Primeira parte...
Capitulo 37:O acidente (Laura)
Após formada, Ana tornou-se voluntária muito mais presente na parte jurídica no comitê GLBTT de Belém. Atuando na linha de frente, nos casos de descriminação da classe glbtt. Todos os anos, era realizado uma conferência com todos os grupos glbtt do Brasil, para debater sobre os assuntos referentes a causa. Sua realização, acontecia cada ano em uma cidade diferente. Neste ano, seria em Brasília.
-Amor, não posso lhe acompanhar até Brasília...estou cheia de projetos para analisar...assessorias para prestar...enfim...fica para a próxima
-Complicado ter que dividir a minha mulher com seu trabalho!- sua voz era de quem estava contrariada
-Hei...estarei esperando por você...de braços abertos!-abracei Ana por trás, já que ela estava lavando louças...
-Será que um dia terei você só para mim, Laura?! falou se viram e me encarando. saiu do meu abraço!
-Mais eu sou sua, Ana!
-Sabe quando eu sinto você verdadeiramente minha?! desculpa se vou parecer grossa.. Mais é apenas na cama!
-Eu...eu...fiquei sem palavras diante das palavras de Ana...foi um soco no estômago Ana enxugou as mãos e antes de ir para o quarto...
-As vezes me sinto como a outra nesta relação! seu trabalho, está sempre em primeiro lugar! Tenho que me contentar com as migalhas e estou cansada Laura!..eu te amo, mas para tudo tem um limite e estou no meu...até o amor deve ser dosado!
-Ana... -Não fala nada, quanto mais você tenta se explicar, menos consegue!
Ana se dirigiu para nosso quarto. Fiquei andando pela sala as palavras dela, caíram feito um punhal em meu peito, entretanto sabia que minha mulher estava coberta de razão. Não suportaria perder Ana, era completamente apaixonada por ela. Não queria de forma alguma aprender a viver sem minha Ana. Ela era minha vida! Aquela não era a primeira briga que tivemos e o pior que pelo mesmo motivo.
Fui até a porta do nosso quarto e vi Ana lendo alguma coisa no notebook. Estava tão centrada, que nem percebeu minha aproximação. Ela conseguia ficar mais linda, mesmo brava, sua beleza aumentava a cada dia- pensei. Bati de leve na porta, tirando a concentração dela, que apenas me olhou de relance.
-Podemos conversar, Ana?
-Conversar?-suspirou fundo...sabia que quando ela respirava fundo, era um mal presságio...
-Sei que nada do que falar vai adiantar, como você mesma falou a pouco..Mas me dê a chance de falar...enquanto falava, andava em direção a cama onde minha mulher estava...
-Esta bem, irei lhe ouvir!- falou desligando o notebook e retirando os óculos...
-Você é o amor da minha vida, sei que tenho sido relapça com você, com nossa relação, que mal conversamos nos últimos tempos, admito meu erro. Mas peço desculpa, sou um ser humano de carne e osso. Com você, pela primeira vez quis fazer tudo diferente, pela primeira vez quis e quero constituir uma família. Não vejo a hora de ficarmos grávidas, seu sonho é também meu sonho! -Você sempre me cortou quando fazia planos de engravidar, por que mudou tão rápido de opinião?
-Mudei por que eu te amo, Ana. Você é o que tenho de mais importante, es meu tesouro, meu bem mais precioso! Prometo, que a partir deste momento, mudarei. Esta será a última vez, que me ausentarei da sua vida. Prometo ser mais presente-falei pegando nas mão de Ana e beijando-as. Nosso amor, foi feito para durar!não deixarei que você, passe como areia por entre meus dedos escorrendo sem que eu nada possa fazer...você é o que de melhor já me aconteceu!
Ana sentiu sinceridade em minhas palavras. Depositou o notebook em cima da mesa de cabeceira, se aproximou de mim. O que me fez fechar os olhos. Com as pontas dos dedos, Ana começou a percorrer minha face, como se quisesse gravar cada marca, cada detalhe do meu rosto. Aos poucos, foi se aproximando de mim de forma suave e começamos a nos beijar. Um beijo sem pressa, calmo. Estranhamente, como um sabor de despedida.
Despedida?!-este foi meu pensamento, senti um frio na espinha. Nos entregamos ao desejo que nos consumia. Aos poucos, nossas roupas foram sendo retiradas. Cada peça retirada, era como se estivéssemos descobrindo o corpo uma da outra. Tudo muito metódico, muito intenso. Aos poucos, nossos corpos foram se encaixando. Nosso sex*, pulsava de desejo. Pressa, era uma palavra proibida naquele momento. Nosso desejo, era fazer amor e não sex*. Queríamos sentir os 5 sentidos uma da outra: bocas, olhares, olfato, paladar, audição. Naquele momento, o mundo poderia acabar, que certamente, morreríamos felizes. Estávamos em total sintonia, estávamos nos braços uma da outra. Nos possibilitando, sermos apenas uma pessoa, um único coração, uma única razão para viver. Um único sentimento nos unia, fizemos amor inúmeras vezes. Quanto mais nos sentíamos, mas queríamos. Vencidas pelo cansaço adormecemos abraçadas.
Durante a madrugada um pesadelo insistia em me assombrar e nele estava Ana morta. -Amor, acorda... -Só mais 5 minutos...e virei para o outro lado...
-Conheço você! nada de 5 minutos...você não vai me levar aos menos no aeroporto?
-Por favor, não vai!- mudei de posição e estava de frente para Ana
-Dei minha palavra, Laura...passagens e hospedagem já foram confirmadas!
-Tive um pesadelo e nele...parei de falar...
-Nele o que, amor?
-Perdia você para sempre!- falei com os olhos cheios de lágrimas... -Lembra dos nosso votos, no dia do casamento? -De que você estaria sempre comigo! . falei entre as lág
rima que começavam a rolar pelo meu rosto - e ainda digo mais, haja o que houver você mora no meu coração, fiz dele sua morada...falou apontando para o lado esquerdo do peito!
A chamei para um abraço. Chorei nos ombros de Ana, ela todo tempo, tentava fazer me fazer esquecer o tal pesado. Fomos juntas para o banho, não aconteceu nada. Nos vestimos e não trocamos uma só palavra. Enquanto Ana colocava em sua pasta todos os documentos necessários de longe sentia seus olhares em mim.
Não parava de pensar no pesadelo que me atormentou a noite toda. Será que era algum tipo de aviso? - pensei. Estava tão perdida, que não prestei atenção quando Ana abraçou me pela cintura
-Vamos amor?! não quero pegar trânsito...falou baixinho
-Claro- falei sem nenhuma animação no meu tom de voz
Durante todo o percurso, as mãos de Ana ficaram nas minhas coxas, não com a intenção de me provocar, acho que foi a forma que ela encontrou de me passar segurança, de que voltaria o quanto antes para mim. Nunca pensei em ter filho, apesar de ter condições financeiras, ajudar a construir o caráter de uma pessoa é muita responsabilidade, diferente do que muitos pais acham que a responsabilidade esta em pagar as contas dos filhos. Se um dia, fosse mãe queria participar de tudo na vida do meu filho/filha...e Ana adorava crianças. Quando saíamos, ela se deparava com alguma criança, era amor a primeira vista. Confesso que muitas vezes que ela puxava assunto sobre ter filhos, inventava uma desculpa e mudava de assunto. Mas os anos estavam se passando para nós e se ela queria muito ter filhos, seu sonho também seria meu sonho. Decidimos, que quando ela voltasse da viagem, iríamos ter uma conversa séria sobre o assunto e procurar uma especialista em fertilização. Uma coisa não abriria mão, nada de engravidar pelos métodos normais! apenas eu poderia tocar na minha mulher!
Chegamos no aeroporto, coloquei suas bagagens no carrinho. Caminhamos até o balcão para conferir o vôo, fazer o checkout. Decidimos tomar um cappuccino e conversamos sobre banalidades, fizemos juras de amor eterno, até que ouvimos a chamada para o vôo de Ana. Caminhamos até o portão de embarque de mãos dadas, antes de Ana seguir, nos abraçamos. Ela falou bem baixinho, para que apenas eu pudesse ouvir
-Eu...amo...você...te amei, no passado...te amo, no presente...e vou te amar, eternamente...não esquece...nunca lhe falei isso, mas você foi e sempre será o meu único e grande amor!
Nada consegui dizer ao ouvir aquela declaração. Novamente, chorei nos seus braços, a apertei forte, queria que ela ficasse comigo. Estava tomada por um mal presságio. Nos despedimos e algo dentro de mim, avisava que aquela seria a última vez que iria vê os olhos pelos quais me encantou em um domingo de sol no autódromo. Antes de sumir, Ana desenhou no ar um coração, mandando logo em seguida um beijo para mim e dizendo me amar!
De longe, vi o avião que estava minha esposa levantando vôo. Rezei bem baixinho, para que o que estava sentindo não se concretizasse. Retornei para casa, pois estava com o coração apertado. Liguei para Gustavo e relatei o pesadelo que tive com Ana, meu amigo tentou de todas das formas me fazer esquecer. Mas algo em meu íntimo, me levava a crê que minha vida terminaria ali. sim, minha vida, pois Ana era minha vida. Tentei tomar um chá na tentativa de dormir, só que de nada adiantou. A tarde, teria umas obras para visitar e estava sem cabeça. Não conseguia me concentrar em nada. Meus pensamentos todos estavam voltados para Ana.
Decidi ir mais cedo para empresa, lá tentaria prender minha atenção em alguma coisa, depois seguiria para as obras. No meio do caminho, sentiu uma pontada no peito. Freei bruscamente o carro, rodopiando na pista. Por muito pouco, não provoquei um acidente. Sabia que estava errada, ouvi calada um monte de desaforos de dois motoristas. Entreguei-lhes meu cartão, para cada um, para que mandasse verificar seus carros e casos fosse necessário a troca de algum peça, seria da minha responsabilidade. Estava com a cabeça no mundo da lua.
Fiquei sem cabeça para dirigir, liguei para Gustavo que estava na empresa que viesse ao meu encontro. Relatei a ele em detalhes, o ocorrido acontecido. Gustavo percebeu, o quanto não estava bem. Com a fisionomia abatida, chegamos na empresa. O hall estava uma tremenda confusão, quando nos viram adentrar no recinto, todos ficaram mudos. Um terrível e tenebroso silêncio se fez, não entendi nada, apesar de ter estranhado aquele comportamento, não liguei. Abriram caminho para que pudéssemos passar e entrar no elevador. A parte da diretoria, ficava no último andar. Estava abrindo a porta da minha sala, quando ouço vozes, achei estranho.
-Laura?!
-Nunca me viu, Roberto?!- que cara de espanto é essa?!
Na sala estava Roberto e Júlia. Fui acompanhada pelos dois,um de cada lado, me para que sentasse no sofá. Percebi que eles ficaram se olhando, como se procurassem as palavras certas.
-Amiga...você precisa ser forte!
-Que papo é esse?...o que houve?
-Acabaram de dar uma notícia de última hora no jornal...
Lembrei da pontada que senti no peito, no caminho para a empresa, tudo começava a fazer sentido.
-O que aconteceu com a minha mulher?- estava visivelmente transtornada...
-Amiga...houve um acidente com o avião que ela estava...meia hora depois da decolagem...
-Não pode ser!...vocês estam brincando comigo?..só pode!.estava tão nervosa que não sabia se ria ou se chorava...
Comecei andar de um lado para outro na sala, com as mãos a percorrerem meus cabelos em sinal de desespero. Júlia e Roberto tentaram se aproximar de mim, tentaram me abraçarem, os evitei.
-Eu...eu...vou para o aeroporto...de repente não foi com o avião que ela estava...
Júlia e Roberto apenas se olharam.
-Laura, minha irmã, na reportagem ficou bem claro que o acidente foi com o avião em que Ana estava!- não gostaria de ser portador desta terrível notícia
Eles decidiram ir comigo para o aeroporto, não estava com cabeça para negar nada. No aeroporto, o caos estava instalado.
Ninguém dava informação nenhuma. Noticias desencontradas, pessoas em busca de seus parentes. Logo ao chegamos, encontramos Dr.Elson, Fábio e dona Inês. Fábio quando me viu, correu para abraçar me, nada falamos, apenas choramos juntos dentro daquele abraço. Nossa dor era a mesma.Dr.Elson se aproximou de nós e nos abraçou.
-o avião do acidente não foi o que Ana estava não é? ainda estava abraçada a Fábio
-Laura, infelizmente tudo indica que sim, entretanto, ainda não foi divulgada a lista dos passageiros!..
-Como viverei sem a Ana? meu rosto estava banhado pelas lágrimas...
Pedir para que Fábio, Dr.Elson, Gustavo, Júlia, ligassem para o celular de Ana e só dava fora de área, não estava acreditando que, perdir o amor da minha vida. Não deixamos o saguão do aeroporto, por muito pouco não fui presa por ter desacatado um policial. Estava incontrolável, até que por volta das 19: 00 hrs, a lista com os nome dos passageiros foi divulgada. Familiares e amigos foram acomodados em uma sala da companhia aérea, a cada nome que era pronunciado, o desespero tornava-se evidente. Até que infelizmente o nome de Ana foi divulgado. sim, ela era uma das 100 passageiras que estavam no vôo 1439.
Ao ouvir o nome da minha mulher, desmaiei. Recordei os sentimentos, alguns minutos depois, nos braços de Júlia junto a confirmação fatídica da morte de Ana. Dr.Elson tentou ser forte o tempo todo, tomou a frente da situação. Todos os proclames para o velório, foram tomados por ele. Em função, estado do corpo de Ana, a caixão foi lacrado. Uma pane em uma das turbinas fez o avião pegar fogo ainda em vôo, consequentemente explodiu. Quando chegou ao chão, praticamente não sobrava nada dele. O IML divulgou que, como Ana ficou sentada no fundo do avião, seu corpo ficou parcialmente queimado. Mas não a ponto de resistir.
O corpo de Ana foi preparado, para que pudesse ser velado por todos seus amigos e familiares. Depois que voltei do desmaio, sumi. Peguei meu carro e dirigi sem rumo. Queria me livrar da dor que me consumia, desliguei o celular. Quando enfim liguei meu celular, uma mensagem de voz de Gustavo, informando onde e o horário do sepultamento de Ana. Ela foi sepultada em uma manhã chuvosa, onde as gotas das chuvas mais pareciam as lágrimas de todos aqueles que a amaram em vida. Q família dela, era católica e foi no meio do sermão do padre que cheguei ou o que restou de mim.
Estava em frangalhos, não apenas por fora. De longe, Gustavo me chamou e lógico que chamou a atenção das pessoas que estavam a seu lado. Estava usando, uma capa de chuva, mas esta não me protegia em nada, estava completamente molhada. Meus olhos, estavam sem vida, sem brilho. Lentamente, me aproximei do caixão onde estava o corpo da minha esposa. Em cima, estava uma foto de Ana sorrindo. Lembrei da cena em que Ana desenhou no ar um coração, antes do embarque. Debrucei me sobre o caixão e comecei a chorar, em total desespero.
-Você prometeu nunca me deixar!- gritei repetidas vezes...como viverei sem você?!
Todos que participavam do velório, estranharam que sua mãe não derramou nenhuma lágrima pela filha. Dona Inês, vendo a cena que fazia, se aproximou de mim.
-Roubastes minha filha de mim! trouxestes a discórdia para meu lar! se não tivesses levando minha filha para o mal caminho com isso...isso...nem sei que termo devo usar...ela estaria aqui...hoje...viva...coorompestes a minha Ana! és a culpada pela morte dela, sua...sua...
Apesar do estado em que estava, ouviu palavra por palavra que a mãe de Ana proferiu. Levantei a cabeça e fiquei olhando para ela. Caminhei em si direção.
-Sua o que? Fala! O que não faltará, será testemunhas! tua filha me amava! Assim, como eu a amava e vou amar por toda a minha vida.
Apertei seus braços e a fiz olhar para mim.
-O nosso amor nunca será esquecido, ela marcou minha vida para sempre. Saiba, por muitas vezes chorou por não aceita-las e fui eu quem dei apoio a ela em todas as horas, diferente do que pensas, eu a fiz feliz como ela também me fez muito feliz, Lava a boca antes de falar o nome da MINHA MULHER...dei ênfase ao “minha mulher”...
-Sua insolente, me solta!...conseguiu se desvencilhar...ia levantar a mão para me dar um tapa, mas Dr.Elson a segurou...
-Nossa filha amou muito Laura...ela está sofrendo tanto quanto nós estamos...seje humana e respeite o sofrimento dela...pelo menos uma vez Inês!
Antes de voltar para o local onde estavam sentados e levando com ele a insuportável da sua mulher, Dr, Elson não tomou uma atitude, que não esperava
-Tome Laura, ela lhe pertence!...entregou a aliança que Ana usava para mim
-Obrigado- foi o que consegui pronunciar
Dr.Elson, puxou me para um abraço...
-Perdi uma filha, mas ganhei outra quando vocês se casaram!
O abraçei. Queria que aquela dor que me consumia passasse. Agradecei pelo ato de te entregue a aliança.
Antes de me retirar, peguei uma rosa, beijei-a e a depositei em cima do caixão.
-Sempre te amarei, te amarei...nem o tempo, nem a distância, poderam nos afastar! A morte não vai nos separar, um dia, iremos nos reencontrar!
Me retirei sem olhar para atrás. Parte de mim, estava dentro daquele caixão.
Fim do capítulo
Oi meninas...
Tdo bem com vcs?
Estam se cuidando? Espero q sim..
Bjs
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