Natal, Brasil 2016

Narrador

- Tiago precisamos conversar, pode me encontrar daqui a 2 horas no Gela Guela? – Amanda falava ao telefone.

- Amanda, já te falei e vou repetir, não tenho interesse de ficar outra vez. Tenho uma vida completamente diferente da sua. Não quero confusão. Entendeu? – Foi incisivo.

- Tiago a coisa é séria, não quero ficar com você nunca mais na minha vida. Estou com problemas e você precisa me ajudar.

- Que garota chata, tá bom, daqui a duas horas passo no Gela. – Falou impaciente – Satisfeita? – Foi grosso.

- Satisfeita não, mas arrependida sim – Desligou sem dar chance do outro responder.

***

- Tenho novidades minha menina, está na hora de levantar dessa cama, amadurecer nunca é fácil Melissa – Sentou na cama falando com carinho.

- Tá doendo mais do que eu poderia sonhar ou imaginar – Falou com tristeza.

- Vai passar, pode confiar em mim – Sorriu tranquila – Levanta, toma banho e vai tomar café, vou te esperar na minha sala, tenho novidades muito boas. – Falou com animação contida. – Melissa apenas fez um gesto afirmativo, levantou e foi ao banheiro.

***

   Brenda ainda estava na cama quando a campainha começou a tocar insistentemente.

- Só pode ser brincadeira uma coisa dessas – Enfiou sua cabeça no travesseiro. – Que saco, pessoinha insistente – Desistiu de procrastinar e foi abrir a porta, nem se deu ao trabalho de trocar o pijama.

- Só pode ser brincadeira mesmo hein – Olhou para o céu reclamando quando viu quem estava na porta.

- Por favor Brenda – Foi a única coisa que Amanda conseguiu falar após desmaiar nos pés da outra.

***

- Posso entrar? – Melissa perguntou da porta.

- Claro minha menina, pode sentar – Dona Carla apontou para cadeira.

- Aconteceu algo?

- Aconteceu muitas coisas Melissa, uma delas é que você vai viajar hoje à noite.

- Mas assim? Tão rápido? Pensei que precisava de passaporte e visto para ir aos Estados Unidos – Falou inocente, se sentia surpresa. Dona Carla não conseguiu conter um sorriso.

- Você vai passar alguns dias em Pipa o que nos dará tempo de fazer tudo para que possa viajar, se tudo correr bem, você consegue viajar no dia do seu aniversário. Tenho alguns amigos que vão agilizar as coisas. – Falou satisfeita. Melissa não sabia o que dizer. – Tem certeza que quer isso? – Dona Carla falou despertando a menina dos seus pensamentos.

- Sim... Tenho... Tenho certeza. Posso arrumar minhas coisas? – Iniciou hesitou para depois falar com firmeza.

- Claro que pode. – Falou vendo Melissa se levantar. – Espere... Sentirei sua falta minha menina. – Falou com carinho.

   Melissa nada respondeu, voltou da porta e abraçou Dona Carla com todo carinho que sentia. Mal sabia ela que naquele momento nada iria ser como antes.

***

- O quê AMANDA? Você está louca – Tiago ao receber a notícia que Amanda estava gravida não se importou com as pessoas que estavam ao redor e muito menos com o tom de voz que usava.

- Dá pra falar mais baixo por favor, as pessoas estão olhando – Amanda segurava o choro com firmeza e a vergonha que sentia era imensa.

- Você vem comigo agora – Tiago não quis saber de nada pegou no braço da mulher e praticamente a arrastou para um lugar reservado. As pessoas olhavam preocupadas vendo aquele abuso, mas ninguém quis se meter e a maioria pensava ‘’Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’’.

- Como isso aconteceu? – Tiago era incisivo.

- Você quer mesmo que eu explique os detalhes? Você tá bem grandinho para saber como essa criança foi feita – Debochou.

- Não brinque comigo – Pegou no pescoço da mulher que claramente saiu da ironia para o medo em questão de segundos.

- Voc... você... Machu...machucando.

- É para machucar mesmo vagabunda – Falou entre dentes, depois de arrochar o pescoço de Amanda com mais força o soltou vendo a mulher tossir com dificuldade.

- De agora em diante é melhor fingir que eu não existo entendeu? – Falou com o rosto bem próximo ao de Amanda.

- Vou ter essa criança Tiago, não quero nada seu, mas para essa criança você vai dar pensão todo mês. – Tentava não demonstrar o medo, mas estava brincando com fogo.

- Eu o quê? Repete pra mim porque eu não entendi – Tiago colocou o ouvido perto da boca de Amanda.

- Você vai pag... – Amanda não conseguiu terminar pois sentiu seus dois braços serem arrochados com toda força.

- Se você não vai tirar essa criança, eu faço esse sacrifício por você – Falou com ódio não dando tempo para Amanda responder, reagir ou sequer pensar.

***

- Porque você me ligou toda desesperada? Quem morreu? – Gabriel falou assim que Brenda abriu a porta, olhou por cima do seu ombro e viu uma mulher no sofá e a coisa não parecia muito boa.

- Preciso de ajuda, entra logo.

- Quem é essa?

- Amanda

- Desde quando você ficou violenta desse jeito?

- Não fui eu, a coisa é séria Gabriel – Falava nervosa.

- Isso eu percebi Brenda, mas porque raios você não ligou para emergência.

- Não... não sei, eu tô nervosa. Ela despertou por alguns segundos e falou algumas palavras e um nome... Tiago ou Iago, não entendi muito bem.

- Se essa garota morrer a culpa é sua – Falou sério – Era para você ter ligado logo para emergência. Chama um uber, rápido Brenda.

   Em poucos minutos os três estavam a caminho do hospital mais próximo, o motorista ligou o pisca alerta e foi o mais rápido que conseguia. Gabriel estava ao lado do motorista, enquanto Amanda tinha sua cabeça amparada sobre as pernas de Brenda.

- Desculpa por não ter agido logo, fica bem Amanda, estamos chegando – Falava baixinho. Amanda devagar abriu os olhos...

- Brenda... – Desmaiou novamente.

***

- Por favor não desliga, preciso de você – Brenda falava ao telefone, estava muito nervosa, ela e Gabriel esperavam notícias de Amanda.

- Brenda eu não posso falar agora, tenho que desligar. – Melissa era fria.

- Mas, por favor Melissa. A Amanda, ela... ela... Mel? Melissa? – Tirou o celular da orelha visualizando a tela e vendo que Melissa havia desligado. – Droga.

- Desculpa ter falado daquele jeito, principalmente por ter sido dentro da sua casa. – Gabriel se desculpava com a recém amiga.

- Tudo bem, eu entendo sua atitude. Não sei o que me deu, eu estou com muita raiva dela, mas não a esse ponto de deixar ela morrer no meu sofá. Eu fiquei muito nervosa, e quando fico assim eu travo. – Falou triste.

- Tudo bem Brenda, eu entendo – Colocou a mão no ombro da amiga fazendo um carinho.

- A Melissa iria entender, ela me conhece, ela que resolvia as coisas quando eu ficava muito nervosa. – Gabriel não sabia mais o que dizer depois daquele desabafo, apenas ficou ao lado da amiga.

   Depois de quase duas horas o médico apareceu informando a situação de Amanda, ela estava com um dos braços quebrados, havia perdido alguns dentes e estava com muitos hematomas no rosto, barriga, pernas e braços. Brenda e Gabriel estavam sem acreditar naquilo tudo, em toda aquela maldade.

- Ela irá ficar em observação por 24 horas e se tudo correr bem, vocês podem ir vê-la. – O médico explicava – Outra coisa, sua amiga é uma mulher de muita sorte, ela não perdeu o bebê, na verdade não sei se ela sabia que estava grávida, pelo que vimos, ela está com menos de 3 semanas de gestação.

- Obrigada Doutor, nem sabemos como agradecer – Gabriel assumiu a situação.

- Vocês são a única família da paciente?

- Não Doutor, já entramos em contato com a família que está a caminho. – Gabriel respondeu, minutos antes Brenda havia ligado para os pais de Amanda.

- Outra coisa, sugiro que vocês entrem em contato com a polícia, esse caso não parece um acidente de carro ou algo do tipo. – Falou preocupado.

- Vamos esperar ela acordar Doutor e nos falar o que aconteceu.

- Tudo bem, o melhor agora é que vocês voltem para suas casas e descansem. – O médico falou e logo depois se despediu prometendo que iria acompanhar e informar se algo acontecesse.

   Mal o médico saiu e os pais de Amanda apareceram desesperados.

- O que aconteceu com meu bebê Brenda? – Barbara falava desesperada.

- O que houve com nossa filha? – Magno era só preocupação.

- Gente calma, ela está em observação por 24 horas e amanhã vamos poder vê-la. – Gabriel explicou.

- Quem é você? – Magno tomou a frente.

- Desculpa, meu nome é Gabriel, sou amigo da Brenda, mas ela não está se sentindo bem e eu tô dando uma força. – Explicou para o pai desconfiado.

- Tudo bem, obrigado por ajudar – Magno agradeceu ainda desconfiado.

- O que houve Brenda? – Barbara questionou aflita.

   Brenda explicou tudo para os pais de Amanda e depois apresentou Gabriel formalmente para os dois. Depois de alguns minutos Brenda e Gabriel se despediram de Barbara e Magno e foram para casa.

- Tem certeza que não quer que eu durma com você? – Gabriel perguntou, estavam se aproximando da casa de Brenda.

- Tenho sim, amanhã vou bem cedo para o hospital, preciso saber o que houve e confesso que me sinto um pouco culpada por não ter agido logo.

- Você não tem culpa, eu fui um babaca. Fique bem e qualquer coisa me liga – Se despediram com um abraço.

***

- Obrigada por tudo Dona Carla, vou sentir muita saudade – Melissa segurava as lagrimas.

- Nada de choro, ainda vou te ver daqui a alguns dias, quero te levar ao aeroporto e deixar um presente para minha amiga Maria Liz – Falou saudosa.

- Por que a senhora não vai comigo? – Não custava nada tentar.

- Minha menina, eu não posso, tenho um orfanato para administrar, cuidar de todos – Acariciou o rosto de Melissa. – Vamos nos ver logo, quero que aproveite e descanse, tenta não pensar nos problemas.

- Tudo bem Dona Carla, até mais – Se despediram para logo depois Melissa entrar no ônibus. Ela iria ficar na casa de uma das amigas da Dona Carla que ficava perto da Praia do Amor.

   Melissa deu um passo de cada vez até achar sua cadeira, se sentia cansada, triste e com o coração em pedaços. Se sentou, pegou seus fones de ouvido escutando Lucky da Amy Collins e Michael Emmerson.

***

Dias atuais

Bruna

   A ficha ainda não tinha caído, eu estava ali nua na cama com Melissa. Nunca pensei que fazer sex* com mulher fosse tão gostoso até aquele momento. Mel estava tão linda, os cabelos bagunçados o rosto sereno. Parecia que nada poderia abalar aquela beleza. Fiquei alguns minutos admirando-a até que ela foi aos poucos abrindo os olhos. Eu soube naquele momento que eu poderia passar minha vida toda só admirando ela. Mas o que deu em mim, apesar de ter uma noite incrível com minha melhor amiga, não ia passar disso. Iriamos continuar amigas e ela iria continuar sofrendo por alguém que nem estava por perto. Não iria me enganar. Ganhei um presente da vida e aproveite cada segundo, mas tinha acabado. Eu sempre fui uma mulher realista e não seria agora que eu iria deixar de ser.

- Bom dia – Falei sorrindo ao perceber que Mel havia despertado por completo.

- Bom dia Pretty – Falou com aquela voz dengosa e eu percebi que a partir daquele dia, tudo que aquela deusa falasse eu iria achar a coisa mais linda do mundo. Eu falava para mim mesma: Foco Bruna, foco, isso não vai rolar.

- Quer sair para tomar café? Ou melhor, quer sair para almoçar? – Retifiquei dando uma olhada no relógio. Parecia uma boba.

- Nossa dormimos tudo isso? – Falou surpresa.

- Depois da noite que tivemos, merecemos acordar tarde – Não resisti e dei um selinho breve na boca dela. Ficamos nos encarando, eu não conseguia desviar os olhos dela.

Melissa

   Depois de tanto tempo sendo apenas amigas, eu estava surpresa e por incrível que pareça muito feliz com aquela situação toda. Nunca havia sentido desejo por Bruna, mas como um passe de mágica tudo aquilo aconteceu e eu não estava arrependida de nada. A única coisa que me preocupava era a nossa amizade. Senti os lábios dela nos meus e aquele ato me deu uma sensação estranha que a muito tempo eu não sentia.

- Foi incrível, eu adorei cada segundo, mas precisamos conversar – Falei quebrando aquela sintonia nos nossos olhares. Percebi que ela ficou um pouco desconfortável. Mas eu não queria deixar nenhuma ponta solta.

- Tudo bem, mas podemos comer antes? – Bruna tinha um olhar safado que era natural dela, eu não sabia definir se ela realmente estava falando de comida.

- Que tipo de comida? – Não consegui conter um riso.

- Essa aqui – Bruna falou e se encaixou ficando no meu colo. Avançou em beijos lentos que foi tomando força à medida que o desejo aumentava.

Fim do capítulo