Aceitando a Proposta
Naquele mesmo dia Quinn Fabray não conseguiu pensar mais em outra coisa ou dormir como deveria; em seus sonhos ou em momentos de completa distração ela com certeza já havia repassado algo assim em sua mente, mas nada de importante... Como Rachel estaria agora? Teria mudado muito com os anos ou com a chegada do seu filho? Estaria à mesma dramática de sempre ou talvez esse pequeno detalhe tivesse exacerbado com o tempo. Pensar em quando elas ainda eram adolescentes lhe fez dar um breve sorriso amarelo enquanto estava deitada, mas seus devaneios se tornavam sempre mais obscuros e travaram quando chegavam ao filho da judia, será que a mesma sofreu algum preconceito ou algo do tipo, como dificuldades? Isso lhe deixava um pouco inquieta.
Mais flashs invadiam sua mente nesse momento, lembrava-se da sua gravidez conturbada, da sua filha Beth e como passou por dias tenebrosos, seja com dedos que lhe eram apontados aonde ia ou na dor que sentia ao pensar em como tudo poderia ter sido diferente se sua filha ainda estivesse ao seu lado, querendo ou não as duas também estavam ligadas por uma linha tênue que era aquela conexão familiar tão "incomum". O fato de alguém magoar a morena que às vezes era tão frágil e indefesa mexia com ela de uma forma estranha... Que não deveria. Mas por outro lado, a tal criança já estava com seis ou sete anos pelo que Sam comentara, significava que apesar de tudo a judia mais uma vez conseguiu passar pelas dificuldades... Como se isso fosse alguma novidade, Quinn remexeu-se olhando para o teto agora, era Rachel Berry, sempre soube que a outra conseguiria tudo o que sempre sonhou.
No dia seguinte ela levantou mais cedo que o necessário e partiu para o banho, como não havia dormido quase nada já tinha deixado uma roupa separada, isso lhe pouparia tempo. Seu celular tocou algumas vezes, mas ela não se preocupou em atender, retornando a ligação de Sam quando saiu do banho e se dirigiu para a cozinha, precisava de um café forte pra poder ficar cem por cento para o que estava por vir. O loiro parecia ansioso ao telefone, mas a mulher acabou relevando, o mesmo havia ligado apenas para confirmar o horário e algumas pequenas informações, nada que o mesmo já não tenha feito no dia anterior. Quinn apenas confirmou e logo voltou sua atenção para a cafeteira, checando o relógio enquanto tentava não se queimar com o líquido quente que estava na xícara, precisava se apressar um pouco, pois ainda tinha um caminho de mais ou menos quarenta minutos de carro, se tivesse sorte com o trânsito.
Quinn se arrumou cuidadosamente, checou se estava tudo em ordem ou se não tinha esquecido nada e depois se olhou no espelho. "Você não vai a um encontro Fabray, pare de se preocupar com isso", pensou ao se olhar incansáveis vezes no grande espelho que tinha no quarto; já que iria se encontrar com a diva teria que estar bem apresentável, pelo menos era essa a desculpa que tentava sustentar.
***
Seu trajeto foi feito exatamente no tempo determinado, a ex-cheerio e o seu fiel Opala Comodoro se encontravam no endereço entregue pelo detetive. A loira olhou para os lados em busca do número e parou quando teve a confirmação, seu coração deu uma leve disparada - o que fez com que a mesma respirasse fundo antes de fazer qualquer coisa - mas ela mesma sabia que não tinha como evitar o turbilhão de sensações nesse momento, afinal se passaram alguns anos, nem todos eles anos de alegrias, mas também anos de medo, incertezas e arrependimento. Quando voltou a si seus olhos claros automaticamente focaram o retrovisor, perto da esquina um carro grande estava dando a ré bem devagar, como se não quisesse ser notado, um pequeno detalhe para ser recordado em momentos futuros, por hora ela teria que ficar mais alerta e esquecer sentimentos de uma Quinn Fabray do colegial.
A loira baixou o vidro da janela para poder se comunicar com sabe lá quem que estivesse lá dentro fazendo a segurança da entrada. Ela apertou o botão do interfone e pode notar que o aparelho tinha algum tipo de ligação clandestina, se ela não conhecesse bem Rachel Berry ela não ligaria muito para o fato, mas a morena era perfeccionista demais, ela nunca iria querer um interfone com fios remendados por fita isolante... Quinn suspirou, havia algo muito errado ali.
-Quem é? - disse uma voz masculina vindo do aparelho. - Quinn tinha a leve impressão de que conhecia aquela voz de algum lugar mesmo que o som chiado não lhe ajudasse muito com a identificação.
-É sobre a Srta. Berry. - respondeu a loira sem muitos rodeios, porém já começando suas notas e análises mentais nesse exato momento.
-O que? - o outro não entendeu muito bem, o interfone estava falhando.
-Sandra Portman, para ver a Srta. Berry. - disse a loira invertendo a sua resposta para ter certeza de um pequeno detalhe.
Mais um chiado no aparelho e logo veio à resposta do outro. A cada novo questionamento Quinn achava que conhecia ainda mais aquela voz... Mas de quem era?
-Tem hora marcada? - insistiu o outro.
Quinn respirou levemente, piscou os olhos e observou novamente o seu redor antes de dar o que seria a sua última resposta.
-Olha... Diz que o número atômico do zinco é 30.
Depois da confirmação do homem o portão abriu lentamente e Quinn conduziu o carro para dentro antes que a voz insistente voltasse e mudasse de ideia. O lugar era meramente um paraíso, a pequena diva não economizara em nada, o espaço era completamente arborizado e a loira simplesmente nunca havia visto uma mansão como aquela, nem mesmo a dos seus melhores clientes, aquilo era praticamente a mansão da Lara Croft. A loira analisou o lugar rapidamente, até parar o carro perto de outro veículo que estava sendo polido; ao estacionar deu de cara com o homem que estava fazendo o serviço e provavelmente o mesmo que havia lhe atendido.
-Antes tarde do que nunca não é mesmo Fabray?! - comentou o homem com um sorriso largo no rosto e levemente surpreso ao ver a loira ali.
Quinn sentiu como se suas pernas estivessem fracas; como assim? Aquele era realmente quem estava pesando?! O dono da voz que tinha quase certeza que reconhecia?! Grande porte, muito bem arrumado, os cabelos agora curtos sem traços no moicano jovial, sobrancelhas grossas, olhos verdes e os lábios bem desenhados... Sem dúvida nenhuma aquele era Noah Puckerman. Sem pensar duas vezes e esquecendo um pouco o porquê de estar ali, a loira apressou o passo e abraçou o velho amigo com força, sentindo o mesmo quase lhe sufocando em um abraço de urso, mas ela pouco se importou, sentia falta do pai da sua filha e grande companheiro de colegial. Mas o que ele estava fazendo ali polindo um carro na residência da Berry?
-Ainda perdida, Fabray? - brincou novamente ele com um tom irônico.
A ex-cheerio bem sabia o que aquilo significava, Noah estava se referindo ao seu sumiço, mas ela não queria falar sobre aquilo, pelo menos não agora, mais cedo ou mais tarde isso viria à tona, mas ela o evitaria o quanto fosse possível, bem sabia o quando o amigo estava magoado por ter sumido do mapa e não ter lhe dado sequer uma pista.
-Tenho hora marcada com a Sra. Berry. - respondeu ela formalmente. - e você o que faz aqui? - perguntou levantando uma das sobrancelhas em tom de curiosidade.
O moreno sorriu um tanto orgulhoso e começou a explicar tudo para a mulher a sua frente. Ele havia se mudado e conseguido vencer na vida ao seu modo, após o surto de Quinn e suas tentativas frustradas e falhas de encontrar a mesma o rapaz havia partido para New York mais cedo do que qualquer um dos outros; tinha uma empresa de pequeno porte relacionada à manutenção de piscinas e outras coisas, mas que gostava de ajudar Rachel sempre quando dava, já que como dono ele não precisava passar tanto tempo assim na empresa desde que tivesse pessoas de confiança para fazer o que precisava... Sendo assim o mesmo aceitou com muito orgulho ser motorista da diva; sempre saía com ela quando era preciso e estava presente em vários eventos importantes, alguns até poderiam achar que ele estava se rebaixando, mas para ele era mais do que uma honra poder cuidar da sua pequena judia e saber que a mesma confiava nele para tal função. Quinn deu um leve sorriso e confirmou com a cabeça, estava feliz por Rachel ter alguém como o judeu por perto, pelo visto apesar da fama ela não havia esquecido os amigos que fizera em Lima.
-E você Fabray o que anda fazendo? - perguntou o homem com extrema curiosidade, afinal há tempos não tinha notícias da amiga. E ela aparecer do nada era algo completamente inesperado, principalmente ali, na casa de Rachel. Pelo que ele lembrava as duas não estavam se falando desde o último ano do colegial.
-Vim a trabalho, Evans conseguiu me arrastar até aqui. - respondeu dando de ombros. E fazendo com que os olhos verdes do amigo saltassem... Se ela estava a mando de Evans era por que a Fabray seria a nova guarda-costas. - preciso ir agora ou vou acabar me atrasando mais do que eu deveria.
-Tudo bem, mas depois vai ter que me contar tudo! Está me devendo essa. - o outro confirmou com a cabeça e sorriu. - É só seguir em frente, não tem erro.
-O que houve com o seu braço? - perguntou a loira de forma séria, pousando os olhos no braço esquerdo do amigo, estava enfaixado até a altura do cotovelo.
-Foi um cachorro. - explicou ele de forma limpa e seca, sem mais detalhes, não queria prender a loira por mais tempo já que a mesma tinha bastante trabalho a fazer.
Quinn deu um breve abraço no judeu e seguiu o seu caminho, cedo ou tarde ela teria que resolver isso. A melhor decisão a se tomar no momento era encarar de uma vez por todas a Berry e ver no que ia dar. Ela caminhou até a entrada, observando alguns trabalhadores que estavam fazendo uma pequena reforma e tocou a campainha, logo alguém veio lhe receber. Um homem alto de cabelos um pouco grisalhos e óculos atendeu a porta, estava muito bem vestido e sorriu ao lhe ver... Quinn poderia estar enganada, mas o mesmo parecia aliviado por vê-la.
-Prazer em vê-la novamente, Srta. Fabray fico feliz que tenha vindo. - o homem deu passagem para que a mais jovem entrasse.
-O prazer é todo meu Sr. Berry. - Quinn estendeu a mão para cumprimentar o homem, porém o mesmo lhe puxou para um abraço demorado.
-Pra você sou apenas Hiram, querida. Não precisamos de tantas formalidades. - Vamos... Estão todos no ensaio geral, mas já está perto do fim. - informou o homem lhe guiando.
A mulher deu um pequeno sorriso e apenas confirmou levemente com a cabeça. Hiram falava algumas coisas de forma animada e à medida que adentravam cada vez mais na mansão a batida forte e envolvente da música que estava tocando ficava cada vez mais alta, envolvente e dava vontade de dançar, porém a loira havia se agarrado a uma lembrança ao falar com um dos pais de Rachel e isso estava nublando sua mente enquanto seus pés faziam um caminho quase que automático.
***
"Estava cansada de ser covarde e mesmo que estivesse prestes a cometer o seu último grande ato de covardia, havia prometido a si mesmo que faria isso. Seu coração estava machucado de diversas formas e sua mente nublada, não tinha certeza se encontraria alguém naquele momento, mas arriscaria, só torcia para não encontrar Rachel mais uma vez naquele dia... Dois encontros com a judia seria demais.
Já estava há algum tempo na porta dos Berry quando a mesma se abriu, suas bochechas rosadas demonstravam a sua falta de coragem, porém o homem alto lhe sorriu da forma amigável de sempre.
-Quinn, querida, o que faz aqui? - perguntou o mesmo parecendo um pouco confuso com a visita surpresa da garota. - não deveria estar com os seus amigos?! Eu me atrasei um pouco devido o meu último plantão, mas eu já estava de saída.
A cheerio se remexeu um pouco incomodada, estava levemente arrependida por estar ali, mas não teria como retroceder, não sem dar desculpas esfarrapadas, e ela já estava cansada disso.
-Podemos conversar? - perguntou de forma tímida. - prometo que não tomarei muito do seu tempo.
O homem confirmou com a cabeça e deu passagem para a mais jovem que retribuiu com um breve sorriso como agradecimento. Hiram ofereceu-lhe o assento, mas Quinn queria ser direta, lhe doía partir daquela forma e querendo ou não havia se afeiçoado a família da judia.
-Está tudo bem com você, Quinn? - perguntou o homem com aquele tom que tanto lembrava a filha. - porque não está com a Rachel?... E o que são essas coisas?
A loira mordeu o lábio delicadamente antes de tudo, baixou os olhos e respirou fundo, era a primeira vez que se abriria daquela forma:
-Eu preciso ir embora... - começou, o homem fez menção de que falaria algo, mas Quinn lhe fez um pedido mudo para que não lhe interrompesse. - Sr. Berry eu queria muito ter a oportunidade de me desculpar com LeRoy, mas infelizmente não terei tempo, bem... Eu fui uma pessoa terrível com a Rachel em muitos momentos. - sua respiração estava levemente descompassada, tentava organizar suas ideias enquanto procurava se acalmar. - e não tenho palavras para agradecer toda a hospitalidade que me deram quando nós começamos a ter algo perto de uma amizade. - um pequeno sorriso brotou nos lábios da loira ao lembrar-se de pequenos flash's entre as duas.
Hiram acompanhava a garota atentamente, esperando que a mesma colocasse pra fora tudo aquilo que a um bom tempo já estava lhe consumindo.
-Mas eu não consigo mais ficar aqui... Eu não consigo mais estar ao lado dela sem... - seus olhos novamente voltaram-se para os próprios pés, analisando o tênis surrado. - eu ainda sou uma pessoa covarde demais para assumir o que sente... - a última parte saiu fraca como um sussurro, sabia que não conseguiria conter as lágrimas.
O homem aproximou-se e lhe abraçou carinhosamente, Quinn deixou-se levar pelo toque e permitiu-se chorar um pouco mais, fora toda a confusão de seus sentimentos, seus pais estavam separados e há tempos ela não sabia o que era ter um pai de verdade ao seu lado.
-Minha querida... Não tenho autoridade nenhuma para lhe impedir, mas quero que saiba que não existe qualquer ressentimento, seja de minha parte, LeRoy ou Rachel. - comentou o homem com a voz baixa, depositando um pequeno beijo na cabeça da Fabray. - amo você como uma filha... Rachel sabe que vai embora? - perguntou já sabendo qual seria a resposta da garota.
-Não... E provavelmente vai me odiar por isso... Eu só queria que nos momentos de raiva ou quando Finn for um idiota, por que sabemos que cedo ou tarde ele vai ser - os dois sorriram brevemente. - quero que o Sr. sempre esteja ao seu lado, por favor.
Quinn se afastou devagar, encarando novamente o homem a sua frente.
-Saiba que sempre terá um lugar para retornar."
***
Chegaram a uma grande salão, cheio de aparelhos de filmagem, fios e várias pessoas correndo de um lado para o outro, manequins, roupas; algumas pessoas conversavam ao canto e outros trabalhavam na iluminação e em alguns outros efeitos, estavam no meio de uma filmagem, com certeza, ou no mínimo aquilo era um ensaio assim como havia informado o mais velho. Quinn andou calmamente até uma parte mais isolada, onde não poderia ser notada por outras pessoas que estavam por ali e ficou observando uma das telas que mostravam as filmagens. Seus olhos por um momento se focaram em uma loira que dançava com a alma.
-Brittany... - o nome da sua amiga saiu quase como um sussurro.
Quinn sentiu algo estranho, a sua companheira dos tempos de cheerios era a segunda pessoa do seu passado que encontrava por ali, o que estava acontecendo? Por um acaso aquilo virou algum tipo de reunião do antigo glee club?!
Sam acenou levemente para ela, o loiro se encontrava em uma grande poltrona negra mais para o fundo das filmagens, a guarda costas deu alguns passos, saindo do seu "esconderijo" e correu os olhos pelo local, primeiro se demorou em uma morena que estava ajeitando algum tipo de roupa robótica e depois mais uma pequena surpresa... Roupas de grife, pele de porcelana e olhos extremamente azuis, Kurt Hummel estava sentado em outra poltrona parecida com a de Sam, sentindo-se majestoso enquanto discutia com alguém no celular e ao seu lado se encontrava alguém que Quinn não esperava encontrar tão cedo... Não por não gostar dessa pessoa, mas a mesma sabia que quando se encontrassem ela seria a primeira a querer lhe matar; quando a latina cruzou os seus olhos com o da loira, rapidamente ela fechou a expressão e levantou-se, mas antes que chegasse até a guarda-costas Sam falou alguma coisa e gesticulou, até que Santana momentaneamente se deu por vencida e preferiu esperar. Se ela interrompesse a gravação com certeza Rachel não seria nada amigável depois.
Fim do capítulo
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