Capitulo 36
Liguei para Yoko e esbocei possíveis mudanças no projeto de seu restaurante. Queria estar certa do que realmente ela imaginava e até marcamos um dia para podermos conversar. Pedi uma pizza em seguida, mas consegui comer só um pedaço. Estava caindo de sono e deitei na cama abraçando um travesseiro. Fechei os olhos e ouvi uma canção. Eu a reconheci porque ouvia sempre no carro e me veio uma lembrança de quando era mais nova.
Dirigia o meu porsche certa hora da noite e estava em alta estrada, havia saído de uma festa de amigos, havia bebido demais e resolvi encostar. Estava sufocada. Meus olhos estavam embaçando. Parei no acostamento ao lado de uma árvore e vomitei quase tudo que havia bebido. Eu nunca dei ouvidos para o meu pai ou até ouvia e algo que ele me disse sempre me assombrova “um dia quando você tiver idade suficiente vou lhe contar sobre sua mãe”. Esse dia nunca chegou. Um dia ele me chamou na sala dele e disse estar cansado das minhas atitudes infantis e da minha irresponsabilidade com a empresa. Eduarda ligou e ele precisou sair me deixando sozinha em sua sala. Olhei ao redor e abri as gavetas de sua escrivaninha, uma a uma, fiz uma careta e encontrei uma agenda antiga com folhas já amareladas. Folheei rapidamente e uma foto caiu de dentro dela. Recoloquei a agenda no lugar voltando a sentar na cadeira, como se nada tivesse acontecido. Parecia não ter dado falta daquela foto ou se deu... nunca mais a encontrou. Mais tarde, no meu quarto, acendi um cigarro e peguei a foto. “Ela se parece com você” “os olhos tem a mesma transparência que os seus”. Era a minha mãe? Só podia ser ela. A partir daquele dia nunca mais coloquei um cigarro na boca. Ela parecia feliz no meio daquela gente. Eu não reconhecia ninguém. Nem mesmo sabia se realmente era ela. Quem será esse pirralho? E que tipo de fotógrafo é esse que corta a cabeça das pessoas? “eu lhe contarei quando tiver mais idade sua irresponsável!” eu nunca pude perguntar quem eram aquelas pessoas, porque se eu mostrasse aquela foto, ele iria saber que foi eu quem pegou. “criança irresponsável!”... “te contarei toda a verdade”... “sua vadiazinha”...
- Céus... que merd* tudo isso! – disse saltando da cama.
Olhei as horas toda aturdida com as mãos na cabeça. Empurrei os travesseiros para o chão e fui para o banheiro. Olhei-me de relance no espelho despindo-me das roupas e abri o chuveiro entrando debaixo da água. Soltei um grito e encostei-me na parede. A água estava um gelo! Não estava fazendo nada certo. Esperei a água esquentar e entrei debaixo.
Quando enrolava meus cabelos na toalha meu celular tocou. Corri nua para sala, pegando o aparelho sobre a estante.
- E ai Mô, o que foi feito de você?
Sentei-me no sofá colocando no viva voz.
- Desculpa, mil desculpas!
- Que feio! – sorri.
- Fiquei presa no trabalho minha linda.
- Eu imaginei.
- Falei que seria complicado ser dia de semana.
- Pena que você não foi.
- Depois vamos sair para comemorar.
- Sim. E a Natalia?
- Só na curtição.
- Pelo visto...
- Ai para... – sorriu.
- Gostosa?
- Muito.
- Hum. – sorri. – Quem imaginaria hein?
- O que está pensando em fazer hoje?
- Está mudando de assunto ou...?
- Tentando mudar. – soltou uma gargalhada.
- Ah qual o problema? – sorri. – Só estou curiosa, vai!
- Melhor pessoalmente.
- Está bem. Vou para o All In com a Ive, quer vir? Chama a Natalia.
- Adoraria, mas hoje está apertado.
- Depois marcamos qualquer coisa então.
- Fechou um beijo. Conversaremos com mais calma depois.
- Ok. Outro.
Voltei para o banheiro, peguei outra toalha e me enrolei indo para o quarto. Separei calça jeans, uma camisa de mangas compridas e uma bota de cano curto. Penteei os cabelos e os deixei soltos.
Ouvi o barulho da porta e da chave sendo colocada sobre o tampo da mesa.
- Quem está ai? - disse escorando na porta. Eu não fazia idéia de quem poderia ser.
- Onde você está?
- Ive? - e fui até a sala estranhando ela ter voltado para o apartamento.
- Meu Deus o que houve?
Ive estava sentada no sofá tentando retirar a bota com uma das mãos.. Estava toda suja de sangue, com a manga da camisa cortada do lado esquerdo e cheia de arranhões no braço.
- Sofri um pequeno acidente lá na obra. – disse fazendo uma careta. – Desequilibrei-me e cai em cima de uma viga.
- Nossa... - e ajudei retirando suas botas.
- Estou bem foi só um susto. Desculpa, espero que não nos faça atrasar.
- Tudo bem. Estranhei porque havíamos combinado de nos encontrarmos lá.
Desci o zíper da calça jeans e desabotoei os botões da camisa.
-Tem certeza que quer sair?
- Claro, só preciso de um banho. – Já fiz curativo, não se preocupe já fui medicada. Foi só uns pontos nos ombro.
Depois de despi-la, ajudei com o banho enxugando seu corpo. Ive separou um vestido de alças para não arrancar o curativo. Penteei seu cabelo e calcei as sandálias.
- Você dirige, por favor?
- Claro!
Desliguei as luzes e saímos.
- Está doendo?
- Só ardendo.
- Tem que se tomar cuidado...
- Às vezes acontece... – ela sorriu.
Parei o carro e descemos. A noite estava tranquila e não havia nenhum sinal de chuva, apesar do céu encoberto e o ar humido. Entreguei a chave para o manobrista e entramos. As mesas estavam quase todas ocupadas e Ive havia reservado uma para nós no segundo piso. As luzes estavam fracas e o ambiente estava mais escuro, muito mais romântico. Todas as paredes haviam recebido uma camada nova de tinta.
- Vocês trabalharam duro. Ficou maravilhoso.
- Falta o terceiro piso agora. Vamos alterar luzes e móveis.
- Vai ficar muito bom... - e olhei para suas mãos.
- Vamos dançar?
- E o seu braço...
- Sem problemas, já passou e neste momento eu adoraria dançar com você.
- Está bem... - sorri.
E Ive levantou-se pegando na minha mão guiando-me para o centro, onde muitos outros casais também dançavam. Abraçou-me pela cintura e apoiou a cabeça no meu ombro. Fechei os olhos e senti o seu perfume, a sua pele macia e a abracei aconchegando o seu corpo no meu. Não sei por quanto tempo ficamos assim. Senti o seu coração bater descompassado. Virei o seu rosto para mim e a beijei segurando sua nuca. Sentia um desejo enorme por ela.
O garçom havia trazido nossas bebidas. Voltamos para a mesa e sentei ao seu lado, segurando sua mão. Ela olhava para meus olhos e depois descia para minha boca. Entreabriu os lábios e me beijou suavemente contornando a minha boca com a ponta da língua. Ela me fazia gem*r e sorria, voltando a cobrir os meus lábios com os seus.
- Adoro te provocar... - murmurou.
- Adoro ser provocada por você. - sorri.
Jantamos uma massa com molho branco e cogumelos. Tomamos sorvete de sobremesa. Depois nos abraçamos e ficamos observando o movimento. Não havia mais lugares e lá fora a pessoas faziam uma fila para entrar.
- Acho que você vai precisar construir mais um andar... - eu olhava para baixo.
- Sabe que não é uma má ideia?
Ela sorriu lindamente.
- Adoro estar assim com você. - disse olhando para ela.
- Também. Estou te desejando. – corou após a revelação.
- Que foi? - sorri. – Ficou vermelha... linda... – disse num sussurro e sorri novamente.
- Fiquei...? - e Ive colocou a mão no rosto.
- É algo que adoro em você.
- Quando sinto vergonha?
- Quando você cora... sinto quando me deseja. Isso me enlouquece.
- Adoro esse ambiente. Sinto uma liberdade de poder fazer qualquer coisa.
- Giulia... lembra daquele casal?
- As duas garotas que vi daquela primeira vez que estive aqui.
- Sim... - e Ive sorriu.
- Eu fiquei tão...
- Ei! Não me deixe com ciúmes.
- Eram lindas. Eu quis estar no lugar de uma delas.
- O que mais te atraiu na cena?
- Serem femininas, sensuais e muito intensas. Beijaram-se...
- Ei...! Estou ficando molhada. – sussurrou no meu ouvido.
Mordi os lábios, dei um beijo nela sorrindo e a abracei, pegando o copo sobre a mesa.
- Sorriso lindo!
- Céus! – cobriu os olhos com a mão.
- Ive o que foi? Esta sentindo alguma coisa?
- Esqueci de pegar os meus óculos! Ficaram prontos.
- Nossa... você me assusta assim! - sorri.
- Desculpa... mandei fazer outro. Amanhã pela manhã eu pego.
Olhava para o casal de meninas dançando e pensava: se não tivesse me levantado naquele dia da mesa para ir ao banheiro, não teria conhecido Ive da maneira que a conheci.
Fim do capítulo
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