POV JULIA

-Amor, já que você tem que ir pro interior, vou adiantar minha viagem. – Luíza me disse isso depois de termos feito amor loucamente.

-Já? – Perguntei um pouco irritada. – Mas você ia na semana quem vem!

-Amor, você deve passar mais ou menos uma semana por lá. – Ela veio pra cima de mim beijando meu pescoço. – Como você não vai estar aqui, eu me programo pra partir daqui dois dias, e aproveito e resolvo tudo de rápido.

-Ok Luíza, faça o que achar melhor, vou tomar um banho. – Sai em direção ao banheiro sem falar mais nada.

        Fiquei cerca de uns minutos no banheiro, pensando como meu casamento andava meio balançado. De uns tempos pra cá Luíza e eu brigávamos quase toda semana, isso já estava ficando cansativo e repetitivo. Sai do banheiro e ela estava deitada virada para o outro lado.

-Amor, me desculpe. – Deitei na cama e a abracei. – Fui infantil, sei que você precisa ir.

-Te desculpo, mas só se eu ganhar um beijo. – E ela não ganhou só um beijo naquela noite, ficamos namorando até altas horas.

      Levantei cedo, Luíza já estava no closet separando as roupa da viajem, me arrumei tomei um café rápido e fui em direção à casa de Fernanda. Chegando lá fiquei bem surpresa em ser recebida pela irmã de Marcos que parecia ter passado a noite por lá. Entrei e conversei com eles o que faríamos primeiro, íamos tirar Roberto da cadeia e depois entregar o dossiê provando que Camila era culpada, não podíamos a deixar saber da existência desse relatório, pois ela poderia fugir antes de tudo. Marcamos o horário de partida e eu voltei pra casa pra arrumar minhas coisas, me despedi de Luíza e liguei pro meu pai avisando que iria, e pedi pra ele não falar nada com ninguém.

     Durante a viagem algo me cutucou e eu comecei a questionar Fernanda sobre ela e Elis estarem juntas, não sei o porquê de ter feito aquilo, e ela ficou bem chateada comigo. A viagem foi tranquila, sem ninguém dar mais nenhuma palavra até que eu ouvi os dois decidindo sobre ficar em um hotel, então ofereci meu chalé para os dois. Já na delegacia encontrei com Catarina que era a delegada de plantão, nós duas estudamos juntas e nem sabia que ela tinha vindo pra cá, conversamos um pouco e relembramos dos velhos tempos, Fernanda olhava pra nós duas o tempo inteiro, Cat deixou com que nós três entrássemos pra conversar com Roberto. Fernanda foi firme ao defender o Tito e isso me deixou impressionada, a baixinha não estava ali pra brincadeiras, Roberto ficou calado e assustado com ela.

-Oi, está ocupada? . – Já estávamos na minha casa, e eu resolvi passar lá no chalé pra ver se estavam bem instalados. – Gostei de como você foi firme com o Roberto hoje.

-Ele precisa aprender a ser mais humilde. – Fernanda se escorava no alpendre, vestida com short jeans e uma regata branca que á deixava simples e linda. – Ainda serve em você?

-O que? – Ela apontou pra camiseta que eu vestia. – Acredita que Izabel a deixou passadinha na minha antiga cômoda. Está velha, mas eu amo ela. 

-Tenho memoria fotográfica, você estava usando ela no dia da festa da uva. – Nossa tensão era palpável, parece que todas as vezes que estávamos sozinhas em algum lugar rolava isso.

-Uau, memoria boa mesmo. –Fernanda se abraça tentando se esquentar da brisa que soprava, minha vontade era de abraça-la ali mesmo. – Se lembra de tudo mesmo?

-Cada detalhe. – Nos encaramos, mas logo Tito chegou com novidades quebrando nosso contato visual.

-Gente minha mãe está arrasada, e acreditam que a safada da Camila até chorou? – Ele já chegou dizendo tudo. – Cláudio disse que ela passou o dia fora, mas não conseguiu seguir ela.

-Ela deve estar planejando fugir, mas vamos agir antes. –Tinha certeza que prenderíamos Camila. – Bom vou deixar vocês descansar, amanhã o dia é longo.

-Bom descanso. – Fernanda me respondeu e eu deixei um beijo em sua bochecha por impulso.

     Passei boa parte da noite pensando em Fernanda, isso era péssimo sentia estar traindo a confiança de Luíza, mas quanto mais eu tentava não pensar mais eu pensava. Não deixava de pensar em como era lindo os olhos esverdeados de Fernanda, a carinha de brava que ela faz quando alguma injustiça ocorre, o sorriso dela é algo incrivelmente lindo que me fazia até errar uma batida quando ela sorri pra mim.

-Foco Maria Julia, você é casada. – Falei pra mim mesma olhando pro teto do meu quarto.

-Falando sozinha maninha? – Josy entrou e me assustou.

-Cruzes menina, que susto. – Josy ainda morava com meu pai, eles dois não tem jeito, brigam o tempo todo, mas são inseparáveis.

-Tá devendo? Tá assustando a toa! – Ela gargalhava e sentou na beira da cama.

-Estava com saudades de você enjoada. – A abracei. – Você não visita a gente nunca.

-Você que me trocou pelo seu novo irmão. – Josy de inicio estranhou Felipe, mas depois o aceitou de boa. – Só porque eu não sou do meio gay vocês me excluíram.

-Ai quanto drama, Hahaha. – Fazia cocegas nela. – Quem manda você ter um péssimo gosto.

-Mas me fala o que tanto te preocupa? Te conheço e sei quando ta rolando algo. – Josy e eu não éramos de estar sempre juntas, mas éramos muito ligadas uma na outra.

-Ai mana, nem eu sei o que está rolando. – Comecei a contar sobre como meu casamento estava e sobre tudo que aconteceu nos últimos dias.

-Só te digo uma coisa! – Depois de ouvir tudo ela se levantou e disse: - Você está ferrada. 

-Nossa irmã, você já pensou em virar psicóloga? – disse irônica.

-Vou pensar na possibilidade, haha. – ela não parava de rir. – Mas agora é serio irmã, você sempre foi apaixonada pela Fernanda, isso só estava adormecido, eu me lembro de como você era uma boboca apaixonada, sabia que o presente que você comprou pra ela está ai até hoje?

- Serio? Eu nem me lembrava mais. – Eu tinha comprado um colar em formato de coração com uma pedrinha ao centro, era lindo e eu nem me lembrava mais.

-Tá aqui na gaveta, naquele dia em que ela partiu eu guardei comigo, e depois deixei aqui pra você! – Josy foi até a gaveta e pegou o colar. – Ele é lindo! Mas mana eu vou te dar um conselho serio agora, seja sempre sincera com Luíza, sempre pense nela.

-Eu sempre penso jamais a magoaria. – Eu não teria essa coragem, eu amo Luíza. – Agora vou descansar um pouco, pois amanhã será puxado.  

     Josy se despediu e eu fiquei com o colar na mão, quando eu comprei o colar eu tinha planos de ficar de com Fernanda, eu realmente estava apaixonada, mas o destino não quis assim.

    Tomamos café todos juntos, meu pai recepcionou muito bem nossos hospedes, ele lamentou a prisão de Roberto. Meu pai ficou muito feliz em vê Fernanda formada, ele conhecia a historia dela e de como o pai dela era um babaca.  Era muito fácil gostar dela, ela era sempre adorável com todos ao seu redor.

-Vamos? – Chamei os dois e seguimos pra delegacia. – O alvará de soltura já está comigo.

-Graças a Deus. – Tito agradeceu aos céus e seguimos.

    Roberto ficou aliviado quando eu cheguei com o seu alvará, ele não esperava que eu conseguisse mais rápido que o advogado que Camila tinha arrumado. Ele ficou surpreso quando viu nós três esperando ele ser liberado.

-Obrigado! – Foi o que Roberto disse ainda de cabeça baixa. – Não sei como agradecer vocês.

-Não precisa agradecer, fizemos nosso trabalho. – Fernanda alfinetou o mais velho. – Precisamos que o senhor não comente com Camila sobre nossas provas contra ela, o senhor pode fazer isso?

-Depois que vocês saíram, eu refleti e muita coisa se encaixa se não fui eu quem sonegou quem mais poderia? – Ele tinha um aspecto cansado. – Agora eu não acredito que tenha sido um erro deles.

-Pai nós estamos do seu lado, Cláudio procurou Julia e desde então ela investiga. – Tito tentava se aproximar do pai, que mesmo assim não olhava muito pro filho. – Ela tem os recibos dos desvios que fazia, Cláudio tirou copias de todos eles.

-O que me interessa agora é provar que ela é a culpada, aposto que a cidade inteira já está comentando. – Ele olhou fixo pro Tito. – Você pode me levar pra casa?

-Claro pai. – Tito abriu um sorriso quando ele pediu isso. – Cláudio deve estar chegando eu acompanho vocês.

-Bom, Fernanda e eu ainda temos algumas coisas pra resolver, vamos estar no escritório do meu pai, qualquer novidade vocês não deixem de me ligar. – Meu pai tinha um escritório no centro da cidade, e quase nunca o usava, então resolvi ficar lá até resolvermos tudo.

     Despedimos dos homens e fomos ao escritório, Fernanda me acompanhava sem falar muito, hoje quase não tivemos tempo pra conversa. Algo devia estar a preocupando e por isso ela estava tão calada.

-Algum problema Fernanda? – Perguntei assim quem entramos no escritório. – Você me parece preocupada.

-Ah estou pensando em minha mãe, estou triste com essa situação. – Ela sentou na cadeira da frente e encolheu os ombros. – Minha mãe sempre foi uma mulher tão sabia, e agora cai na lábia desse homem novamente.

-Ei, sua mãe continua a mulher maravilhosa que ela sempre foi. – Me ajoelhei em sua frente e coloquei a mecha de cabelo que caia em seu olho pra traz. – Já parou pra pensar que sua mãe o ama, e o que ela não precisa agora são de julgamentos.

-É complicado pra mim, entende? – Ela parecia querer chorar. – Ela sofreu tanto quando ele se foi, eu sempre a via chorando pelos cantos.

-Fê a gente não manda no coração, a gente não escolhe quem ama. – eu falava mais pra mim do que pra ela. – Simplesmente acontece, e quando acontece a gente fica sem controle desse sentimento. – Ficamos nos olhando por alguns segundos, até que eu quebrei o contato me levantando, o clima ficou estranho e eu precisava parar com isso.

    Luíza me ligou nesse meio tempo e conversamos um pouco, ela já estava em são Paulo e amanha pegaria o voo pra Portugal. Sei que ela devia estar na casa dos pais de Silvia novamente, mas eu não questionei nada, bufei de raiva e joguei o celular na mesa, era frustrante essa sensação de que Silvia cercava Luíza em tudo.

-Quer sair pra almoçar? – Chamei Fernanda que estava concentrada. – Estou precisando respirar um ar.

-Vamos, estou com fome. – Ela fez uma cara engraçada. – Vivo com fome na verdade. Hahaha

    Escolhemos um restaurante bem próximo ao escritório e Fernanda realmente estava com fome, pediu até sobremesa. Conversamos um pouco, ela me perguntou sobre Luíza e de como estava feliz em trabalhar com a gente, ela disse que sempre sonhou em trabalhar em um lugar tão renomado quanto o nosso.

-Luíza é a melhor advogada que conheço. – Ela falava enquanto se deliciava com um pudim. – Serio, fiz uma tese inteira sobre ela.

-HAHAHA, Assim eu fico com ciúmes ein. – Fernanda era engraçada, e me arrancava riso fácil. – Fica difícil competir com Luíza.

-Fica tranquila que também acho você uma ótima advogada, e você é incrível no que faz. – Ela sempre falava essas coisas olhando nos meus olhos.

-Sei que sou boa, e tenho certeza de que você também é uma excelente profissional. – Respondia com sinceridade. – Espera ter você ao meu lado por muitos anos senhorita Fernanda.  

-Também espero senhorita Maria Julia, Hahaha. – Ela sabe que não gosto desse primeiro nome.

-Só pela audácia em ter me chamado assim obrigo a senhorita m acompanhar em uma garrafa de vinho mais tarde. – Fiz o convite e ela me olhou intrigada. – Podemos chamar Josy também.

-Aceito então, mas antes vou visitar minha mãe.

Fim do capítulo