Capitulo 1 - A historia de Isadora
Nova Iorque, 08 de abril de 2072
Há muitos anos, tantos que a data foi engolida pela delicada poeira do tempo, li um autor de uma tribo já extinta dizer que só enxergamos alguma coisa quando não há mais nada a ver. No meu caso, não há mais nada a contar além das páginas que escrevo do passado, o mundo tal como conheci já não mais existe, e , estou imersa em um grande vazio existencial, todos que amei e caminhei já não habitam e nem povoam meus olhos cansados, e agora no fim, analiso o tecido no qual bordei a minha história e faço um balanço de tudo que ganhei e perdi. Lembro que esse mesmo autor, cujo o nome me foge a memória, explicou que um caçador ruim é aquele que guarda para si as presas que matam, acho que sofrer por alguém, de alguma maneira, mesmo sem querer, faz com que aprisionemos sua alma a nós, então, escrevo para libertar e me libertar também. Aproveito o tempo que me resta, enquanto as lembranças fervem em minha cabeça e ainda não coleciono milhares de esquecimentos e sinto a necessidade de dividir os meus lampejos poéticos que me seguiram por toda minha vida.
Comecei a contar minha história há cerca de três anos, fui guardando os fragmentos escritos nos lugares mais inéditos, e há pouco resolvi transcrever para esse diário, eu sei, lhe parece ultrapassado, não? , mas, sou fiel a minha época. De certa maneira, não sei como finalizar essa história, talvez porque ainda esteja viva, mas, se não tivesse, como contaria o meu legado? o fato é que continuo aqui, com múltiplas e profundas cicatrizes que sangram neste velho coração. A ideia desse diário me foi sugerida por Mary, uma enfermeira do hospital, a conheci ainda bem jovem, quando era apenas uma estagiária, quando a gripe SCP2 dizimou uma boa parte das pessoas do mundo, quem diria meu Deus, que um vírus traria tanto caos?. Mas, não é sobre isso que quero falar e sim da minha vida, diz a enfermeira que minha história é tão melodramática que deveria dividir com outras pessoas, já que ela riu, chorou e vibrou cada vez que confidenciava algo. Parece que de alguma maneira ela me convenceu que tenho algo a dizer.
No entanto, tenho que ser franca com você que agora me lê, romantizei alguns detalhes, modifiquei o nome de alguns personagens narrados, afinal, um romance não tem como objetivo expor toda a verdade, e sim, causar emoção, fazer sonhar. Do meu coração ao papel, do papel para os olhos do leitor, assim, a mágica acontece. Ah, não ligue se mudar de terceira para primeira pessoa de repente, ou se deixar os pensamentos de outros personagens soltos nas páginas, estes me foram ditos muitos anos depois dos fatos, e achei por bem deixar isso aqui bem explicado, digamos que meu texto seja uma colcha feita por muitas mãos, será que isso existe?. Se não existe é assim que escrevo, portanto, relaxe, só relaxe e aproveite as linhas.
Acho que esqueci de mencionar um detalhe importante, atualmente moro no Small Memorial Hospital, em Nova Iorque, este não é um simples hospital, dentro das leis americanas é permitido o "desencarne assistido", isso há muitos anos, é verdade. Eu escapei da gripe, não sem algumas sequelas, e estou aqui há quase dez anos, talvez por isso, virei objeto de "estudo", nenhum idoso sobreviveu tanto tempo, e continuo aqui onde praticamente construí uma nova família, entre os pacientes, médicos e enfermeiros. Apesar disso, espero que ninguém chore por mim quando chegar a minha hora, ou se escolher partir, enfim, deixo aqui registrado o sal e o açúcar das minhas lembranças, e torcendo que eu consiga em algum momento te emocionar, espero também que me perdoe as licenças poéticas...e para você meu grande amor, espero te encontrar nas estrelas, onde você deve estar à minha espera com teu sorriso acolhedor e o teu cheiro que sempre me invadiu o corpo e a alma, fecho todas as noites meus olhos, esperando que você me busque, mas, como nunca vem, penso diariamente em te encontrar. Deixo que o leitor descubra quem é você, este é um segredo que maliciosamente encubro.
Sim, e fim.
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Curitiba, 12 de março de 2018
Antes de proferir mais uma sentença, a Dra. Isadora Leoni para em frente ao grande espelho no banheiro do fórum, ainda tinha uns minutos antes de entrar em cena, cada julgamento era ensaiado em cada detalhe e com maestria. Os olhares e as mãos acompanhavam as falas, como uma verdadeira regente, até o grande final, quando era lida a sentença. Os julgamentos eram disputados, tanto por seu profissionalismo, quanto por sua rara beleza.
Satisfeita com sua trajetória e com o momento tão seu, acariciou o rosto delicado, olhou o corpo bem torneado, e cristalizou a cena completamente perdida em suas lembranças, suas mãos deslizaram pelos longos e pesados cabelos ruivos ondulados, prendendo-os em um grande rabo de cavalo, deixando apenas uma pequena mecha escapar, de forma proposital. Os olhos verdes e brilhantes estavam embaçados de emoção, na boca um leve brilho realçava o lábios fartos e sem preocupar com qualquer expectador, diz "é, eu consegui!!".
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São Joaquim, 28 de junho de 1982
Era um dia de inverno em São Joaquim, um dia frio e comum na Maternidade Escola Santa Clara. A jovem médica obstetra Dra. Vivian Lanz, descansava encostada na cadeira da recepcionista, esperando que a atendente Beatriz voltasse trazendo um café com croissant de queijo. Enquanto passava as mãos nos cabelos castanhos e lisos com uma enorme franja que praticamente cobria sua visão, mergulhou o grandes olhos negros no seu jaleco, enquanto pensava na sua profissão, era médica por força dos pais, que achavam que naturalmente seguiria a carreira escolhida por eles, antes mesmo de Vivian nascer, nada fugia dos planos da Família Lanz, quando criança, junto com as bonecas, vinham vários pequenos instrumentos de brinquedo que remetiam a Medicina, como estetoscópios, bisturis e jalecos. Quando prestou vestibular, resolveu viver o sonhos dos pais, no entanto, seu maior desejo era cursar Letras, assim como escrever e publicar livros LGBT, claro que ao dividir timidamente esse desejo com seus pais, sem mencionar o que gostaria de escrever, não pode nem terminar a fala e teve seu sonho podado...os pais não negaram seu desejo, mas, disseram que isso ficaria para um segundo momento, que ela sabia que por eles jamais chegaria, Vívian apesar de ver seu sonho eclipsado, sentia aquele calorzinho esquentar o peito quando pensava em se organizar para viver o seu sonho, sentia todo o corpo arrepiar a cada linha escrita e mantinha um site escondido, onde assinava com o pseudônimo de Lua Azul.
Espero que que ninguém mais resolva parir hoje, quero terminar o conto que deixei inacabado, a história de Rosely e Nina, cegas de nascença que juntas estavam descobrindo o amor.
O pensamento ficou do ar, quando a recepcionista a tira de sua "pasárgada":
- Dra., seu lanche...
A frase foi cortada pela presença de um casal, a mulher, pendia a cabeça, sem forças, praticamente desmaiada nos braços do marido, suava frio, pela falta de força e pelo sofrimento. Juntando o ar, soltava palavras entrecortadas de emoção e cansaço, por fim, respirou puxando todo ar possível, e com o último fôlego, disse praticamente em um sussurro: "Dra., por favor, salve minha filhinha".
Não foi preciso dizer mais nada, Dra. Vivian esqueceu seus livros, seu site e sonhos e rapidamente juntou a equipe, agilizando a cirurgia. Fez todo o possível para salvar a mãe, mas, não conseguira seu intuito. A criança, no entanto, nascera perfeita, após o banho, dormia calmamente nos braços da enfermeira. Quando a médica recebe a menina em seus braços, observou a penugem vermelha na cabeça e um par de grandes olhos verdes que se abriram timidamente, o bebê parecia sorrir ao som de suas palavras "Oi bebê, bem vinda ao mundo!".
Antevendo a cena que logo chegaria, Dra. Vivian embrulha a pequena em uma mantinha cor de rosa:
- Senhor Marcos Roberto? - disse Dra. Vivian olhando a ficha preenchida - Infelizmente não conseguimos salvar sua esposa, tentamos de tudo, mas, ela não reagiu a nada. Mas, sua filha, ao contrário, nasceu saudável demais, é uma linda menina, ruiva como a mãe, venha conhece-la.
- Que se dane o bebê, saia com ela daqui, livre-se dela, doe, adote, faça qualquer coisa, só não quero olhar, não quero ficar com ela também.
No corredor, o grito do pai ressoava nas paredes brancas do hospital, assim que acalmou um pouco, a médica pediu o contato de alguém da família. O pai segura uma caneta com a mão trêmula, pega um pequeno bloco de notas e escreve "Eudes".
- Preciso ir ao banheiro.
Falou o viúvo contrariado, soltando o braço da médica e se livrando dos olhos de lamento direcionados a si, saiu com as pernas bambas, desaparecendo pelos corredores, indo em direção ao primeiro boteco que encontrasse para afogar sua vida até o último gole.
Com o passar das horas, Dra. Vivian resolve ligar para o número escrito no papel, alguém da família tinha que se responsabilizar pelo corpo que jazia e pela linda criança, que estava sendo amamentada no centro de doação de leite materno do próprio hospital.
- Dra. Sou eu mesmo, Eudes, irmão de Eulália, minha irmã era uma maluca dra, doida, sabia que não podia engravidar, mas, queria ter uma filha, só sei que ela tinha o útero seco, seco, mas, pelo que entendi ela foi a uma mulher dos batuques, entendeu?, e pelo visto deu certo, já que a menina está ai. Vou dar um enterro digno a Eulália e junto com minha esposa vamos criar o bebê como se fosse nosso. Peço que cuide uns dias dela, pois, minha mãe é idosa e nossa família é pequena, já a família do Marcos Roberto, tenho certeza que de lá não vai sair nem uma lata de leite em pó, estou é vendo, pode apostar.
Do outro lado da linha, Dra. Vivian ainda quis explicar que não existia "útero seco", mas, achou por bem apenas dizer um ok e desligar. Sem muito a fazer, mas, com uma felicidade nunca antes sentida com um nascimento, revezou com as enfermeiras o cuidado com a pequena bebê ruivinha, que recebeu o nome provisório de Mel, de tão doce que eram os dias ao seu lado, que passavam sem que fossem contados. A criança era encantadora aos olhos de todos, calminha e linda, só chorava e reclamava quando sentia fome ou se a fraldinha estava suja.
Após um mês do nascimento, Eudes chega ao hospital, diferente da beleza da irmã, mais parecia uma cenoura descascada com uns poucos fios na cabeça, puxava a calça que teimava em parar debaixo da barriga e arrastava os sapatos ao andar, parecia eternamente entediado. Junto ao bolso de trás, trazia um papel, o documento de guarda definitiva da menina, "o coração e o sangue falou mais alto", mencionou durante a rápida conversa, a bebê ia ser registrada por ele e sua esposa, Flávia Regina, que atrás do marido, apenas balançava a cabeça concordando com tudo.
Dra. Vivian segue para o berçário, segurando Mel delicadamente e fala baixinho:
- Que Deus abençoe e proteja minha pequena, acho que nossos caminhos ainda vão se cruzar novamente, então, é só um até logo.
A entrega da bebê foi rápida, e a médica vê Mel ser levada quietinha nos braços da tia, jogando um beijo no ar, pensa "não gostei desse homem". Após poucos meses, Eudes segue com sua família para o Paraná, passando a morar na capital, Curitiba.
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Curitiba, 12 de março de 2018
Na sala de julgamento todos se levantaram quando Dra. Isadora entrou, estava confiante. Segurou a sentença, não sem antes olhar para a plateia silenciosa, passando a ler pausadamente o texto:
- Hannah Carolina Frota Jaboti Nicolau e André Alvim Castro Nicolau, qualificados nos autos, foram denunciados pelo Ministério Público porque no dia 29 de março de 2009, por volta de 23:14 horas na Rua Santa Inácia, n. 138, apartamento 602, Vila Isabel, nesta capital, agindo em concurso teriam praticado contra a filha de André, do seu primeiro casamento, o homicídio triplamente qualificado por meio cruel, através de um sofrimento intenso, utilizando recursos que impossibilitou a defesa da ofendida, Inessa Viegas Nicolau, sete anos, após, a madrasta lhe dar uma dose excessiva de remédios para dormir. Consta nos autos que a menina chorava e a madrasta e o marido estavam em conjunção carnal e irritados, agrediram e trancaram a menina no banheiro, como ela não parava o choro, deram um achocolatado com o remédio para dormir, no entanto, erraram a dose, e, achando que a menina estivesse morta, após uma convulsão, jogaram o corpo em um canal, escondendo todas as provas e denunciando como se a criança estivesse desaparecida, incorrido no delito de fraude processual. O júri julgou procedente a denúncia, e os réus cumprirão a pena em regime fechado, de vinte sete anos cada um, sem direito a sursis e 24 dias-multa em valor unitário mínimo. Registre-se e cumpra-se.
Após um rápido olhar para o júri e as pessoas da plateia, os olhos de Isadora encontram os da acusada por segundos, que não consegue manter o olhar, passando o resto do tempo com os olhos grudados ao chão.
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Curitiba, 01 de fevereiro de 2000
Após um banho demorado, Isadora grita do banheiro:
- Maaaaaaaãe, me traz a toalha que esqueci.
Doralice ri e segue com a toalha na mão, lembrando da primeira vez que viu os olhinhos assustados de Isadora, aos onze anos, a menina fora entregue a ela por uma vizinha que sumira no mundo com o marido, e assim, assumira a educação e os cuidados com a menina, criando com todo amor que cabia em seu coração. Doralice, era uma jovem viúva de um caminhoneiro, na época tinha vinte e cinco anos, como não tinha filhos e não queria voltar para casa dos pais, costurava para fora, e era uma espécie de feiticeira e benzedeira do bairro, cobrando por todos esses serviços, e, dessa forma passou a sustentar a si e a Isadora, e assim, os dias seguiram, nunca mais teve ninguém, não sentia vontade, mas, se sentia muito só, de forma que a menina preencheu seus vazios, e até ali, as duas se cuidavam.
Balançou os cabelos para espantar o passado e disse alto:
- Essa menina só não esquece a cabeça porque ela está colada no corpo. Filha, espera um pouco, vou buscar minhas ervas para te benzer.
Isadora cede a contragosto o pedido da mãe, não gostava de ser benzida, mas, não queria desagradar. Assim, se deixou benzer, repetindo todas as palavras ditas por Doralice, girando o corpo com as mãos levantadas, enquanto pulava e ria ao mesmo tempo, fazendo com que sua mãe risse junto.
- Para menina, está tirando minha concentração.
Após se vestir, recebe um coração de uma pedra que a mãe gostava muito, sempre repetindo a mesma coisa: "esse colar é de olho de tigre Isa, é pra te proteger", tinha vários adereços da pedra. Isadora beija as mãos de Doralice com carinho, tinha uma verdadeira devoção a mãe que a criara, após um abraço apertado, sai para pegar o ônibus na esquina de casa. No coletivo, escutou algumas piadinhas sem graça, "oh lá em casa", "precisando de uma pista?". Isadora limitava-se a revirar os grandes olhos verdes, e para não escutar as piadas e cantadas que seguiam, coloca uma música em um volume bem alto para abafar as vozes "bem melhor assim".
A entrada da faculdade de Direito era imponente, parecia mais um templo antigo, uma estátua de mármore segurava uma balança, compondo o cenário que tantas vezes sonhou em estar. Rapidamente encontrou sua sala, sentou bem na frente à mesa do professor, não queria perder uma única explicação, a sala estava vazia e percebeu que alguns quadros a enfeitava, sempre com imagens que remetiam a justiça.
Após alguns minutos, alguém entra na sala, e pelo visto estava esbaforida, pela respiração ofegante:
- Tudo bem?, sou Hannah Jaboti...
Falou uma moça de pele branca e cabelos castanhos, de um tom de chocolate e olhos negros. Que seguiu com sua fala.
- Corri tanto, moro longe e pelo jeito somos as primeiras a chegar.
No entanto, cerca de meia hora depois, a sala já estava tomada por calouros, que orgulhosos sentaram esperando o primeiro professor. Após a primeira aula, seguiu a segunda, até a terceira e mais aguardada aula, comentada por todos os veteranos, a da Prof. Laura Lefrève.
- Boa noite, Introdução a Ciência do Direito, essa é a minha disciplina, mas, não pensem que será muito fácil sair dela. Meu objetivo e fazer com que entendam a minha maneira de ver e pensar esse curso, e espero conseguir que ampliem sua mente.
Isadora encontra uma liga e prende os cabelos, tirando o caderno e o estojo, ávida pelo conhecimento que ali com certeza era certo. Essa professora é interessante, linda e culta.
Laura, devia ter uns trinta e cinco anos, não mais do que isso, parecia que o Direito fazia parte de si, tamanha a paixão que falava de sua profissão e das leis. Os cabelos pretos e escorridos iam até a altura do pescoço, em um gracioso Chanel. No pescoço, discretamente se via uma ponta avermelhada de uma tatuagem, mas, não dava para perceber o que de fato era.
Após o final da aula, Isadora sai conversando com Hannah para pegar o ônibus.
- Nossa, essa professora tem jeito de ser lazarenta, é literalmente uma fera, tanto pelo conhecimento, quanto pelo jeito meio bravo, não acha?
Isadora, limitou-se a sorrir, há muito tempo aprendera que as aparências enganam.
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Curitiba, 21 de junho de 1998
Isadora de fato foi criada pelos tios, a menina era um bibelô a despertar inveja e admiração a todos que os viam juntos, parecia uma família perfeita, dessas de comerciais de margarina, todos admiravam, inclusive os vizinhos, só que o orgulho e o carinho demonstrado na rua, não era o mesmo dentro de casa, e a sobrinha se criou praticamente sozinha, tendo como companhia apenas a empregada que era muito novinha, e que, mesmo de uma forma desajeitada tentava cuidar da criança, da casa e da comida ao mesmo tempo.
Os anos passaram rápido, Isadora era destaque em todos os sentidos na escola, aos onze anos, já tinha altura e o corpo bastante desenvolvido, despertando olhares de cobiça nos meninos da escola e da vizinhança, mas, sentia ser diferente, sonhava com Lindalva, a vizinha da frente, uma mulata de ancas fartas, casada com o padeiro da rua, no seus sonhos, a mulata aparecia nua em seu quarto lhe tomando a boca em uma beijo quente. Para aplacar o desejo, por vezes trocava beijos com Duda, uma amiguinha da escola, dizendo que eram ensaios, assim, saberiam beijar na hora que arrumassem namorados, e sem entender totalmente o motivo, sempre declinava a todos os pedidos de namoro, e não compreendia muito bem sua condição, achava que de uma hora para outra tudo mudaria e se apaixonaria por um rapaz, um verdadeiro príncipe encantado. Mas, antes disso, ia apenas seguindo sua vida. Uma única coisa lhe assustava, o olhar estranho de Tio Eudes, Isadora observou várias vezes, o tio, que apesar de tê-la adotado e dado o seu nome e da tia na certidão, lhe olhava desde os nove anos de forma diferente, sabia que aquilo não era certo, desconfiava, principalmente porque era obrigada a chamar de Tio Eudes e Tia Flávia, dentro de casa, o nome pai e mãe ficava restrito a rua e outros ambientes.
Nesse dia, o tio tomava uma cerveja após chegar no trabalho, a olhando novamente de um jeito, muito, muito esquisito com a mão dentro da bermuda frouxa e o rosto avermelhado, mas, como nunca dizia nada e nem se aproximava, resolveu calar.
Era uma tarde fria de inverno, Tia Flávia tinha ido ao supermercado comprar ervilha para fazer uma sopa, Isadora percebeu que o tio a rodeava, como um verdadeiro predador em busca de sua presa, tramando dar o bote na hora certa. Isadora segurou a toalha e seguiu para o banheiro, queria esquentar o corpo, quando estava se preparando para trancar a porta, Eudes entra no banheiro de supetão, batendo a porta com força, o medo a paralisou quando percebeu a aproximação do tio que vinha tirando a roupa ofegante, confessando os mais loucos desejos pela sobrinha - diga que me vê como homem Isa, o teu homem! - Isadora chorava e pedia para parar com aquilo. Até que ouviu um empurrão na porta, Tia Flávia voltara mais cedo do que esperavam, havia esquecido o cartão dentro da mesinha de cabeceira, e voltou a tempo de ouvir e entender tudo. Entrou no banheiro, deu um tapa que marcou o rosto do marido, e levou Isadora nua consigo, enquanto Eudes berrava pedidos de perdão do lado de fora.
Com o celular na mão, e já com a menina vestida, seguiu para o quarto do casal, esperou Isadora se acalmar e enquanto escutava o marido desesperado, gritando que foi um fraco, que gostaria de recomeçar do zero e que foi seduzido pela beleza da sobrinha. Flávia, sem dirigir a palavra a Eudes, conversava nervosamente com alguém, explicando toda a situação.
De volta ao quarto, a tia agacha e percebe o tremor e os olhos assustados de Isadora, sua voz saiu lenta e acabou por chorar abraçada a menina, dizendo o quanto lamentava a situação e por não ter percebido o que estava acontecendo dentro de sua própria casa, mas, precisava continuar casada, e ela era uma provação muito grande para Eudes, portanto, não tinha como ficar com a sobrinha por enquanto, mas, seria por um tempo provisório... tudo daria certo, Isadora seria entregue a alguém muito bacana que cuidaria dela por um tempinho só e e tão logo tudo se normalizasse voltariam com certeza para busca-la, e ai a menina poderia ter até o tão sonhado cachorrinho que queria.
Fim do capítulo
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Rain
Em: 16/12/2020
Da Stella eu já sabia. Você tinha falado sobre isso. Ainda bem que mudou o nome, ter tantas Stella ficaram estranhos. Quando fala em Stella, só me vem na memória a Stella fantasminha e a Stella da Mari que são duas personagens bem marcantes. Seria estranho mais um Stella rsrsrs E eu amo o nome Jade!
Ela guarda o órgãos com troféu e isso ainda é comum? ....................................
Esse outro livro seu já favoritei, porém só pretendo ler depois dos livrinho dos contos que fiquei muito triste por saber que já finalizou também e eu nem acompanhei ???”.
Até a noite!
Resposta do autor:
Pois é menina ....gosto muito desse nome, acho feminino e delicado, mas, não serei como um autor da Globo que toda novela sua tinha uma Helena...rsrsrs
è que os serial killers quardam partes das vítimas como troféus...doentio, né?.
Podexá que eu respondo seus coments nos contos...vou voar aqui...hoje é dia de roça,
até
brinamiranda Autora da história
Em: 16/12/2020
Ah Rain,
Tem um novo livro meu que tem uma personagem que mata inspirada na Pierrô rsrsrs outra louca hahahah
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Andreia
Em: 11/12/2020
Isadora é á Mel que Vivian fez o parto e cuidou dela por um mês como será que vai ser este encontro delas.
Nossa como foi sofrido o caminho de Isadora para ela chegar onde ela está. Mais ela mesmo desde o nascimento mostrou ser forte e perceverante e buscou os seus sonhos..
Muito bonito sua história.
Bjs
Resposta do autor:
Andreia, fico realmente bem feliz com o comentário, como falei a história é de 2018 e tive que fazer uma boa revisão para publicar. Isadora passou de fato por maus bocados, mas, foi isso que a fez a mulher especial que ela é. obrigada mesmo por comentar.
Bjs
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brinamiranda Autora da história
Em: 13/10/2020
Ah, Gabi, tem uma priminha de Stella...rsrsrs
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Gabi2020
Em: 13/10/2020
Olá Sabrina tudo bem? Nova história!!!!!!
Gosto desse passado e presente, voltando ao passado é possível entender o motivo da persoagem ser do jeito que é, aliás a minha história tem muito disso, vai e volta ao passado e presente.
Gostei da Isadora, interessante!
Beijos
Resposta do autor:
Oie Gabi,
Na verdade essa é a história mais antiga que tenho...escrevi há dois anos atrás...eu também gosto desse recurso, mas, algumas pessoas se confundem um pouco, espero que minhas filhas mais velhas conquistem as leitoras...eu gosto da Isa...foi a minha primeira.
bjs
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brinamiranda Autora da história
Em: 12/10/2020
Ah, obrigada pelos comentários Flora, espero que essas meninas te conquistem também...bjs
ps. foram as primeiras meninas que criei
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Rain
Em: 10/10/2020
OK. Humm... Bem... Vejamos...Que coisa, não? Rsrsrsrsrs
Fiquei sem palavras para se referi a história. No começo não entendi nada. Mas no meio dela as coisas foram ficando um pouco entendedoras, entende? Rsrsrsrs
Bom. Como não estou indo a lugar nenhum, vou dizer que essa sua nova história me deixou passada. Ela parece que vai ser muuuuito interessante, cheia de reviravoltas.
Esse final foi horrível! Cara que homem escroto.... Não vou xingar. Ainda bem que não aconteceu nada.
A colega de faculdade sendo jugada. Que ironia não.?! As aparências realmente enganam. Rsrsrsrs
Esse crime ai, eu já ouvir em algum lugar. Foi real não foi? Não assisto jornal, ver tanta coisa de ruim no mundo me deixa muito triste e com pensamentos negativos. Por isso, evito assistir.
O que desencarne assistido? Não quero ir procurar no google e ver coisa indesejada demais.
Que bom que pelo menos a tia dela foi uma pessoa legal, e ela achou uma pessoa ótima como mãe e se tornou um boa pessoa. Essa médica..... Hummm...
Para quem não tinha o que falar, acabou falando muito. Rsrsrsr Até a próxima, Bye
Resposta do autor:
Oiê Rain, a história é desconstruída, com idas e vindas no tempo, mas, vc vai
captando com o passar dos fatos, essa história é bem diferente de tudo
o que fiz ...você vai perceber.
O crime é uma mistura de vários infanticídios que realmente existiram,
inclusive o caso Nardoni, mas, misturei os fatos para não ser fiel...
Atualmente só existe a morte assistida na Suiça, mas, tem umas
regras para tal, esse lance dos EUA é fictício, e é num futuro...em 2072.
Siga aí Rain, a história vai crescendo e aos poucos torna-se mais simples.
Até ...
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