POV Sarah.

 

Tudo estava perfeito entre eu e Cecília. Apesar de toda a minha insegurança, eu confiava na minha garota. Mas ainda mantinha meu pé atrás com Bruna. Essa criatura poderia agarrar minha futura namorada a qualquer momento e isso me deixava sempre em alerta. Ainda tinha aqueles malditos garotos que ficavam enchendo a paciência, eu fico tão puta da vida com tudo isso. Meus olhos queimam de raiva somente de pensar naqueles abutres nojentos dando em cima da Cecília.

 

Eu estava querendo pedi-la em namoro desde o primeiro dia que começamos a ficar, mas eu sabia que estaria sendo apressada e talvez a assustasse e isso era a última coisa que eu queria. Esperei dois meses e a chamei para ir na casa de campo, eu iria fazer o pedido de namoro. Aquele lugar é perfeito, sempre fizemos tantas coisas juntas naquela casa, tínhamos as melhores lembranças e eu queria que tudo fosse perfeito.

 

Estava toda feliz e Renata estava me ajudando a preparar tudo para o final de semana na casa de campo.

 

-- Você acha que devo comprar um anel? – perguntei nervosa.

 

-- Acho que não... Deveria tentar algo diferente. Do que ela gosta? – Renata perguntou comendo pipoca enquanto assistíamos TV.

 

Divaguei pensando em minha namorada. Sim, eu já a considerava minha namorada.

 

-- Cecília gosta de livros, músicas clássicas, filmes de terror, séries médicas e ama uva. Ela tem esse jeitinho sério, mas por dentro é completamente fofa – falei toda melosa.

 

-- Credo, que coisa nojenta – Renata fez careta – Pense em algo que ela realmente goste, não precisa ser caro, mas que seja repleto de significados.

 

-- Tem razão. Cecília nunca ligou para essas coisas – fiquei pensativa – Se bem que ela... Ela... – eu não conseguia falar sobre o fato dela ter vendido o corpo por dinheiro. Era horrível pensar nisso.

 

Renata percebeu meu desconforto.

 

-- Você tem que estar preparada para tudo, Sarah. Sei que o passado da Cecília é tenso pra você. Só espero que você não use isso contra ela, pelo pouco que eu a conheço, Cecília é muito justa e sincera, então seja com ela também. Conversem sempre antes de qualquer coisa.

 

-- Eu não vou jogar nada na cara dela. Por favor, né.

 

Renata me encarou desconfiada.

 

-- Eu espero que realmente você não faça isso.

 

Eu pensei em falar alguma coisa, mas meu celular começou a tocar e eu atendi sem olhar quem era.

 

-- Alô.

 

-- Sarah – disse a voz que eu conhecia muito bem.

 

-- Carla – falei surpresa. Renata apertou os olhos ao escutar o nome da minha ex. Fazia tempo que eu não falava com ela.

 

-- Podemos conversar? – Carla estava séria.

 

-- Acho que a gente já conversou tudo...

 

-- É um assunto sério e eu preciso que você me escute, pois é importante que você também saiba – ela parecia sincera.

 

-- Ok, Carla – falei vencida.

 

-- Ótimo, passo no seu apartamento as sete – disse e desligou.

 

Como assim ela sabia onde eu morava? A grossa nem esperou que eu falasse nada. Por sorte hoje, eu não iria encontrar Cecília.

 

Contei o que Carla queria para Renata e ela disse para eu ter cuidado, pois minha ex não era flor que se cheire. Minha amiga teve que ir encontrar o namorado, as vezes eu até esquecia que ela namorava. Passava das cinco da tarde, decidi fazer um lanche e tomar banho. Hoje Cecília estaria ocupada com Manuela, pois fazia algum tempo que as duas não ficavam juntas.

 

Carla pela primeira vez em anos decidiu ser pontual e exatamente as sete da noite, meu interfone tocou. Autorizei que ela subisse. Não demorou para ela tocar a campainha. Abrir a porta e tentei sorrir simpática, mas a mulher estava bastante séria. Carla estava impecável em sua roupa social de grife. Ela entrou e ficou observando meu apartamento, que era bem simples perto de sua mansão.

 

-- Deseja alguma coisa? – perguntei tentando ser simpática.

 

-- Não – ela observava a vista da janela de meu apartamento – Você está sabendo que João Pedro exigiu a parte dele na herança? – ela perguntou me encarando.

 

Fiquei surpresa. Desde que os pais de João morreram, Carla cuidava da herança do garoto e ela sempre cuidou muito bem, tanto que triplicou o valor em poucos anos.

 

-- Eu não sabia de nada.

 

-- Achei que você fosse advogada dele – disse irritada.

 

-- Eu apenas o aconselho em algumas coisas, Carla. Você sabe que ainda sou apenas uma estudante de Direito.

 

-- Ele não pode fazer isso! – disse revoltada e passando as mãos no cabelo.

 

-- Ele tem direito, Carla. Você sabe disso. Só deixe ele cuidar do que é dele.

 

-- Aquele menino é um irresponsável, Sarah! – disse andando de um lado ao outro – Ele me enfrentou, acredita nisso? Sei que se eu ceder ele vai acabar com o dinheiro em pouco tempo, Pedro não sabe administrar absolutamente nada.

 

-- Essa decisão não está em suas mãos, Carla.

 

-- Tem razão, mas eu darei um jeito nisso, Pedro não pode fazer uma besteira dessa. Quando ele me disse isso há alguns meses atrás, eu não levei muito a sério, mas agora... – disse pensativa.

 

-- Carla, deixa o João Pedro aprender a se virar sozinho – suspirei.

 

-- Eu sei, mas ainda não é o momento.

 

-- Quem vai decidir isso é ele.

 

Ela me fuzilou. Percebi que respirou fundo.

 

-- Até que esse lugar não é ruim – disse olhando em volta e mudando de assunto.

 

-- Obrigada – Revirei os olhos, pois percebi que ela estava sendo irônica.

 

-- Você tinha tudo em casa, Sarah. Trocou um conforto e uma vida sem problemas para viver assim? – disse abrindo os braços.

 

-- E pode ter certeza que estou bem mais feliz agora – falei brava – E eu não preciso de dinheiro, você sabe disso. Se isso era a melhor coisa que você tinha a me oferecer, então valeu muito a pena ter te deixado.

 

Carla se aproximou como um furacão e me segurou pela gola do casaco.

 

-- Eu te ofereci muitas coisas, mas você nunca quis nada – eu conseguia ver a mágoa em seus olhos castanhos – afinal, sua preferência sempre foi essa menininha.

 

-- Me solta, Carla – tentei me afastar.

 

-- Você sempre gostou dela né? Sempre! Eu que fui a burra dessa história toda! – disse me soltando e virando de costas – O Sérgio me contou tudo, vocês eram melhores amigas... Você sempre gostou dela - conseguia sentir a dor em cada palavra que saia de sua boca.

 

-- Carla eu...

 

Não conseguir dizer nada. Carla me agarrou fortemente e beijou-me. Eu tentei me soltar, mas Carla sempre foi mais forte. Não correspondi ao beijo e ela percebeu e a acabou se afastando.

 

-- Desculpa – disse envergonhada.

 

-- Sai daqui, Carla! – vociferei – Você não tem esse direito, você não tem! – gritei.

 

-- Você também não tinha o direito...

 

A campainha tocou e eu estranhei. Quem seria? Talvez Renata tenha esquecido alguma coisa. Caminhei em direção a porta a abrindo. Fiquei assustada ao ver quem era.

 

-- Surpresa! – falou sorrindo, mas seu sorriso morreu ao olhar para dentro do apartamento e ver a Carla.

 

Cecília estava linda com o casaco azul e o cabelo solto e um pouco bagunçado. Em suas mãos tinha um embrulho que parecia ser algum tipo de comida. Talvez um bolo.

 

-- Cecília – falei nervosa.

 

As duas não desgrudavam o olhar. Cecília encarava Carla com seriedade, mas eu sabia que minha ex mulher fuzilava a garota.

 

-- Preciso ir – Carla falou passando por nós e esbarrando propositadamente no ombro de Cecília.

 

A garota entrou em meu apartamento e eu fechei a porta. O silêncio estava horrível e eu percebi que ela olhava fixamente meus lábios. Oh, merd*. Eu devia estar vermelha por causa do beijo.

 

-- Cecília eu...

 

-- Eu decidir te fazer uma surpresa – disse olhando algum ponto no chão – Fiz bolo de cenoura – me encarou e sorriu torto.

 

-- Ah, obrigada – peguei o bolo de sua mão e deixei no balcão que dividia a sala da cozinha – Pensei que você estivesse com a Manu.

 

-- Era apenas uma desculpa, Manuela foi ficar com o Marcos.

 

Me aproximei e a encarei.

 

-- Desculpa pra que?

 

Eu sabia que Cecília estava incomodada e também sabia que ela não perguntaria nada sobre a Carla. Mas eu também sei que ela precisa de respostas.

 

-- Eu queria te fazer uma surpresa – disse caminhando em direção ao bolo e tirando o embrulho dele – Sei que é seu bolo favorito.

 

Era tão perceptível o quanto estranha ela estava.

 

-- Cissa – peguei em suas mãos e apertei – A Carla precisava falar comigo e eu não vi problema em concordar.

 

-- Você não precisa me explicar nada – disse tentando soltar suas mãos, mas eu apertei fortemente.

 

-- Claro que eu preciso, se fosse ao contrário, com toda certeza eu iria querer saber – encarei seus lindos olhos azuis – A Carla queria falar sobre o Joao Pedro, mas enfim, acabamos discutindo e ela me beijou – disse nervosa..

 

Cecília soltou minha mão bruscamente e apoiou-se no balcão. Respirou fundo e eu sabia que ela tentava manter a calma.

 

-- Eu não correspondi, juro pra você – falei tensa.

 

Houve alguns segundos de silêncio até eu finalmente escutar sua voz.

 

-- Eu estou bastante irritada com isso – disse séria – Mas também sei que você não me deve explicações. Não temos nada sério, pelo menos não oficialmente. Eu não gosto de pensar em você beijando outras mulheres – me encarou – Eu confio em você o suficiente para saber que está falando a verdade, eu tenho consciência disso. Não faço o tipo ciumenta, mas se você aceitar ser minha namorada, não quero que você fique sozinha com aquela mulher novamente.

 

Fiquei estática, sem conseguir falar nada. Cecília percebeu minha idiotice.

 

-- O que foi? – perguntou preocupada.

 

-- Isso foi um pedido de namoro? – falei com a voz vacilante.

 

Cecília apertou os olhos e mordeu os lábios. Ela me encarou e sorriu timidamente.

 

-- Eu pensei em fazer isso de uma maneira diferente – ela falou docemente. Eu sentia meu coração acelerado e respirava com dificuldade, antecipando o que estava por vim – Não existe o momento certo para fazer isso... Apenas existe o momento – disse se aproximando e segurando em minhas mãos – Sarah Schmidt, eu não costumo me arrepender de nada, mas me afastar de você foi meu maior arrependimento. Eu queria ter sido corajosa no passado e ter falado com você sobre tudo e talvez nós tivéssemos uma chance. Felizmente para nós essa chance está sendo dada nesse momento e eu seria uma idiota em não aproveitá-la. Você é única pessoa que me envolvi além do desejo e eu quero aproveitar todos esses sentimentos ao seu lado, sendo inteiramente sua... Sarah, você aceita ser minha namorada? – perguntou nervosa.

 

Eu acho que vou ter um ataque cardíaco a qualquer momento de tão rápido que meu coração está batendo. Minha respiração estava falha e meu corpo completamente paralisado.

 

“Zeus! Ela realmente havia me pedido em namoro? Eu não estava sonhando?

 

Sentia suas mãos quentes sobre a minha e um tremor começou a tomar conta de mim. Meus sentimentos nesse momento estavam intensos. Acho demorei muito tempo para respondê-la.

 

-- Talvez eu tenha me precipitado – disse com as bochechas vermelhas e completamente decepcionada.

 

-- Não! – gritei – Eu aceito, é tudo que eu mais quero! – falei emocionada.

 

A abracei apertado e beijei seus lábios com paixão. Como eu amava essa garota. Meu coração estava louco nesse momento. Cecília correspondeu ao beijo com a mesma intensidade e eu sussurrei com a boca colada em seus lábios rosados.

 

-- Eu estou tão feliz, meu amor...

 

Cecília me beijou com ainda mais paixão e segurou meu rosto com as duas mãos fazendo-me encará-la.

 

-- Eu nunca fui tão feliz em minha vida como estou sendo ao seu lado, meu amor – disse intensamente.

 

Meu coração batia tão acelerado que chegava a doer. Eu sou completamente louca por essa menina. Eu sou apaixonada, eu a amo, eu sou completamente dela.

 

Voltei a abraçá-la apertado e afundei meu rosto em seu pescoço sentindo seu cheiro maravilhoso. Sorri bobamente. Acho que finalmente estava sendo completamente feliz em minha vida.

 

Ficamos nesse clima de romance durante toda a noite. Comemos o bolo que meu amor tinha feito especialmente para mim. Estava uma delícia. Conversamos e nos beijamos muito, mas não passou disso.

 

Infelizmente no outro dia tive que viajar, pois minha mãe ligou dizendo que eu precisava assinar alguns papéis na empresa. Ainda tentei convencer Cecília a vim comigo, mas ela estava ocupada com os trabalhos da faculdade. Fiquei frustrada, não queria ficar longe da minha namorada, mas era necessário, pois sabia que era um assunto importante. Me despedi de Cecília com muitos beijos e ela decidiu ficar em meu apartamento. Se ela quisesse levar suas coisas e morar comigo, eu não me importaria, seria um sonho realizado, ter a Cecília como minha mulher.

 

Acho que todos na empresa de meus pais perceberam minha felicidade. Eu nunca sorria daquele jeito, nem mesmo quando estava com Carla. Assinei os papéis rapidamente e almocei com minha mãe na empresa mesmo. Não falei sobre meu namoro com Cecília, mas ela percebeu que eu estava diferente e ficou feliz por me ver feliz. Eu iria levar a minha namorada para apresentá-la pessoalmente a minha mãe, apesar das duas já se conhecerem.

 

Quando estava saindo da empresa tive do desprezar de encontrar a pessoa mais desprezível que já conheci em minha vida.

 

-- Oras, vejam só... Como vai, Sarah? – disse com aquela voz irritante.

 

-- Estou muito bem – falei olhando em volta e observando algumas pessoas.

 

-- Tem falado com a Cecília? – perguntou interessada.

 

-- Não te interessa! – falei ríspida.

 

-- Sabe... – disse sorrindo e disfarçando o clima tenso entre nós – Eu sei que vocês estão juntas nesse momento, mas sei que isso não vai durar. Eu sei do que a Cecília gosta e não é de uma mulher sem graça como você. Ela será minha novamente e eu darei tudo do melhor a ela – aproximou-se e sussurrou – Na cama e fora dela.

 

Eu não aguentei e dei um forte tapa no rosto dessa piranha. Deborah me olhou assustada. Algumas pessoas pararam para ver nosso pequeno embate.

 

-- Fique sabendo que eu conheço muito mais a Cecília do que você! – disse me afastando daquela mulher.

 

Eu sabia que Cecília não se importava com nada disso. Ela era muito mais que uma menina movida por desejo ou dinheiro. Mas ela dormia com outros homens por dinheiro. Será que eu ainda a conhecia tão bem assim? Eu precisava parar com minhas inseguranças. Tinha que confiar na Cecília, eu sei que ela não me trocaria pela Deborah. Preciso confiar nela.

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo