– Spencer, posso falar com você? – Sophie encontrou-o nos corredores da escola segunda-feira pela manhã.

– Claro! Tudo bem? – perguntou.

– Não! Como a gente vai vencer com Nick de QB? – ela foi direto ao ponto.

– Eu não tenho a menor ideia!

– Eu tenho! E preciso da sua ajuda!

– Pode falar – ouviu interessado.

– Você precisa me ajudar a convencer meu pai a me deixar jogar! – ela falou e ele deu um sorriso animado.

– Isso seria fantástico! Com você de QB eu tenho ainda mais chances de ter um ótimo jogo e despertar mais interesse dos olheiros!

– Então você vai me ajudar a convencer meu pai?

– Claro, Sophie! Estamos juntos nessa! E vou falar com alguns rapazes do time para eles darem uma força também.

– Valeu, cara! Nos vemos no treino mais tarde! – os dois se despediram e foram para suas respectivas salas de aula.

Naquele dia no treino, Sophie esperou até que o pai estivesse bem estressado com a performance de Nick para tocar no assunto.

– Pai, isso não vai dar certo! Você sabe! – falou e observou a feição irritada do treinador – Nick, sem desrespeito, mas você não está pronto para um jogo importante desse! A gente não vai ter chance nenhuma de ganhar assim, pai e você sabe! Ele é muito verde ainda, ele não vai dar conta.

– Eu posso fazer isso! – Nick falou tentando se convencer.

– Não, não pode! – ajudou Spencer – Você vai ter sua chance ano que vem, mas você nunca foi titular e nem jogou de QB aqui em King High até dias atrás! Precisamos de alguém experiente!

– E uma garota é melhor? – Nick ainda tentou se defender.

– Essa garota é melhor que o Matt e todos sabemos disso! Parem de tentar fingir que ela não é – Spencer defendeu.

– Comigo de QB o time estaria evoluindo na posição – falou Sophie de forma convencida – Vocês não querem vencer?

– Eu odeio admitir, mas não temos a menor chance de vencer sem ela – falou Lucas à contragosto.

– Não é uma opção! – falou Brian irritado.

– Por que não? – Sophie perguntou também irritada.

– Você pode se lesionar! E como fica sua chance de conseguir uma bolsa de atletismo?

– Ainda faltam meses para a temporada de corrida começar e além do mais eu sou junior, se acontecer de eu me lesionar eu ainda tenho mais de um ano para ficar em forma de novo e conseguir uma bolsa!

– E muitos de nós não temos esse luxo, treinador! – defendeu um jogador de linha ofensiva do time – Somos formandos e precisamos ter boas performances para conseguirmos uma bolsa! Como vamos fazer isso se o ataque não conseguir ficar em campo?

– Não é apenas sobre a vida da sua filha! – falou um jogador da defesa – É sobre o nosso time!

– E eu quero jogar! Eu quero vencer! Eu consigo fazer isso, pai!

– Podemos ser melhores com a Sophie! – insistiu Spencer – Vamos lá, treinador Allen. Você é um vencedor! Nós queremos vencer também!

– Tudo bem – ele aceitou a contragosto – Sua mãe vai me matar!

Sophie e Spencer comemoraram felizes.

– Vai se vestir para o treino – anunciou e ela rapidamente foi para o vestiário procurar um uniforme reserva que lhe coubesse.

Naquela semana Sophie respirou futebol mais que o comum. Ao invés de correr toda manhã, ela e o pai treinavam alguns passes e movimentações de pé antes de irem para a escola. Ela já estava cansada de conhecer o playbook do time, mas estudou tudo o que podia sobre os Warriors, adversários da semana. Ainda marcou treinos extras com os recebedores do time para que ficassem em sintonia. Ela estava extremamente animada e ansiosa.

Mal teve tempo de ficar com Quinn naquela semana, mas as duas conseguiram encontrar um tempo na quinta-feira à noite. Quinn ficou na sala estudando enquanto Brian e Sophie passaram horas vendo filmes do treino. Por fim ele foi até um bar da cidade para assistir o TNF e ela ficou em casa com a namorada.

– Posso ter um pouco de você agora? – perguntou Quinn indo beijar a namorada.

– Você pode ter tudo de mim! Sempre! – Sophie falou romântica.

– Que tal a gente aproveitar a ausência do seu pai? – propôs Quinn com segundas intenções.

– Você é um gênio! Eu preciso tomar um banho.

– Isso foi um convite?

– Com certeza!

As duas subiram até o banheiro de Sophie tiraram as roupas sem cerimônia. Assim que entraram no chuveiro, começaram a se beijar e explorar os corpos uma da outra. Depois de terem dividido alguns orgasmos no banheiro, deitaram-se abraçadas na cama, com os corpos ainda nus e um pouco molhados.

– Você estava precisando relaxar depois de treinar a semana inteira para o jogo de amanhã – falou Quinn.

– Você me conhece tão bem! – disse Sophie dando lhe um beijo doce.

Foram interrompidas pelo som do celular.

– Minha mãe – anunciou Sophie antes de atender.

– Quando você esperava me dizer que não viria passar o Thanskgiving comigo? – Helen perguntou chateada.

– Eu nunca nem disse que eu iria passar com você – defendeu-se.

– Nós sempre passamos juntas na casa dos seus avós! – argumentou – E agora seu pai arranjou essa ideia insana de você jogar no time de futebol da escola e como se não bastasse você correr o risco de se machucar, o jogo vai ser bem no meio do feriado!

Helen já havia reclamado quase que a semana inteira sobre a decisão de Brian deixar a filha jogar e a situação só piorou ao descobrir que a final na semana seguinte, seria justamente do meio do Thanksgiving.

– Você podia vir me ver! Podia passar o feriado todo aqui com a gente e ainda assistir a final lá em Canton!

– Você sabe que eu não quero encontrar com o seu pai ainda – Helen lembrou.

– Qual é, mãe! Vocês precisam superar isso! Não pode tentar pelo menos no Thanksgiving? Pelo menos para me ver jogar? Eu vou fazer história como a primeira mulher QB a vencer a final no estado de Ohio!

– Eu vou pensar no assunto, prometo! – falou Helen de forma doce – Mas de qualquer forma, queria que você pudesse passar alguns dias comigo aqui na nossa casa! Ela fica tão vazia sem você! – falou saudosa.

– Prometo que vou, mãe!

– Que tal no recesso de inverno? Você vem passar o Natal comigo, certo? – perguntou esperançosa.

– Claro, mãe!

– Ótimo! Estou com muitas saudades, filha!

– Eu também estou com saudades – Sophie falou carinhosa antes de se despedirem.

– Você acha que ela vai vir? – Quinn perguntou.

– Eu duvido! – falou Sophie sem muitas esperanças.

– Por que seus pais se divorciaram? – perguntou Quinn curiosa.

Ela já havia ouvido Brian falar de forma muito carinhosa de Helen e da importância dela em sua vida.

– Para falar a verdade eu não sei – Sophie falou com uma feição tensa – Acho que foi por minha causa.

– Por que acha isso?

– Sei lá... Antes do divórcio eles estavam brigando muito por minha causa. Minha mãe nunca aceitou muito bem o fato de eu ser lésbica e eles viviam discutindo por causa disso.

– E eles ainda estão brigados? Por isso que sua mãe não quer encontrar seu pai?

– Eles não brigam mais. Conversam bastante até e sempre de forma bem civilizada. Acho que ainda é muito difícil para eles o divórcio...

– Acha que eles ainda se amam?

– Eu acredito que sim – falou Sophie pensativa – Eu sei que é meio estúpido, mas eu sempre achei que eles fossem voltar eventualmente. Quando se separaram eu tinha certeza que não ia durar, mas acabou que meu pai se mudou para cá e eles oficializaram o divórcio. Eu nunca achei que chegariam tão longe, mas também... acho que todos os filhos de pais separados pensam nisso...

– Talvez eles ainda se entendam um dia – falou Quinn fazendo um cafuné na namorada.

– Difícil se nem conseguem ficar no mesmo lugar...

As duas ainda ficaram conversando por algum tempo antes de Quinn precisar voltar para casa.

O dia da semifinal estadual havia finalmente chegado! As arquibancadas estavam cheias de torcedores ansiosos e Sophie era a pessoa mais falada da cidade. Todos se perguntavam se teriam chances de vencer com ela de QB. As histórias de como ela treinara um time de flag e vencera dos Yellow Jackets foi contada e recontada diversas vezes. De um lado haviam pessoas esperançosas de que ela pudesse levar o time à vitória e de outro lado haviam incrédulos que não conseguiam conceber a ideia de que uma mulher seria uma boa jogadora de futebol.

De qualquer forma, todos queriam ver o que iria acontecer e até Eleanor decidiu assistir ao jogo para a surpresa de Quinn que sabia que a mãe não era muito fã desses eventos esportivos.

Sua presença a deixou tensa, pois sabia que Eleanor iria observar minunciosamente sua performance como líder de torcida também.

– Vamos lá, time! Esse é o nosso momento de brilhar! Os Warriors já perderam esse jogo e eles nem sabem! Nós não vamos apenas vencer, vamos acabar com eles! E na semana que vem, seja lá qual for o time que for nos enfrentar, vai estar morrendo de medo! – Sophie animava os jogadores antes de entrarem em campo – Quem está pronto para dominar? – gritou.

– Yellow Jackets! – todos gritaram em uníssono.

A energia do time era palpável. Todos os jogadores gritavam e pulavam para animar a plateia.

Eles ganharam no cara ou coroa e Brian escolheu começar com a bola. Sophie que havia decidido a primeira jogada da partida e quando o ataque estava se alinhando ela começou a ouvir as provocações da defesa adversária.

– O time estava tão ruim que precisaram até colocar uma garota para jogar! – um deles riu.

– Seria melhor se tivessem desistido – outro falou.

Sophie sorriu de forma confiante. Ela vivia para esses momentos! Não havia sensação melhor que olhar as feições surpresas e chocadas das pessoas depois de provar que conseguia fazer algo que ninguém acreditava que faria. Era melhor ainda quando conseguia provar que mesmo sendo mulher, podia ser melhor que muitos homens em um esporte dominado pelo sex* masculino.

– Vamos lá, rapazes! – gritou para seus jogadores que estavam se alinhando – Vamos mostrar para esses caras o estrago que uma garota pode fazer.

Spencer riu. Ele sabia o que estava por vir.

Assim que Sophie recebeu o snap, fez um playaction, fingindo que passaria a bola para o RB e como os jogadores do time adversário a subestimavam, eles tinham certeza que ela estaria ali apenas para gerenciar o time com jogadas de corrida e eventuais passes curtos. Ledo engano. Os safeties vieram para frente esperando a corrida e o fundo do campo ficou descoberto. Sophie se movimentou no pocket para ganhar tempo e assim que Spencer venceu o defensive back que o estava marcando, ela lançou um passe longo certeiro em sua direção e ele correu livremente para o touchdown.

A feição completamente chocada da defesa foi impagável. Eles não estavam entendendo o que havia acontecido. Enquanto a torcida comemorava freneticamente, Sophie aproveitou para provocar os defensores dos Warriors.

– Na primeira jogada da partida vocês já deixaram a garota marcar um touchdown, seria melhor se desistissem agora!

O restante do jogo foi muito parecido com aquele primeiro drive. Os Warriors não conheciam o estilo de jogo de Sophie e foram pegos completamente de surpresa. Enquanto isso, a quarterback havia estudado muito bem a defesa do time e conseguia ler com facilidade todas as formações. Fazia os ajustes necessários antes do snap e deixava todos do time de boca aberta com a forma como conduzia o ataque.

Quando chegou o intervalo do halftime, os Yellow Jackets já estavam vencendo por 28 a 7 e os torcedores comemoravam como se a partida já estivesse ganha.

Foi uma festa total no vestiário e todo o time dançava, cantava e se divertia. Enquanto isso nas arquibancadas, Matt sentia-se como se tivesse sido roubado da oportunidade de sua vida.

– O jogo está em nossas mãos. Agora nós vamos sair daqui, vencer e preparar nossas malas para Canton! – falou Brian e todos gritaram animados correndo para fora do campo novamente.

Os Warriors tentaram ajustar na segunda metade do jogo, mas não de forma eficaz o suficiente. Enquanto o ataque ainda pontuou mais, a defesa não conseguia parar Sophie e Spencer. A dupla estava em perfeita sintonia e foram as grandes estrelas da partida. Por fim o jogo terminou com os Yellow Jackets vencendo por 49 a 28. Havia sido a maior pontuação de ataque já feita pelo time em um jogo de pós temporada.

– Gostou do jogo, mãe? – perguntou Quinn quando a partida acabou – Fiquei surpresa por você ter vindo.

– Foi muito bom! Estava curiosa para ver a tal menina jogar de QB. A cidade toda estava falando disso!

– E o que achou? – Quinn perguntou sem conseguir evitar um leve nervosismo.

Era a primeira vez que sua mãe via Sophie.

– Ela foi ótima! Que pena que ela não é um garoto! Seria um ótimo namorado para você! Com certeza ela vai ser assunto dessa cidade!

Quinn precisou se segurar para não rir do comentário da mãe. Ah, se ela soubesse...

– E gostei da sua performance também, mas você está precisando de uma dieta! Engordou nas últimas semanas e isso aparece nesse uniforme!

– Tudo bem – concordou desanimada.

Antes que Eleanor pudesse continuar o discurso, Quinn foi salva pela colega de trabalho da mãe, que havia ido assistir ao jogo com ela. As duas haviam combinado de ir para um bar após a partida e elas se despediram.

Sophie comemorou a vitória com os rapazes, mas depois precisou se trocar no vestiário feminino. Algumas líderes de torcida já estavam saindo e em pouco tempo ela ficou sozinha a espera da namorada.

– Desculpa a demora! – Quinn chegou alguns minutos depois – Minha mãe estava no jogo.

– Sério? – Sophie, que já havia trocado de roupa, recepcionou a namorada envolvendo-a pela cintura – Quer dizer que minha sogrinha me viu jogar?

– E tenho que te dizer que ela ficou muito impressionada! Até desejou que você fosse um garoto para eu te namorar! – contou e riu.

– Olha isso... Já estou ganhando o coração dela! – brincou.

– Você é uma vencedora nata, mas infelizmente minha mãe não tem um coração para ser conquistado – falou brincando, porém com uma mágoa visível.

– Eu não ligo! Já conquistei o único coração que me importa na família Morgan – brincou Sophie antes de beijar a namorada.

As duas ainda ficaram juntas por alguns minutos para matar as saudades, antes de terem que sair. Todos foram para o Great Cook comemorar e Sophie ganhou seu primeiro hambúrguer de brinde por ter vencido o jogo.

Fim do capítulo