Metamorfose por Deby
Entre o Passado e o Desejo Existe Uma Bicicleta Vermelha
Lembro que desde criança o mar sempre me fascinou, o que é estranho tendo em consideração que cresci em uma cidade pequena sem nenhum tipo de praia, o máximo que chegava perto disso são as abundantes cachoeiras da região. Então, quando tive a oportunidade de sair desse lugar minha única exigência foi morar em uma cidade com praia. Se eu fechar os olhos consigo sentir o sentimento de calmaria que perpassa meu corpo ao escutar os sons do mar e a sensação de acalento ao sentir o vento gerado pelas ondas tocando minha pele. Talvez a ciência explique esse fenômeno, uma vez li um estudo que quando estamos na praia nossos corpos absorvem os íons negativos que são liberados pelas ondas impulsionando transformações em nossas moléculas.
Será que a ciência também explicaria o motivo dos olhos dessa mulher desconhecida causar tanto impacto? Nunca tinha imaginado poder existir uma cor que representasse meu fim de mar. Sim! Constantemente eu imagino o fim de um oceano, uma utopia, mas se fosse real com certeza teria a coloração desse azul escuro, do momento da captura exata da transição do azul celeste do final de um dia, para o azul escuro da noite, quando o meu fim do mar colore todos os horizontes que posso enxergar.
- Isa, você ainda tá nesse mundo?
Escuto a indagação do meu amigo e me pergunto por quanto tempo os olhos dela foram capazes de me tirar da realidade.
- Desculpa, me distrai com algo – Olho novamente em direção a ela e me lembro que seu nome é Olivia.
- Sempre tem algo te distraindo, impressionante essa sua capacidade de se desligar rapidamente do mundo que te rodeia. – Retruca Gabriel em um tom jocoso.
- “Tem muita gente que se distrai e é feliz para sempre.” – Olívia fala olhando diretamente nos meus olhos.
- Então você é fã de Martha Medeiros? – Indago reconhecendo a frase.
Lembro-me da existência de dono Socorro quando escuto sua risada. – Olha, eu sabia que vocês iam ser amigas.
- Eu até gosto de algumas obras de Martha Medeiros, não é meu estilo de literatura preferida, mas reconheço o dom da escrita dela. – Olívia responde ainda olhando fixamente em meus olhos.
- Então, qual seu estilo preferido? – Pergunto verdadeiramente curiosa
- Se nós vamos realmente entrar nessa conversa sobre literatura, vamos pelo menos procurar um lugar calmo para sentar e comer, e assim, debatemos de forma bem confortável, a minha preferida para falar sobre qualquer coisa.
Depois da proposta do meu amigo, horas depois me encontro sentada sozinha com Olivia, ao decorrer da noite Dona Socorro alegando o cansaço causado pela idade foi para casa e Gabriel certamente deve está se pegando com o garçom em algum lugar escondido desse bistrô. Aliás, que mulher é essa na minha frente? Além da beleza física óbvia, ela é mentalmente gostosa, a conversa entre nós duas não pode se descrita de outra forma a não ser deliciosa, fazia tanto tempo que eu não encontrava alguém com que os assuntos surgissem tão naturalmente e em grande fluxo, a sensação é que poderia passar a noite toda com ela e ainda teríamos o que conversar. O tédio que costuma surgir quando você por algum acaso do destino precisa passar um tempo considerável com alguém estranho resolveu nunca aparecer.
-Então Isabelle, você ainda não respondeu meu questionamento, você concorda com o meu camarada Schopenhauer que o elemento essencial para o homem continuar ter vontade de viver é possuir desejos?
- Concordo em partes, o desejo realmente move a natureza humana – Respondo sorrindo e inevitavelmente olhando em direção aos seus lábios - Mas não diria que a busca por satisfazer essas vontades seja inútil como ele argumenta. Mas claro que você é uma fã dele, o cara defendia que a arte é a forma mais eficaz de gerar satisfação para as vontades humanas.
Eu ainda estava elaborando minha resposta, tentado não me desconcentrar com o seu perfume, não era uma fragrância doce, mas quase amadeirada, uma mistura entre mel e jasmin resultando em um maldito aroma que me perturbou durante toda a noite, quando Olívia olhou lentamente todo o meu corpo, mordeu o próprio lábio inferior ao fixar seus olhos azul escuro nos meus, inclinou-se de tal forma que me fez pensar que ela conseguiu derrubar a lei física que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço – Eu acho que existe outra forma eficaz que gera satisfação para as vontades humanas – Falou em um tom baixo perigosamente perto dos meus lábios.
Olhei embevecida para os olhos daquela mulher incrível, sendo tomada por um arrepio que percorreu todo meu corpo, entrando no repentino jogo sedutor que se instalou no ambiente.
- Qual forma? – Indaguei enquanto com minha mão percorria toda a extensão do seu braço vendo seus pelos eriçarem.
Ela entrelaçou sua mão na minha e a partir dali não utilizamos mais palavras, ela me levou a uma espécie de área privada do bistrô que eu não fazia ideia que existia, uma atmosfera escura predominava no local, não consegui observar bem o recinto, pois Olívia rapidamente me empurrou contra a parede ocupando-se de colocar os lábios sobre os meus, acariciando-lhe lentamente, paradoxalmente, sua mão agarra meu cabelo puxando com um pouco de força, suspiro em sua boca, proporcionando uma abertura para sua língua, ela aproveita bem a oportunidade, habilmente sua língua explora minha boca. Levanto minha perna esquerda entrelaçando em seu corpo, tentando nos fundir ainda mais.
Nossos lábios se separam em buscar de ar, tratei de mover minha boca ao longo da curva do seu queixo indo suavemente em direção a sua garganta, deixando beijos ao longo do caminho.
- Eu nunca imaginei que a gente pudesse ficar – Olívia falou entre sussurros, enquanto abaixava as alças de minha blusa distribuindo beijos no local.
- Nos conhecemos nessa noite, meio rápido para fazer uma conclusão assim – Respondi enquanto levantava sua blusa, arranhando levemente a pele descoberta.
- Você realmente não se lembra de mim né?
Parei o que estava fazendo ao escutar sua indagação, mas ela não permitiu, se livrando de sua própria blusa, me virando de costa, colando seu corpo no meu, colocando meu cabelo para o lado, mordiscando minha nuca, espalmando suas mãos em meus seios e apertando.
- Olívia, você realmente não lembra da garotinha da bicicleta vermelha seguindo você e seu grupo até a praça da cidade?
Congelei, foi como se jogassem um balde de água fria em meu corpo fervendo. Ela é a irmã mais nova da Eva. Mas que droga!
Fim do capítulo
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