RED por Rose SaintClair
A História de Kate
A neve caia em flocos finos, mas eu não me importava. Amava o inverno. Era a época do ano em que ficava mais confortável com meu corpo, pois podia usar casacos que cobriam as inúmeras cicatrizes que incrustavam a minha pele alva. Parei na cafeteria da esquina e comprei o meu expresso forte e sem açúcar. Não começava o dia sem ele. Ainda mais depois da noite que tive. Fazia meses que o pesadelo não me assombrava.
Na rua virei o rosto para cima, deixando os flocos brancos caírem na minha face. A lembrança ainda estava latente...
“Deitada no chão imundo, o cheiro de mofo entrava pelas minhas narinas e fazia a minha glote fechar. ‘Não, eu não posso apagar novamente.’ O suor frio escorria entre o vale dos meus seios, entreabria a boca tentando desesperadamente capturar qualquer partícula de oxigênio disponível, mas o trapo sujo, de coisas que não quero nem imaginar, estava cobrindo os meus lábios como uma mordaça dificultando tudo. Não sabia há quantos dias eu estava ali atada, amordaçada e presa naquele porão escuro, úmido e imundo. Perdi as contas de quantos cortes ELE fez na minha pele. Perdi as contas de quantas vezes ELE me tocou com suas mãos sujas. Perdi as contas de quantas vezes ELE...
Eu perdi a sanidade. Eu perdi a esperança. E o pior de tudo é que eu sabia que ninguém estaria me procurando porque ELE deve ter dito à minha mãe: “Sophie fugiu novamente Gemma”. E como mamãe não iria confiar NELE? Todo mundo confia NELE.
A porta bateu com força e o homem se aproximava. Sabia que era a hora. Sabia o que me esperava. Ele se ajoelhou ao lado do colchão manchado onde eu jazia nua e, como sempre, dizia: Boa noite, garotinha!”
Novamente, como em todas as noites em que isso ocorria, acordei gritando. Só que dessa vez estava sozinha. Mark estava viajando e Ash em Boston. Pensei seriamente em ligar para ela, mas não queria incomodar. Sabia que ela tinha acabado de prender um serial killer que assassinava prostitutas. The Butcher como o chamavam. Certamente ela deveria ter passado a noite comemorando.
Joguei o copo de café vazio no lixo, entrei no saguão do Bellevue Hospital e acenando para os recepcionistas adentrei o elevador. Ninguém me notava e sempre dava graças a Deus por isso. Durante todos esses anos de “exílio” fiz o possível para ser invisível.
O máximo de vaidade que me concedia era o brilho nude nos lábios e o delineador preto ao redor dos meus olhos azuis. Escondia a minha cabeleira preta sempre em um coque sem graça. Já me acostumei com essa coloração de cabelo que outrora era de um ruivo brilhante.
– Kate onde você estava? Hoje isso aqui está uma loucura e o Lula Molusco está te procurando. – Meu auxiliar David falou assim que coloquei meus pés no lugar que era o meu preferido no mundo todo, o Departamento de Medicina Legal da Cidade de New York.
– Gosh, ninguém merece isso em uma segunda-feira de manhã. – Dirijo-me até a minha sala e peguei um café na cafeteira que David sempre deixava pronto para quando eu chegasse. Enchi até a borda minha caneca com o líquido marrom, forte e amargo. Olho para a porcelana branca com os dizeres: “Cuidado... eu sei usar um bisturi!” e um emoji sangrento. Sim, meu humor é estranho e sim, sou viciada em café.
Sentei-me a minha mesa e comecei a verificar os “clientes” da manhã. Sim, “clientes” porque mesmo sendo médica era muito estranho chamá-los de pacientes. “Paciente” era um indivíduo doente ou sob cuidados médicos, o que não era o caso. O pessoal que eu “atendia” já estava geladinho em cima da mesa de necropsia.
A porta foi aberta e Larry Adams, chamado sem saber de Lula Molusco, entrou com aquele cabelo seboso tentando tapar uma calvície proeminente. Não consegui disfarçar a minha expressão de asco quando o vi.
– Kate você está deslumbrante hoje. – O detetive, sem a menor cerimônia sentou-se em cima da minha mesa quase derrubando o meu café. Logicamente, se isso acontecesse seria um homem morto. Ele estava tão perto que podia sentir a sua loção pós-barba mentolada. Meu café da manhã subiu pela minha garganta e quase deu “bom dia” a ele. – O que você acha de tomarmos alguma coisa depois do expediente? – Sabe um cara sem noção? Larry Adams era a personificação dele.
– Larry, já falei a você que não saio com colegas de trabalho. – Disse me levantando para ficar o mais longe possível do homem. Mesmo sem nunca dar qualquer motivo para que me assediasse ele não cansava.
– Peço a minha demissão hoje mesmo! – Não era possível, até as suas piadas sem graça me agoniavam. Fechei meus olhos e contei até dez para que não surtasse na sua presença.
– O que você tem para mim? – Peguei os arquivos na sua mão que roça na minha. Um arrepio de nojo passou pela minha espinha.
– Uma prostituta com certeza. Encontrada nua em uma caçamba de lixo. Deve ter sido morta pelo cafetão ou algum cliente.
– Não entendo o porquê de você vir até aqui para me entregar em mãos? Não parece ser importante.
– Não é, mas como eu estava com saudades vim aqui ver você. – NOJO!
– Detetive, já que me entregou o arquivo, o senhor pode ir agora. - Falei prestando atenção às fotos dentro da pasta e subitamente meus olhos se fixaram em uma lesão específica.
Sai correndo da minha sala deixando o palerma engomado me olhando sem entender. Na sala de necropsia, Jonas meu outro assistente, estava preparando os cadáveres para que eu iniciasse as autópsias do dia.
– Jonas, onde está “Jane Doe 2289”? – Perguntei apressada verificando os papeis em minhas mãos.
– Última mesa.
Dirigi-me a passos largos até o local indicado e levantei o lençol. Meus olhos são captados pela marca sanguinolenta abaixo da clavícula direita. Letras perfeitamente entalhadas na pele alva e cheia de sardas. Palavras que reconheci. Palavras que escutava todas as noites nos meus pesadelos mais obscuros. Coloquei meus dedos no meu ombro direito e as mesmas palavras pareciam queimar a minha pele. “Boa noite, garotinha!”
Fim do capítulo
oi oi oieeee,
estão prontas para saber a história de Kate?
beijocas
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Rosangela451
Em: 07/09/2020
Kate q saudades!!!!
Personagem rico demais estou curiosa para vê o caminho que ela vai tomar
N some
Resposta do autor:
aeeeee Roooo
temos Kate!
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