Na quarta-feira mais uma vez Quinn havia tentado falar com a mãe sem sucesso e ela e Brian haviam combinado de tentarem novamente ver se ela estava em casa naquela noite.

Quinn estava muito ansiosa para o inevitável confronto com a mãe e tentava se distrair pensando no baile. Depois da escola, Lisa e ela saíram para comprar os vestidos do Winter Formal.

– O que acha desse? – Lisa mostrava diversas opções, mas a líder de torcida era exigente.

Depois da amiga ter encontrado o vestido perfeito para si, Quinn finalmente achou um que gostasse.

– Você está tão linda! – Lisa anunciou enquanto ela se olhava no espelho.

– Esse é perfeito! – falou satisfeita.

– Você trouxe o sapato que vai usar para marcarmos a bainha? – a vendedora perguntou.

Quinn havia esquecido completamente disso. Como esse baile era bem mais formal que o do Homecoming, as mulheres iam de vestido longo e inevitavelmente aquele precisaria ser ajustado de acordo com seus sapatos, que estavam em casa.

– Eu esqueci de trazer – anunciou.

– Eu posso esperar até você ir buscar – a vendedora falou solicita.

– Posso trazer amanhã? – perguntou esperançosa.

– Na verdade não, com o Winter Formal tão próximo eu preciso dessas medidas hoje ou não vou conseguir fazer a tempo. Estou com uma demanda grande.

Quinn ficou alguns segundos decidindo o que faria.

– Acho que posso ir lá buscar rapidinho – falou pensando que caso a mãe estivesse em casa, ela simplesmente não entraria.

Despediu-se de Lisa e dirigiu até em casa. Suspirou aliviada ao ver que o carro de Eleanor não estava lá e entrou. Achou sua sandália rápido e desceu as escadas ansiosa para sair daquela casa, mas quando estava prestes a chegar na porta, viu ela abrir e Eleanor entrar. Gelou de medo e antecipação. O momento que mais temia havia finalmente chegado e Brian não estava lá para ajuda-la. Instintivamente colocou a mão no bolso para checar se seu celular e estava lá e sentiu um enorme alívio ao perceber que não havia deixado-o no carro.

– Olha quem está aqui! – falou Eleanor claramente bêbada – A mais nova lésbica de Greatdale!

Quinn paralisou com os sapatos nas mãos e não conseguiu dizer nada.

– Quando eu falei que você precisava escolher alguém até segunda, eu devia ter sido mais clara: era para ser um menino – gritou – Você é tão burra que não conseguiu entender nem isso?

– Eu quero ir com a Sophie – falou baixinho, tentando criar coragem – Ela é minha namorada.

Eleanor não segurou a raiva e deu um grande tapa no rosto da filha.

– Você não pode ter uma namorada! Você vai agora mesmo pensar em alguma coisa para reverter essa situação! Vai humilhar essa menina e deixar bem claro para todos que isso foi apenas uma pegadinha!

– Não! – Quinn falou finalmente olhando nos olhos da mãe de forma desafiadora – Eu amo a Sophie e você vai ter que aceitar que eu sou lésbica!

Nesse momento, Eleanor sentiu sua raiva tomar proporções ainda maiores e aproximou-se da filha, gritando bem alto em sua cara.

– EU NÃO TENHO UMA FILHA SAPATÃO! VOCÊ VAI TERMINAR COM ESSA GAROTA AGORA!

Instintivamente Quinn deu dois passos para trás e largando os sapatos no chão, colocou os braços na frente do corpo como se aquilo fosse o suficiente para defendê-la da mãe. Sentiu seus olhos enxerem-se de lágrimas.

– Não – ela falou ainda insegura.

Eleanor riu de forma debochada.

– É só o que me faltava! Já não bastava você ter arruinado todos os meus sonhos e agora está conseguindo piorar mais ainda essa merd* de vida! – então chegando mais perto da filha de novo completou – Eu estava no salão fazendo minhas unhas quando ouvi uma mulher gorda e feia rir da minha cara por sua causa! Eu virei motivo de piada nessa cidade ridícula porque você não consegue ser minimamente decente!

– Não é minha culpa que existem pessoas preconceituosas nessa cidade – tentou se defender.

– É sua culpa sim porque você dá motivo para essas pessoas idiotas falarem de você! – então rindo de forma cruel – Eu estava tão possessa e envergonhada que precisei fugir para outra cidade e espairecer ou eu ia acabar te matando!

– Eu não fiz nada de errado! – Quinn falou ainda com lágrimas caindo.

– Você sempre faz tudo errado! Era um simples baile, era só escolher um garoto, mas você tinha que me humilhar! – gritou Eleanor novamente na cara da filha.

– Isso não é sobre você! – Quinn gritou de volta ganhando forças – É a minha vida e sou eu que escolho com quem quero ir ao baile e com quem devo namorar! Eu amo a Sophie e ela é a melhor coisa que me aconteceu!

Eleanor sentiu a raiva crescer de forma estratosférica, seu ódio alcançou um tamanho que nunca sentira igual antes e pela primeira vez, ela não se importou em manter a aparência perfeita da filha e deu um soco em seu rosto, tão forte que Quinn desequilibrou-se e caiu no chão.

– Você é uma ingrata! Não dá valor a tudo que eu sacrifiquei por você e fica jogando a própria vida no lixo! – Eleanor gritava enquanto chutava a filha que estava encolhida no chão.

Quinn sentia sangue saindo em seu rosto e tentava achar uma forma de fazer com que a mãe parasse. Depois de alguns chutes, conseguiu segurar sua perna e como Eleanor estava bêbada, se desequilibrou e caiu no chão.

– Sua desgraçada! – ela gritou com mais raiva ainda.

Rapidamente Quinn lembrou do conselho de Brian e levantou-se rápido, correndo até o banheiro enquanto a mãe se levantava para ir atrás dela. Trancou a porta e tremeu ao sentir a mãe bater incessantemente.

– Quinn Morgan, abre essa porta agora! – ela gritava sem parar.

Quinn rapidamente pegou o telefone do bolso e ligou para Brian.

– Eu preciso de você – ela falou chorando assim que ele atendeu.

– Eu estou indo! – ele falou preocupado – Você está segura?

– Eu me tranquei, como você falou – disse tentando segurar as lágrimas tempo o suficiente para conseguiu falar.

– Aguenta firme que eu chego em 10 minutos! – ele falou ansioso e os dois desligaram.

Ele demorou exatamente 12 minutos para chegar e aqueles foram os piores 12 minutos da vida de Quinn. Ela estava tensa, com muita dor e precisou ouvir a mãe xingá-la e ameaçá-la sem parar, enquanto batia na porta com força.

Ela tentou limpar o rosto e percebeu que o sangue vinha de seu supercílio que tinha um corte, provavelmente por conta de algum anel no dedo de Eleanor que a machucou quando a socara. Sua barriga, que ainda estava dolorida por conta dos eventos do fim de semana, estava ainda pior.

Brian estava no meio de uma reunião com os treinadores assistentes do time quando recebeu a ligação e dirigiu o mais rápido de que pôde. Ao chegar, tocou a campainha e bateu na porta chamando por Quinn, que sentiu um enorme alívio ao ouvir sua voz ao longe.

– Abre essa porta! – ele gritava e nisso Eleanor parou de bater na porta do banheiro e caminhou até a entrada.

– Quem é você? – perguntou irritada ainda sem abrir.

– Eu sou Brian Allen e preciso que você abra essa porta, imediatamente! – falou enfático e Eleanor reconheceu o treinador.

– Quem você pensa que é para vir até a minha casa e exigir alguma coisa? Pode ir embora!

– Onde está a Quinn? – ele perguntou.

– Isso não é da sua conta! Volta para o seu time e me deixa cuidar da minha filha!

– Eu não vou a lugar nenhum até você abrir essa porta e me deixar ver a Quinn!

– Se você não for embora eu vou chamar a polícia! – ela ameaçou.

– Não seja por isso! Eu mesmo ligo para eles! Vou adorar ver te levarem presa por agredir uma jovem menor de idade! – ele falou e tirou o celular do bolso – Sua última chance! Abre essa porta ou eu vou ligar – começou a discar e colocou no viva voz.

Assim que a voz da atendente soou, Eleanor abriu a porta à contragosto.

– Desculpa pelo incômodo, apenas um mal entendido – ele falou desligando o celular e entrando sem cerimônia na casa – Quinn, estou aqui!

– Isso não é da sua conta! – Eleanor falou irritada.

Nesse momento, Quinn saiu do banheiro e correu na direção de Brian que sentiu o sangue ferver ao vê-la machucada.

– Você está bem? – perguntou avaliando-a antes de a abraçar.

– Estou bem – ela falou tentando segurar o choro.

– Ela caiu da escada – mentiu descaradamente.

– Claro que sim – riu debochado e então ficou sério para completar – Pode parar com a mentira deslavada, eu sei muito bem o que aconteceu aqui! E você nunca mais vai machucar a Quinn!

– Ela é minha filha! Você não tem nenhum direito de se meter! – falou irritada e depois tentando se recompor – Foi tudo um grande mal entendido, certo, filha?

Quinn olhou para baixo e não falou nada.

– Eu sei exatamente o tipo de mal entendido que aconteceu aqui! Você não precisa tentar mentir.

– Ninguém vai acreditar em você! – falou na defensiva.

– Acha que vão acreditar mais em uma mulher bêbada do que em um técnico respeitável que acabou de vencer o campeonato pela primeira vez em seis anos? – ele falou irônico.

– Quer saber? Que se foda! – ela gritou irritada – Você quer tanto cuidar dela, então leve essa sapatão com você! Eu não preciso dessa ingrata aqui nessa casa arruinando tudo na minha vida! – então olhando no fundo dos olhos da filha completou – Eu nunca mais quero olhar para a sua cara!

– Quinn, vá pegar suas coisas, nós vamos embora – Brian anunciou, mas antes que ela pudesse se movimentar, Eleanor interrompeu.

– Que coisas? Ela não tem nada! Tudo dela, incluindo o carro que ela dirige, é meu! Tudo fui eu que comprei com o suor do meu trabalho! E não vou gastar mais nem um centavo com essa vagabunda!

– Eu não preciso de nada de você! – falou Quinn magoada.

– E não vai ter nada mesmo! Prefiro queimar tudo do que deixar você ter, enquanto envergonha o nome da família!

– Quinn, vamos embora – Brian anunciou pegando sua mão e levando-a até o lado de fora.

– E depois não me volte arrependida quando perceber a burrada que está fazendo! Você morreu para mim, entendeu? – Eleanor gritava descontrolada – Morreu!

– Não liga para o que ela está falando! Entra no carro – ele falava sério.

Quinn obedeceu e sentia as lágrimas tomarem conta de forma incontrolável.

Fim do capítulo