Boa leitura a todos e espero que estejam gostando!
Memórias
"E a coisa que me irrita
é que realmente você nunca compreenderá
E a coisa que me assusta
é que eu sempre estarei em dúvida
É algo amável o que nós temos
é algo amável o que nós
É algo amável, o animal, o instinto animal"
~***~
Se na adolescência perguntassem se Perseu Jackson faria parte do legado da tradicional família ninguém poderia afirmar com certeza, contudo a maioria de seus familiares afirmaria que não, afinal um jovem relapso que não tinha boas notas, matava aula para passar o dia andando de skate, fumando e bebendo vinho barato... Não era exatamente o que se esperava do comportamento impecável de um Jackson. Por mais que sua mãe se empenhasse em procurar por escolas que fossem mais maleáveis seu primogênito tinha sérias dificuldades com a sua dislexia e claro, arrumar problemas parecia ser um verdadeiro dom para o seu menino.
A infância não fora das melhores graças à criação rígida e nada fraternal por parte de seu pai, Percy sempre foi o lado frágil daquele instável núcleo familiar enquanto Clarisse fazia-se de forte e manteve-se mais dura para poder proteger aos dois, mesmo que o garoto fosse dois anos mais velho que ela. Clarisse e Percy eram irmãos apenas por parte de pai, tinham todo um histórico familiar problemático que seria o suficiente para tornar o relacionamento entre os dois péssimo, porém o que aconteceu foi surpreendentemente ao contrário.
Como tudo havia começado? Obviamente que com Ares, afinal se não fosse por ele talvez essa trama de laços confusos, entretanto bem consolidados, não existiria. O moreno era belo como um demônio, sorriso presunçoso e apesar de cultivar uma postura severa e séria por ser um militar se tinha uma coisa que Ares era e nunca mudaria com o tempo seria o fato de ser "mulherengo". Desde muito cedo se envolvera com a bela e envolvente Eva La Rue, porém nunca chegaram a assumir um relacionamento sério, viviam sempre de idas e vindas como, como cão e gato, contudo quando o homem conheceu a herdeira mais nova da família Jackson era de se esperar que Eva fosse deixada de lado e mesmo nutrindo fortes sentimentos por Ares a mulher partiu para a França com a notícia de seu casamento.
Por mais improvável que pudesse ser realmente era verdade, Ares e Sally se casaram e possuíam um relacionamento estável apesar das personalidades completamente adversas, enquanto ele era um homem extremamente rígido, Sally era uma mulher doce, espirituosa e que fazia de tudo para conciliar a administração do restaurante com a atual vida de casada e logo em seguida em ser mãe. Contudo Percy tinha sete anos quando a infidelidade do militar fora jogada no colo da Sra. Jackson... Uma filha fora do casamento, uma traição vinda de alguém que se julgava sempre tão conservador. Ares passou dois anos sendo fiel ao seu compromisso, mas não tardou a procurar a Srta. La Rue durante o decorrer dos anos. O relacionamento não estava dos melhores, isso era um fato, porém Sally tentava dar o seu melhor para manter a família unida, contudo uma criança vinda de um relacionamento fora do casamento era algo complicado de se aceitar.
~***~
Clarisse e Annabeth tinham cinco anos quando se conheceram, sua mãe Athena que lhe levara para sua casa quando tudo aconteceu. A autora era pequena para poder lembrar-se de tudo na ocasião, mas com o passar dos anos ela descobrira que naquele dia seu tio Ares havia telefonado, parecia levemente transtornado - algo nada típico de sua personalidade - sua mãe sempre tão calma em suas atitudes também encontrava-se nervosa, os olhos cinzentos se estreitaram enquanto palavras duras lhe foram proferidas pelo telefone... Athena e Ares não eram o melhor exemplo de irmãos, mas Annabeth nunca vira sua mãe discutir com alguém daquela forma, muito menos com o seu tio.
Se escondera de forma sorrateira para poder saber o que estava acontecendo, queria ajudar a sua mãe, queria poder aliviar aquela expressão preocupara no belo rosto da mulher que tanto amava, mas fora descoberta por seu pai. Se fosse Athena com certeza ela estaria escutando algum tipo de sermão naquele momento, mesmo que tivesse pouca idade, mas como se tratava de seu papai ele lhe deu uma advertência em forma de cócegas e lhe pediu para ser mais cuidadosa.
-Vai ser nosso segredinho tudo bem? - disse com o sorriso aberto de sempre enquanto levava a garota em seus braços até o outro cômodo.
Annabeth riu baixinho para que sua mãe não percebesse a pequena travessura e agarrou-se ao seu herói enquanto se deixava ser levada até a sala, para longe dos assuntos adultos.
Não demorou muito para que a Chase mais velha encerra-se a ligação, chamara o seu esposo e trocaram rápidas palavras. A pequena ficaria aos cuidados do seu pai Frederick, enquanto Athena sairia para resolver pendencias familiares... Sua mãe lhe beijara o topo da cabeça como sempre gostava de fazer ao se despedir.
-Tem certeza que não quer que eu vá querida? - perguntou seu esposo em tom levemente preocupado, mesmo que não tentasse transparecer. - não acho seguro que dirija nesse estado.
De fato a mulher não parecia em seu melhor estado de espirito, encontrava-se em um período desgastante na universidade onde ensinava e com todos os problemas que já possuía a bomba que Ares simplesmente despejara por telefone como se fosse nada fora algo pesado demais para processar em tão pouco tempo.
-Não vou demorar, prometo. - tentou confortá-lo selando brevemente os lábios com os do homem e massageando a fronte, não sabia o que fazer e isso lhe deixava transtornada.
O caminho não fora dos mais demorados e o trânsito àquela hora também não se podia dizer que era dos piores. Ares a polícia e os legistas já se encontravam no local quando a professora universitária chegara ao bairro indicado pelo irmão. Athena foi quem tivera alguma atitude para com a criança enquanto o próprio pai estava com os investigadores... Foi difícil escutar o relato pelo telefone, mas constatar com os próprios olhos foi um golpe que nem mesmo a mais segura das mulheres resistiria.
Apesar do olhar amedrontado, os olhos verdes focalizaram a mulher de cabelos negros e olhos cinzas com desconfiança, era pequena, tinha cinco anos assim como sua doce Annabeth, mas estava abraçada ao corpo da mãe como se ninguém fosse capaz de lhe afastar dela... Não sabia a quantas horas havia acontecido, mas Eva La Rue cometera suicídio. A gravidez não esperada, o relacionamento abusivo, a depressão... Era uma mulher linda, mas que sucumbira ao ponto de misturar os antidepressivos com bebida até retirar a própria vida.
-Você é a Clarisse, certo?! - disse com a voz mais branda que conseguia, sentou-se próximo a garota, não muito longe um dos agentes aguardava que ela tivesse alguma sorte. Todos já haviam tentado conversar com a garota, porém sem sucesso. - eu sou Athena Chase, sou sua tia... - deu um pequeno sorriso e tentava agir de forma tranquila.
A pequena tinha o olhar desconfiado e até mesmo frio, lembrava Ares de alguma forma, não tinha como negar que era filha dele, mas os olhos verdes evidenciavam traços pertencentes a sua mãe.
-Você não quer conhecer a minha casa? Eu tenho uma filha da sua idade, o nome dela é Annabeth... Ela é sua prima. - disse de forma dispersa, desviando os olhos da criança e tentando focar em um ponto qualquer. - ela adoraria te conhecer.
Athena continuou a conversar de forma amena até que algum tempo depois a garotinha aceitou, mesmo que ainda desconfiada. Aquilo não era normal... Uma criança tão pequena agir daquela forma, não queria nem pensar no que mais ela poderia ter presenciado em todos aqueles anos.
-Você promete que vai cuidar da minha mamãe? - perguntou de forma insegura, como se temesse que sua mãe se machucasse ainda mais.
-Sim, eu prometo. - afirmou desta vez olhando nos olhos da pequena para que a mesma tivesse certeza de suas intenções.
Ela não conseguiria esquecer aquela cena, por mais que fosse uma mulher forte e mesmo sendo alguém com um autocontrole invejável a vontade de matar seu irmão começava a colocar sua sanidade em uma balança.
Após todo aquele momento traumatizante e aterrorizador Athena telefonou para casa, queria avisar que estava "tudo bem" enquanto Ares cuidava de certos assuntos burocráticos e a garotinha passava por alguns exames. Horas depois retornou ao seu lar, Annabeth ainda estava acordada, brincando com os bloquinhos de construção enquanto seu pai dormia serenamente no sofá, sua garotinha levantou-se rapidamente e sorriu até ver sua mãe acompanhada de outra menina, tinha cabelos castanhos escuros, olhar desconfiado, mas seus olhos eram tão bonitos ou até mais que os de seu primo Percy.
-Olá meu amor. - Athena aproximou-se segurando a mão da outra criança. - você fez o papai dormir novamente... - comentou vendo Annabeth sorrir de forma sapeca. - essa é sua prima, o nome dela é Clarisse.
Os olhos cinzentos da menina novamente se voltaram de forma curiosa para a garota um pouco mais alta que ela, se era sua prima isso só poderia significar que era irmã de Percy, certo?!
-Oi, eu sou Annabeth. - disse se aproximando e estendendo a mão educadamente assim como sua mãe lhe ensinara.
-Clarisse. - respondeu de forma direta, as sobrancelhas levemente fincadas, mas o sorriso da loirinha de alguma forma havia derrubado suas defesas.
As duas trocaram um aperto breve antes que Annabeth lhe puxasse para um abraço, algo que até mesmo Athena achou estranho.
~***~
Clarisse era uma criança desconfiada e acanhada, mas sabia que aquilo deveria ser culpa exclusivamente de seu estúpido irmão. Ares nunca foi uma pessoa conhecida por ser das mais amorosas e no caso da filha mais nova isso não seria exatamente uma exceção. Primeiro pela intersexu*l*idade da garota, o militar sempre lhe tratará como uma aberração, segundo por não ter sido uma criança desejada, amor e carinho não foi bem o que conheceu do homem, nem mesmo quando Sally resolveu adotar a garota.
Athena não poderia assumir a responsabilidade pela sobrinha, ela já se punia por não ter tempo o suficiente com a sua filha e ter que lidar com os traumas da criança em questão não era algo que conseguiria conciliar. A mulher era tudo, menos irresponsável, ela sabia o que poderia ou não gerir no momento e no momento até mesmo o seu relacionamento estava levemente abalado devido o trabalho pesado que estava desenvolvendo com alguns pesquisadores da universidade.
A princípio a Sra. Jackson estava decidida a não ceder, Athena teve que usar de muitos argumentos para que a mesma pelo menos conhecesse a criança, afinal gostando ou não ela era meia irmã do seu filho Percy e cedo ou tarde eles iriam se conhecer. Se lhe perguntassem o porquê da sua mudança quase que imediata ela não poderia responder com precisão, porém se isso servisse como motivo ela poderia citar simplesmente que ao olhar para a garotinha tão frágil ela simplesmente não teve como rejeita-la. Os olhos eram de um verde mais profundo e os cabelos eram castanho escuro, mas a semelhança com seu filho Percy era inegável... Como qualquer ser humano poderia fazer algum mal aquela criança? Se Clarisse não conhecera o que era amor e carinho por parte de seu pai, sem dúvida alguma ela teria com o seu meio irmão e a madrasta.
Ares não gostara nada da ideia de mais uma pessoa incluída em seu ciclo familiar, porém a garota ainda era sua filha e como tal deveria estar com ele já que a mãe estava morta e Athena estava sem condições de assumir mais compromissos do que poderia gerir.
A convivência não era nada fácil, principalmente por causa do pai das crianças, era um homem rígido e bruto demais para qualquer diálogo com os filhos, Percy tinha problemas na escola, a dislexia piorava o seu rendimento a cada ano, fora que o garoto não era do tipo que se defendia dos ataques dos colegas de classe, mesmo que seu pai insistisse em que ele já estava na idade de "aprender a ser homem". Com Clarisse não era muito diferente, a garota precisava de terapia após o que aconteceu com a mãe e por mais que fosse mais nova que Percy ela tinha sempre uma atitude mais "adulta" o que fez a mesma sair em defesa de seu irmão quando necessário... Em resumo, Percy apanhava, Clarisse revidava e Sally se desdobrava em trabalhar e comparecer às reuniões com a diretora da escola e assim evitar a expulsão de ambos.
-O que eu falei para os dois sobre brigarem na escola? - a Sra. Jackson tinha a voz tranquila apesar de cansada, os três partiram para o restaurante da família após mais uma pequena reunião com a diretora Emma.
Percy balançava os pés distraído e cabisbaixo, sentia-se mal por torna-se cada vez mais constante as chamadas por sua causa, já a pequena La Rue tinha os bracinhos cruzados sobre o peito e a cara emburrada como sempre... Uma atitude passiva-agressiva para tentar se livrar da bronca.
-Não acho justo! - reclamou em alto e bom som. - não vou deixar que eles fiquem maltratando meu irmão dessa forma.
A mais velha tentou não sorrir, apesar de achar muito fofo o carinho que a menina possuía por seu filho sabia que não podia incentivar esse comportamento agressivo, aquilo era culpa de Ares e ela não iria compactuar com a influencia nociva dele
~***~.
A implicância de seu pai tornar-se mais frequente e sua mãe realmente parecia não ter mais motivos palpáveis para estar ao lado daquele homem. Mas o estopim da separação se deu quando Ares presenciou com os próprios olhos o seu filho beijando outro rapaz em seu quarto. Não deveria ser uma surpresa pra ninguém, já que Percy desde muito cedo apresentava gostar de garotos, e há algum tempo ele notara os olhares de um para o outro quando se reuniam em casa para "estudarem"... Por isso o militar sempre estava em seu pé, lhe falando insistentemente que ele "deveria ser homem", mesmo que o progenitor jamais soubesse o que isso significasse de verdade.
O mais velho surtou a ponto de levantar a mão contra o próprio filho, a sorte de Percy era que Clarisse e Sally se encontravam na residência, ou talvez o rapaz teria saído com mais que alguns hematomas e um olho roxo. Will, seu namorado, tentou lhe proteger da fúria descontrolada do homem, mas Jackson conseguiu lhe obrigar a ficar fora e ir embora antes que a ira caísse sobre o garoto loiro de olhos azuis.
Clarisse e Annabeth estavam deitadas no quarto da morena quanto tudo aconteceu, trocavam beijos delicados do recém descoberto sentimento entre as duas quando o barulho e os gritos fez com que Clarisse deixasse Chase em seu quarto e corresse até o do seu irmão. Ela não sabia de onde havia tirado forças, mas arrastou seu pai - que mais parecia um armário - de cima do adolescente, Percy gemia de dor, mas tentará revidar da forma que era possível. La Rue rolava no chão com o homem trocando socos, por mais que tivesse certeza que seu estado não seria dos melhores depois disso.
-Se afaste dos meus filhos agora mesmo! - ordenou Sally de forma segura, por mais que suas mãos tremessem ligeiramente ao segurar a arma do militar em suas mãos.
Ares se ergueu estreitando o olhar para a mulher a sua frente. Percy correu até a irmã e lhe arrastou para perto de si, a garota estava quase desacordada e tinha um corte no queixo, mas que sangrava muito.
-Você não teria coragem. - disse o militar de forma baixa, mas que saiu mais como um rosnado.
-Não queira me testar. - o tom era ameaçador e sem qualquer dúvida do que faria se fosse preciso. Destravou a arma e manteve o dedo no gatilho. - eu sei como se faz, você mesmo me mostrou.
-Mãe, não vale a pena. - a voz do seu filho estava embargada pelas lágrimas. - Clarisse precisa de ajuda, temos que ir no hospital.
Sally sentiu as próprias lágrimas queimarem seu rosto. Como alguém poderia fazer isso com os próprios filhos? Como ela conseguira passar tantos anos ao lado de alguém tão desprezível? Tentara manter sua família unida para isso? Para ver os dois filhos espancados como se fossem dois marginais?! Não valia a pena... Ele nunca mais encostaria nos dois.
-Saia da minha casa, não me procure, não procure meus filhos ou você não vai ter a mesma piedade de agora. - ordenou com as mãos menos trêmulas que antes dando distância o suficiente para que o marido passasse, mas mantendo-se sob sua mira.
~***~
Apesar das adversidades o moreno de olhos verdes forçara-se a mudar com o tempo, assumira responsabilidades que muitos lhe achavam impossível e estava tentando fazer o seu melhor para manter o "Jackson's" com sua chama acesa enquanto sua mãe Sally se restringira a cuidar dos assuntos financeiros - onde era o seu forte e obviamente a área em que seu filho se atrapalhava mais.
Percy estava na adega do restaurante checando as reservas de vinhos e já pensando nas combinações que faria para o dia. Era desafiador? Sim! Mas de alguma forma ele poderia ironicamente dizer que havia encontrado um dom para chamar de seu. O celular começara a vibrar no bolso, suspirou por um momento até que o suspiro transformou-se em um sorriso largo... Era Annabeth, sua prima. Estava realmente pensando o quanto demoraria para que ela lhe desse algum "sinal".
-Estou sonhando ou minha querida cunhadinha realmente lembrou-se desse simples mortal? - Percy já deslizava para uma fileira aleatória a sua consulta anterior, precisava de um exemplar especial, caso Annabeth e Piper aceitasse o seu convite.
Fim do capítulo
E então meus amores, o que acharam?
Como eu disse esse foi o primeiro e último capítulo nesse formato, meio que em "fragmento de memórias" eu precisei escrever ele porque necessitava passar o mínimo de base possível desse ciclo "familiar" para entrar de vez no plot da fic. Como mudei o capítulo infelizmente não tenho o seguinte escrito ainda tive eu repetir a "spoiler", mas foi por uma boa causa.
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