CAPÍTULO 20 - Fazer amor de madrugada...

          Sabe aqueles dias tranquilos que antecedem os grandes e as vezes difíceis momentos de nossa vida?. Janine, Alice e sua família estavam passando por esses dias, era uma calmaria só, parecia mesmo que tudo havia se ajeitado e seguido o seu rumo.

           Depois do episódio da varanda, Maitê nunca mais foi a mesma, acordava chorosa e manhosa, a noite não conseguia dormir direito, tinha pesadelos frequentes, também não quis mais frequentar a escola, por sorte estava no fim do ano e a menina já havia sido aprovada, no fim da mesma semana Maitê também passou a se alimentar mal, Sâmia e Zefa estavam mais do que preocupadas, só respiraram aliviadas quando na segunda-feira seguinte, Bruna chegou com um advogado, conversou com todos e disse que levaria Luran, pois havia decidido adotá-lo, em uma mês havia providenciado tudo, tinha decorado um quarto da casa para recebe-lo, arrumou documentos falsos, inclusive uma certidão de nascimento e já tinha matriculado o menino em uma escola para o ano seguinte. Sorriu e avisou que estava ali apenas para busca-lo.

          Alice apesar de não concordar com os métodos de Bruna, chamou o mais interessado de todos, perguntando a Luran se era do seu desejo seguir com Bruna, o menino apenas respondeu "sim", para logo após segurar a mão da mãe adotiva, fazendo um ar de inocência, "vamos mãe Bruna", e foi embora sem se despedir de ninguém, Maitê não quis ver o irmão, correu para o quarto levando Chocolate, e chorou escondida debaixo da cama, mas, o seu coração de criança se recuperou muito rápido, esqueceu de tudo quando um dia Alice chegou trazendo Charlote, uma cachorrinha de um ano da raça labrador abandonada em um abrigo.

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          POV Chocolate

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          Ai sister, é disso que estou falando, dessa vez eu me dei bem hein?, enfim, alguém da minha espécie, vou ensinar todos os meus truques, inclusive os de pedir comida para Zefa, ela sempre dá escondido da minha mãe Alice, quem sabe Charlote gosta desse cachorro mais experiente?.

          O fato é que eu cheguei cheio de marra e meti logo um papo reto:

- Oi lindeza, aqui é Chocolate, como vê sou eu que mando nessa bagaça toda, posso te ensinar todos os meus truques infalíveis, bem vinda a minha casa.

          Mas, a lindeza não quis conversa comigo, virou o rosto, deitando sobre as patas, e vou te dizer, isso doeu, viu?, mas, tudo bem, não sou de desistir fácil, uma outra hora trago um presente e a belezinha vai se derreter por mim.

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          Nesta semana, Alice também voltou ao quarto de trás, fez uma boa limpeza energética com a ajuda de Janine e liberou todas as Spirit dolls, é preciso dizer que esse é um trabalho de alta magia, algo que requer dedicação e muito tempo, e era de fato tudo o que não tinham, todas se despediram saudosas, mas, com a sensação de dever cumprido, o ciclo delas na família de Helena havia se encerrado ali.

          Era uma noite quente de dezembro, todos estavam reunidos na sala, quando sentiram o cheiro característico de jasmim no ar, era Janine e pelo visto ela tinha descoberto a moda dos anos 80, estava bastante colorida, maquiagem forte, calça amarela, com uma blusa curta acima do umbigo estampada com manchas brancas com rosa choque e cheia de raios azuis, os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e com muito gel New Wave rosa e violeta, nos pés calçava um all star vermelho.

- Ai família, liga ai o som que vou cantar umas músicas que aprendi com uns amigos, conheci essa semana umas bandas iradas, tem uma que adorei chamada Kid Abelha, conhecem?.

          Alice sorriu, ligou o som, colocando o cd para tocar e puxou Janine para junto de si, Sâmia e Maitê também aproveitaram para dançar, até Chocolate balançava o rabo junto a Charlote, que no começo fingiu não se importar, mas, logo entrou na festa. Zefa ficou de longe, rindo da cena, até que Janine foi busca-la, "Vamos Zefa, relaxa mulher, vem cantar e dançar comigo". Zefa riu, abraçou a cintura de Janine cantando um dos refrões de Pintura ìntima "o que interessa pra nós...é...fazer amor de madrugada, amor com jeito de virada".

          E a noite seguiu com muito rock pop brasileiro, Maitê já tinha adormecido no sofá, sendo levada por Zefa. Sâmia e Alice conversavam, enquanto Janine seguia cantando e dançando.

          "Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou". Janine cantava animada "Tempo perdido" enquanto soltava os cabelos longos para dançar livremente.

- Vocês não são de nada!!!.

- Alice, onde desliga a bateria dessa mulher?. - Riu Sâmia bocejando, sorriu para logo depois se despedir e seguir para o quarto.

          Vendo que estava sozinha com Alice, Janine seguiu até o som, procurou com calma até encontrar o que tanto estava buscando, era "Wish you were here", de Pink Floyd.

- Dança comigo?.

- E como recusar um convite desses?.

          Janine colou o corpo no de Alice, apertando de encontro ao seu, sentindo o seu perfume, suas mãos deslizaram das costas até sua cintura, e se embalaram suavemente ao som da música.

          Alice se afastou um pouco para admirar o rosto da namorada, passando suavemente as mãos por sua boca, olhou fundo em seus olhos e disse mentalmente que a amava, Janine retribuiu a declaração da mesma forma e a puxou para o quarto.

- Fecha os olhos amor...

- Janine...

- Confia em mim boba, fecha os olhos vai...

          Quando Alice abriu os olhos, ficou sem palavras, na parede maior Janine havia projetado a cena de uma praia, era um lindo pôr do sol, dava para ver o mar que ia e vinha fazendo seu coração bater no compasso das ondas, dava até para sentir aquele cheiro de mar que tanto gostava. Ao redor da cama haviam velas e flores vermelhas que enfeitavam todo o espaço, e na cama um coração também feito de rosas. Alice sorriu e trouxe Janine pelas mãos, percebendo que a namorada deixou os cabelos mais curtos em um elegante Channel.

- Senta ai amor, agora é a minha vez de te surpreender, espera ai, como não posso fazer esses truques, pode ser que demore um pouquinho.

          Alice seguiu soltando os cabelos loiros que haviam crescido bastante, buscou algo no guarda roupa correndo, ainda teve tempo de ver que Janine pendia o corpo para espiar, "não olha Janine", a namorada apenas riu e não entendeu o que era aquela espécie de fantasia, "será que ela quer brincar de Jeannie é um gênio?, vai que é um feitiche?", mas, a loira saiu correndo para dentro do banheiro pedindo de lá "amor, fecha os olhos", lógico que isso não impedia nada de Janine vê-la, mas, resolveu deixar fluir a brincadeira. Alice seguiu até o som, avisando que Janine já podia abrir os olhos, a loira estava vestida com sua roupa de dança do ventre, era um azul escuro com pedrarias da cor prata, no seu corpo havia passado um pouco de gel com glitter que brilhava suavemente na luz indireta do banheiro que havia deixado acesa de propósito, deu um giro em torno do próprio corpo e começou a dançar El Arbi.

          Janine aplaudia a namorada animadamente, fez menção de levantar para trazê-la até a cama, mas, a namorada fez uma rápida manobra e voltou a dançar.

- Vem aqui Alice, não maltrata a sua Janine, vai...

- Não, quietinha, deixa eu terminar a coreografia amor...

          Alice chegou pertinho de Janine tremulando o ventre e sorrindo convidativa. Janine levantou e a abraçou forte por trás, encostando o corpo nas costas da namorada, que elevou sua mão até a nunca de Janine, escorregando seu corpo em uma coreografia sensual.

          Janine buscou o rosto da namorada não sem antes passar a língua em seus próprios lábios, colando em um beijo cheio de amor e de desejo, e entre sussurros e gemidos, seguiu beijando todos os lugares que sabiam que eram mais excitantes, sorriu ao sentir o gosto de Alice se misturando com o glitter que estava grudado em todo seu corpo, e olhou admirando a cena de amor que acontecia, achando lindo ver o contraste de sua pele morena com o corpo branco na namorada, que se abria como uma rosa cálida oferecendo o que tinha de mais precioso. Ainda ficou mais um tempo admirando Alice adormedida, sentiu um amor muito forte e uma sensação que precisava proege-la, afastou seus receios e voltou para o mundo espiritual, onde seu mentor a estava esperando.

- Janine, precisamos conversar, se aproxima um tempo turbulento na Terra, e fomos chamados para uma missão...antes de conversar, aconselho que vá fazer uma limpeza, tem algo brilhando em sua boca,

          Janine pediu licença e saiu para se arrumar, sentiu o rosto corar, não sabia que ainda mantinha essa característica.

          Alice acordou no outro dia e Janine já não estava mais, ao seu lado tinha deixado um bilhete que ao ser aberto tinha escrito um fragmento de um soneto de Florbela Espanca, enquanto a música Fanatismo começou a tocar na voz de Janine.

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Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.

Meus olhos andam cegos de te ver.

Não és sequer razão do meu viver

Pois que tu és já toda a minha vida!... 

Fim do capítulo