Capitulo 33
Sentamos no sofá e Ive deitou a cabeça no meu colo. Afagava seus cabelos e pensava no coquetel de lançamento logo mais a noite. Ive precisava passar na obra, então combinamos de irmos as duas e eu a deixaria lá. Por fim passaria mais uma última vez no centro de convenções para ver como estavam os preparativos.
Sartori e eu havíamos decidido por fazer esse coquetel em um galpão no centro da cidade, mas o ambiente era tão escuro que acabei por desistir. Havia outros tantos lugares e então pensei: porque não fazer na própria sala de convenções de onde trabalhávamos, que era adjacente ao hall de entrada? Projetamos também para ser um lugar de exposições ou eventos especiais.
Redecorei todo o espaço, retirei os sofás, cortinas, abajures e redirecionei a iluminação para os pontos mais importantes. Repassava, ponto a ponto, algumas pequenas mudanças que ainda queria fazer, enquanto me dirigia para lá. Estava tudo a correr perfeitamente bem. Estacionei o carro de frente ao prédio e desci. Alguns funcionários do buffet ainda estavam lá, cobrindo as últimas mesas que faltavam. Olhei para o relógio de pulso e faltava pouco mais de cinco horas para o início do evento. Fui até a maquete e olhei cuidadosamente em volta, por todos os lados, acidentes acontecem, mas estava perfeita! Percorri as janelas e testei as novas cortinas, puxando para um lado e depois para o outro. Lembrei do sonho que havia tido com minha mãe, onde além de conhecer Rui ela o apresentava a mim e juro que um arrepio me percorreu a nuca fazendo com que eu levantasse a mão até lá. Olhei para os lados, fiz o sinal da cruz e voltei a olhar na direção da maquete, com um sorriso nos lábios.
- Foi apenas um sonho Giulia... – disse baixinho tentando afastar aquele pensamento.
Ive iria para o cabeleireiro depois de sair da obra, de lá buscaria o seu vestido. Disse que não queria que eu a visse antes de estar pronta e eu prometi não fazê-lo. Pedi a dois dos nossos motoristas que ficassem de prontidão, inteiramente por nossa conta e que nos fosse buscar assim que fosse necessário. Precisava me arrumar também e passei pela porta giratória uma hora depois de chegar. Deixei o meu carro no estacionamento do prédio e pedi que um motorista me levasse até o salão.
Dani já me esperava do lado de fora e parecia mais nervoso que eu. Sai do carro sorrindo para ele.
- Mulher isso é hora de chegar? – disse me abraçando.
- Desculpa Dani! Eu precisava fazer uma coisinha antes. – sorri.
- Dani vai estar muito ocupado...?
- Depois de você?
Disse entrando pela porta e eu o acompanhei.
- Sim...
- Não cherrí vai precisar de mim, é isso?
- Por favor, poderia?
- O que eu não faço por você mon cher.
- Obrigada!
- Vamos ficar fa-bu-lo-sas! - e soltou uma gargalhada.
Liguei para Ive e quis saber por onde ela andava. Estava louca para vê-la. Disse que havia se atrasado por causa de um contratempo, mas que estava fazendo as unhas agora.
Havia pedido algo diferente nos cabelos e deixei por conta do Dani e quando me mostrou com um espelho de como estava, abri um sorriso. Estava lindo! Enquanto isso uma menina me maquiava e pedi algo bem marcante.
- Amei! Ficou maravilhoso!
- Era assim que você imaginava?
- Exatamente... ficou lindo! – disse olhando atrás pelo espelho.
- Meninas!! Dani gritou.... fui! Não me demoro. – disse saindo comigo.
Já havia marcado previamente com o motorista de me buscar ali às 17h15min e logo ele encostou. Ignácio saiu e contornou o carro abrindo a porta de trás do Audi sedan preto para a gente.
- Boa tarde Ignácio, tudo bem?
- Sim Srta. Vem Dani!
E entramos.
- O que dizer cherrí! Você arrasa!
- Para onde vamos Srta? – disse olhando pelo retrovisor.
- Para o meu apartamento, por favor.
Chegamos vinte minutos depois, atravessando o hall até os elevadores. Abri a porta e corri para o quarto.
- Que isso? Está de mudança?
- Dani vem... Depois te explico, são só caixas vazias. - e o peguei pela mão com um sorriso no rosto. – Me ajude a vestir!
Com cuidado Dani ajeitou as alças. Nunca vesti algo tão justo e nem tão cavado.
- Cherrí está divina!
E olhei no espelho.
- Perfeito... - sorri.
Para essa noite em especial escolhi um vestido de tecido bem leve de cor vermelho com um decote em V, com alças. Calçava uma sandália de salto fino perolada. Os cabelos estavam na cintura, completamente lisos.
- Mon cher... nunca te vi assim, com tanta vida e brilho!
- Obrigada! O seu trabalho foi maravilhoso! Agora se apresse!
- Até daqui a pouco então... deusa!
- Ah o Ignácio te levará para onde quiser. - e sorri.
Dani jogou um beijo no ar e saiu apressado. Eu estava começando a ficar ansiosa. Sentia-me como uma adolescente que apresentaria um trabalho de pesquisa pela primeira vez. Fui para o escritório, acendi a luz e abri um pouco a janela. Depois fui até a escrivaninha e peguei a minha agenda, sentando-me na beirada da cama. Folheei e peguei a fotografia da minha mãe. Ela me parecia feliz. Eu estava me sentindo leve, completa e realizada.
Ela sentiria muito orgulho de mim esta noite.
Olhava para fora da janela e logo estaria com Ive novamente. Eu já sentia falta dela, de ouvir sua risada, de estar em sua presença. Olhei para a foto de minha mãe mais uma vez e a guardei dentro da bolsa. Entrei no elevador e sai para o hall à espera do motorista. Eram 18h30 quando o Audi estacionou. As luzes dos postes começavam a se acender e eu estava um pouco atrasada. Ive ainda não havia ligado.
- Desculpe pelo atraso, Srta.
- Tudo bem. – disse entrando com cuidado.
E ele deu partida, saindo lentamente.
- E a sua amiga? – disse olhando pelo retrovisor.
- Estou esperando que me ligue.
Na verdade eu não fazia idéia de onde ela poderia estar. Ive decidiu ir sozinha por ainda não termos assumido a nossa relação perante aos mais íntimos, mais por minha causa, já que nunca havia me relacionado com outra mulher, ou melhor, me assumido lésbica e vi o sorriso da Mel ao fechar os olhos. Ive não achou o momento apropriado para fazer isso.
Sentia um frio na espinha a me percorrer todo o corpo, a cada minuto que olhava para o relógio. Estava a algumas quadras do prédio. Tentei me distrair pensando em qualquer outra coisa, mas não consegui. Algumas pessoas começavam a chegar. Havia algumas poucas vagas ali perto. Paramos de frente a entrada e desci olhando para a fachada. Sartori já havia chegado e fiquei aliviada por isso. A nossa conversa não tinha sido nem um pouco animadora. Havia contratado fotógrafos, mas outros fotógrafos da imprensa, de revistas e jornais, também estariam presentes e um deles veio até mim. Cumprimentou-me e pediu que eu sorrisse. A luz do flash atraiu olhares curiosos e os que estavam ali dentro, vieram para fora. Olhei para Sartori e ele piscou para mim. Todos me vieram cumprimentar e parabenizar. Agradeci a todos por terem vindo e entrei. Yoko olhava para a maquete e sorriu ao ver-me.
- Deixei o meu projeto em boas mãos! Você é muito perfeccionista! - e beijou-me a face.
- Ive não veio com você?
- Não. - sorri. – Nos perdemos.
- Parabéns pelo projeto Giulia. Está lindo!
- Obrigada! – sorri pedindo licença.
E fui até Sartori.
- Você está belíssima, nem parece a minha filha! - sorriu levantando a taça com champanhe e abraçou-me.
Não sei por qual razão, mas isso me fez lembrar a minha mãe.
- Obrigada!
- Realmente você está linda! E a moça? Não vieram juntas?
- Nos desencontramos. - e olhei para a porta de entrada e depois para o relógio. Eram 18h40 e nenhum sinal de Ive.
Mais convidados chegavam e o salão começou a ganhar vida, sorrisos e magia. O meu nervosismo havia passado. Estava em meio a pessoas conhecidas e amigos. Tudo corria bem e alguém me segurou pelo braço.
- Você está maravilhosa...
E virei-me na direção da voz familiar.
- Obrigada Rui... - e olhei em seus olhos.
E ele aproximou-se do meu ouvido.
- Esse decote me deixa de um jeito... - sussurrou.
- Hoje não Rui... Por favor! - e dei as costas para ele saindo de perto.
Encaminhei para uma mesa vazia e sentei por um segundo. Um garçom se aproximou e ofereceu-me champanhe, mas recusei e pedi whisky.
Um fotógrafo foi até a porta e despejou flashes seguidos em um casal que não consegui identificar de onde eu estava.
- Srta... - o garçom chamou.
- Ah desculpe! - e estendeu-me o copo com whisky, sorvi um gole e depositei sobre o guardanapo.
E ouvi alguém dizer: “ela está sentada em uma mesa bem ali”. Era a voz do garçom que acabara de me servir. Sorrisos e músicas se misturavam. Decidi por me levantar e sair dali abrindo passagem por entre os convidados. O casal que havia visto na entrada estava a uns metros de mim e eu parei para observar. Ele usava um smoking e ela usava uma calça de linho azul com uma blusa branca transparente de mangas curtas e calçava um scarpin salto flare pulseira e olhava para os lados. De repente ela deu um passo para direita e virou-se para mim. Meus olhos se encheram de lágrimas e abri um sorriso. Era Ive! O rapaz que estava com ela era Ian.
- Parece um anjo! O meu anjo... – sorri, não conseguindo tirar os olhos dela.
Foram as únicas palavras que eu consegui expressar.
E Ive sorriu ao me ver.
- Vai lá Ive! Vai ficar aí parada? – Ian sorriu a empurrando pela cintura.
E eu tinha diante de mim a mulher mais linda e delicada. Ela havia cortado o cabelo. Estavam presos no alto e o tom do preto parecia mais acentuado.
- Giulia desculpa... - e abraçou-me. Senti o seu perfume amadeirado e fechei meus olhos para guardar todas aquelas sensações dentro de mim.
- Você está maravilhosa! - sussurrou. Queria beijá-la aqui mesmo e dizer o quanto me orgulho, o quanto a amo.
- Obrigada... - e limpei uma lágrima.
- Não chore... a sua maquiagem...
Entreolhamos-nos e um flash me trouxe para a realidade. Ian me cumprimentou e pediu desculpa por Belinda não ter podido ir por causa do bebê.
O salão estava repleto de pessoas e eu não imaginei que seria assim. Sorria e posava para os fotógrafos a todo instante. Segurei Ive pela mão e sentei-me com ela em uma das mesas. Ela estava linda parecia uma menina de vinte quatro anos e ela soltou uma gargalhada quando disse isso para ela.
- E o que dizer de você com esses olhos claros... e esse ruivo? Você tem brilho próprio! - e ela não parava de me olhar.
- Vem comigo? Preciso fazer algo.
E seguimos para o banheiro. Não havia ninguém ali. Olhei-me no espelho e depois para Ive.
- O que? - e Ive sorriu para mim.
- Preciso retocar meu batom... - e a levei de encontro à parede beijando-a avidamente.
E ela passou a mão pela minha nuca aprofundando o beijo. A ergui no colo sentando em cima do mármore branco e ela passou uma das pernas pela minha cintura. De repente, um estampido seco da porta batendo nos fez olhar ao mesmo tempo naquela direção. Alguém havia entrado e provavelmente nos tinha visto. Abri a porta e olhei para todos os lados. Não tinha como saber quem era. Retocamos o batom e saímos. Procurei Sartori e fomos até ele.
- Sartori...
E ele virou-se para mim.
- Sim..
- Essa é Ive de quem lhe falei. – mordi os lábios.
- Como vai? Giulia falou muito bem de você.
- Que bom. Estou bem obrigada. É um prazer em conhecê-lo. – disse apertando a mão do meu pai.
- O seu coquetel é um sucesso Giulia. – sorriu olhando ao redor.
E Rui se aproximou de nós.
- Olá como vai? – e Rui estendeu a mão para Ive, mas ela não se mexeu.
- Estou bem...
- Esse é Rui, Ive.
- Ive Rui. – disse não olhando para ele.
- Prazer conhecê-lo.
Finalmente, ela deve ter pensado.
Peguei uma taça de champanhe para nós duas e nos afastamos.
- Será que foi ele quem nos viu?
- No banheiro? – disse bebendo um gole.
- Você viu a cara dele?
- Se foi, brevemente iremos descobrir. Ele é um nojento Ive!
E vi Sartori erguendo a taça.
- O que ele vai fazer? – disse baixinho.
- Eu quero a atenção de todos!
Ele dava inicio a minha apresentação do projeto.
- Sei que muitos de vocês vão olhar para mim e dizer: ah isso é cambalacho! Filho de Sartori é sucesso na certa! Olha... pode até ser!
E todos sorriram e ele olhou diretamente para mim.
- Há um tempo atrás eu tive um sonho. Vi minha filha se formando, batalhando por um espaço só seu. Ela não precisou da minha ajuda para estar aqui porque sempre conquistou seja lá o que fosse. Sempre foi muito determinada e muito corajosa. Todos vocês estão aqui hoje para comprovar isso. Ela brilha por si só! Agradeço a todos pela presença!
E todos aplaudiram olhando para mim.
- Giulia! – disse parecendo orgulhoso.
Aquilo me pegou de surpresa eu estava muito emocionada e Ive me acompanhou até lá.
- Agradeço tudo o que Sartori fez por mim. Foi em quem mais me espelhei na minha vida e se hoje estou aqui... – e todos aplaudiram. Ele sempre foi uma inspiração para mim.
- Bem... obrigada por cada um de vocês. Podem ter certeza que direta ou indiretamente vocês de alguma forma contribuíram para eu estar aqui hoje. Apresento para todos, um dos meus principais projetos arquitetônicos: “Condomínio Piazza delle Acque”.
Dei um passo para trás e todas as luzes se apagaram focando diretamente sobre a maquete. Todos aplaudiam, outros assobiavam e pensei na minha mãe.
- Essa é uma apresentação de slides com mais detalhes dos cinco edifícios, de seus interiores, paisagismo e toda parte infra-estruturar. Apreciem!
Toda a apresentação somava em torno de uns vinte minutos.
- Agradeço em especial a todos da minha equipe, engenheiros, paisagistas, parceiros da mão de obra, Sartori, Ive... sem vocês não teria sido possível... obrigada! Tenham uma noite agradável! E mais aplausos invadiram o ambiente.
Ive me esperava com os braços abertos e era ali que eu sempre me reencontrava.
- Amo você... - Ive sussurrou. – Você foi maravilhosa.
E beijou-me perto dos lábios.
Fim do capítulo
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