POV FERNANDA

 

-Mana preciso te contar uma coisa. – Já fiquei preocupada. –O papai me procurou outro dia na saída da escola.

 

-Tem certeza de que era ele Nando? – Perguntei ao meu irmão com uma aflição no peito. –Quero dizer se você ainda se lembra dele?

 

-Tenho sim, eu me lembro dele. – Fernando dizia com naturalidade. – Ele me levou pra tomar um sorvete.

 

-A mãe sabe disso? – Não podia acreditar que esse cara estava rondando minha família.

 

-Eu não contei pra ela, vou dormir mana estou cansado. – Dei um beijo na testa dele e ele virou pro lado.

 

    Passei a noite em claro praticamente, eu tinha que falar pra minha mãe que Antônio tinha voltado, minha mãe sofreu tanto quando ele foi embora, não podia deixar ele fazer isso novamente. Pela manhã eu conversaria com ela.

 

    O dia amanheceu ensolarado, porem fazia um friozinho de outono levantei e preparei um café cheio de coisas que as crianças gostavam, fiz um bolo, comprei pão de queijo e biscoitos. Deixei tudo pronto e fui me arrumar pra ir trabalhar, minha mãe já tinha acordado e penteava os cabelos de Leticia.

 

-Bom dia minha filha, acordou cedo.

 

-Fui preparar um café pra vocês antes de ir trabalhar. – Dei um beijo nas duas e fui procurar uma roupa pra trabalhar. – Mãe, antes de sair eu quero conversar com a senhora.

 

-Algum problema filha? – Ela me perguntou preocupada. –Eu também tenho um assunto pra tratar com você.

 

-Talvez mãe, mas deixa eu me arrumar que a gente conversa. – Fui pro banho e a deixei lá. - Ai a senhora me fala o que é.

 

   Hoje eu optei por uma calça de alfaiataria e uma camisa branca, meus saltos era na cor preta e deixei os cabelos soltos hoje. Ainda estava bem triste com o ocorrido com Bianca, até pensei em Elis ela me pareceu uma mulher tão legal, e era linda também, não merecia alguém como Bianca.

 

 

-Uau, tá linda Fê. –Fernando adora me elogiar, um verdadeiro cavalheiro. – Você vai linda assim pra poder ganhar todas as causa né?

 

-Aiai, deixa de ser bobo pirralho. – Me sentei e comecei a me servir.

 

-Tito estava me contando do novo amor, já quero conhece- lo. – Minha mãe comentou enquanto eu enchia minha caneca de café. – E eu quero saber quando vou conhecer alguma nora, eu quero netos Fernanda. –Quase engasguei com o comentário de mamãe.

 

-MAMÃE! – Ela se divertia as minhas custas, e Tito caiu na risada.

 

-Vixe tia Marta, sua filha tem um dedo podre viu. – Perdi o respeito mesmo. – Ela não tem a mesma sorte que eu.

 

   O nosso café correu nesse ritmo animado e com Tito contando meus podres pra minha mãe, sem os detalhes sórdidos é claro haha. Já estava quase dando minha hora quando minha mãe me chamou pra conversar.

 

-Então filha, o que você queria me dizer? – Estávamos na cozinha guardando as coisas.

 

-Mãe, ontem Fernando me contou que o Antônio o procurou na escola. – Falei sem rodeios e parece que minha mãe não ficou surpresa.

 

-Eu sei filha. – Ela abaixou a cabeça e não me encarava. –Fui eu quem deixou.

 

-O que? A senhora já sabia? – Estava incrédula. – Ele voltou? E te procurou mãe? Por que não me disse nada?

 

-Filha calma, sim ele voltou e me procurou, ele disse que está arrependido de ter nos deixado, estava com saudade da gente. – Já estava ficando nervosa com aquele assunto. – Nanda, seu pai errou, mas não podemos virar as costas pra ele.

 

-Mãe ele virou as costas pra nós primeiro, e ele não é meu pai. – Minha mãe estava se deixando levar pelo papo daquele canalha. – Mãe a senhora não pode deixar ele voltar pra nossa casa.

 

-A casa também é dele, ele sente saudades dos filhos. – Queria gritar com minha mãe, mas não queria assustar as crianças.

 

-Antônio nunca se importou com isso, ele deu o pé e nem olhou pra trás, olha tudo que tivemos que fazer pra conseguir segurar as pontas.

 

-Fernanda nós duas superamos isso, olha onde você está hoje! Não guarde rancor do seu pai filha, isso faz mal pra alma.

 

-Estou atrasada mãe, acho melhor termos essa conversa quando eu chegar.

 

-Nós vamos embora hoje, vamos passar o feriado com seu pai, eu vim pra levar você conosco, mas creio que não queira ir. – Minha mãe disse a ultima frase um pouco mais triste.

 

-Mas é claro que não irei, eu não acredito que você está com ele novamente mãe, mas enfim não vou julgar suas escolhas. – Sai da cozinha e me despedi dos meninos.

 

    Minha cabeça latej*v*, justo hoje que acompanharia Luíza em uma audiência, estava com vontade de chorar, nunca tinha me desentendido com minha mãe dessa forma, sempre fomos muito amigas e unidas, mas não conseguia entender como ela perdoou Antônio depois de tudo o que ele causou.

 

-Bom dia amiga tudo bem? – Helen me abordou na recepção. –Ei que carinha é essa?

 

-Ai Helen, só acontece problemas na minha vida. –Lamentei desanimada. – E parece que de uns meses pra cá isso está com mais frequência.

 

-Se precisar de um ombro amigo pode contar com o meu tá? – Helen se levantou e me abraçou. – Tenho um recado pra você, a audiência que Drª Luíza tinha hoje foi adiada e ele precisou viajar com urgência.

 

-Serio? Até bom. – Hoje eu estava um pouco desanimada. – Julia também foi?

 

-Ela está na sala dela, já tem um tempinho que ela chegou. –O telefone tocou e eu segui até a sala de Julia.

 

-Posso entrar? – Julia estava concentrada em alguns papeis.

 

-Oi Fê, claro entra ai. – Ela me recebeu com um sorriso. – E ai está melhor?

 

-Não sei, pois quando penso que vou ficar livre de problemas os problemas me perseguem. – Sorri desanimada contei sobre a briga com minha mãe, Julia sabia da historia com meu pai e também se indignou com minha mãe o perdoando assim.

 

-Não conseguimos ficar longe de confusão né? – Ela também tinha uma ruguinha de preocupação na testa.

 

-Você me parece preocupada com alguma coisa, o que aconteceu? – Perguntei e ela suspirou cansada.

 

-Luíza viajou.

 

-E essa carinha é porque você acha que vai morrer de saudades haha? – Ela sorriu de lado.

 

-Não, ela viajou pra casa dos pais da Silvia. – Fiquei um pouco chocada de inicio. – Os pais dela tem negócios com a família da Silvia e Luíza é a representante. Antes isso não me preocupava, pois Silvia estava na Austrália né.

 

-Entendo sua preocupação, mas Luíza ama você. – Segurei as mãos dela por cima da mesa. – Não fica pensando nisso tá?

 

-Julia você pode assinar esses documentos aqui pra mim? – Marcos entrou na sala sem bater, e no susto livramos nossas mãos rapidamente. – Me desculpe, entrei sem bater.

 

-E a educação passou longe também. – Ela estendeu a mão pra pegar os papeis.

 

-Tudo bem Fernanda? – Ele se virou pra mim. – Estava lhe procurando na verdade, quero te fazer um convite.

 

-Tudo sim Marcos, e com você? – Eu forcei um sorriso e esperei ele continuar a falar.

 

-Meu aniversario é amanhã, e como é feriado vou comemorar em um bar aqui perto. – Ele falava todo empolgado. –Gostaria de saber se você não quer ir comigo? Você também está convidada Julia!

 

-Eu passo, obrigada! – Julia recusou sem delongas e ficou esperando minha resposta.

 

-Acho que vai ser legal, se der eu apareço sim, depois você me envia o endereço. – Marcos ficou todo alegre e me eu um beijo na bochecha. – Meus planos pro feriado foram cancelados mesmo.

 

-Mais um motivo pra você me acompanhar, minha irmã chegou de viagem e também estará lá, te envio o endereço mais tarde. – Julia tinha uma das sobrancelhas arqueadas e analisava nossa conversa. – Até mais Julia.

 

   Ele saiu da sala e Julia continuou me encarando, agora eu tinha certeza de que ela não ia muito com a cara de Marcos, e não fazia questão de esconder isso.

 

-Fernanda você vai mesmo sair com esse monte de musculo? – Ela me questionou e eu achei graça.

 

-Ele é legal, o que tem de mais?

 

-Legal, mas não faz seu tipo. – Eu nem cogitei isso, mas já que ela falou. Soltei uma sonora gargalhada. –Que foi? Qual a graça?

 

-Olha Julia, nunca pensei no assunto, mas eu até acho o Marcos atraente. – Podia jurar que ela estava com um pouquinho de ciúmes. – E desde quando você sabe qual o meu tipo?

 

-Não sei, mas acho que você dois nem combinam. – Ela tentou desconversar. – Ai Fernanda, vai lá com seu novo amiguinho então, vou continuar a trabalhar.

 

     Achei graça dela e fui trabalhar, fiquei pensando se iria ao aniversario do Marcos, não seria má ideia, sorri ao lembrar que Julia sempre tentava das umas cortadas nos flertes dele. Marcos era um cara legal, muito lindo também, sempre bem arrumado e cheiroso. Eu já fiquei com alguns rapazes na época da faculdade, mas sei que meu ponto fraco são as mulheres. Meu expediente acabou e eu não vi mais Julia, fui pra casa dormir, minha mãe tinha me mandado uma mensagem avisando que já tinha ido embora, aproveitaram um carona com Cláudio, Tito ia dormis com Felipe e o que me restou foi a solidão do meu apartamento e uma garrafa de vinho.

 

     Acordei mais de dez e meia da manhã, continuei na cama mexendo no celular, quando minha barriga reclamou de fome eu levantei e fui pra cozinha arrumar algo pra comer. Estava lendo um livro então resolvi postar uma foto dele com a seguinte legenda:

 

“Melhor companhia para a solidão sempre será a presença de um bom livro.”

 

  Não passou nem cinco minutos e Julia me ligou.

 

-Acho que posso ser uma companhia melhor. – Ela falava do outro lado da linha.

 

-Convencida, você se acha né? – Ela gargalhou. – Oi pra você também.

 

-Oi, e ai tudo bem? Te liguei pra te fazer um convite. Quer ir a um lugar comigo? – Ela parecia ansiosa pela resposta.

 

-Pra onde a senhorita quer me levar? – Mordia o lábio, parecendo uma adolescente.

 

-É surpresa, passo ai daqui à uma hora. Vista roupas leves. – Ela desligou e eu fiquei na expectativa.

 

     Me arrumei rápido e no horário marcado ela estava lá, Julia estava linda de camisa da malha e jeans, os óculos davam um charme a mais nela, e os cabelos estavam presos em um coque mal feito. Eu tinha que parar de ficar reparando nela, e tirar essas coisas da minha cabeça.

 

-Olá loba solitária, vamos? – Entrei no carro e partimos.

 

-Estou curiosa, onde estamos indo? – Perguntei me virando pra ela que mantinha os olhos fixo na direção.

 

-Calma que jaja a gente chega. – Conversamos sobre músicas, sobre outros assuntos diversos, quando o carro dela entrou em uma casa que se parecia mais com uma igreja. – Chegamos, vem que vou te apresentar meu esconderijo.

 

    O lugar era um orfanato e Julia era famosa por lá, as irmãs vieram abraça-la e as crianças fizeram uma festa  quando notaram a presença dela.

 

-Irmã Tereza, essa é Fernanda, uma amiga minha. – Eu beijei a mão da freira pedindo benção, que me retribuiu me abençoando. – Eu a trouxe pra conhecer as crianças, se a senhora não se importar.

 

-Vocês são muito bem vindas minhas filhas podem ficar à vontade, as crianças amam quando você vem. – Ela parecia feliz com a nossa presença.

 

-Se a senhora não se importar eu trouxe algumas coisas pra fazer um piquenique com as crianças. – Julia abriu a parte de traz do carro e desceu com uma sexta e varias caixas de com alguns lanches.

 

-Elas vão amar vocês podem ir até lá. Eu tenho alguns afazeres e mais tarde me junto a vocês. – A freira nos deixou e eu estava simplesmente encantada com tudo, com a atitude de Julia, com o lugar, com tudo tudo.

 

-E ai? Gostou da surpresa? – Ela me perguntou enquanto descíamos o resto das coisas do carro.

 

-Eu amei, que lugar lindo Julia. – Eu realmente estava surpresa. – Você não existe sabia?

 

-Vem vou te apresentar as crianças. – Ela me puxou pela mão e senti uma corrente elétrica com o nosso toque. – Depois a gente busca as coisas.

 

    As crianças eram apaixonantes, todas elas me receberam muito bem. Ganhei vários abraços e alguns beijinhos. Julia sabia o nome de todas elas, pareciam que se conheciam há anos.  

 

-Tia Ju, hoje queremos que a Tia Fernanda conte uma historia. – Um garotinho a puxou pelas pernas.

 

-Vamos perguntar se ela topa Gui? – Ela me olhou pedindo resposta. – Tia Fê, você aceita contar uma historia pra nós?

 

     Meu coração estava tão quentinho com aquela cena, Julia tinha tanto amor pelas crianças e dava pra ver que era reciproco. Contei não só uma, mas varias historias pra eles, brincamos de vários tipos de brincadeira, coisa que eu não fazia desde pequena. Depois do piquenique foi difícil se despedir dos pequenos, prometemos que em breve voltaríamos e elas amaram a ideia. No caminho pra casa ficamos em silencio, mas era um silencio bom, estava um pouco cansada e imagino que ela também estava.

 

-Você ainda vai sair com o paspalho do Marcos? – Ela quebrou o silencio.

 

-Nossa, acredita que nem lembrava mais. – Não lembrava mesmo. – Acho que darei uma passadinha por lá não vou demorar, pois estou cansada do dia de hoje.

 

-Entendi! – Ela não disse mais nada, e logo estava encostando o carro na porta do meu prédio.

 

-Obrigada pelo dia de Hoje Julia, nunca me diverti tanto. – Ela deu aquele sorriso que eu gosto. – Estou apaixonada pelas crianças.

 

-E nós por você, e... err digo elas. – Ela se enrolou e me fez rir. – Obrigada por me acompanhar, visitar elas é como se eu tomasse uma injeção de animo.

 

-Estou me sentindo da mesma, obrigada de verdade por me apresentar mais um refugio seu. – Sorri pra ela que ficou tímida por uns minutos.

 

-Acho melhor você ir, se não vai se atrasar pro seu encontro. – Ela cortou o assunto. – juízo tá?

 

-Pode deixar senhora. – Bati continência pra ela e fui a sua direção puxando pra um abração seguido de um beijo na bochecha. – Te vejo depois, e obrigada mais uma vez. –Ela piscou pra mim e foi embora.  

 

    Já era quase Nove da noite quando Marcos me avisou que estava me esperando na porta do meu prédio, ele se ofereceu pra vir me buscar e eu não recusei a carona. Como era um bar e estava fazendo um pouco de calor, vesti uma calça jeans e um cropped branco, optei por um vans e maquiagem leve porem bem feita. Estava me sentindo linda, meus olhos quase verdes estavam destacados pela make, peguei minha bolsa e desci.

 

-Uau, você está maravilhosa. – Marcos me deu um beijo na bochecha e abriu a porta do carro pra mim.

 

     Agradeci e fomos pro tal bar, Marcos tinha um papo legal ele também estava muito bonito, conversamos algumas coisas, porem meu pensamento estava em outro lugar. Chegamos ao local e tinha alguns amigos dele, me apresentou todo mundo e disse que só faltava a irmã chegar. Não ia beber muito, pedi um Gin e fiquei apenas observando o assunto deles, Marcos era bem atencioso comigo e em alguns momentos ele passava o braço pela minha cintura.

 

-Oi oi gente, desculpe o atraso maninho, uber no feriado é mais solicitado que seguro desemprego. – Levantei o olhar pra ver quem era a dona da voz que eu achei familiar. – Fernanda? Que surpresa!

 

-Elis? Que coincidência.

Fim do capítulo