Capitulo 1
Era domingo de manhã. A luz solar batia forte contra a janela do meu quarto. Não devia estar muito cedo, mas, mesmo estando acordada, eu não estava nem um pouco disposta a sair do quarto naquele horário.
— Bom dia! – Alice, minha irmã mais nova, entrou muito animada. – Levanta, Duda, quero muito ir à praia hoje. Você tem que me levar. – Ela se jogou em mim. Ela tinha essa maneira estranha de me acordar.
— Que saco! Nem dormir eu posso nesta casa. – Fingi chateação, pois a última coisa que eu queria fazer era sair de minha cama para ir a um local onde o sol batia forte em minha cara.
— Duda, eu sei que você tá acordada faz tempo. – Começou a fazer cócegas em mim. – Deixa eu ver este seu sorriso bonito? Deixa? – Ela tirou a coberta que tapava meu rosto e encontrou uma pessoa descabelada. – Você tá horrível! – Começamos a gargalhar.
— Você queria que eu acordasse como? Toda maquiada e passada chapinha? – Continuei a rir.
— Bom, não, mas ninguém merece te ver toda babada. – Ela saiu e cima de mim e eu corri até o espelho do meu quarto para ver se eu havia babado mesmo. Eu nunca fui de babar. – Alice! – reclamei, pois ela havia mentido.
Minha irmã caiu deitada em minha cama e começou a gargalhar, pois eu havia caído na mentira dela.
— Você precisava ver sua cara se olhando no espelho. Foi hilária. – Tocou a barriga, demonstrando que já estava doendo de tanto rir.
— Idiota! – Joguei a minha coberta nela. – Eu não estou afim de ir à praia. Odeio estar em locais com muita gente reunida.
— Mas você vai me levar, pois quem tem carteira de motorista aqui é você. Já falei com o papai.
Revirei os meus olhos. Era horrível ser a babá de minha irmã de 16 anos. Aonde ela ia, eu tinha que acompanhar, pois ela ainda não tinha habilitação.
— Você sabe que eu te odeio, né? – Olhei séria para ela.
— Você me ama! – Alice jogou um beijinho no ar e saiu correndo do meu quarto.
Após ficar sozinha, eu respirei fundo, pois sabia que eu não teria outra saída, teria que levar minha irmã no passeio dela. O que mais me chateava nisso tudo era que eu sabia que ela iria me deixar sozinha para ficar com algum carinha.
Como não tive escolha, eu me arrumei para a ida a praia. Porém, mesmo usando um biquíni por baixo de minha roupa, eu não estava nem um pouco disposta a entrar na água.
— É sério que você vai assim? – minha irmã perguntou quando me viu entrar no carro usando uma calça jeans e uma camiseta preta de banda de rock.
— Assim como? – Eu me olhei pelo retrovisor do carro e me achei normal. Aproveitei o momento e dei uma ajeitada em meus cachos desalinhados.
— Duda, realmente não somos irmãs. Nossos pais te pegaram trocada, não é possível. – disse, pois nós duas sabíamos que minha irmã era a cópia de meus pais. Ela era uma pessoa muito alegre e animada. Eu vivia no meu canto, presa em um universo paralelo. Era difícil alguém notar a minha presença nos lugares.
Quando chegamos à praia, como esperado por mim, Alice se juntou a um grupo de jovens da idade dela. Talvez fossem colegas. Bom... eu não fazia ideia e nem queria saber. Eu não gostava de me meter nos assuntos dela.
Como não tive outra saída, abri um guarda-sol, estendi uma toalha no chão e fiquei observando as pessoas se movimentando pela a areia. Era interessante como nada daquilo me agradava. Eu odiava estar no meio de muitas pessoas, principalmente obrigada, como naquele momento.
Apoiei as minhas mãos em meus joelhos e fiquei pedindo aos deuses para as horas passarem logo.
— Oi, você quer picolé? – Uma moça negra com os cabelos trançados surgiu, chamando minha atenção. Ela carregava um sorriso sincero no rosto. Eu não entendia como ela conseguia sorrir naquele calor.
— Quero sim! Um de coco, por favor! Ainda bem que você apareceu, pois estou quase derretendo com este calor – falei sincera e até estranhei.
— Bom, se continuar com essa roupa, vai sofrer ainda mais – Ela disse em meio a risos enquanto pegava o picolé no isopor.
Comecei a observá-la com atenção. Talvez ela tivesse razão, eu estava vestida demais, pois ela só estava com um short de malha e a parte de cima do biquíni.
— É que fui obrigada a vir. – Senti a necessidade de me justificar.
— Aí para se vigar das pessoas que te obrigaram, você resolveu derreter neste calorão?
Gargalhei e ela começou a me olhar com atenção.
— Aqui seu picolé. – Ela me entregou.
— É complicado. Sempre tenho que ser a motorista da minha irmã mais nova e depois ela me abandona. – Paguei e ela devolveu meu troco.
— Bom, acho que jovens são assim mesmo. – Ela começou a ajeitar o seu isopor e eu comecei a ficar querendo saber mais daquela mulher.
— Como você se chama? – perguntei e ela sorriu de uma forma encantadora.
— Taís e você?
— Eduarda, mas pode chamar de Duda.
— Bom, Duda, espero que você aproveite a praia. Tenta curtir um pouco, pois não acredito que sua irmã vá querer voltar pra casa cedo – Taís disse já se afastando. – Use uma roupa mais confortável. – Ela acenou de longe e eu achei graça do jeito espontâneo dela.
Com a saída de Taís, eu fiquei somente de biquíni ali sentada na toalha. Não pensei em entrar na água, pois não tinha ânimo para isso.
Não vi mais Taís naquele dia. Sim, eu fiquei procurando ela o tempo todo com o olhar. Eu não era disso, mas estava querendo conversar novamente, pois ela parecia ser uma pessoa muito legal.
Como dito por Taís, a minha irmã demorou para aparece e estava com um sorriso radiante no rosto. Devia ter beijado horrores naquele dia, eu não tinha dúvidas disso.
— Vamos! – Ela me chamou com a cara mais cínica do mundo. Nem parecia que havia me deixado sozinha naquela praia.
— Vamos sim, madame. Quer ir para mais um lugar hoje? – perguntei, fazendo o papel de motorista de minha irmã.
— Agora só pra casa mesmo, pois estou muito cansada. – Ela começou a gargalhar e revirei os meus olhos.
— Nunca mais levo você a lugar algum. E se você ameaçar, eu falarei com o papai que você some nos lugares e não dá notícias.
— Nem vem! Pedi para um amigo olhar se você estava bem e ele disse que você estava conversando com uma moça. Hoje, nós duas ganhamos. – Alice deu de ombros e seguiu para o carro.
— Abusada! – gritei e minha irmã me mostrou o dedo do meio. Eu odiava essa liberdade que a gente tinha com a outra.
Quando chegamos em casa, eu fui direto tomar um banho. O ruim de ir à praia é que depois você encontra areia em lugares inusitados.
Demorei um bom tempo no banho.
Ao ir para o quarto, eu me sentei na cama e me lembrei de Taís. Queria vê-la novamente, no entanto, eu não estava muito disposta a voltar à praia tão cedo.
Como havia alguns trabalhos da faculdade, eu peguei meus materiais e comecei a ver por onde iria começar. Eu cursava administração em uma faculdade pública de minha cidade no turno da noite. Gostava desta minha rotina de universitária. Ainda mais, porque eu amava o meu curso.
As horas passaram e quase não vi a minha irmã. Ela devia estar cansada de tanto beijar. Mesmo eu sendo mais velha 5 anos, a minha irmã já havia ficado com mais pessoas do que eu.
Alice não perdia as oportunidades e, quando queria, corria atrás. Já eu, sou bem tranquila. Sou lésbica assumida desde a minha adolescência, mas não sou alguém que costuma ficar com uma pessoa em todos os lugares que vai. Acho que me falta um pouco de disposição para chegar nas meninas.
Logo a segunda chegou e, com ela, uma semana cansativa e estressante. Na faculdade estava sendo uma correria, pois já estava se aproximando do final do semestre, isso para muito não era um bom sinal.
— Duda, estamos querendo ir a uma festa manhã na casa de Bernardo. Aceita ir com a gente? Não aceito um não como resposta – Minha amiga, Heloísa, disse quando estávamos saindo da faculdade.
Era sexta à noite e eu só estava pensando em usar o dia seguinte para recuperar o meu sono perdido com os trabalhos da faculdade.
— Eu não sei, estou muito cansada. – Apoiei o meu corpo no carro e comecei a olhá-la.
— Duda, você sempre está cansada. Tem que animar um pouco. Vai ter cada menina bonita lá. Se você não for, vai perder esta oportunidade.
Comecei a rir, pois Heloísa sempre achava que poderia me convencer a ir a algum lugar comentando sobre as mulheres que poderiam estar lá.
— Tudo bem! Que horas vai ser isso?
— Às 22 horas. Vou esperar você lá. – ela comentou enquanto andava em direção ao seu carro.
***
Sexta à noite, eu estava em frente ao meu espelho tentando organizar os meus cachos que teimavam não ficar no local colocado.
— Vai aonde? – Minha irmã surgiu com aquela carinha de: me leva junto.
Balancei minha cabeça negativamente. A última coisa que eu queria era ser babá de uma adolescente naquela noite.
— Você não vai – disse firme e pelo espelho vi ela revirar os olhos.
— Eu nem queria.
— Ainda bem, pois assim não passa vontade. – Virei o meu corpo. – O que acha?
— Não vai pegar nem gripe. – Eu fechei a cara com o comentário dela. – É brincadeira, você está ótima.
Voltei a me olhar no espelho. Naquela noite, eu estava vestindo um vestido preto com uma bota preta de cano curto. Os meus cabelos cacheados que batiam em meus ombros, estavam soltos.
Usava pouca maquiagem, já que eu não gostava muito.
— Acho que já posso ir! – Peguei a minha bolsa e minha irmã começou a me olhar como se fosse um cachorro que havia caído da mudança. – Amanhã, eu te levo a praia – falei já pensando em Taís.
— Tenho que estudar para uma prova na segunda, não posso e também não quero. – Alice saiu do meu quarto, chateada.
Não queria levá-la, pois tinha medo da minha irmã sumir e eu passar a maior parte do tempo preocupada com ela.
Às 22 horas, eu cheguei à festa na casa de Bernardo. Havia muitas pessoas dançando e bebendo. A música alta tomava conta do ambiente e isso não me deixava muito animada.
— Ainda bem que você veio. – Heloísa surgiu grudada no pescoço de uma garota, com certeza elas estavam ficando naquela noite.
— Ontem, você me intimou a vir. – Comecei a andar com ela. A todo momento, alguém bêbado esbarrava em mim. Não sei se era impressão minha, mas a festa devia ter começado logo que anoiteceu.
— A festa começou mais cedo. Esta é Luana. – Apontou para a moça morena que estava ao seu lado. – Luana, esta é minha melhor amiga, Duda.
Luana e eu trocamos cumprimentos e algumas palavras.
— Amiga, veja aí se acha alguma moça legal para você. – Notei que Heloísa já estava um pouco bêbada. – Vou sair um pouco com Luana. Depois a gente se vê. – Ela começou a subir as escadas da casa de Bernardo.
Não queria nem imaginar a bagunça que iria virar aquilo tudo. Pelo que me disseram, os pais de Bernardo haviam ido viajar. Sempre que isso ocorria, ele abria a sua casa para os “amigos". Sendo sincera, aquele local estava uma bagunça.
Peguei uma bebida e comecei a andar sem rumo. A música alta invadia os meus ouvidos. Eu estava um pouco entediada, mesmo com a animação das pessoas ao meu redor.
As pessoas gritavam e riam sem parar. Os vizinhos poderiam se incomodar com isso se caso tivessem vizinhos. A casa de Bernardo ficava mais afastada, por isso ele aproveitava a saída dos pais para fazer festas.
Como Heloísa havia me abandonado para ficar com Luana, eu aproveitei para dar uma volta pelo ambiente. Havia muitas moças bonitas ali, porém nenhuma me interessou.
— Tá perdida? – uma voz conhecida tomou conta do ambiente e eu senti um toque delicado em um dos meus ombros.
— Taís – falei ao me virar. – O que está fazendo aqui? – perguntei e comecei a sorrir. Estava feliz por reencontrá-la e ela estava muito linda usando um vestido vermelho e uma rasteirinha nos pés.
— Ah... – Ela olhou em direção a um grupo de jovens. – Uns colegas da faculdade me chamaram. Estava sem nada para fazer. – Deu de ombros. – Resolvi vir, mas confesso que estar horrível. – rimos e começamos a andar sem uma direção certa.
— Acho que estou como você. Minha amiga foi ficar com uma moça e me deixou.
— O bom é que você não está de vela. Isso seria pior. Então... – Ela tomou um pouco do refrigerante que estava segurando. – Não tem nada para fazer agora?
— Hum, não. Estou totalmente entediada. – Rimos juntas. Acho que isso estava se tornando comum entre nós. – Quer ir para algum outro lugar? – perguntei e olhei diretamente nos olhos dela. Taís sorriu um pouco de lado. Sendo sincera, eu estava gostando do jeito dela.
— Já foi à praia à noite?
— Taís, você viu aquele dia que eu não gosto de praia. – Voltamos a rir e senti a mão macia dela segurando a minha.
— Ah... Eu gosto. Vivo lá. Vendo picolé para poder comprar as xerox da faculdade. São muitas.
— Eu te entendo. Já estou quase vendendo um dos meus rins.
Taís gargalhou.
— Bom... Você cursa o quê? – Perguntei e entrelacei os meus dedos aos de Taís. Estava sendo agradável segurar a sua mão. O engraçado é que ela me guiava e eu não fazia questão de saber para aonde estávamos indo.
— Pedagogia. Estou no quarto semestre já. E você?
— Administração... 5 semestre.
— Você pretende fazer o quê depois?
— Hum... Acho que tentar uma vaga de emprego na empresa que meu pai trabalha – comentei sem muita certeza. Taís apenas riu e não disse mais nada. – Quer mesmo ir à praia?
— Quero sim. Você vai fazer essa minha vontade? – Ela parou em minha frente começou a me olhar de uma forma pidona. Taís era um pouco mais baixa que eu. Era um pouco gordinha e tinha aquele jeito fofo que faz você querer colocar entre os seus braços e apertar.
— Bom, vamos. Se essa é sua vontade. Venha, eu estou de carro – comentei e pensei em Heloísa. Seria bom avisar que eu iria sair, todavia acho que ela estava ocupada demais com coisas mais “importantes”.
Não demorou muito para chegarmos a praia. Taís parecia uma criança andando pela a areia. Achei isso muito encantador.
— Você deveria se soltar mais. – Ela segurou em uma das minhas mãos e me puxou para fazer os mesmos movimentos que ela.
De repente, caímos sentadas na areia e ela me olhou com intensidade.
— Por que você é tão séria? – ela indagou e comecei a rir. Taís não era a primeira a dizer aquilo.
— Bom... acho que é por conta da idade. – Apoiei as mãos na areia e comecei a olhar para o céu. Talvez Taís tivesse razão, a praia à noite era diferente, agradável.
— Acho que você não é assim tão mais velha que eu. – Ela aproximou o seu rosto no meu e começou a me olhar com curiosidade. Senti meu corpo esquentar com essa proximidade.
— Quantos anos você tem? – perguntei com um tom de voz baixo. A verdade é que comecei a reparar bastante nos traços da face de Taís. Ela era muito linda.
Taís sorriu.
— Vinte e você?
— Vinte e um. Tá vendo, tenho motivos para ser mais séria – falei e ela gargalhou. – Você acha tudo que falo engraçado? – perguntei e Taís pareceu pensar por alguns instantes.
— Não sei se o que você diz é engraçado, mas sinto vontade de rir do que você fala. – Ela mordeu os seus lábios e olhou diretamente em meus olhos.
— Será que você vai achar isso engraçado também? – comecei a fazer cócegas em Taís e quando me dei conta estava sobre o corpo dela que ficou deitado na areia.
Ao notar como estávamos, eu parei todos meus movimentos e comecei a reparar em Taís que parecia estar fazendo o mesmo.
Ficamos em silêncio, eu não sentia vontade de perder o contato. O meu coração parecia querer sair do meu peito. Batia muito forte.
Com minha falta de ação, Taís começou a tocar os meus braços. Ela parecia estar pedindo para eu me aproximar mais.
Sentindo todo meu corpo tremer, eu juntei os meus seios nos de Taís e comecei a beijá-la devagar. Os seus lábios eram delicados como ela.
Enquanto nos beijávamos, senti as mãos pequenas de Taís tocando o meu corpo sem pressa.
Estava totalmente em chamas com aqueles toques.
Com o término do beijo, eu apoiei a minha testa na dela e comecei a rir sem parar. Nunca imaginei que uma ida a praia poderia me possibilitar algo tão maravilhoso.
— Eu gostei – comentei e senti a boca dela roçando na minha. Ela pediu passagem para a sua língua quente. Mais uma vez nos beijamos. Tais tinha toques carinhosos. Contornava o meu rosto com seus dedos e beijava o meu pescoço sem pressa. Passei a desejar estar ali sempre.
— Acho que podemos repetir este passeio outras vezes – ela comentou ao dar um selinho rápido em meus lábios.
— Claro! – falei e comecei a sorrir feito boba enquanto eu olhava para Taís que parecia estar da mesma forma que eu.
Fim!
Fim do capítulo
Olá,
O que acharam?
Espero que tenham gostado.
Quero saber a opinião de vocês.
Beijinhos^^
Van^^
Comentar este capítulo:
Rosa Maria
Em: 05/10/2020
Van...
Só me tira uma dúvida: você está se especializando em publicar contos deixando as leitoras com gosto de quero mais? Ao menos os dois que eu li fiquei com essa impressão...kkkkk. Belo conto.
Beijo
Rosa🌷
Resposta do autor:
Olá,
kkkkkkk Não estou me especializando não.
Eu estive sem cabeça para escrever esses dia. Resolvi escrever este. Comecei sem rumo, sem saber no que iria dar. kkkkk Pois quando estou com bloqueio, eu fico sem noção do que escrever. Mas gostei do resultado, mesmo sendo algo inesperado para mim.
Quando comecei este conto, eu só sabia que Duda iria a praia e teria que conhecer alguém lá. kkkkkkkkkkkkkkkkk
Fico feliz por ter gostado do conto.
Muito obrigada pelo seu comentário.
Beijinhos^^
Van^^
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]