CAPÍTULO 09 - Vida louca, vida...

          Os dias seguintes não foram nada fáceis para Alice, nem para Annick na verdade, sem Janine a frente dos cuidados de sua protegida, a loira se tornou um alvo muito fácil de ataques energéticos, sejam de encarnados ou desencarnados, fato que a deixou ainda mais frágil.

          Janine  seguia distante, tentou inúmeras vezes entrar em contado com Alice, que fugiu de todas as suas tentativas de explicação, e sem ter mais o que fazer em relação a isso, conversou com seu mentor, não estava mais em condições de trabalhar como Spirit doll, na verdade, também não tinha como estar perto da sua protegida nesse momento, por isso, depois de muito pensar, teve a ideia de passar uns tempos em uma colônia espiritual bem distante, trabalhando com um grupo especial, estes eram socorristas de espíritos que desencarnavam em sofrimento, como essa colônia estava em uma vibração mais elevada da que habitava, nada que viesse da dimensão dos encarnados teria como chegar até ela, o mentor, mesmo sabendo que Janine escondia por trás desse pedido um forte desejo de fugir da situação e dos problemas, conseguiu que ela partisse na mesma noite. "É, o amor é um sentimento que só deveria pertencer aos que estavam preparados para isso".

          Na terceira semana depois desses acontecimentos, Alice chegou ao fundo do poço, passou a sair sempre que podia, deixando de meditar e de fazer suas preces aos deuses, com isso também parou de frequentar o quarto da avó, pedindo a Zefa que voltasse a cuidar do espaço, pois estava sem condição, ao ser indagada porque, apenas sorriu e disse que queria curtir a vida. Annick por outro lado, não conseguia fazer muito, tentava enviar as melhores vibrações possíveis, mas, as mesmas não chegavam ao seu destino, dissipando-se no caminho. Enfim, a espiritualidade tentava ajudar, todos queriam tirar Alice daquela teia profunda que estava envolvida, formada apenas por sentimentos negativos, no entanto, o que ela mais precisava era simplesmente perdoar Janine e aceitar o amor recém descoberto no coração, e contraiando a todos, tudo o que mais fazia era buscar uma maneira de ferir Janine, de atingi-la e magoa-la de todas as formas, seu comportamento beirava a infantilidade, ia a bares e boates para beber em excesso e beijar várias bocas, como toda bruxa tem uma energia como uma espécie de ímã, os excessos estavam atraindo apenas energias estranhas e densas. Inclusive a Bruxa Negra que a espreita esperava o momento certo de atacar.

           Sua vida sexual também causava problemas, era cheia de excessos, no escritório brigava com Bruna por qualquer coisa, mas, logo faziam as pazes e se trancavam por horas em reuniões intermináveis, ou ficavam presas no banheiro trans*ndo, na verdade, não se importavam se não estavam sendo discretas, o sex* era cada dia mais gostoso, selvagem, prazer por prazer, sem nenhum tipo de sentimento, enquanto isso, todos fingiam que não estavam ouvindo os gemidos e as vezes os gritos que vinham de onde estavam.

          Alice estava se afundando cada vez mais, o último passo para a decorracada foi ter autorizado Zoya a entrar em seu quarto e o pior,  em sua vida, suas noites eram muitas vezes regadas a sex* com a entidade, e embora Zoya fosse ardente, na maior parte das vezes tudo terminava em um grande desgaste de ordem emocional, física e espiritual, pois para ter um contato maior com Zoya, precisava doar muito ectoplasma, isto é, sua energia vital e espiritual, que era gasta e  externizada com o inuito de ser doada para poder haver uma materialização completa do espírito.

         Em casa, a loira estava cada dia mais arredia e reclusa, e quando não saia, não interagia com ninguém, nem mesmo com Chocolate e Maitê, passando a maior parte do tempo com Zoya.

          Quando Alice chegou a exaustão, sem ter energia para nada, principalmente para doar ectoplasma e muito menos para o sex* com entidade, Zoya perdeu totalmente o interesse, não era adepta a uma boa conversa, digamos assim, e, da mesma forma com que veio, ela se foi, mesmo sendo chamada por noites a fio, simplesmente não mais apareceu, Alice também chamou Janine, muitas vezes embalada e entorpecida pelo álcool, mas, a sua protetora não tinha como ouvir, assim o que restava  aos seus dias era o sex* com Bruna, que ainda era muito quente, mas, nem sempre a ex estava disponível, apesar de tudo, morava com Letícia e ainda não tinha achado nenhuma razão para se separar. Neste sábado específico, Bruna avisou que não ia poder sair, a namorada estava com uma febre que não passava e resolveu ficar em casa para cuidar dela.

          Sem alternativas, Alice se arrumou da melhor forma possível, apesar da alma estar em frangalhos, estava mais linda do que nunca, ouvindo no inconsciente o chamado da Bruxa Negra que tinha planos de sugar seus dons e fluidos vitais durante o sex*.

          Sâmia bateu na porta, pedindo licença para entrar, e antes que a amiga de infância falasse qualquer coisa, tomou coragem para falar.

- Alice, é o seguinte, te conheço há muito tempo, te peço, não vá para essa boate, eu estou sentindo no coração que a noite vai terminar da pior forma possível, você sabe, essa cidade tem seus mistérios...

- É, e o que vou ganhar para não ir?, vai me dar algo em troca?, já que vou deixar de ficar com uma gata hoje podia ser razoável comigo, não concorda?...

- Estou te desconhecendo Lila, você nunca foi assim, não sei o que te feriu tanto, mas, vamos fazer assim, eu vou contar minha história e você decide, se quiser sair depois, ninguém vai te impedir...

- Sim, pode começar, você tem uma hora para me convencer.

- Então, eu estava revoltada demais, Caio pressionava, queria um filho de qualquer jeito, um filho meu, este seria um presente que daria a ele, a mulher dele não podia ter filhos e eu rezava todas as noites para Deus, queria engravidar, queria Caio pra mim, e sem esse filho que ele queria tanto eu sabia...nada feito...

- Sei...

- Um dia rezei com raiva, pedi que qualquer um poderia me engravidar, qualquer um, e ele veio, com seus cabelos negros lisos e grandes olhos verdes, bonito, tão lindo que jamais poderia ser humano, e realmente não era. O conheci em uma festa que aconteceu no Hotal Pedra Sonora, ele me olhou, tomamos alguns drinks e ele perguntou qual era o meu maior sonho, eu disse, de lá fomos para um dos quartos, fizemos sex* a noite toda, eu queria parar e meu corpo não deixava, ele continuou fazendo aquilo até que eu desmaiei, quando acordei eu pedi para ele parar, mas, ele não parava nunca, até que adormeci no meu do sex*, acordei no outro dia com o corpo doendo, toda arranhada e machucada, duas costelas quebradas, e ele tinha simplesmente desaparecido...e o resto você deve imaginar, fiquei grávida, veio Maitê...mas, não quero nem saber quem é o pai, quem me engravidou...

- Você acha que foi?, um...bom...um anjo caído?...

- Sim amiga, no mínimo.

          Alice envolveu Sâmia em um abraço carinhoso e choraram juntas por muito tempo, e como as lágrimas sinceras são bálsamos que aliviam todas as dores, ambas conseguiram se ajudar, ao mesmo tempo em que curaram suas feridas.

- E você Alice?, o que está acontecendo?, minha avó disse que muitas vezes ela se acordou de madrugada e te trouxe para o quarto, sem você nem saber onde estava, a vó Zefa te deu banho, cuidou de ti e você estava quase desmaiada, ainda riu ao me contar que em uma dessas vezes, você tentou beija-la enquanto dizia "Você veio Janine", ai já sabe, nesse dia, após ser chamada de Janine e de você ter falado, "me beija Janine, eu te amo, me perdoa". Assim que dormiu, a primeira providência que ela tomou foi derramar todas as bebidas que estavam escondidas pela casa.

- Sâmia, estou morrendo de vergonha amiga...

- Alice, não fique com vergonha, segure as rédeas da sua vida, você não está vendo que está se destruindo?, e afastando quem te ama, você não dá a menor importância para o Chocolate, ele todo dia vem com seu bichinho de pelúcia, vem só para brincar com você, e quando percebe que não está nem ai, ele sai todo triste, pega a bolinha que a Maitê pediu para comprar e vai brincar com ela, aliás, amiga, ela fez um desenho com todo amor para você, e sabe onde ela encontrou?, no lixinho da cozinha, você usou para limpar algo que derramou do seu copo de vinho, provavelmente, é disso que estou falando, você mudou, ninguém mais aguenta ver você assim, esse sofrimento é só por amor?, liga para essa Janine, pega o raio desse celular, bloqueia todas as vadias que andou se encontrando e trazendo para o seu quarto, liga para Janine, liga agora, na minha frente para ter coragem, quero ouvir, e vou ficar aqui para ouvir teu pedido de desculpas...

- Janine não tem telefone amiga, nem celular e ela não quer me ouvir, eu a feri, de todas as maneiras...

- Como assim, quem não tem celular nesses tempos, ela não tem dinheiro?, puxa amiga, você tem, dá de presente, se não quiser eu tenho um reserva, posso...

- Sâmia, onde ela mora não pega celular...

- Coitada, ela mora em que lugar?, uma floresta é?.

- Não, em uma colônia espiritual, Janine é um espírito...

- Como o pai de Maitê?.

- Não amiga, ela é de luz, o espírito mais lindo, generoso, bondoso e engraçado que conheci na vida inteira.

- E agora??.

- Você já assistiu Ghost?.

- Sim...

- Você é médium de incorporação Sâmia, bem que poderia...assim...ceder seu corpo, eu não posso doar mais nada...

- Nem pensar Alice, tô fora, forinha, foríssima mesmo...

- Por favor, por favor Saminha....

- Neeeeeem pensar....

Fim do capítulo