Na manhã seguinte, Sophie acordou disposta apesar de ter exagerado na bebida na noite anterior e quando Quinn levantou ela já havia corrido por uma hora na esteira da academia. Era véspera de Natal e seria o dia da festa da fundação que a Helen trabalhava. Mesmo sendo um dia corrido, ela fez questão de preparar um belo café da manhã para que as três pudessem comer juntas.

– Bom dia, Quinn! Me perdoe por não ter estado presente ontem quando você chegou para te receber – falou simpática assim que ela entrou na sala de jantar.

A mesa estava posta com as mais diferentes opções de doces e salgados.

– Não precisa se preocupar. Sei que você está bem ocupada com os preparativos da festa e inclusive gostaria de agradecer mais uma vez pelo convite para o Natal! – respondeu com o seu sorriso mais sincero.

– Não precisa agradecer! É um prazer ter você conosco!

Quinn já imaginava que Brian tivesse conversado com ela sobre sua situação e teve a certeza ao perceber o quanto ela estava sendo mais simpática que o normal. Ela estava realmente se esforçando.

– Bom dia, amor – falou Sophie entrando suada e dando-lhe um rápido beijo.

Quinn ficou sem graça ao perceber que Helen definitivamente não havia gostado de presenciar a cena e fez uma nota mental para evitar uma grande proximidade com Sophie em sua frente.

As três se sentaram à mesa e comeram enquanto conversavam sobre amenidades. Um pouco mais de uma hora depois, Helen saiu para fazer os últimos preparativos para a festa e ir ao salão fazer unhas e cabelo.

– Essa festa parece ser mesmo uma coisa importante! – Quinn comentou.

– E é... Você vai ver hoje à noite – falou Sophie e então mudando de assunto – Como hoje é véspera de Natal não tem tanta coisa aberta na cidade para eu te mostrar, mas pensei em irmos até o City Hall, a decoração de Natal é sempre linda e tem um ringue de patinação no gelo muito legal!

Quinn rapidamente se animou para conhecer a cidade e amava patinação no gelo. Por alguns segundos deixou-se carregar pelas lembranças de quando era criança e a mãe sempre lhe levava. Espantou os pensamentos e foi se arrumar. Em menos de meia hora as duas saíram e foram de metrô até o centro de Philly.

Sophie estava muito animada para mostrar a cidade para a namorada e era muito óbvia a sua paixão por Philadelphia. Até o simples andar de metrô era prazeroso para ela. Assim que chegaram no centro, Sophie começou a apontar lojas e lugares que gostava de frequentar.

– A gente pode encontrar meu pai para almoçar depois, o apartamento dele fica aqui no centro.

– Foi para onde ele se mudou quando eles se separaram? – perguntou.

– Foi. Ele gosta de ficar mais perto da movimentação, sabe? E a escola que ele era treinador antes de ir para Greatdale não era longe daqui.

– Bom, eu topo um almoço com ele! – Quinn concordou e Sophie mandou uma mensagem marcando com o pai.

Assim que chegaram na Chestnut Street, Quinn conseguiu ver a exuberante construção do City Hall. Depois se aproximaram e chegaram no Dilworth Park que era bem em frente e que, naquela época do ano, estava com vários comerciantes locais e o grande ringue de patinação no gelo.

Quinn quis conhecer o prédio antes de patinarem e se maravilhou com aquela construção histórica. Sophie, que não saberia dizer praticamente nada da história do mundo, sabia tudo sobre a história de Philadelphia e foi maravilhando a namorada com um monte de informações sobre o lugar. Muitas coisas Quinn já sabia, pois eram fatos essenciais na história do país, mas ela adorava ver Sophie animada falando tudo sem parar.

– Philadelphia em grego quer dizer amor de irmão e por isso que é conhecida como “the city of brotherly love”. E claro que daqui a pouco vou te levar no Love Park!

– Adoro ver você falando assim tão apaixonadamente da cidade! – Quinn riu indo dar-lhe um beijo.

As duas aproveitaram para tirar fotos com a enorme árvore de Natal que Quinn tanto adorou. Para ela tudo aquilo era novidade. Nunca se sentira tão livre e tão leve.

Foram patinar e ela riu ao ver que Sophie era tão boa naquilo como era em todos os esportes. Por mais que adorasse patinar no gelo, Quinn não chegava aos pés da namorada e por conta da falta de prática precisou de sua ajuda algumas vezes.

As duas se divertiram no gelo e logo depois caminharam até o Love Park que ficavam bem pertinho. Quinn quis tirar várias fotos no sinal de Love, que dava o nome ao parque, e as duas ainda caminharam pelas barraquinhas locais que sempre estavam lá nessa época de natal. Beberam algumas bebidas quentes sentadas lado a lado, aproveitando a companhia uma da outra.

Só levantaram para encontrar com Brian para almoçar, com a promessa que outro dia retornariam à noite, para que Quinn pudesse ver todas as luzes de Natal e a decoração do City Hall que ficava muito mais exuberante à noite. Foram em um restaurante local que ele adorava e passaram quase duas horas lá conversando e comendo com calma antes de voltarem para se arrumarem para a festa.

Helen ainda estava no salão quando chegaram e as duas tiveram um tempo para namorarem antes que ela chegasse.

– Amor, eu odeio ter que falar isso – começou Sophie quando as duas estavam abraçadas no sofá – Mas eu meio que tenho um acordo com a minha mãe de ficar no armário durante esses eventos... Eu sei que é estúpido e eu odeio ter que fazer isso, mas para ela a pior parte de eu ser gay é justamente o que os outros vão falar...

Quinn definitivamente não queria se esconder nunca mais, entretanto, ela conseguia entender Helen. Nada daquilo estava sendo fácil para ela e mesmo assim ela estava se esforçando para dar o seu melhor. Pelo que Sophie havia contado da mãe, aquele ato de a convidar para o Natal já era um enorme passo.

– Tudo bem, meu amor – ela reconfortou Sophie fazendo-lhe um carinho no braço.

– Mas não está tudo bem! Eu odeio isso! Ela não me deixa nem contar para o restante da família! Já sou obrigada a ir nesses eventos e ainda vou ter que te apresentar como “amiga” – reclamou.

– Ela está tentando e acho que ganha uns pontos por isso – falou Quinn pensando que sua mãe nem tentava e aquele pouco que Helen oferecia, para ela, já parecia muito – Isso é difícil para sua mãe, dê um tempo para ela... Aos poucos ela vai chegar onde você quer!

Sophie percebeu que não era justo ela reclamar da mãe naquele momento. Por mais que ela não fosse perfeita, poderia ser muito pior.

– Você está certa! Eu vou deixar ela ir no próprio ritmo! – e deu um beijo em Quinn antes de completar – Mas vai ser muito difícil manter minhas mãos longe de você a noite toda!

– Então é melhor a gente aproveitar bastante agora – falou Quinn aprofundando o beijo ainda mais.

As duas ficaram ainda perdidas no sofá namorando por alguns minutos antes de Helen chegar e Quinn quase que pular para longe de Sophie.

Aquilo foi um sinal de que já estava na hora de se arrumarem e cada uma foi para o seu quarto. Quinn reutilizou o vestido do Winter Formal e mesmo com Sophie já tendo visto ela nele, não deixou de olhá-la com aquele olhar de reconhecimento e adoração que tanto amava.

Helen ajudou com a maquiagem das duas e antes de saírem, Sophie deu um grande beijo na namorada e passou a mão por todo o seu corpo.

– Tenho que aproveitar enquanto posso – riu.

Quinn aprofundou o beijo enquanto mantinha o ouvido atento para a chegada de Helen e assim que ouviu os passos se aproximando, afastou-se de Sophie com um sorrisinho sexy e as três saíram em um carro com motorista.

Quando chegaram no grande salão de eventos, Quinn se surpreendeu com o lugar. Nunca em sua vida chegara perto de um evento daquela magnitude. Parecia ser algo exclusivo para pessoas muito ricas e Sophie lhe explicou que cada mesa custava uma fortuna. Todo o lucro era então utilizado pela fundação para diversos projetos de caridade.

Todas as pessoas estavam vestidas bem formalmente, conversando em pequenos grupos. Sophie conhecia um grande número de pessoas e Helen apresentou Quinn como uma amiga da família, mas em pouco tempo desvencilhou-se das duas para cumprimentar o restante das pessoas.

– Tem mais alguém da sua família aqui? – Quinn perguntou curiosa, ainda olhando cada detalhe do exuberante salão.

– Não. Meu tio e minha tia já moram na costa leste há alguns anos e desde então nunca voltam para as festas. Meus avós vinham antigamente, mas nos últimos anos eles decidiram usar essa época do Natal para viajarem. Meu avô nunca tira férias, então eles aproveitam esse recesso. Acho que esse ano eles estão em algum cruzeiro ou algo assim – respondeu Sophie pegando uma taça de champanhe de um garçom que passava.

– Você vai beber isso? – se surpreendeu com o fato da namorada beber na frente da mãe.

– Nessas festas ninguém liga para gente menor de idade bebendo, olha – apontou alguns outros jovens fazendo o mesmo – E minha mãe não reclama, contanto que eu mantenha a pose – falou com descaso.

– Você realmente não tem paciência para esses eventos, né? – Quinn riu da feição enfadonha da namorada.

– E você tem?

– Não acho ruim – admitiu – O lugar é lindo! A música está ótima! – falou apontando uma pequena orquestra no palco – Aposto que a comida também vai ser maravilhosa! – então aproximando-se um pouco para sussurrar em seu ouvido completou – O único problema é que você está maravilhosa e eu não posso te agarrar.

Sophie riu e sentiu-se arrepiar.

– Isso é um problema grave! – riu, mas não pôde continuar a conversa pois foram interrompidas por alguns colegas de trabalho da Helen que foram cumprimentá-las.

Quinn estava curiosa para saber quem eram todas as pessoas e ela e Sophie deram uma volta pelo salão para que ela pudesse apontar as pessoas.

– Eu não acredito que tem gente da admissão da University of Pennsylvania aqui! – falou surpresa.

– Minha mãe não conhece eles tão bem, mas tem uma boa relação com o pessoal da Temple – apontou outro grupo de pessoas – Meu avô é um grande doador – Sophie falou como se não fosse algo relevante e apontou pessoas de algumas outras universidades também.

Na hora que o jantar foi servido, as duas se sentaram à uma mesa com Helen e outros funcionários da fundação. Apesar de nunca ter estado em um evento tão formal, Quinn conseguiu se adaptar muito bem, mantendo uma conversa cordial com todos. Se tinha algo que aprendera com sua mãe, era como ser respeitada e aceita por todos.

Como ela previra, a comida estava realmente maravilhosa e ela provou coisas que nunca nem pensara que comeria tão cedo. Ao mesmo tempo que se divertia com o ambiente diferente, percebia a namorada bem enfadonha. Com certeza ela trocaria tudo aquilo por um bar de esportes com asinhas picantes. Quinn não conseguia deixar de rir do esforço fenomenal que Sophie fazia para ser minimamente agradável.

Quando a festa já estava quase no final, Sophie e Quinn voltaram para casa. Helen ainda ficaria por mais tempo. Ela só poderia ir embora depois que todos os convidados saíssem e ainda precisaria organizar algumas últimas coisas.

Sophie não reclamou. Aquela era a melhor notícia da noite! Quando chegarem em casa, puderam aproveitar um tempo sozinhas. Tomaram banho juntas e se amaram algumas vezes no quarto de Quinn antes de ouvirem o som do carro deixando Helen. Sophie rapidamente correu para o seu quarto sem que a mãe percebesse e as duas dormiram felizes.

Fim do capítulo