Florença por lorenamezza
Capitulo 4 APROXIMAÇÃO
Duas semanas se passaram desde que conhecera Marina,
Lorena quase não pensava mais nela. Até seu telefone tocar:
— Alô, Lorena? Tudo bem? Sou eu, Marina.
— Oi, tudo bem, Marina, o que manda?
— Estou à toa este fim de semana, Giane não poderá vir e
não estou a fim de ir até Sorrento, então queria ver se você gostaria
de fazer algo.
Lorena pensou por um momento se essa aproximação faria
bem a ela, a afinidade era gritante, mas era complicado. Porém,
como o desejo fala mais alto, resolveu aceitar:
— Olhe, vou trabalhar até as seis horas, podemos nos encontrar
lá pelas sete no café Le Volte, em frente ao albergue na
rua Santa Caterina d’Alessandria, deve ser perto da sua casa. É o
café de uma amiga. Podemos nos encontrar ali?
— Aquele café de esquina? Sei sim, te espero lá então.
Lorena passou o dia insatisfeita, queria que acabasse logo
para poder encontrar Marina, não queria animar-se muito,
mas seu encanto por ela era evidente.
Marina saiu mais cedo do trabalho e foi direto para o café.
Chegando lá, viu uma porta de vidro pequena, entrou e a dona
já a recepcionou:
— Boa tarde, o que você deseja?
— Ainda nada, obrigada, estou esperando uma amiga.
Marina se sentou de frente para a porta e se pôs a ler um
jornal. Enquanto lia, reparou que, apesar de já haver passado por aquele café algumas vezes, nunca havia entrado. O lugar
era acolhedor, havia fotos de artistas pelas paredes, pedaços de
jornais velhos emoldurados com noticias especiais. E também
reparou na garçonete, que provavelmente era a amiga de Lorena,
tinha cabelos curtos pretos, olhos amendoados, lábios grossos,
um pouco masculinizada, mas nada muito evidente, era
uma mulher que chamava a atenção.
Quando Lorena chegou ao café e viu que Marina já a esperava,
causou-lhe espanto, pois quem sempre chegava cedo
era ela.
— Oi Lorena, cheguei antes, é que saí cedo do escritório e
acabei não indo para casa. Gostei daqui, é simples e, ao mesmo
tempo, aconchegante — deu um beijo no rosto de Lorena.
Antes de sentar-se, Lorena cumprimentou a amiga.
— Oi, Luna, há quanto tempo, mulher você está cada vez
mais bonita! — Lorena a abraçou com carinho.
— Olha só quem fala, você é que está linda, qualquer dia,
eu ainda vou te cantar — ambas riram.
— Luna, essa é Marina, uma colega minha.
— Lorena, como você deixa uma mulher linda dessa sozinha?!
— brincou. — Mas não vou atrapalhar vocês duas, estou
vendo que perdi minha chance com Lorena. Bom apetite,
meninas!
— Obrigada, você também é muito bonita — Marina retribuiu
o elogio.
— Luna, nós somos só amigas, ela é namorada do investidor
que vai me ajudar no meu negócio — disfarçou Lorena.
- Traga um cappuccino para mim, Luna, e um croissant de nutella,
por favor. E você, Marina, quer o quê?
— Só um cappuccino, obrigada.
— Como foi seu dia hoje, Marina?
— Muitos processos, palavrões, brigas, trabalho, coisas normais
de um italiano — e gargalhou —, não me acostumo com
esse jeito dos italianos, mas me divirto com eles. E como anda
o seu negócio? Inaugura quando?
— Está bem, andando, estou animada! Daqui a um mês
mais ou menos, eu abro — disse empolgadíssima —, já estou
com algumas compotas prontas, mas essas já têm destino, farei
umas entregas por aqui mesmo. Mas, peraí, você disse que
não se acostuma com esse jeito italiano? Como assim? — Lorena
ficou curiosa.
— Ah, eu não sou italiana, sou filha de brasileiro e mãe italiana,
nasci no Brasil, morei lá até os 18 anos, aí meus pais resolveram
voltar para cá. Eu me sinto mais brasileira, tenho o ziriguidum,
como dizem por lá, adoro samba, feijoada, mas não
volto a morar lá, estou bem aqui.
— Já ouvi falar de feijoada mesmo, parece ser bom.
Lorena se sujara um pouco com a nutella.
— Você está com creme no seu rosto — Marina limpou delicadamente
a face de Lorena, o toque causou um pequeno silêncio
e um suave sorriso entre elas.
— Obrigada, Marina — riu desconcertada. — Sou desastrada
mesmo.
— Eu também sou, esbarro em cada coisa que você nem
imagina!
Como está Giane? — desconversou Lorena.
— Ah, como sempre, trabalho e viagem. Não virá essa semana,
houve um problema em uma das obras. Por um lado é
bom, preciso me encontrar. Não sei se estamos no mesmo caminho
ou no caminho um do outro. Parece que estamos juntos
por ocasião. Meu pai o adora, minha mãe então, parece que
ele é mais filho dela do que eu. Mas falta algo.
— Você é apaixonada por ele? Porque amar é uma coisa,
mas sentir aquele calor quando vê a pessoa, querer sentir a
pele dela na sua, ter orgulho e tesão, isso é paixão — quase descreveu
o que sentia quando via Marina.
— Eu o amo, ele é bom para mim.
— Nossa! Quase descreveu minha vida com meu cão, “eu o
amo, ele é bom para mim” — brincou, mas estranhou a descrição
do namoro deles.
A conversa entre as duas fluía com certa facilidade, parecia
que se conheciam há anos. Lorena convidou Marina para
conhecer sua futura loja e foram caminhando até a praça do
mercado, no caminho, brincavam uma com a outra, por vezes
seus braços se encontravam, deixando Lorena arrepiada. Era
notório que existia algo entre elas, ou que poderia haver. Marina
parecia à vontade em contar segredos a Lorena, que, por
sua vez, via em Marina um ar meigo nas coisas que falava e, ao
mesmo tempo, achava-a uma mulher decidida.
As luzes contrastavam com o rosto claro de Marina, seus
olhos ficavam mais verdes. Lorena estava mesmo interessada
nela.
— Quantos anos você tem Marina? — perguntou enquanto
brincavam no meio-fio.
— Tenho 26, por quê? Pareço ter quantos?
— Pensei que tivesse menos, uns 22, você é tão espontânea,
pessoas mais velhas não são espontâneas assim — Lorena se
impressionou.
— Eu sou o que sou, sei o que quero, mas não pretendo
perder esse jeito brincalhão que tenho, não preciso ser séria
para ser levada a sério. Sou como a arte, espontânea, livre!
— Desculpe, não quis dizer que você não é séria, Marina, é
legal você ser assim, deixa todo mundo para cima!
Assim que chegaram à loja, Lorena pediu que Marina tomasse
cuidado para não tropeçar nos entulhos:
— Cuidado onde pisa, tem latas de tintas espalhadas, pode
se machucar.
— Do jeito que eu sou desastrada, é bem capaz mesmo de
eu tropeçar.
E tropeçou realmente, Lorena tentou segurá-la, mas acabou
caindo por cima, seus rostos ficaram colados, houve um pequeno
silêncio, suspiros, olharam-se. E acabaram em risadas, um
pouco sujas de tinta.
Lorena foi explicando como tudo ficaria, mostrando o jeito
como queria que as coisas ficassem, demonstrava paixão por
aquele lugar mesmo estando mal-acabado. Marina reparava
em cada detalhe de Lorena, seus gestos, a forma com que falava,
começava a sentir um estranho sentimento em relação a
ela, não entendia bem, mas queria estar perto.
— Bom, Lorena, já é tarde e preciso ir — e foi se levantando
—, mas adorei seu lugar, é bem como você falou.
— Obrigada, ele é o meu novo amor hoje. Peraí que te levo
embora.
— Não precisa, eu moro perto, obrigada pela noite, adorei
tudo! — e foi saindo apressada.
Lorena ficou intrigada pela saída rápida de Marina, pensou
que fizera algo errado. Mas não tinha como saber, fechou a loja
e também se foi.
Fim do capítulo
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