POV FERNANDA

 

 

      O clima não era dos melhores, Cláudio tinha ligado varias vezes, a mãe deles estava desesperada e Tito estava cada vez mais nervoso. Ficamos até tarde conversando e Elis acabou ficando pra dormir, arrumei minha cama pra ela e acabei dormindo com Tito que estava muito abalado. Acordei cedo no sábado e preparei um café bem farto pra nós, sei quem Julia logo ia aparecer e meu coração já dava uns picos cardíacos, eu não devia sentir essas coisas, mas era inevitável.

 

-Bom dia minha linda. – Elis apareceu na cozinha. – Que cheiro delicioso de café.

 

-Bom dia Lis, já de pé? – Virei e deixei um beijo nela.

 

-Gostei de Lis, hehe. – Ela se sentou e meus olhos foram direto pras pernas de Elis, ela vestia uma blusa larga e um shortinho meu de dormir que mal cobriam suas poupas. – Dormi feito um anjo, sua cama é enorme Fê, cabíamos nós duas.

 

-Tito queria precisava de um carinho. – Ela percebeu pra onde eu estava olhando. – Não vai faltar oportunidade. – Ela sorriu e retrucou.

 

-Espero que não falte mesmo. – Minha campainha tocou e minhas mãos estavam ocupadas. – Quer que eu atenda?

 

     Elis foi em direção à porta, e Julia entrou vestida um conjuntinho grafite e seus inseparáveis óculos escuros, ela foi entrando e reparou Elis dos pés a cabeça.

 

-Bom dia, acho que cheguei em má hora. – Ela disse pra Elis, que apenas sorriu.

 

-Bom dia Julia, tudo bem? – Aparecia na sala, secando as mãos. – Estou preparando um café, quer se juntar a nós?

 

-Vim cedo, pois você disse que estão todos desesperados. – Julia permanecia de pé próximo à porta. – Não quero atrapalhar vocês.

 

-Fê, se não se importa vou tomar um banho antes tá? – Elis seguiu pro meu quarto deixando Julia com um olhar avaliativo.

 

-Ela é bem rápida né? – Ela dizia com seu deboche natural. – Na verdade vocês são rápidas.

 

-Somos só amigas Julia, ela precisou dormir aqui. – Odiava quando ela fazia isso.

 

-Você não me deve explicações Fernanda. – Já estava ficando irritada.  

 

-Verdade, não te devo explicação nenhuma. – Tito se juntou a nós encerrando nosso assunto.

 

    Julia Explicou como faria passo a passo, íamos todos pro interior juntos agora a tarde e pediu Tito pra não avisar a ninguém, Camila podia achar tudo muito suspeito e acabar fugindo. Tito estava com certo medo de encarar o pai novamente, mas era um mal necessário, ela disse que ficaria ao lado do pai nesse momento. Por outro lado eu só pensava no meu possível reencontro com meu pai, Fernando me disse que ele estava ficando lá e eu não quero ter que ficar sob o mesmo teto que ele, mas lá eu resolveria essa situação.

 

-Bom Tito, acho que basicamente é isso. – Julia deu um gole no café. – Meu medo é esse advogado que Camila, e se ele for cumplice? Teremos problemas.

 

-Tem isso também, Camila tem que apodrecer na cadeia. – Tito falava com mais raiva ainda. – Vou arrumar minhas coisas, vamos no seu carro?

 

-Sim, acho melhor! – Ela me encarava e senti Elis nos observando. – Passo aqui as 14h00min.

 

-Minha cota venceu, também vou pra casa. – Elis se levantou e pegou a bolsa. – Obrigada pelo dia incrível, e pela hospitalidade Fê.

 

-Imagina Lis, eu quem agradeço. – Ela me deixou um beijo que não passou despercebido pelos olhos avaliativos de Tito e Julia. – Quando eu voltar podemos marcar algo novamente.

 

-Tchau pessoal e boa viagem pra vocês!

 

-Vejo vocês depois, também vou ido. – Julia e Elis saíram praticamente juntas e logo Tito me lotou de perguntas.

 

-Jesus, como você sobreviveu a esse bombardeio de olhares. – Ele tinha a mão no peito fingindo susto. – Quando não era uma era a outra, sei que tem caroço nesse angu, pode ir abrindo o bico.

 

-Bixa mais fofoqueira. – Contei tudo e ele não sabia o que falar, minha situação era critica isso sim.

 

-Amiga! mulheres são complicadas demais, como vocês aguentam. – Em partes ele tinha razão, que confusão é essa? – É uma verdadeira teia, esse lance de “REBUCETEIO” é muito real Hahaha.

 

-Nem me fale, mas eu não quero pensar nisso agora. – Me levantei e ele me seguiu.

 

-Só te digo uma coisa, Julia ainda está de quatro por você. – Tito falava cada besteira que ele devia ser comediante. – E essa Elis não vai ficar pra traz, vou arrumar minhas coisas.

 

    Ele sempre fazia isso, jogava a bomba e corria. Não acreditava que Julia ainda sentia algo forte por mim, e ainda estava com aquele pensamento de que Elis só queria esquecer Bianca ou se vingar dela, deixei isso pra lá e fui arrumar minhas coisas, não levaria muita coisa, o suficiente pra uma semana, mas creio que voltaríamos antes. Saímos assim que Julia chegou, arrumamos tudo no carro e partimos, era umas quatro horas de carro e íamos revezando no volante sentei na frente Tito sentou no meio a traz e seguimos o caminho conversando.

 

-Luíza não quis vir? – Perguntei e vi quando ela fez uma carinha triste.

 

-Brigamos novamente, parece até que está virando rotina. – Ela disse desanimada. – Ela precisa ir ver a família que mora fora do Brasil.

 

-Sinto muito Ju, mas deve ser necessária a presença dela lá. – Tito não aguentava meia hora com o balanço do carro que logo apagava.

 

-Os pais dela não vão muito com a minha cara, e isso me incomoda um pouco. – Julia continuava prestando atenção na estrada. – Mas deixa isso pra lá, vamos falar de você, sua vida anda bem mais interessante que a minha.

 

-Estava demorando né? – Ela ia começar a pegar no meu pé.

 

-uai, não tem culpa se sua vida anda bem movimentada. – Vez ou outra ela tirava os olhos da pista e me olhava. – Serio que você trocou uma pela outra?

 

-Não Julia! Eu não troquei ninguém, eu não trato as pessoas assim. –Cruzei os braços emburrada. – E ela e eu somos solteiras, nada vai impedir se algo tiver que acontecer.

 

    Me calei e seguimos o resto da viagem sem tocar mais no assunto, ela sacou que fiquei chateada. Estávamos quase chegando quando Tito acordou e pegou o volante, meu coração ficava cada vez mais acelerado a cada Km rodado, estava nervosa pelo encontro, não avisei minha mãe que viria achei melhor assim.

 

-Fê o que você acha da gente alugar um quarto de hotel? – Tito me sugeriu e Julia estava atenta na nossa conversa. – Eu estou vendo que vou cometer um crime se eu ficar no mesmo ambiente que Camila.

 

-Boa ideia, também não queria ficar na casa da minha mãe, aposto que o Antônio vai estar lá se achando o dono da casa. – Tinha raiva da minha mãe por aceitar essa situação.

 

-Gente vocês sabem que podem ficar lá em casa, tem espaço pra vocês. – Julia veio mais para o meio do carro e continuou. – Não tem necessidade de vocês ficarem em Hotel.

 

-Não queremos incomodar Julia, você já está ajudando bastante. – Tito respondeu.

 

-Vamos fazer assim, chegando lá peço Izabel pra arrumar meu chalé pra você. – Eu tinha memorias bem interessantes daquele chalé. – Assim vocês podem ficar à vontade.

 

-Se não for incomodo, nós aceitaremos. – Ele me olhou concordando.

 

    Fomos direto pra delegacia, o pai de Tito ainda estava lá esperando a transferência pro presidio ou o pedido de habeas corpus ser concedido. Julia chegou e logo já foi conversando com a delegada de plantão, que por sinal era um amiga dela de adolescência, isso me deixou intrigada, mas não disse nada. A tal delegada deixou que nós três entrássemos pra conversar com seu Roberto, ele foi guiado por um policial até a sala que nós estávamos, usava algemas nos pulsos e estava de cabeça baixa.

 

-Oi pai. – Tito tinha lagrimas nos olhos e correu pra abraçar o pai.

 

-Veio ver minha derrota com os próprios olhos? – Mesmo algemado o velho não deixava a arrogância.

 

-Nós viemos tirar o senhor daqui pai. –Ele tentava falar com o pai sem chorar.

 

-Não preciso da sua ajuda, Camila já está resolvendo tudo. – Tive pena do velho, pois se fosse contar com a ajuda dela ele não sairia daqui tão cedo.

 

-Seu Roberto, não conte com isso. – Julia tomou a frente da discussão. – Camila é a responsável pela sua prisão.

 

-Mentira, eu confio nela. –Ele encarou Julia e continuava a defender Camila. – Ela está fazendo o possível pra me tirar disso e provar que eu não fiz nada.

 

-Pai temos provas que ela está te roubando há tempos, bem embaixo do se nariz. – Tito falava desesperado. – Por favor, acredite em nós.

 

-Eu saberia se ela estivesse fazendo isso. – Essa conversa já estava me dando nos nervos. – Camila sempre esteve ao meu lado quando você virou bixa e deixou a responsabilidade pro burro do Cláudio.

 

-Escute aqui seu Roberto, não saímos lá da capital pra ficar ouvindo essas besteiras do senhor. – Me exaltei e todos olharam assustados. – Viemos a pedido do Cláudio e da dona Vania, temos provas e quando Julia e eu vamos tirarmos o senhor daqui iremos colocar ela na cadeia, quer o senhor queira ou não.

 

     O velho engoliu seco e o policial o retirou da sala, sei que não devia ter falado daquela forma com ele, mas jamais deixaria ele destratar meu amigo daquela forma. Camila soube direitinho como enganar ele, e isso seria um problema pra nós, mas daríamos conta de resolver isso, era meu primeiro caso e eu estava confiante. Tito ficou de ir encontrar a mãe e o irmão e eu fiquei descansando no chalé de Julia, eu tinha boas e más recordações daquele lugar e a nostalgia me envolvia a cada segundo.

 

-Oi, está ocupada? . – Estava escorada na mureta do alpendre quando Julia chegou. – Gostei de como você foi firme com o Roberto hoje.

 

-Ele precisa aprender a ser mais humilde. – Ela vestia a mesma camiseta do dia em que nos conhecemos. – Ainda serve em você?

 

-O que? – Estava apontando pra camisa do Ramones. – Acredita que Izabel a deixou passadinha na minha antiga cômoda. Está velha, mas eu amo ela.  

 

-Tenho memoria fotográfica, você estava usando ela no dia da festa da uva. – Me lembro perfeitamente do que tinha ocorrido naquele dia.

 

-Uau, memoria boa mesmo. – Julia estava ao meu lado e eu abraçava meus braços protegendo da brisa fria que soprava. – Se lembra de tudo mesmo?

 

-Cada detalhe. – Nos encaramos, mas logo Tito chegou com novidades quebrando nosso contato visual.

 

-Gente minha mãe está arrasada, e acreditam que a safada da Camila até chorou? – Ele já chegou dizendo tudo. – Cláudio disse que ela passou o dia fora, mas não conseguiu seguir ela.

 

-Ela deve estar planejando fugir, mas vamos agir antes. – Julia tinha certeza de que prenderíamos ela. – Bom vou deixar vocês descansar, amanhã o dia é longo.

 

-Bom descanso. – Respondi e ela me deixou um beijo rápido na bochecha, que me fez arrepiar inteira.

 

-Até amanha Ju, e obrigado. – Ela saiu e nós dois entramos. – Estou sentindo que essa viagem vai trazer lembranças do passado, ne senhorita Fernanda?

 

-Não viaja Celio Marquês. – Joguei uma almofada nele e entramos. – Você está precisando dormir, já está delirando. -- Não posso trazer essas lembranças pro presente, e era isso que eu tinha que mentalizar.

Fim do capítulo