Algumas semanas após a notícia da gravidez, Thaísa levou bem a sério o período pré-natal, muito mais a sério do que Helena esperava. A jovem interna comprou uma lista inteira de e-books sobre técnicas, conselhos e guias para mães de primeira viagem. Todo o conhecimento de obstetrícia de seu próprio curso parecia ser ínfimo perto da vastidão de blogues e fóruns de trocas de experiência na opinião de Thaísa, que divergia abismos do pensamento de Helena.

 

 

 

“Amor, vamos fazer esse curso aqui que essa blogueira indicou? O professor que ministra é PhD em psicologia materno-infantil, abriu uma vaga!” Thaísa mostra a tela do celular.

 

“Tem certeza? ” Helena suspira, meio cansada, enquanto navega pela internet com o notebook em seu colo. “Teríamos que nos deslocar toda semana, a gente quase não tem tempo, amor...”

 

“Mas ele vem até aqui em casa! Ele vai nos acompanhar durante os três trimestres, e agora liberou um horário na agenda dele! Vamos, amor, por favor!”

 

“Mas Thaísa, tanto eu quanto você temos nossas próprias psicoterapeutas, para quê mais um? ”

 

“Ele não vai ser só nosso psicoterapeuta, vai ser nosso guia durante a minha gravidez, ele já acompanhou centenas de gestantes e as preparou, é extremamente difícil agendar com ele, amor...”

 

“Você já ligou para ele né?” Helena ri.

 

“Você me conhece, né...” Thaísa abaca rindo ao ser pega no flagra.

 

 

 

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Primeiro trimestre

 

 

 

O famoso guru da gravidez marcou um horário com o casal para poder conhecê-las, saber das rotinas, o ambiente e tudo mais. Após uma inspeção minuciosa do apartamento e uma breve conversa, sentou à mesa da sala de jantar para os acertos finais.

 

“Devo dizer, achei vocês duas ma-ra-vi-lho-sas!” O senhor de meia idade exclama. “Alguns ajustes precisam ser feitos no apartamento para quando nossa realeza chegar, mas--”

 

“Realeza?” Helena arqueia uma sobrancelha.

 

“Sim! Realeza! O bebê que irá chegar será como um rei ou rainha saindo de seu templo sagrado, o útero, para o mundo!”

 

“Eu adorei!” Thaísa se empolga.

 

“E que mudanças serão essas, senhor Guillaume?” Helena questiona.

 

“Por favor, pronuncia-se Guilhome.” O homem corrige. “Serão algumas mudanças para a segurança de nossa realeza. Tenho uma equipe padrão responsável por isso, não se preocupe, está tudo incluso no nosso pacote.” O guru retira um envelope de sua pochete e o entrega ao casal. “O preço parece salgado mas lembrem-se que estarei acompanhando vocês durante toda a gestação. ”

 

“Uau.” Helena engole a seco ao ver a fatura. “Acho que vou ter que tirar do lucro das ações do hotel, só com meu salário de residente não conseguiria pagar isso.”

 

“Tenho certeza que vocês não vão se arrepender!”

 

 

 

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“Amor, pega um copo de água para mim, por favor?” Thaísa pede, quando Helena acaba de apagar a luz para se deitar.

 

“Pega uma garrafa de água do frigobar do seu lado aí, paixão.” Helena se deita confortavelmente.

 

“Essa água está gelada, eu queria em temperatura ambiente...” Thaísa resmunga.

 

“Eu coloquei as garrafas não faz nem meia hora.” Helena rebate de forma meio rude. “Desculpe ter respondido nesse tom, eu só estou preocupada com um paciente que transferi ontem e-”

 

“E você não gostou de ter perdido seu dia de folga ouvindo um estranho dar palpites sobre a criança que estou gestando, não é?”

 

“Não é isso...” Helena suspira. “Só o achei exagerado, digo... chamar nosso bebê de realeza... Sério?”

 

“Ah, amor, qual é, vai dizer que você não vai tratar nosso filho ou filha como se fosse um príncipe ou princesa? ”

 

“Argh, certo... você me convenceu. E de qualquer modo, já está pago mesmo. Vamos ver o que esse tal Guilherme, Guilhermo ou sei la o quê tem a nos mostrar...”

 

 

 

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No tapete da sala, com todos descalços e com roupas confortáveis, Guillaume ensinava técnicas básicas de respiração, meditação e mindfulness.

 

 

 

“Certo, meninas, a casa já está preparada para receber nossa realeza, e ainda temos dois trimestres pela frente para prepararmos nossas mentes e coração.”  O guru fala calmamente entre respirações profundas.

 

“Senhor Guilherme, eu já pratico esse tipo de técnica de controle de respiração há anos.” Helena interrompe. “E eu já ensinei isso a Thaísa. Podemos passar para o próximo passo, se quiser.”

 

“Pronuncia-se Guilhome. Entretanto, para não complicar, pode me chamar de Mestre Gui.” O guru corrige. “Mas tudo bem, senhora Helena, podemos passar para o próximo passo, vamos focar na mamãe Thaísa... diga-me querida, conte-me uma memória feliz de quando era criança. Vamos tentar relembrar e ir regredindo até voltarmos ao útero de sua mãe.”

 

“Hipnose?” Helena interrompe.

 

“Será mais como uma regressão.” Guillaume rebate.

 

“O senhor vai tentar acessar o subconsciente dela, não vai?” Helena insiste.

 

“Sim, senhora Helena.”

 

“Através de que técnica?”

 

“Vamos relaxando, respirando, até que as memórias ocultas estejam disponíveis.”

 

“Por meio de hipnose...”

 

“Dona Helena, eu não consigo fazer meu trabalho se a senhora insistir em me contestar!” O guru se irrita. “Sua companheira, que está gestando, procurou-me para guiá-la durante esse período. O fato da senhora estar se opondo, mesmo após ter aceitado todos os termos do meu contrato, só me diz uma coisas: sua insegurança é o único fator atrapalhando!”

 

“Insegurança?” Helena arqueia uma sobrancelha. “Insegurança de quê? Da gravidez da Thaísa? Eu já conheço todo o processo e posso dizer para o senhor que estou mais preparada do que imagina!”

 

“Não é disso que estou falando...” Guillaume muda o tom de voz, tornando-se, de algum modo, condescendente, ao fitar seus olhos nos da jovem futura mamãe. “Dona Helena, eu consigo ver o medo em seu olhar.”

 

“Esse cara é louco.” Helena se levanta. “Eu estou fora.”

 

 

 

 

 

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Segundo trimestre

 

 

 

“Helena, não acha que já faltou a aulas suficientes?” Thaísa cobra a companheira logo ao acordar. “O mestre Guillaume vem hoje para uma checagem.”

 

“Poxa amor, na verdade eu tenho que cobrir o plantão do Mário, então vou ficar direto no hospital.” Helena rapidamente se levanta e vai lavar o rosto no banheiro.

 

“Sua mãe me ligou ontem.” Thaísa também se levanta para escovar os dentes.

 

“O que ela queria?”

 

“Planejar o chá de bebê, perguntou se sábado que vem estaríamos disponíveis.”

 

“Estranho, ela não comentou nada comigo.”

 

“Você também quase não fala da gravidez para ela, aliás, ultimamente, ela tem conversado muito mais comigo do que com você, ela mesma reclamou do seu sumiço.”

 

“Estamos lidando com os efeitos colaterais pós pandemia, mal tenho tempo de mexer no celular.” Helena explica.

 

“Amor, eu sou interna no mesmo hospital que você trabalha. Eu sei que estamos recolhendo os cacos de algo devastador, mas sua família sente falta de você. ”

 

“Eu vou ligar para ela. Prometo.” Helena sorri e pega a outra escova de dentes para a oro-higienização.

 

 

 

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Já no hospital, Helena passou o dia atendendo pequenas ocorrências, que ocuparam sua cabeça durante a maior parte do tempo. Ao final do dia, uma mulher grávida de 27 semanas, de aproximadente 40 anos de idade, procurou a Emergência por alegar ter tropeçado e caído da própria altura, sentindo uma leve dor em região ventral.

 

Na política de rotação, a Doutora Camila, supervisora dos residentes, que costumava delegar internos aos R+, teve que improvisar e necessitou colocar os R1 e R2 para ensinar internos, como parte dos efeitos colaterais pós pandêmicos. Desse modo, Helena ficou responsável por dois alunos do 5o ano, no primeiro ano de internato, e os levou para a sala de exame ginecológico. Um dos pupilos, Davi, era um dos amigos mais próximos de Thaísa.

 

“Vamos lá.” Helena se aproxima da paciente, em decúbito lateral esquerdo para verificar os batimentos cardíacos fetais através do doppler. “Cento e cinquenta e seis batimentos por minuto. Anota aí no prontuário, Davi.”

 

“Certo.” O interno obedece.

 

“Agora continue o exame físico.” Ela ordena. “Pedro, peça para a enfermeira vir aqui para a coleta de sangue.” Helena pede ao outro interno.

 

“Vamos pedir uma citometria de fluxo?” Davi interfere.

 

“Sim. Você sabe me dizer o motivo?” Helena devolve com outra pergunta.

 

“Teste de Kleihauer-Betke?”

 

“Exatamente. Vamos avaliar hemoglobina fetal, mas também vou precisar de glicemia, função renal e eletrólitos. Ah, Pedro, não se esqueça de pedir os materiais para acesso venoso central, vamos precisar de uma gasometria arterial também.”

 

 

 

 

 

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Enquanto a paciente era monitorada pela enfermagem, Helena, Pedro e Davi se reuniram em um canto do corredor para observar os exames.

 

“Kleihauer-Betke mostrou que não há hemorragia fetomaternal. Demais exames parecem okay.”

 

“Então por que nos reunimos aqui fora?” Davi questiona.

 

“Porque se tivéssemos alguma notícia ruim, por acaso você iria querer parecer surpreso na frente da paciente?!” Helena se irrita.

 

“Desculpa.” O interno abaixa a cabeça.

 

“Eu que peço desculpas, exaltei-me à toa.” Helena suspira. “Vocês falaram com a Thaísa hoje?”

 

“Almocei com ela um pouco mais cedo. Ela parecia empolgada com mais uma aula do coach de vocês.” Davi responde.

 

“Ele não é nosso coach, digo, sei lá. Ela não disse mais nada?”

 

“Não... por quê?”

 

“Por nada. Vamos dar as boas notícias à paciente.”

 

 

 

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Ao final do expediente dos internos, Helena aproveitou para esperar Thaísa na saída do vestiário e conversar com sua companheira.

 

 

 

“Hey, hey!” Helena aborda sua amada.

 

“Oi amor!” Thaísa dá um selinho na residente. “Como está lá na emergência? Fiquei sabendo que está com o Davi na rotação, né?”

 

“Sim, ele e o Pedro. Mas, escuta, eu... eu preciso conversar com você.”

 

“O que houve?”

 

“Hoje atendemos uma paciente grávida, e algumas coisas fizeram sentido na minha cabeça.”

 

“Tipo o quê?”

 

“Bem, eu já acompanhei várias gestantes, mas nenhuma delas carregava meu futuro filho. Acho que tenho medo de que qualquer coisa aconteça com você...” Helena engole seco. “Pelo fato de isso ter acontecido com meu pai e a namorada dele.”

 

“Meu amor...” Thaísa acaricia o rosto de Helena. “Você sabe que não precisa ter esse tipo de preocupação, né? As chances são mínimas, e eu tenho feito tudo certo no pré-natal...”

 

“Mas a mãe dos meus irmãos também era nova, e foi uma emergência obstétrica, não puderam fazer nada... eu sinto como se não estivéssemos nem um pouco preparadas para o pior. ”

 

“Eu tenho fé de que tudo vai dar certo. Não sei se você partilha dessa fé, meu amor, mas eu sinto dentro de mim uma paz que não consigo lhe explicar e é com essa paz que eu sei que vai ficar tudo bem."

 

"Thaísa, você não pode garantir que vai ficar tudo bem. Ninguém pode.”

 

“Helena...” Thaísa acaba rindo. “Você ainda nem é mãe e já se preocupa como tal. Você está mais do que preparada para a maternidade!”  Com um abraço forte e compreensivo, Thaísa tenta tirar as preocupações da mente da residente.

 

 

 

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Terceiro trimestre

 

 

 

Guillaume ensinava o básico de Yogaterapia para o jovem casal de mamães que aos poucos fazia as pazes com a sensação de segurança, deixando de lado os temores da lei de Murphy.

 

“Meninas, agora eu preciso que voc-... Dona Thaísa, a senhora está bem? ” Guillaume percebe que a gestante não consegue evitar as expressões de dor que apareciam em seu rosto.

 

“Estou sim, acho que são contrações de Braxton Hicks...” A respiração da interna se acelera.

 

“Amor, você já está na 38ª semana, isso pode não ser apenas alarme falso.”

 

“Relaxa, só vamos nos preocupar caso forem duas contrações a cada dez minutos...”

 

“Dona Thaísa, a senhora fez essa mesma expressão de dor há menos de cinco minutos!”

 

“Mas não durou tanto tempo e...” Thaísa olha para suas pernas. “Acho que a bolsa estourou...”

 

“Está tudo bem! Não vamos nos apavorar!” O guru se levanta. “Vou buscar sua mala! Helena, pegue as chaves do carro!”

 

“Certo!” Helena também se levanta e corre para a direção oposta.

 

“Pessoal!” Thaísa grita.

 

“O quê?” Os outros dois respondem.

 

“Alguém me ajuda! Não consigo levantar sozinha!” A gestante exclama, irritada.

 

 

 

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 “Empurre! Empurre!” O obstetra que estava de plantão e a enfermeira incentivam a jovem, que passava pelo momento de maior dor em sua vida.

 

“Eu estou empurrando!” Thaísa exclama, em meio a gritos, enquanto, completamente suada, segura a mão de sua companheira.

 

“Vamos amor, você consegue!” Helena tentava ajudar, mas todo suporte parecia concentrar em sua mão, que era praticamente esmigalhada enquanto Thaísa fazia força.

 

“Veja só...” O bebê começa a chorar. “Esse garoto veio forte, ouça como chora alto!”

 

“Garoto?” Helena aprece não escutar direito.

 

“Sim! Decidiram descobrir de última hora?” O médico questiona.

 

“Pois é, a gente preferiu assim.” Thaísa também começa a chorar emocionada.

 

“Bem, conforme combinado, se fosse menina eu escolheria o nome, mas como é menino...” Helena também se segura para não chorar de emoção ao ver aquele pequeno ser.

 

“Mestre Guillaume está lá na sala de espera?” Thaísa pergunta.

 

“Enquanto limpavam o bebê, fui checar e ele estava roendo as unhas de ansiedade. Por quê?”

 

“Lembra quando você o irritava, chamando-o de Guilherme propositalmente? E aos poucos isso passou de provocação a piada interna entre vocês...”

 

“Lembro sim, por quê?”

 

“Bem...nada mais justo do que nomear nosso filho com algo relacionado às pessoas mais importantes que estiveram ao redor na minha gravidez... Bem-vindo ao mundo, Guilherme Bragança-Tavares!”

 

 

 

 

 

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Já no quarto do hospital, Thaísa descansava, enquanto Helena não parava de admirar seu primogênito ao lado, no berço de acrílico.

 

 

 

“Olá, mamães!” Nicole aparece, carregando uma bolsa cheia de presentes.

 

“Shh!!” Helena faz sinal com a boca, apontando para a mamãe Thaísa em sono profundo.

 

“Ai, desculpa!” Nicole sussurra. “Posso pegar meu sobrinho?”

 

“Fica à vontade...” Helena sorri. “Gui, agora a titia Nicole vai lhe segurar.”

 

“Eu ainda estou em choque que a Thaísa gerou uma coisinha tão linda como essa...” A tia babona balança o bebê.

 

“Bem, o óvulo fertilizado foi o meu, né...” Helena ri.

 

“Do que vocês estão falando?” Thaísa acorda.

 

“Eu estava falando da coisinha mais perfeita desse universo que é o meu sobrinho!” Nicole continua babando.

 

“Ni, por acaso o papai ou a mamãe falaram algo sobre vir?” Thaísa pergunta, esperançosa.

 

“Bem...” Nicole suspira. “Eu realmente não sei, maninha, eu também não falo muito com eles... Na verdade, nem sei se prestaram atenção quando falei sobre sua gravidez. ” Nicole suspira com tristeza.

 

“Ou seja, não vêm. ” Thaísa se entristece.

 

“Amor, e daí?” Helena intervém. “O importante é que o Gui tem uma tia maravilhosa do nosso lado, uma madrinha e um padrinho que vão amá-lo com todas as forças...”

 

“Você já contou para a Lívia e o Dante que os escolheu como padrinhos?” Thaísa interroga.

 

“Não, mas vou deixá-los implorar mais um pouco...” Helena ri. “Vocês estão com fome?”

 

“Eu comi em casa.” Nicole responde.

 

“Eu estou com fome, mas sem vontade de comer, como explicar?” Thaísa se sente confusa.

 

“Vou trazer algo light da cafeteria, então. ” Helena dá um beijo na testa de sua amada e se retira.

 

 

 

 

 

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Antes de Helena ir à cafeteria, resolveu passar pela recepção, onde havia uma daquelas máquinas automáticas de vendas para pegar uma barra de cereal que não era vendida no refeitório. Ao retirar as moedas do bolso, foi surpreendida por um safanão involuntário de seus subordinados.

 

“Desculpa, Dra. Helena!”

 

“Aonde vai com tanta pressa?!”

 

“A Dra. Camila chamou, tem uma vítima de flechada que atravessou o tórax!” O interno exclama, empolgado.

 

“Okay, então, boa cirurgia para vocês...”

 

 

 

Logo em seguida, Helena olhou para o outro lado e viu a entrada da emergência vazia. A empolgação dos internos e residentes foi tanta, que deixaram o ambiente ao Deus-dará. Caminhou tranquilamente pelo silêncio da recepção, até se deparar com a entrada de uma mulher mancando, sangue escorrendo por sua calça de cor bege, e os olhos fundos, apáticos. O sorriso de quem havia acabado de se tornar mãe se esvaeceu no momento que reconheceu aquele rosto escondido em um casaco também manchado de sangue.

 

“Isabel?!” Helena se aproxima rapidamente, extremamente assustada. “O que houve?”

 

“Eu-eu preciso de ajuda.” Em meio a prantos, Isabel clama.

 

“Claro, eu vou chamar a Dra. Camila!”

 

“Não a chame, por favor... eu vou precisar de um ginecologista.”

 

“Quer que eu chame o Dr. Laurêncio? Mas o que aconteceu, Isabel?”

 

"Meu...namorado... Vou precisar... daquele... kit... de... exame.” Isabel olha nos olhos da colega de trabalho, que já entendendo, ordena a uma das enfermeiras para procurar ajuda.

Fim do capítulo