Paula Pov’s

Há dois dias Paula estava empenhada em achar tudo que pudesse contribuir para encontrar sua filha que deveria estar com  praticamente vinte anos e isso a deixou eufórica e ao mesmo tempo com medo do futuro, pois não tinha certeza de como a moça a receberia, agora uma certeza ela tinha, poderia levar o resto da vida, mas ela iria explicar tudo que aconteceu a sua filha e claro iria respeitar o casal que estivesse com ela e agradecer por eles terem cuidado dela.

Na noite anterior Paula havia ligado para Anderson seu irmão mais velho que sabia de muitas coisas sobre o pai deles e lembrou alguns detalhes que poderiam ajudar. Anotou tudo que tinha e já ia ligar para conversar com sua terapeuta quando o seu celular tocou, um número desconhecido e ela logo pensou, Mônica resolveu dar notícias.

Ligação on

- Alô!

- Alô! Dra. Paula,

- Sim, sou eu. Quem fala?

- Aqui é o fabrício, sou o namorado da Mônica.

Nesse momento, eu meio que fiquei travada, não que eu amasse a Mônica, porém um homem liga no meu celular pessoal e diz ser namorado da minha mulher, porque eu tenho uma união estável com ela e não me separei legalmente.

- Alo! Alo! Dra. Paula.

- Pois não, estou ouvindo.

- Então, eu peguei seu telefone no celular dela e sei que moram juntas, mas ela ia falar que vamos casar em alguns meses só que infelizmente ela adoeceu, e foi tudo tão rápido,  eu preciso pegar uns dados do plano de saúde dela e como são amigas eu achei que pudesse me ajudar.

-  Fabrício, seu nome, correto?

- Sim Fabrício.

- Então, Fabrício eu não divido aluguel com a Mônica, eu sou mulher dela, agora porque precisa dos dados do plano, o que aconteceu?

- Olha, ela me contou que a senhora tinha uma atração por ela, mas eu sinto muito por não ser correspondida, só que agora ela está comigo.

- Que bom, Fabrício, isso significa que vai sustenta-la, agora um favorzinho, pede pra ela passar aqui e assinar os documentos de separação, por favor, pois legalmente somos casadas.

Eu nem sei como não mandei esse playboy pro inferno junto com a namorada dele, mas nesse momento a separação era tudo que eu precisava para poder seguir minha vida.

- Sobre isso eu vou falar com ela, pois ela disse que assinou uns papeis e não sabe bem o que era.

- O bom é que você conhece e confia em sua namora não é rapaz?

- Dra. Paula, eu sei tudo que aconteceu na vida dela, só que ela está com o COVID 19.

- Como? Onde ela está?

- Ela foi internada hoje, estava com falta de ar e está aqui no pronto norte e eu não sei bem o que o plano dela cobre ou não cobre, ou se é dependente da mãe dela?

- A sua namorada é minha dependente. Eu vou para o hospital resolver isso, vai ficar por aí?

- Sim, estou na emergência.

- Te encontro em 20 minutos.

Ligação off

Mesmo meio atordoada com a ligação, eu me troquei rapidamente, peguei minha bolsa e liguei para uma das associadas da advocacia pedindo que me encontrasse lá.

Como moro perto do hospital cheguei em vinte minutos, como combinado, Dra. Letícia chegou junto comigo. Fomos caminhando para emergência e eu resumi tudo para ela.

- Letícia, minha mulher Mônica há quatro dias não dorme em casa, hoje um rapaz me ligou dizendo ser o namorado dela e saber que ela divide aluguel comigo. Eu apenas quero me separar.

- Paula pelo que entendi ela pegou o covid 19?

- Parece que sim, vamos saber agora.

Entramos no hospital e eu logo reconheci um rapaz com cara de playboy mimado, mostrei a Letícia e fomos ao encontro dele.

Ele nos cumprimentou e estava com a bolsa da Mônica, eu pedi, mas ele se recusou e eu estava bem irritada para argumentar, então Letícia disse que aguardasse um minuto e chamou Dr. Rogério que é nosso ginecologista há anos.

- Fabrício!

- Você é?

- Sou Letícia advogada da Dra. Paula.

Eu só observava a cara do coitado que vai casar com minha futura ex, e claro espero que se recupere porque mesmo não valendo nada, ninguém merece morrer.

- Não precisa advogada só não sei qual o plano da Mônica e não me permitiram dar entrada, não entendi o porquê!

- Fabrício, esse é Dr. Rogério, ele é o médico da Mônica há anos e vai esclarecer a você.

- Pode falar.

- Sr. Fabrício a Sra. Mônica é esposa da Dra. Paula e eu afirmo isso a você porque Dra. Leticia me explicou que você não sabe. Em relação ao plano ele é de coparticipação e ela é dependente da Dra. Paula que precisa autorizar e assinar para internação.

- Eu não estou entendendo essa relação da Mônica, ela me disse que a doutora com quem morava era lésbica e que ela dava em cima dela mais não me disse que tinha casado.

- Bom, eu estou aqui para resolver a situação e o Dr. Rogério também. Vamos ver qual o quadro e o que é possível fazer. Se puder me passar a bolsa da Mônica, vou pedir à esposa que faça a ficha.

- Tudo bem, eu resolvo isso com ela depois, pode ficar com a bolsa.

Depois de uns 30 min, eu recebi a notícia que os sintomas eram de COVID 19 e que nesse momento ela seria transferida para o HRAN, Letícia providenciou tudo e de lá o Sr. Fabrício poderia cuidar da namorada.

Letícia deixou o seu celular para que qualquer eventualidade ele ligasse para ela e também informou que as duas iam se separar, o rapaz meio sem entender, aceitou tudo e foi para o HRAN para fazer a ficha dela.

Pedi a Letícia que fosse providenciando nossa separação, eu fiquei apenas de encaminhar a documentação da nossa união para que ela fizesse o que era possível, até que Mônica tivesse alta.

(...)

Quando cheguei a meu apartamento, eu fiquei pensando há quanto tempo estava sendo enganada pela Mônica, e como eu passei tanto tempo ao lado de uma pessoa sem caráter algum.

Resolvi abrir a bolsa de Mônica e ela não era muito de guardar datas e senhas então achei o caderno com as anotações dos bancos. Claro que eu fui olhar o saldo da conta dela que segundo a mesma estava no vermelho. E para minha surpresa não tinha nada de vermelho a conta dela, tudo que ela conseguiu tirar de mim ela transferiu para conta pessoal e fora as aplicações que eu ainda não sabia o valor total.

Como advogada e principalmente como esposa dela eu tirei um extrato detalhado dos últimos meses e encaminhei tudo para Dra. Letícia, eu tinha direito a tudo, porém metade já seria ótimo. Também tirei da nossa conta conjunta onde mostrava que ela havia retirado da nossa e enviado para dela.

Organizei tudo que precisava para separação e fui voltar com minhas pesquisas sobre a adoção da minha filha.

Liguei para Dra. Claudia que anotou o que eu tinha e disse que ia ver como ajudar. Aproveitei e contei sobre a Mônica e ela ficou sem palavras.

(...)

Rafaela Pov’s

Estou louca para fazer uma surpresa a minha amada Cecília, só que vou precisar da ajuda dela. Hoje acordamos cedo e estamos arrumando meu apartamento e a tarde ela combinou de ligar para o Carlos, algo do trabalho que precisará fazer com ele, e eu vou aproveitar para fazer a surpresa.

- Cecília você gosta de mim?

- Que pergunta Rafa, eu não tenho demonstrado não? – Claro que eu gosto.

- O quando você gosta?

- O quanto é possível gostar, embora você seja tão linda que acho que gosto infinito já.

- Você me daria algo do seu apartamento? - Ou melhor me emprestaria até eu poder comprar os meus?

- Tem dias que você vira uma menina cheia de vontades, meu amor eu te dou o que quiser, não sou materialista não viu! – O que essa mulher linda quer?

- Então, eu quero fazer umas mudanças naquele quarto vazio.

- Tudo bem, fazemos amanhã porque hoje à tarde vou trabalhar em um projeto lembra?

- Não, eu quero mudar enquanto você estiver trabalhando.

- Se consegue sem cansar hein, olha a asma.

- Minha asma está controlada e eu estou feliz o que a afasta de mim.

- O que preciso trazer?

- As duas cadeiras do seu escritório, um banco da cozinha. Eu preciso também de um tapete, você tem?

- Tenho um branco que guardei e pode usar. As cadeiras quer aquelas que uso para ver filme, certo? - Porque preciso da minha para trabalhar hoje.

- Sim, só preciso das duas mesmo.

- Ok. Vamos passar um pano no quarto e depois buscamos as cadeiras e o tapete. Agora o banco da cozinha é alto e diferente por ser para bancada, quer ele mesmo? Tem aquela poltrona na sala que é confortável.

- Para o que quero é esse mesmo.

(...)

Limpamos o quarto e buscamos o que eu precisaria e logo tomamos um banho para almoçar e descansar um pouco antes de iniciarmos nossa tarde.

Cecília foi trabalhar com Carlos e eu fui procurar meu violão, e uma mesa que desmontei, ela é pequena e serve para o que preciso.

Eu estava terminando de arrumar o quarto quando recebi a ligação de Claudia, minha amiga e terapeuta linda.

Ligação on

- Oi Rafaela,

- Oi Claudia, tudo bem?

- Tudo ótimo e você?

- Eu estou animadíssima hoje amiga, tirei até o violão da caixa.

- Você encaixotou o violão branco que seu pai te deu?

- Sim, mais está dentro da capa dele e protegido, não estragou não.

- Bom, se tirou da caixa, você venceu mais uma etapa dessa sua separação.

- Claudia, eu nem penso mais que fui casada, hoje eu só penso na minha namorada e no meu futuro. Tudo que eu travei ao separar está livre, leve e solto dentro de mim.

- Fico muito feliz amiga.

- Obrigada. E você, o que precisa?

- Quero que veja se consegue me ajudar com a criança que foi adotada, lembra?

- Sim, conseguiu os dados?

- Estou com eles.

- Pode falar que vou anotar.

- A criança é uma menina, o nome dado pela mãe foi Bianca, nasceu em 07 de novembro de 2000 no hospital de base às 18h30.

- Nome da mãe ou do pai você tem?

- Então, vou te contar toda história.

Eu já conhecia parte da história de Paula que Claudia me contou e hoje ela terminou com a parte que eu ainda não sabia.

(...Paula sofreu abuso de um amigo do pai que a engravidou e ela vendeu a criança para outro casal...)

Ouvi tudo e imaginei o quanto Paula sofreu com aquele pai dela. Agora da minha parte eu vou ajudar e sei que Cecília meu Bebê vai concordar.

- Certo Claudia, vou ajudar, eu trabalhei como residente no base e isso vai facilitar muito.

- Te agradeço Rafaela.

- Agora vou terminar umas arrumações e amanhã converso com uns amigos no hospital e te retorno.

- Vai lá que já imagino o que está aprontando, beijos.

- Beijos. Até mais.

Ligação off

Organizei um local onde eu vou sentar e tocar para Baby e as cadeiras serão para ela sentar e depois eu ficarei pertinho, no início quero que ela assista uma mulher apaixonada que vai buscar encantar seus ouvidos com Ana Carolina e dependendo vou tocar Laura Pausini, pelo menos eu costumava tocar bem. Agora vou montar a mesinha que ficará entre as cadeiras onde colocarei as taças, o vinho e alguns frios.

Depois de 01 (uma) hora o local estava bem agradável, eu coloquei o tapete e montei o espaço em cima dele como um local de audição musical. Agora vou tomar um banho porque montar a mesinha e afinar meu violão foi a parte mais fácil, difícil foi mexer nas caixas onde eles estavam e depois colocar tudo no lugar novamente. Assim, que acabar a pandemia vou mandar executar o projeto que Cecília fez.

Fim do capítulo