Helen já havia pesquisado um restaurante que achara agradável e como ele era um pouco longe do hotel, os quatro pegaram um uber. Quinn nem precisou se esforçar para arranjar uma desculpa, pois as duas seguidoras estavam bem ocupadas. Leslie iria comemorar com Spencer e Cathy havia combinado de sair com um dos rapazes do time.

A corrida até lá foi rápida e nesse tempo Sophie aproveitou para ligar para os avós maternos como prometido e contar do jogo. Assim que chegaram Quinn observou que era um restaurante chique, como ela nunca havia ido antes. Sentaram à mesa com Sophie ao lado da namorada e em frente a mãe.

– Quinn, Sophie me disse que você é líder de torcida – Helen tentou começar um diálogo depois que fizeram os pedidos – Eu também fui líder de torcida em minha época!

– Que legal! Só no High School ou também na faculdade? – Quinn continuou a conversa.

– No meu primeiro ano de faculdade entrei para a equipe, mas depois acabei desistindo para me concentrar melhor nos estudos.

– Foi assim que você e o papai se conhecerem, né? – lembrou Sophie e percebeu que os dois ficaram um pouco sem graça com a lembrança.

– Sim – respondeu Brian sem intenção de alongar o assunto.

– Graças à Deus pelos Owls – Helen brincou referindo-se ao time da faculdade – E por isso Sophie é uma legacy* duas vezes em Temple! Ela pode ser a terceira geração da minha família lá!

Quinn não pode deixar de pensar que apesar de Sophie ser uma aluna ruim, ela provavelmente conseguiria ser aceita em uma boa universidade com facilidade, principalmente pela sua grande habilidade em corridas, porém também pela família da qual vinha.

– Não se ela não melhorar as notas! – lembrou Brian – Você pode correr mais rápido que todo o país, mas com as notas que tem hoje em dia vai ter sorte se ganhar bolsa para uma faculdade boa!

– Eu vou melhorar! Prometo – Sophie falou na defensiva.

– E você, Quinn? Tem alguma faculdade que gostaria de ir? Algum histórico na família?

– Nada desse tipo. Meu pai foi para uma faculdade comunitária em Ohio mesmo e minha mãe nem isso. Mas eu estudo bastante para fazer diferente!

– Sophie me falou que você é uma das melhores alunas da escola – comentou Helen – Alguma faculdade especifica que te interesse?

– Penso em algumas opções, mas nada específico. Quero estudar Direito então vou tentar escolher alguma faculdade que possa me proporcionar uma boa base para uma das universidades de ponta para a graduação, ou escolher logo de cara algum programa de 3+3*.

– Essa é uma escolha arriscada – Brian comentou surpreso.

– Nada está certo ainda! Eu ainda estou pensando no assunto. Claro que preferia fazer o caminho mais tradicional e entrar para uma faculdade de prestígio, mas minha família não tem dinheiro então tenho que considerar.

– Eu cogitei fazer Direito, acredita? – Helen falou – Mas acabei desistindo.

– Por que? – perguntou Quinn interessada.

– Ah, coisas da vida! Adiei para poder acompanhar melhor a carreira do Brian e logo a Sophie nasceu e aí isso acabou ficando de lado – falou sorrindo com as lembranças – Mas no final das contas deu tudo certo! Eu fui trabalhar gerindo a fundação da minha família e é algo que eu amo!

Quinn lembrou de já ter ouvido a namorada mencionar que grande parte do trabalho de sua mãe era organizar eventos de caridade para a fundação e que isso consistia em ela ter que comparecer a muitos eventos formais, os quais odiava.

– Parece ser algo muito interessante – falou Quinn e enquanto se deliciavam com a entrada, Helen passou a contar para ela sobre seu trabalho.

O jantar transcorreu de forma agradável e Quinn esforçou-se ao máximo para ser simpática com Helen, queria que a mãe da namorada gostasse dela e o plano parecia estar dando certo. Todos conversaram de forma amena e Helen gostou de poder compartilhar com Quinn algumas de suas histórias de trabalho, a menina parecia realmente estar gostando de ouvi-la.

Quando terminaram o jantar, Sophie estava tão feliz que não queria que o dia chegasse ao fim e sugeriu que caminhassem um pouco pela cidade. Todos assentiram e Quinn e ela caminharam na frente, enquanto Helen e Brian foram logo atrás.

Quinn entrelaçou a mão da namorada na sua e roubou-lhe um beijo logo que saíram do restaurante.

– Estamos em público, esqueceu? – riu Sophie.

– Mas em uma cidade diferente! Quais as chances de alguém que me conhece me ver e contar para minha mãe? – sorriu Quinn.

– Nesse caso... – falou Sophie puxando a namorada para si e beijando-a de forma intensa.

– Você acha que isso é uma coisa séria? – perguntou Helen ao Brian, enquanto os dois caminhavam um pouco atrás, de forma que as meninas não conseguiam ouvi-los.

Antes de responder ele instintivamente olhou para todas as direções para se certificar que não havia ninguém conhecido nos arredores vendo a filha e a namorada se beijarem.

– Bom, elas são adolescentes e nessa época da vida tudo parece mais intenso do que realmente é, mas mesmo assim acho que sim. O que achou dela?

Helen suspirou antes de responder.

– Sinceramente eu passei o tempo inteiro tensa com medo de falar alguma besteira e nem consigo avaliar – ela falou e Brian riu.

– Fico muito feliz em ver que você está se esforçando! E tenho certeza que a Sophie está mais ainda!

– Não está sendo fácil, mas ficar sozinha naquela casa está me fazendo repensar várias coisas – ela falou olhando para ele de rabo de olho – Mas admito que essa Quinn parece mesmo gostar da Sophie – falou observando as duas caminharem de mãos dadas sorridentes e felizes.

– A Quinn é bem diferente de todas as meninas com quem a Sophie se relacionava antes.

– Mas ainda não o suficiente para assumir um relacionamento com ela, pelo que a Sophie mencionou.

– Dessa vez é diferente, acredite – ele falou sério e Helen pode rapidamente reparar que havia algo por trás do comentário.

– O que ela tem de tão diferente?

Helen observou Brian respirar fundo, decidindo se contaria ou não, mas no fundo os dois sabiam que não havia dúvidas. Eles sempre dividiram tudo.

– A mãe dela é alcóolatra e abusiva – ele falou baixo, mesmo com a distância segura.

– Meu Deus! – Helen exclamou segurando instintivamente o braço de Brian, fazendo-o parar de andar.

– É um segredo, ninguém naquela cidade sabe a não ser a Sophie, um amigo das duas e eu. Agradeceria se você não mencionasse que eu contei – pediu.

– Claro! E como você está lidando com isso? – perguntou.

Os dois estavam um de frente para o outro, ainda parados.

– Eu conversei com a Quinn e falei para ela do meu pai. Conversamos sobre formas dela se proteger e estou de olho na situação para intervir quando for preciso.

– Mas como você está lidando com isso? – perguntou dando ênfase ao “você” – Eu sei que nunca foi fácil para você falar sobre isso...

– Eu estou bem. Não é fácil reviver as memórias, mas eu senti que ela precisava saber que outras pessoas passam por isso também, que não está sozinha. Quando eu tinha a idade dela, me sentia tão perdido... Seria ótimo se alguém compartilhasse experiências semelhantes comigo. Fico feliz que pude fazer isso por ela!

Helen sorriu e fez um carinho no braço de Brian que instintivamente colocou sua mão por cima da dela.

– Fico feliz que esteja conseguindo falar sobre isso com outra pessoa além de mim e da sua terapeuta, mas de qualquer forma, você sabe que sempre estarei aqui se precisar conversar – falou carinhosamente.

– Eu nunca duvidei disso! – ele sorriu e os dois ficaram em silêncio se olhando por alguns segundos antes de retomarem a caminhada.

– Sophie já sabe?

– Ela não estava quando conversei com a Quinn e tenho certeza que ela não vai falar nada, mas acho que não é justo com a Sophie a namorada dela saber de algo tão íntimo meu e ela não.

– Eu concordo – ela falou.

– Mas eu ainda estou tomando coragem para falar com ela. Não é fácil...

Os dois continuaram a caminhar e observaram que as duas haviam sentado em um banco de um parque um pouco a frente.

– Eu estou tão feliz! – falou Quinn depois de dar mais um beijo em público na namorada – Me sinto tão livre! Queria poder andar de mãos dadas com você e te beijar o tempo todo!

– Eu também, meu amor! – falou Sophie sorridente – Mas teremos tempo para isso!

E ao ouvir isso, Quinn lembrou da conversa que tiveram no jantar sobre faculdades. Teriam mesmo esse tempo? E se fossem para cidades diferentes?

– O que foi? – Sophie perguntou reparando o semblante preocupado da namorada.

As duas já haviam atingido um grau de intimidade que conseguiam ler as feições uma da outra de forma quase que inevitável.

– Eu só estou um pouco preocupada com o nosso futuro. Estávamos falando de faculdades hoje no jantar e eu fico pensando no que vai acontecer quando nos formarmos em King High. E se formos parar em cidades diferentes?

– Amor, vai dar tudo certo! – Sophie tentou reconfortá-la.

– E se cada uma for para um lado do país? Eu não quero ser o tipo de pessoa que insiste em continuar um relacionamento à distancia só para acabar me machucando quando fatalmente não der certo. Relacionamentos de High School muitas vezes não sobrevivem à faculdade por inúmeros motivos! A distância torna tudo muito pior! – admitiu tudo que a estava deixando ansiosa.

– A vida é nossa e a escolha também! Eu também não quero um relacionamento à distância, pelo contrário, quero ficar o máximo perto de você que é humanamente possível – falou Sophie apertando a namorada em seus braços – Nós que decidimos para que faculdade vamos!

– Mais ou menos, né? Existem vários fatores: sermos aceitas, ganharmos bolsas, terem bons programas para os majors que queremos. No meu caso então a bolsa é super relevante! Minha família não tem dinheiro! E sem querer te ofender, acho muito difícil sermos aceitas na mesma universidade levando em conta nossas diferenças acadêmicas.

– Provavelmente não iremos para as mesmas faculdades, mas podemos ir para a mesma cidade! Por mais que minha mãe tenha falado todo o lance deu ser legacy em Temple, eu nunca fui o tipo de pessoa que sonhou em ir para uma faculdade específica a vida toda. Sinceramente, eu nem ligo para a parte acadêmica! A carreira que eu quero seguir nos esportes geralmente não liga muito para uma faculdade de nome, então eu posso praticamente ir para qualquer lugar – então acariciando o rosto da namorada e olhando no fundo de seus olhos, completou – E eu quero ir para o lugar que você estiver!

– Isso é loucura, sabia! – riu Quinn – Você não pode basear sua vida profissional na sua namorada do High School.

– Amor, eu sou o máximo no que eu faço! – falou totalmente convencida – Eu com certeza vou conseguir me dar muito bem no meio dos esportes seja em atletismo ou no futebol seja lá para qual faculdade eu vá!

– Você é tão presunçosa! – riu novamente.

– Eu sou realista! – brincou Sophie – Minhas prioridades não são e nunca serão acadêmicas. Eu só preciso ser boa nos esportes e faço isso de qualquer lugar! Você é minha prioridade – falou dando um beijo na namorada.

– Eu ainda não decidi se isso é fofo ou estúpido – brincou Quinn.

– Por que não pode ser os dois? – Sophie sorriu e roubou mais um beijo da namorada.

– Então vamos fazer isso mesmo? Vamos combinar de ir para a mesma cidade? – perguntou Quinn.

– Claro!

– Mas eu não quero você indo para uma faculdade porcaria só por minha causa! Vamos escolher opções reais e boas para nós duas em várias cidades!

– Claro – concordou novamente.

– E você vai precisar estudar! Seu pai está certo, você precisa de um mínimo nos SATs para passar para qualquer lugar minimamente bom!

– Eu sou péssima estudando!

– Eu te ajudo, ok? Vamos fazer isso juntas! – Quinn falou novamente sentindo-se leve.

– Eu topo estudarmos juntas se você pensar em um método que chame minha atenção – brincou Sophie de forma sedutora.

– Eu consigo pensar em alguns – respondeu Quinn sensualmente antes de beijar Sophie mais uma vez.

Pouco tempo depois os quatro voltaram para o hotel e Quinn não se surpreendeu ao encontrar apenas Lisa no quarto. Leslie certamente estava com Spencer e Cathy com outro jogador.

– Como foi o jantar com a sogra? Ela é tão metida quanto parece? – Lisa logo perguntou.

– Um pouco. Ela claramente estava tentando agradar a Sophie sendo muito simpática comigo – falou Quinn.

A líder de torcida se trocou e deitou na outra cama de casal que estava vazia. Lisa já estava deitada também e de frente uma para outra ficaram conversando sobre os eventos do dia até caírem no sono.

Enquanto isso, no quarto com a mãe, Sophie também estava nas nuvens.

– Mãe, muito obrigada por hoje! – ela agradeceu quando as duas já estavam deitadas na cama – Você não tem ideia do quanto estou feliz!

– Eu também, filha! Eu até que gostei da sua namorada.

– Ela é maravilhosa! – falou apaixonada – O dia foi perfeito hoje! Eu estava com muitas saudades.

– Eu também! E ainda estou! Não foi suficiente – falou a mãe com um sorriso triste.

– Por que não fica mais um pouco? Volta para Greatdale com a gente e fica até o final do feriado!

– Eu não sei, filha...

– Vamos lá, mãe! Você e o papai passaram a noite conversando hoje e o mundo não acabou! Você pode ficar lá com a gente, eu te mostro a cidade...

– Eu já estou com a passagem de volta comprada.

– Troca! Eu te levo no aeroporto no domingo ou até durante a semana caso queira ficar mais dias. Tem um quarto de visitas lá em casa, vai ser tão bom ter você lá!

– Eu não sei se seu pai gostaria que eu ficasse lá. Talvez um hotel.

– O hotel da cidade é uma porcaria para os seus padrões. Eu falo com o papai, tenho certeza de que ele não vai se importar.

Helen pensou um pouco.

– Tudo bem. Eu fico até domingo! – anunciou deixando Sophie ainda mais feliz.

Fim do capítulo