Surpresas
- Hannah? – Ouvi minha voz saindo vacilante.
Ela me olhou meio hesitante e o barbudinho aparentava confusão. Meu peito se encheu e fui tomada por um sentimento que apenas a palavra traição conseguia nomear.
- Está tudo bem? – Ele tomou a iniciativa.
Como se a presença dele já não fosse o suficiente.
- Sim – Hannah respondeu afastando-se alguns centímetros dele – O que faz aqui?
- Eu me pergunto a mesma coisa – Disse com a voz endurecida.
Queria esbravejar, exigir explicações, mas o que eu era para exigir tal coisa?
- Nada que seja do seu interesse. – Ajeitou as roupas e pegou a bolsa que estava no chão.
Quando ela havia ido parar ali?
- Acha mesmo que não é do meu interesse? – Dei um passo à frente ainda segurando Ana.
- Desculpem, mas o que está acontecendo? – Ele revezava o olhar sobre nós duas. – Vocês por acaso têm alguma coisa?
Foi a primeira vez que o olhei verdadeiramente e conclui que sua aparência era extremamente comum, o que não deixava de ter certo charme. A barba muito bem cuidada se tornava seu aspecto mais marcante.
- Não há nada, certo Alisson?
- Certo – Respondi com a máxima secura que consegui.
Ele, como homem, ou simplesmente como qualquer pessoa que prefere se iludir, aceitou a resposta sem maiores detalhes.
- Perdão, sou Eric – Me estendeu a mão com um sorriso.
- Alisson – Correspondi o cumprimento e me abaixei para falar com Aninha – Vamos entrar? Logo a mamãe vem.
- Também já vou entrar – Hannah disse se virando para Eric – Nos falamos depois?
Ele confirmou aparentando satisfação e a puxou para um beijo. Respirei fundo e entrei no bistrô rapidamente com Aninha em meu colo.
- O passarinho voltou! – Sam apareceu enxugando as mãos. – O que houve? Você está pálida.
- Ela tá beijando um homem lá fora. – Eu disse simplesmente.
- Me deixa adivinhar: Eric? – Arqueou uma sobrancelha.
- Você sabia?
- Não, mas é uma história antiga. É complicado. – Me disse com certa condolência.
- É...complicado – Respondi vendo Hannah abrindo a porta.
Como se eu não estivesse ali, ela falou normalmente com a irmã e carinhosamente com a filha. Evitou ao máximo o momento de falar comigo.
- Que tal irmos na cozinha comer bolo? – Sam ofereceu à Aninha.
- O que você está fazendo Hannah? – Perguntei assim que elas se afastaram.
- Achei que estivesse nítido para você o que eu estava fazendo. – Cruzou os braços.
- Você sabe o quero dizer. Eu achei que houvesse..não sei..algo..
- Entre nós? – Ela me encarou seriamente e andou até a janela. – Achei que já tivéssemos acertadas sobre o tipo de relação que podemos ter.
Como ela pôde falar algo assim depois do final de semana?
- É por causa do Dylan? – Me aproximei e receosamente afaguei seus ombros.
- Não – Deu um longo suspiro e virou-se me encarando – Já saímos juntos um tempo atrás e agora voltamos a nos encontrar.
- Isso é sério?
- Sim, me desculpe.
Fiquei levemente tonta. Não era possível. Essas palavras não podiam ser reais.
- Eu...eu não sei o que dizer.
- Não quero machucar seus sentimentos – Ela segurou meu rosto com ambas as mãos – Eu não mereço toda essa emoção.
- Ah Hannah, você merece tantas coisas – Acariciei suas mãos - Só precisa saber aceitar.
- É melhor assim, Ali.
- Melhor pra quem? Pro Dylan? Pro Eric?
- Para todos nós e principalmente para a Ana. Ela sempre será a minha prioridade. – Hannah segurou a minha mão, em outra ocasião eu teria adorado esse contato.
- Mas ele ameaçou você de alguma maneira? – Já estava com a cabeça explodindo.
- Não diretamente, mas ele sabe da minha orientação sexual. – Disse preocupada, voltando seu olhar para a paisagem.
- Acha que ele pode tirar ela de você por sua orientação sexual? – Me vi incrédula.
Não obtive resposta, ao menos não uma sonora.
- Hannah, não pode estar falando sério. Isso é tão retrógrado, estamos no século 21 e, além disso, tenho certeza que todos neste lugar sabem o quão boa você é para ela.
- Ele é policial.
- Ainda que fosse Juiz, não é dessa maneira que você está pensando. - Passei os braços ao redor de sua cintura em uma reação instintiva.
- Talvez não seja, mas prefiro não arriscar.
Ela se permitiu ser abraçada e passamos alguns minutos em silêncio aproveitando esse contato
- Eu compreendo.
A partir desse dia passei a evitar Hannah voluntariamente. Eu compreendia seu posicionamento, mas não aceitava isso e menos ainda ter que presenciar ela beijando aquele barbudinho. Só de imaginar já me dava asco. Apesar disso tudo, não consegui me afastar da Ana Laura. Eu já sentia um tanto por ela e procurei maneiras de encontrá-la com frequência, sem que Hannah estivesse pelo caminho. Num acordo mudo, Sam a levava várias vezes na semana para me encontrar no final do expediente. Assim como ela, todos os nossos outros amigos também pareciam se compadecer da minha situação, entretanto não deixava de ser desconfortável em vários momentos. “Ela vai voltar atrás”, “Isso é loucura, mas tenho certeza que logo ela vai desistir dessa história”, “Tudo é medo”, eram algumas das frases que eu ouvia constantemente e sim, o medo de perder a filha tem o mais profundo dos fundamentos, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Várias vezes me vi desviando do caminho, fugindo das mais diferentes lojas ou locais onde haveria a chance de encontrá-la. Para minha infelicidade, isso ocorreu umas duas ou três vezes e, para ser mais infeliz ainda, em duas delas, ela estava com o barbudinho grudado feito um chaveiro. Não posso culpá-lo, ele tinha não apenas uma bela, como extremamente interessante e charmosa mulher ao lado. Em todas as vezes nossos olhares se cruzaram, como se pudéssemos sentir a presença uma da outra. Ela me olhava compadecida e até com certo constrangimento pelo seu incansável companheiro roubando-lhe beijos e carinhos. Blé! Nojento. Prometi-me que não deixaria isso me afetar até começar a largar as compras antes de chegar ao caixa só pra sair logo dali.
- Pela deusa Beyoncé, já tem mais de um mês isso, até quando pretende viver dessa maneira? Olha esse cabelo, tá todo sem brilho e sem corte. - Pedro andava de um lado para o outro falando sem parar.
- Eu só não quero encontrá-los, é algum pecado querer isso?
Era final de semana e andávamos pela pequena e confortável casa que eu recém alugara, avaliando os pequenos reparos que precisavam ser feitos.
- Não é, mas com essa cidade pequena vai ser muito difícil não a encontrar.
- Tem razão – Arranquei pequenas lascas da tinta amarelada que desbotava na parede – Isso não me impede pelo menos de tentar, não é mesmo?
- Claro que não, eu só não quero que isso apague o seu brilho, já não basta esse cabelo que tá precisando de uma hidratação – Falou amorosamente e me abraçou – Estou preocupado com você, não quero que isso te deixe para baixo, você demorou tanto para ficar bem.
- Acha que sou tão fraca assim? – Forcei o sorriso.
- Muito pelo contrário, eu te acho a mais forte. Só acho que até a pessoa mais forte precisa de alguém para mostrar suas fraquezas.
-Eu tenho você pra isso – Apertei mais o nosso abraço. – Sempre soube que você estaria ali por mim.
- Então promete que vai me falar se estiver precisando de qualquer coisa?
- Prometo – Dei-lhe um sorriso – Para falar a verdade, acho que estou precisando daquele seu suéter emprestado.
- Vou reformular então: vai me falar se estiver precisando de qualquer coisa, exceto o suéter?
Soltei uma verdadeira gargalhada.
- Obrigada, você sempre foi um irmão pra mim.
- Você me chamou aqui para ajudar na obra ou me fazer chorar? – Falou emocionado.
- E não é que você se tornou um cara mais sensível com o passar dos anos?
- Deixa de besteira, eu sempre fui sensível.
O saldo da nossa visita resultou na necessidade de novas pinturas e a troca de algumas torneiras. Felizmente todo o resto estava em perfeito estado e os diversos móveis planejados diminuíram a quantidade de itens a serem comprados, além, é claro, de um jardim nos fundos que necessitava de alguns cuidados. Imaginei todas as coisas que poderia plantar ali e não estranhei quando me deparei que a primeira semente era a vontade de poder compartilhar essas pequenas felicidades com alguém de novo. Por um breve e prazeroso momento imaginei Hannah e Ana Laura ali comigo, rindo, brincando e iniciando uma pequena horta. Um sentimento agridoce brotou em meio aos sorrisos audíveis e às sensações de um passado que já não existia mais. As lembranças estavam ali, sempre me acompanhando, ora escondidas ora presentes, jamais deixando de existir. E eu queria que assim fosse: sem questionamentos e, principalmente, sem arrependimentos.
- Foi um ótimo achado conseguir a casa por esse preço, eu só lamento porque achei que estaríamos juntos por mais tempo. – Leo disse no final da tarde daquele mesmo dia.
- Vocês não vão sentir a minha falta, vou vir jantar aqui toda noite – Terminei de calçar o tênis.
- Vamos ter que trocar a fechadura então. – Pedro gritou do banheiro.
- Tem certeza que não quer ir junto, Leo? – Fui me encaminhando para a porta.
- Tenho, já corri hoje de manhã. Não acha melhor voltar para o mesmo horário? Assim podemos ir juntos.
- Eu acho melhor não.
- Se serve de consolo, eu já não a vejo de manhã tem algum tempo. Se eu tivesse que apostar, diria que ela também mudou os horários das corridas. – Ele me analisava atentamente.
- Se ela mudou, então talvez também esteja fugindo de mim voluntariamente. Tenho que ir.
Sai apressada e meu corpo chocou com o ar noturno. A temperatura já havia caído bastante embora não fizesse diferença já que me sentia mais adaptada. Incrível como em dois meses a reação ao frio já era bem diferenciada.
A respiração acelerada e os pés direcionados aos desejos do subconsciente. Bem, talvez nem tão subconsciente assim. Quando dei por mim, estava subindo a colina e do topo, vi Mahana engolida pela noite e pelo som dos grilos. Sentei-me e admirei a bela propriedade. Algumas luzes acesas se destacavam na escuridão.
- Está nos espionando?
A voz subitamente me assustou. Seriam meus pensamentos audíveis até para mim mesma? Mas não, por sorte, azar ou lei da atração, ali estava ela, linda como sempre.
- Como você apareceu sem fazer barulho?
- Talvez você estivesse muito concentrada, porque barulho foi o que eu mais fiz – Ffalou divertida, mas com a mesma rapidez que apareceu, seu sorriso simpático foi se transformando em bucólico.
- Eu não estava espiando, só estava descansando da corrida. – Apressei-me em dizer já levantando.
- Você não precisa ir, eu não estava falando sério – Segurou meu braço. – Não precisa fugir.
- Não estou fugindo, só perdi a noção do tempo.
- Eu não estou falando de agora - Sorriu com certo carinho – Fica um pouco mais?
Eu fiquei, não que fosse certo ou justo com o que eu sentia e sim porque ela pediu, porque sua presença me enfeitiçava, porque ela estava linda naquele rabo de cavalo, nas roupas de corrida e porque eu queria tocá-la, ah como eu queria. Ser pega de supetão não me preparou para sensações que ela me despertava e que estavam em suspenso.
- Você ainda está aqui nesse mundo? – Hannah insistiu mais uma vez.
- Sim, só me perdi nos pensamentos – Arrumei um lugar ao seu lado ainda encarando-a.
- Desculpa meu egoísmo em te atrapalhar. Eu passei, você estava tão concentrada, calma e, bom, já tem algum tempo que não nos falamos. Na hora me pareceu uma boa ideia. – Recebi um sorriso entristecido.
- Tudo bem, eu só fui pega de surpresa. Estava correndo?
- Sim, hoje foi um dia estressante, por assim dizer. – Suspirou.
- Aconteceu alguma coisa em especial ou apenas estava no modo Hannah de ser? – Tentei aliviar o clima e obter alguma segurança.
- O que seria Modo Hannah de ser? – Arqueou uma sobrancelha.
- Ah, você sabe, cortando as coisas numa rapidez assustadora, dando ordens, andando pra lá e pra cá e fazendo piadas ácidas.
Hannah me olhou com certa surpresa e confusão.
- Eu não sabia que havia reparado isso.
- Não foi preciso te ver na cozinha mais do que duas vezes pra concluir isso. – Achei graça da cara que ela fazia, como que fosse um comportamento discreto. – Além de tudo, reparar em você foi a coisa que eu mais fiz esse tempo todo.
Podia ser demais dizer e deixar claro o quanto Hannah mexia comigo, colocando a mim mesma em posição de perigo. Não era a primeira vez que eu jogava as cartas na mesa e deixava nítido a continuidade do meu interesse.
- Então achou que eu era minha irmã quando “se pegaram” na cozinha? - Falou debochada.
- Touché! – Fiz sinal de que havia sido atingida – Agora que você já me golpeou, pode me dizer o que houve?
Ela fechou os olhos e aspirou o ar noturno. As cigarras já não cantavam e ficamos no completo silêncio.
- Não..não foi nada. Só estou cansada.
- Que desculpa horrível – Sorri – Espero que não tenha nada a ver com Aninha.
- Não exatamente, mas sim, tem haver. – Falou enquanto arrancava pequenos pedaços da grama alta.
- Dylan? – Só obtive um sinal afirmativo – O que ele fez?
- O de sempre, pedindo mais uma chance.
Meus olhos reviraram e por uma fração de segundo achei que falaria algo, mas eu tinha uma questão maior.
- Hannah, eu quero te perguntar uma coisa, posso confiar que você vai ser sincera na resposta? - Obtive uma expressão confusa, porém recebi uma resposta positiva. – Você voltou a sair com o Eric pra despistar o Dylan? Eu sinto que sim, entretanto preciso ouvir.
- Você não desiste mesmo, não é?
- Nem se eu quisesse. – Respondi seriamente.
- Bom, sim, voltei a sair com ele por este motivo, mas não estamos saindo verdadeiramente.
- Como assim?
Minha vontade era de perguntar o que foi então aquela língua dele dentro da boca dela. Se isso não for verdadeiro eu realmente não sei mais o que é beijar na boca.
- Que cara é essa que você está fazendo?
- Nada que mereça ser compartilhado. Então você e ele não estão juntos de verdade... – Estimulei.
- Isso, só estamos fingindo, por assim dizer, para que não levante grandes suspeitas. O Eric me procurou como um amigo, oferecendo ajuda depois que soube da chegada do Dylan, mas há uns anos atrás realmente tivemos um lance não muito duradouro.
- Ele era apaixonado por você e não foi correspondido?
- Como adivinhou isso?
- Pelo beijo nada técnico que ele roubou aquele dia. – Sem fazer questão de esconder a insatisfação.
Hannah achou graça, ainda que não houvesse motivos para tal.
- É verdade, eu só tenho a agradecê-lo. É um bom homem, eu que de certa maneira estou usando-o.
- Tenho certeza que ele não se importa em ser usado, eu não me importaria se fosse comigo. – Esbocei um sorriso o qual ela correspondeu. – Você ainda não teve tempo de processar os acontecimentos e acabou tomando decisões impulsivas.
- Obrigada por isso, por me ouvir e ser sincera. Eu sei que não facilitei para você, mas no fundo não é sério.
- Eu sempre vou estar aqui, pode contar comigo. Posso pedir uma coisa?
- Farei o meu melhor.
- Promete que vai pensar nisso? Muitas pessoas podem acabar se machucando – Segurei sua mão – Eu já estou.
Ainda bem que estava de noite, o meu rosto quente batia no ar gelado e o frio já não parecia tão...frio. Segurar a mão dela depois de semanas de distanciamento era simplesmente acolhedor.
- Eu sei. – Ela enroscou os dedos nos meus – Eu também estou. Sei que posso estar te pedindo muito, mas eu não gostaria que você se afastasse de novo.
- Eu não posso te prometer isso, ver você com ele é...desconfortável, desculpe!
- Não tem que se desculpar, eu te entendo perfeitamente. – A voz soava carinhosa
- Ele te fez tão mal assim para você ficar com medo?
Ela levantou a barra da calça e sinalizou uma visível cicatriz na coxa direita.
- Foi ele? – Foi apenas o que consegui dizer.
- Estávamos discutindo sobre alguma coisa que já não me lembro bem, sempre discutíamos por coisas pequenas e naquele dia não tinha sido diferente. No auge de tudo ele parecia fora de si, mas quando percebeu o canivete na minha perna, pareceu voltar a si e entrou em desespero. Me levou correndo ao hospital e eu concordei em não dar parte se ele me deixasse em paz a partir dali, o que aconteceu apenas nas primeiras semanas, mas, com o tempo, ele tentou se reaproximar e quando viu que nada havia mudado começou a me ameaçar. Foi nessa época que me envolvi com o Eric. Seria apenas para ver se ele parava, mas as abordagens foram ficando assustadoras, ele passou a ameaçar não apenas a mim, mas ao Eric também. O pai dele é chefe de polícia e ao ouvir burburinhos pela cidade acabou decidindo transferi-lo. – Contou emocionada.
Eu só queria colocá-la em meus braços e foi o que fiz. Sentei-me atrás dela e a abracei o mais confortável que consegui. Suas lágrimas caiam silenciosamente pelo meu braço e poucos minutos depois se misturaram com as minhas.
- Shiii, estou aqui. – Beijei-lhe os cabelos. – Sinto muito que isso tenha acontecido.
Involuntariamente minha mão pousou em sua cicatriz na tentativa de tirar as possíveis dores que elas carregavam. Delicadamente acariciei-a e contornei suas extremidades. Em algum ponto sua mão me encontrou e, feito uma brisa suave, seus dedos brincaram ao longo do meu braço. O controle adquirido esvaiu-se à medida que seu corpo encontrou lugar ao meu e o encaixe agradável que eles faziam me trouxeram paz. Mentalizei para que essa sensação também estivesse tomando-a. Arrisquei uma carícia por suas bochechas e de forma vacilante fiz o contorno de seus lábios. Ela não se opôs, pelo contrário, aceitou e recebeu o toque, deixando sua respiração mais acelerada encontrar a minha pele. Lentamente sua face virou e pude vislumbrar os pequenos detalhes contidos nela. A tamanha naturalidade com a qual a puxei para sentar-se em meu colo só não foi mais estranha do que a sua total falta de objeções. Ela queria e estava ali, com a testa colada na minha. Era a primeira vez que estávamos tão perto e eu tentava acalmar meu coração. A emoção que precedia foi tão doce quanto sentir seus lábios encontrando lugar junto aos meus. Sem pressa eles foram deslizando, conhecendo, sentindo. Fosse por longos segundos ou minutos, não importava, eu já me sentia marcada e precisava mais de qualquer coisa que ela quisesse me dar naquele momento. Eu não tinha noção da profundidade do que eu sentia até perceber sua boca se abrindo e sua língua querendo passagem, achando e suspendendo tudo ao redor. Era tão bom quanto eu havia imaginado que seria e, ainda assim, eu não tinha idéia do quanto. Foi calmo, doce e intenso. Era o que o momento exigia e do que Hannah precisava. Eu só queria que ela ficasse bem e segura das infinitas emoções que brotavam em mim e ocupavam os pequenos espaços da minha mente.
- Se antes já era difícil te ver com o barbudinho, agora eu não sei mais de nada. – Ela formou um carinhoso sorriso e juntou nossas testas. – Esquece toda essa história com ele, vamos resolver isso juntas.
- Eu também quero, acredite, mas não posso largar tudo. Você sabe de parte dos meus motivos. Preciso de um tempo para pensar em algo sem colocar você em risco.
- Como assim parte dos motivos? Tem mais coisa?
- Infelizmente sim. Podemos falar disso uma outra hora? Eu só quero fingir, por um momento, que só existe isso aqui. – Falou acariciando meu cabelo.
- Promete que vai pensar no que pedi?
- É o que eu mais venho fazendo. – Dando o assunto por encerrado e me puxando para si.
A manhã seguinte foi contraditória. Fiquei feliz e igualmente cansada pela noite em claro revivendo aquela hora com Hannah. Conhecer um pouco do que ela passou com Dylan intensificou minhas preocupações e acendeu um alerta quanto a sua periculosidade.
- Que cara é essa? Parece cansada. – Sam sorriu quando passei pela entrada do consultório.
- O que faz aqui tão cedo?
- Vim trazer esse carinha para tomar vacina – Apontou Argos cochilando embaixo das cadeiras de espera.
- Até pra ele é cedo demais – Achei graça da cena.
- Deve ser – Ela concordou divertida – Eu tenho um monte de coisas pra fazer hoje, foi o único horário que consegui.
- Tudo bem – Falei pegando um pouco de café – Aceita?
- Não, obrigada. – Dei uma grande golada – Noite difícil?
- Não exatamente.
- Algo que eu possa saber? – Sorriu de canto.
- Eu aposto que ou você já sabe ou desconfia. – Cruzei os braços.
- Eu não faço ideia – Disse me fazendo arquear uma sobrancelha – Só perguntei por perguntar, não precisamos falar disso se não quiser.
- Não, tudo bem, me desculpa. Estou com a cabeça cheia ainda. – Fiz uma pausa – Ontem eu e Hannah nos beijamos.
- Isso explica a bagunça que ela estava essa manhã.
- Bagunça?
- Sim, as torradas foram esquecidas e acabaram queimando, ela deixou um copo de leite cair na mesa e ainda escorregou quando tentou limpar – Riu das lembranças. – Agora considerando esse cenário, eu a entendo completamente. Então, isso significa que já se acertaram de vez?
- Não, ela pediu um tempo para se organizar. Pelo que soube o Dylan é pior do que eu imaginei.
- Ela te contou?
- Só da cicatriz na perna e ela ainda disse que haviam mais coisas, como se essa já não fosse uma coisa séria. – Suspirei.
Esse foi um pensamento que me tomou a noite inteira, as coisas que ele fez com a própria mulher dele.
- Ela é mais forte do que parece.
- Sim, ela é.
Ficamos em companhia dos nossos próprios pensamentos até Sam quebrar o silêncio.
- Eu tenho uma idéia.
- Sobre o que?
- Ora, como sobre o que? Sobre vocês, de algo que pode ajudar vocês a estreitarem esses laços. É o que você quer, não é? A não ser que tenha confundido e na verdade eu que sou sua prometida? – Sam gargalhou e sorriu sedutoramente.
- Estou ouvindo.
Fim do capítulo
Oi pessoal, tudo bem? Mais um capítulo. Espero que gostem
bjos
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Anny Grazielly
Em: 21/06/2020
Aiaiaiaia Autora... espero que Sam seja realmente UMA AMIGA... somente... pq estou com medo desse plano dela... tipo... criar a mesma situação de Hanna com o banana... ou seja... um namoro de mentira para que Alisson tenh livre acesso a casa delas... mas tenho medo delas se envolverem... aiaiaiai... autora... pleaseeee.... nao separa Hanna e Alisson e Aninha... elas sao uma linda familia...
Anny Grazielly
Em: 20/06/2020
Aiiaiiiii... estou sofrendo com essas duas... massss, foi tao lindo o beijo delas... fiquei aqui toda feliz... eeeee , eu ja estava com saudades da história... voltaaaaaaa logo... please!!!
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