🎶 E da um empurra empurrar aqui!! Mas tá gostoso! E da um empurra empurrar ali !!! Mas tá gostoso!! Melhor ainda é pular no meio do povo!!! 🎶

E meu dia já começou assim...

Corpos suados, gente pulando grudados sem espaço, num aperto "gostoso". Pessoas beijando várias bocas todos animados a música alta do trio elétrico próximo a seus ouvidos fazendo seu corpo vibrar. Isso se chama Carnaval !

Quem já foi vai se lembrar claramente desse momento.

E lá estava eu. Se divertindo? Pulando? Não brasil. A Isaura aqui, estava trabalhando mesmo... Triste né? Mentira!! Estava trabalhando mas curtindo é claro, pois não sou besta, ainda mais no último dia de carnaval...

E foi assim o início, e fim do meu humilde dia de trabalho, que descrevi aqui rapidinho para vocês, mas falando agora de mim.

Para quem não me conhece, me chamo Isabela, moro sozinha.
Fugi de cada aos 16 anos. E como sempre acontece em algumas famílias, a minha foi uma dessas que também não aceitou minha orientação sexual.

Sofri maus-tratos por muito tempo, apanhava diariamente, era mantida em cárcere privado, até o dia em que consegui fugir, e hoje aos 23 anos vivo sozinha em uma casa humilde, que tenho orgulho em dizer que é minha, que depois de muita luta consegui conquistar.

Moro na Bahia de todos os Santos. Sou Gari com muito orgulho! Posso dizer que é um trabalho duro, mas que gosto muito, e foi por conta dele que consegui concluir o ensino médio com muito esforço, já que depois que fugi de casa, comecei a morar nas ruas.
Mas um anjo chamada Letícia, minha professora, ajudou-me bastante, e foi com ajuda dela também que consegui um abrigo no Colégio, onde consegui concluir os ensinos.

E como as senhoritas já devem ter percebido, sou lésbica! Isso mesmo! Adoro um pepeka! Ops! Desculpem o palavreado não me segurei...

Mas imagina aí?! Eu, linda, leve e solteira em Salvador, tentador não?!

Bom, não me acho uma beleza rára, me acho linda e pronto! Vocês devem esta me achando meio doida, mas sou mesmo, bastante elétrica no dia-dia, e na vida.

Não tenho mais contado da minha família, eles nunca me procuraram isso me deixa triste porém foi uma decisão deles, por conta de um preconceito absurdo.

Mas vou me apresentar direitinho. Me chamo Isabela Freitas, tenho 23 anos, soteropolitana, com 1,80 de altura sou negra, cabelos curtos na altura do pescoço meio encaracolado, olhos completamente verdes. Pois é ! A única coisa linda que herdei da minha família.

Não preciso muito de academia, já que minha profissão me ajuda a ficar com o corpo bem definido, devido a corrida diária recolhendo lixo e varrendo ruas.

Considero um trabalho digno para qualquer um, independente de ser homem ou mulher, ou seja, um trabalho comum.

Mas, corrigindo o que eu havia dito, não moro totalmente só, tem o meu cachorro, Marley, meu fiel vira lata que encontrei filhote abandonado dentro de uma caixa próximo a uma lixeira em um dia de coleta, junto com dois irmãos, que também foram prontamente adotados por meus amigos de trabalho, e Marley hoje é meu melhor amigo.

Falando mais a respeito da minha profissão.

Ela exige muito de mim, tanto no emocional quando no físico. O trabalho não é fácil, conheço a maioria das ruas dessa cidade, até porque, minha vassoura já passou por todas elas.

Infelizmente é uma profissão muito discriminada na sociedade. Não á respeito com o outro, a maioria que me vê varrer ruas, acha que por falta de interesse não estudei para conseguir algo melhor, sendo que, até para tal profissão que muitos acham ruim, exige de mim o empenho e o se segundo grau completo claro!

A maioria acha que por ser gari, não sou merecedora de um bom dia, boa tarde ou boa noite... Que sempre estarei abaixo disso, não merecendo o reconhecimento tanto na profissão, quanto na vida. Alguns te olham com cara feia ou de nojo. Não encostam achando que você está com mal cheiro.

São atos como esse que nos deixa triste e decepcionados com as pessoas, que julgam sem antes conhecer, mas é a sociedade que nos cerca, cheia de preconceitos e atitudes errôneas de quem se acham melhor que todos.

Bom, voltando a minha humilde vida...

Atualmente estou solteira terminei recentemente um namoro de quatro anos. Pois é! Mas não foi culpa minha não viu?! A danada me deu um baita chifre! Triste ne?! Mas é vida que segue.

Tenho pena dela por ter perdido uma pessoa tão especial quanto eu U.U. Modéstia parte, sou um ótimo partido.

Esses dias só estou vivendo para o trabalho é para o Marley, meu parceiro de vida e enrascadas. Mas chega de falar de mim, agora vamos ao trabalho que o dia vai ser longo.

~*~

Escuto uma buzina insistente no meu portão, já sabendo de quem se tratava.

Saiu correndo tentando calçar a bota que insistia em não entrar no meu pé quase me derrubando encima do Marley que me acompanhava brincando.

Logo quando abro a porta, meu amiguinho sai correndo encontrando meus parceiros de trabalho que já esperavam no carro.

- Vamos Marley, a mamãe tá atrasada.  - pego o "pequeno" que insistia em querer entrar no fundo do caminhão.

- Hoje não Marley.  - diz Manoel, meu amigo, ajudando a colocar o danado para dentro.

Coloco meu filhote dentro de casa trancando a porta e seguindo para mais um dia como outro.

- E aí como passou o final de semana?  - pergunta Manoel, ao subir no fundo do caminhão.

- Calmo. Tirei o dia para descansar um pouco. E dar umas voltinhas na praia com meu grandão.

- E a Fernanda, ainda te ligando? - pergunta Manoel.

- De minuto em minuto, tive que desligar o celular para ver se parava. A mulher me infernizou tanto, que fiquei com raiva do toque do meu celular.   - penso nos dias com minha ex, e como ela foi burra em jogar fora um relacionamento tão lindo por desejo.

- Aquela vacilona! Agora fica correndo atrás, mas vamos mudar de assunto. Hoje tem coleta nos hotéis da Barra, to doido para ver aqueles granfinos gostosos passar...  - diz Manoel com cara de paisagem.

- Larga de ser besta! Você acha mesmo que eles vão passar por perto de nós?! - pergunto enquanto desço correndo do carro para pegar e lixo e voltando para dentro do mesmo, ficando em pé no caminhão.

- Claro que passam, mas infelizmente com aquela boa e velha cara de nojo. Mas tá valendo, só de ver aquelas bundas e músculos já vou ganhar meu dia.

- Isso é verdade, aquelas bundinhas branquelas são de matar qualquer ser humano... No meu caso as bundinhas das mulheres claro!

A conversa é encerrada logo quando chegamos nos prédios. Esperamos um pouco aguardando a liberação, para logo adentrarmos dando início a nosso trabalho.

- Bela, vamos para o barzinho hoje? É segunda mas tô afim de encher a cara.  - diz Manoel, enquanto jogamos o lixo no caminhão.

- Vamos sim, estou precisando de uma cervejinha para animar e beijar um pouco na boca.

- Você só não pode beber e ficar chorando, que te largo lá mesmo.  - diz com ar de riso se esquivando do saco de lixo que joguei em sua direção, mas para o meu azar logo atrás dele tinha uma moça que vinha andando em nossa direção para jogar o lixo. Já podem imaginar a merd* que deu ne?

- Fudeu!... - fecho os olhos ao escutar o grito dado pela branquela, que tinha uma cara de fresca que vocês nem imaginam!

- Aiiiii!!!!! Sua irresponsável ! Você me sujou toda olha isso?!! - olho para minha blusa completamente manchada, meu sangue ferveu na hora.

- Desculpa senhora, não foi minha inte... - sou interrompida pela maluca que ainda gritava que nem louca.

- CALA A BOCA! Eu estou fedendo por sua causa e completamente molhada!!  - estava quase batendo naquela gari favelada.

- Olha senhora, o fedor vai passar com um banho, agora creio que não lhe deixei molhada. Até porque eu mesmo trataria de secar. Mas com a língua... - gente não sei o que me deu, mas, ver a branquela com aquela blusinha branca molhada já transparente fez minha imaginação voar legal.

Olhei para o Manoel que me encarava com os olhos arregalados tentando conter o riso ao ver o rosto da branquela ficar vermelho igual camarão.
Analisei o corpo da mulher mais baixa como se á devorasse "até que a danada era bonitinha".

- M-mas como ousa! Su-sua insolente!! Pervertida... - não acreditei no que havia escutado. Mas o modo que aquela favelada me olhou me fez arrepiar, " Santo Deus acho que estou ficando louca. "

- Bom, já pedi desculpas agora tenho que voltar ao trabalho. É bom a senhora sair de perto para não levar outra sacolada.  - volto ao meu trabalho pegando as sacolas e jogando no carro. A branquela ainda ficou um tempo ali, parada com a boca aberta, mas logo saiu pisando duro.

Logo após sua saída, olhei para Manoel que me olhou e acabamos rindo sem parar, não sei de onde tirei coragem para falar aquilo, mas o olhar de nojo que a branquela lanço para mim, fez nascer uma coragem que eu nunca pensei ter.

- Você só pode ser louca Isa, como você fala uma coisa daquela ? A mulher saiu cuspindo fogo.  - meu amigo ainda ria.

- Ela mereceu, estava botando banca demais, agora vamos terminar logo ante que ela volte.

Um tempo depois já com todo lixo recolhido seguimos em direção a saída do prédio, e adivinha quem estava fazendo caminhada logo mais a frente? Pois é! Só de olha para a branquela um sorriso divertido surgiu em meus lábios, a danada até que era bonita, mas seu pedestal era mais alto.

Quando ela deu por conta da minha presença, a mulher praticamente me fuzilou com os olhos, acho que se ela tivesse uma granada em mãos jogaria em mim sem pena.

Fim do capítulo