava a mão no rosto tentando impedir que as lágrimas caíssem sem conseguir entender porque um erro bobo de fala tinha me irritado tanto. Tudo bem que já era o milésimo erro que cometi, mas porque diabos logo com esse fiquei assim? Bati levemente a parte de trás da cabeça na porta. 

— Por que eu estou assim? — Me questionei e limpei a lágrima solitária que descia. 

— Brini? — Me assustei ao ouvir a voz de Rowan sussurrar ao mesmo tempo que a porta era forçada contra meu peso. — Tá tudo bem? Posso entrar?

— Claro.

Ajeitei a postura e fui me sentar numa cadeira na frente do espelho. Enquanto ainda lhe dava as costas, limpei o rosto e tentei transformar minhas feições em algo mais alegre. A garota adentrou o camarim andando sem pressa pelo lugar apertado, puxou uma cadeira para próximo a mim e começou a acariciar meus cabelos.

 — O que foi, bae?

— Não é nada, Rowan...

— Primeiro: não é Rowan, o certo pra você é babygirl! — usou tom ofendido, porém brincalhão, cruzando os braços e fazendo a cara mais séria do mundo, sendo impossível não me arrancar um riso — Segundo: não está parecendo ser nada. 

— Okaaay, babygirl então — revirei os olhos e levantei as mãos em rendição. — É sério, não é nada mesmo. Não precisa se preocupar, minha cabeça só anda cheia esses dias — respirei fundo e dei um sorriso sem graça. — Desculpa ter estourado com você.

— Não parece nada, mesmo — repetiu baixo parecendo estar tomando muito cuidado com suas palavras. — Você tá estranha há um bom tempo, bae. Eu só queria que você confiasse em mim pra me dizer o que tá acontecendo, você é minha melhor amiga.

Meu estômago revirou ao ouvir suas últimas palavras. Abri a boca por um momento tentando formular a resposta em minha cabeça, mas por fim desisti. Eu já não gostava de ser chamada de melhor amiga, não por ela, meu coração sentia um enorme pesar, como se estivesse sendo rejeitada. Não tinha ideia de como expressar o que sentia e a única coisa que conseguia pensar era "eu acho que te amo", mas não é como se eu pudesse dizer isso, afinal somos melhores amigas. Além do mais, eu só devia estar confundindo as coisas.

— Eu só estou estressada, é sério —  segurei ambas as suas mãos e dei o melhor sorriso que consegui.

— É que hoje é o último dia de gravações e a gente ainda não sabe se a série vai ser renovada e você tá toda estranha e eu não quero que as coisas mudem e... — disse de forma atropelada quase sem respirar entre uma palavra e outra.

Até que Ben nos interrompeu batendo na porta e dizendo que o diretor nos chamou para voltar a gravar. Ela pareceu tentar se recompor, levantou e saiu me puxando pela mão camarim afora, mas, apesar do sorriso no rosto, o olhar ainda parecia um tanto preocupado. Quando estávamos quase chegando perto do resto do elenco segurei sua mão com força a fazendo parar.

— Nada vai mudar — afirmei, tentando convencer mais a mim mesma do que a própria Rowan.

— Promete? — perguntou, me olhando com uma carinha de cão sem dono.

— Prometo — menti.

Fim do capítulo