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Segredos ao Vento por thays_

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Palavras: 3555
Acessos: 2869   |  Postado em: 29/05/2020

Vanessa e Milena

Will you still love me

 

When I'm no longer young and beautiful?

 

Will you still love me

 

When I got nothing but my aching soul?

 

(Lana Del Rey - Young And Beautiful)

 

 

 

 

Eu devia ter contado para Vanessa? Sim, devia, eu sabia que devia. Ela tinha se tornado minha melhor amiga desde aquele primeiro trabalho de Comunicação e Política que fizemos juntas. Nos aproximamos muito rápido uma da outra. De repente, ela tinha começado a visitar minha casa e eu a dela, sem nem precisarmos mais de trabalho como desculpa para nos encontrarmos.

 

Certa noite perguntei a ela o porquê nunca a tinha visto com nenhum namorado e ela me revelou, com certo medo, que na verdade gostava de mulheres. Se não tivesse me falado, eu nunca teria desconfiado. Aquilo me deixou realmente surpresa. Ela parecia ter receio de como eu reagiria àquela nova informação. E pensando agora, eu perdi minha deixa naquele momento.

 

Eu poderia ter contado naquela hora, naquele mesmo dia, mas eu também tive medo. Eu tive medo de que ela não fosse entender. Tive medo de que ela fosse embora, de que tudo fosse mudar entre nós. E eu não queria perder isso que tínhamos, porque era algo raro. Era raro eu deixar alguém se aproximar e mais ainda deixar alguém entrar na minha casa e na minha vida daquele jeito que ela tinha entrado.

 

Contudo, suspeitava que agora tinha perdido tudo o que demorei quase um ano para construir com Vanessa e aquilo estava me corroendo. Estava fugindo dela desde o escarcéu que Danilo fez na universidade. Meus segredos tinham sido expostos para quem estivesse por perto naquela noite. Logo eu que tinha o maior cuidado do mundo para esconder meu passado a sete chaves. Tudo porque eu não quis corresponder as investidas daquele otário. Sabe-se lá como ele descobriu, mas descobriu.

 

Ele era um daqueles caras pegadores e bombadinhos que as meninas caiam em cima, mas eu não quis ficar com ele. Acho que eu tinha um sexto sentido forte, como minha mãe. Eu sabia que ele não era uma boa pessoa logo de cara, mas não foi só por isso, ele não me interessava nem um pouco. Pra ser sincera, nem ele, nem ninguém ultimamente conseguiam me fazer querer algo a mais. Eu acho que tinha me fechado totalmente para a possibilidade de relacionamentos. Eu tinha ainda muitas inseguranças em relação a mim pra pensar em me envolver com alguém. E além do mais eu estava bem sozinha.

 

Eu tinha minha melhor amiga e isso me bastava. Mas não sabia até então, naquele momento, se ela ia querer olhar na minha cara de novo. Eu não queria que Vanessa tivesse descoberto daquela forma. Daria tudo pra voltar no tempo e tentar arrumar tudo, mas era tarde.

 

Estava saindo do shopping JK, trabalhava das 10:00 às 16:00 em uma loja da Sephora. Quando mais nova me imaginava no meio daquelas vendedoras bonitas e agora fazia parte do quadro de funcionários. Via na pele que não era nada fácil a rotina. Eu tinha que aguentar uma chefe chata e esnobe, não existiam amigos por ali, apenas pessoas competindo para vender mais que eu e se não fosse esperta, pra puxar meu tapete. No entanto, era de onde eu tirava meu dinheiro e tinha que agradecer por ter um emprego.

 

Estava com os fones ouvindo Lana Del Rey. Me sentia em um clipe cinematográfico olhando pela janela do ônibus ao som de Young and Beautiful. Morava na Vila Mariana. Demoraria cerca de 40 minutos para chegar em casa. Tinha colocado a música no repeat e tudo parecia estar acontecendo em câmera lenta.

 

Eu não queria ir pra faculdade naquele dia. Fazia uma semana que eu não aparecia por lá. Eu não era covarde, eu só tinha passado por muita coisa e sabia o que meu emocional conseguia lidar e o que não conseguia.

 

Abri a porta de casa.

 

- Cheguei, mãe. - Eu gritei.

 

Deixei minha bolsa preta em cima do sofá e olhei-me no espelho, tirando os fones. Eu era uma mulher bonita. Tinha juntado dinheiro desde meu primeiro emprego para ter o rosto e o corpo que tinha hoje. Minha mãe também me ajudou, vendemos o carro do meu pai e demos um jeito. O resultado tinha ficado exatamente como queria, na verdade, ainda melhor. Era loira, olhos castanhos. Meus cabelos caiam até metade das minhas costas. Seios médios. Tinha curvas perfeitamente desenhadas pelo melhor cirurgião que tinha encontrado.

 

Eu olhava no espelho pela primeira vez após 27 anos e não chorava. Apesar de ainda sentir certa insegurança em relação a minha aparência. Eu sempre me perguntava se estava sendo boa o suficiente, se estava sendo convincente o suficiente. Chegar aonde tinha chegado hoje foi o resultado de um processo longo de sofrimento que me acompanhou desde pequena. Regado a muitas explosões de lágrimas, tratamentos hormonais e tentar entender, a força, que nada acontecia do dia pra noite. No meio disso tudo, tive uma tentativa de suicídio, que graças a Deus não tinha dado certo.

 

Apesar de tudo, eu diria que era uma pessoa privilegiada. Principalmente porque tinha uma boa passabilidade, porque sempre tive o apoio de minha mãe. Se não fosse minha mãe, eu não seria nada. Eu tinha um emprego, estava cursando jornalismo. Enfim, eu tinha conseguido tudo o que queria. Muitas amigas que tinha conhecido via internet trabalhavam na rua, não tinham aceitação da família e eu ficava sabendo todos os dias de casos de mulheres, como eu, que tinham sido assassinadas. Minha expectativa de vida pelas estatísticas era de 35 anos. Hoje eu não queria mais morrer, eu queria superar essa expectativa.

 

Eu agradecia a Deus todos os dias por tudo o que tinha e tentava, na medida do possível, não reclamar das coisas. E isso era algo que minha mãe tinha me ensinado desde cedo, sempre ser grata.

 

Caminhei até a cozinha, queria ver minha mãe. Precisava muito de um abraço dela. Nossa casa era simples, mas muito aconchegante. Morávamos só nós duas, meu pai tinha falecido quando eu tinha dez anos e minha mãe, desde então, me criou sozinha.

 

Estaquei no beiral da porta da cozinha logo quando cheguei. Vanessa estava sentada a mesa. Senti como se todo meu sangue tivesse descido até meus pés, não esperava vê-la ali.

 

- O que você está fazendo aqui? – Eu perguntei.

 

- Milena! Isso é jeito de falar com sua amiga? – Minha mãe deu uma bronca.

 

Minha mãe se chamava Luiza. Usava um avental vermelho e estava com as mãos de Vanessa entre as suas. Fiquei com medo de o que elas poderiam estar conversando. Se bem que, agora, tudo já tinha vindo à tona. Ela era da mesma altura que eu, também era loira, usava o cabelo sempre preso num coque, tínhamos os mesmos olhos. Ela era aposentada, mas fazia um bico como costureira em uma loja de vestidos de festas e casamentos. Tinha quase 60 anos. Era a melhor mãe do mundo, diga-se de passagem.

 

Vanessa estava com a cara péssima, seus olhos estavam inchados e não via mais aquele brilho que sempre encontrava neles. Ela usava um vestido azul e um cinto marrom na cintura. Tinha os cabelos pretos, levemente cacheados, igualmente compridos. Cílios longos naturalmente. Lábios vermelhos. Era alguns centímetros mais baixa que eu.

 

Ela buscou meu olhar e eu desviei. Não conseguia encará-la.

 

Minha mãe se levantou, tirou o avental.

 

- Eu vou pro Centro Espírita essa noite, vou me arrumar. Eu até chamaria vocês pra irem comigo, mas... Vocês têm muito o que conversar.

 

Vimos minha mãe se afastar. Já tínhamos ido com ela algumas vezes até o Centro que ficava há poucos minutos de casa. Minha mãe fazia parte da corrente mediúnica de lá, nunca faltava a uma só reunião.

 

Eu cruzei os braços.

 

- Faz tempo que chegou? – Perguntei, pensando há quanto tempo ela estava falando com minha mãe. Será que estava falando sobre mim? O que minha mãe tinha falado?

 

- Não muito, estava ajudando sua mãe a cozinhar. Depois lavei a louça. - Eu fiquei olhando para ela, ainda afastada. Eu não sabia o que falar, ou como começar aquela conversa. - Quer café? – Ela perguntou esticando a mão até as xícaras brancas viradas de ponta cabeça em cima da mesa. – Eu que fiz.

 

Adorava o café dela. Só perdia para o da minha mãe. Eu confirmei com a cabeça e me aproximei.

 

- Desse jeito minha mãe vai querer te adotar. – Eu brinquei.

 

- Vou mesmo. – Minha mãe surgiu na porta com seu ar risonho de sempre. Nós olhamos para ela. Ela estava com uma bolsa pequena pendurada no braço. - Eu vou mais cedo porque preciso resolver algumas coisas ainda. – Ela disse. – Fiquem à vontade.

 

Ela se aproximou de Vanessa, beijando sua cabeça.

 

- Benção, dona Luiza.

 

- Deus te abençoe, minha filha. – E disse num tom baixo - Lembra daquilo que conversamos.

 

Minha mãe se dava super bem com Vanessa. Não que minha mãe fosse alguém que se desse mal com alguma pessoa. Ela era o ser mais paciente do universo. Ela me beijou a testa também e vimos ela saindo pela porta, se afastando. Voltei meu olhar para minha amiga que agora servia meu café.

 

- Senta aqui. – Ela disse.

 

- O que você estava conversando com minha mãe? – Perguntei receosa, ainda de pé.

 

- Problemas pessoais.

 

- Que tipo de problemas?

 

- Ta me dando agonia você de pé, você não pode sentar, Milena? – Ela disse incomodada.

 

Eu puxei uma cadeira, me sentando ao seu lado. Tomei um gole. Estava tão bom como sempre.

 

- Eu senti sua falta. – Ela disse.

 

Ela buscou minhas mãos e entrelaçou nossos dedos. Ela fazia isso às vezes, mas só quando estávamos sozinhas. Ou quando estávamos vendo algum filme juntas no meu quarto. Ou quando ela deitava na cama comigo e ficávamos conversando sobre assuntos aleatórios e sem sentido algum. Ela fazia um carinho gostoso com seu polegar nas costas de minha mão. Era reconfortante sentir ela assim por perto, ainda mais depois dessa última semana turbulenta sem saber o que seria de nossa amizade.

 

- Eu também. Muita na verdade.

 

Nós éramos inseparáveis. Era bom ter ela por perto.

 

- Pensei que você não ia querer nunca mais me ver, sei lá. Você não me ligou. - Eu disse.

 

- Eu fiquei muito triste com você. Ainda estou na verdade.

 

- Por isso eu não te contei antes – Disse sem conseguir encará-la. - Eu tinha medo de você se afastar.

 

- O que mais me magoou foi justamente você não ter me contado. – Ela disse com pesar. - Eu sempre fui um livro aberto pra você. Eu pensei que você confiasse em mim.

 

- Eu confio em você. – Disse prontamente - Eu nunca confiei tanto em alguém como confio em você.

 

- Se confiasse, você teria me dito e não teria me deixado descobrir daquela forma ridícula. Eu teria te protegido daquele idiota do Danilo. - Ela estava furiosa, bateu com a mão no tampo da mesa, me assustando - Cara, ele é um bosta. E eu fiquei paralisada, eu nunca imaginei que sei lá... nunca passou na minha cabeça que... você era trans. Nunca. E eu ainda estou tentando assimilar essa informação na minha cabeça. Sério. Eu vou ser sincera com você, eu fiquei realmente em choque. Eu queria te pedir desculpas por não ter te defendido aquele dia, por não ter falado nada, porque eu não consegui. Eu simplesmente não sabia o que dizer.

 

Antes dela terminar de falar, já sentia as lágrimas escorrendo pelos meus olhos, sem controle algum. Eu escondi o rosto em minhas mãos. Eu odiava estar passando por aquilo. Senti então ela se aproximando, seus braços me envolveram no mesmo momento. Eu inspirei profundamente, sentindo seu perfume adentrando por minhas narinas. Sentia falta do seu cheiro por perto, pela minha casa, pelo meu quarto.

 

- Eu não te contei antes porque tinha medo de te perder. - Disse baixo.

 

Ela não disse nada, continuou me abraçando junto ao seu peito. Sentia sua mão em meu cabelo e aquilo foi me acalmando aos poucos, até que gentilmente me afastei.

 

- Eu pensei muito, sabe. Tem muita coisa envolvida. – Ela disse.

 

- Como assim muita coisa envolvida?

 

- Tem muitos sentimentos confusos dentro mim. – Ela disse baixo olhando para suas mãos, como se tentasse encontrar as palavras certas. – Se antes já eram confusos... Agora estão ainda mais.

 

- Do que está falando? - Eu estava tentando entender o que ela estava falando, mas tudo parecia como um borrão na minha frente.

 

- Milena... você às vezes é muito inocente. - Ela me encarou.

 

- Por que inocente? - Ficamos nos olhando e vi sua mão vindo em direção ao meu rosto, eu fechei os olhos, ela enxugou minhas lágrimas.

 

- Sério mesmo que você não sabe? Nunca percebeu?

 

- Perceber o que, Vanessa? - Perguntei me sentindo perdida. O que tinha acontecido que não vi?

 

E então as próximas palavras quase me tiraram o chão.

 

- Que eu estou apaixonada por você.

 

- O que? - Eu a olhei incrédula me perguntando se eu tinha ouvido direito. - Você o que?

 

Ela permeceu em silêncio. Ela tinha dito em alto e bom som. Eu tinha ouvido bem. Ela não iria repetir. Vanessa estava apaixonada por mim? Apaixonada mesmo? Como eu não tinha notado isso? Como isso era possível?

 

Então fiquei recapitulando na minha cabeça todos os momentos em que estivemos juntas. Tentando encontrar aonde eu tinha deixado algo passar. Todo esse carinho que ela tinha comigo, todo esse cuidado, os abraços, as mãos dadas. Será que tudo isso significava alguma coisa e eu que realmente era inocente demais? Lembrei-me então de certas vezes em que a pegava olhando pra mim com aquele olhar perdido, como se quisesse me dizer algo, mas nunca disse. Eu pensava que ela estava desconfiando de alguma coisa, pensava que ela tinha descoberto algo sobre mim. Até parece que ela ia sentir algo por mim.

 

Justo por mim.

 

E naquele momento, tudo de repente, fez sentido na minha cabeça.

 

E o pior de tudo, eu não imaginava que fosse gostar tanto de ficar sabendo disso.

 

- Diga alguma coisa, por favor. - Ela parecia nervosa com meu silêncio.

 

- Eu só estou tentando assimilar tudo isso...

 

- Você quer que eu vá embora?

 

- Não. - Respondi rápido. – Claro que não. Eu... só não sei o que te falar. - Eu passei a mão nervosa em meu cabelo.

 

- Eu só precisava te contar como me sentia... Sua mãe me incentivou a abrir meu coração.

 

Eu então quase dei um pulo da cadeira.

 

- O que?! Você falou pra minha mãe que estava apaixonada por mim?!

 

- Não! – Ela riu. - Eu disse que era por uma amiga, não disse especificamente que era você.

 

- Você não sai daqui de casa, ela deve ter sacado tudo. – Eu escondi meu rosto nas mãos, envergonhada.

 

- Você sabe como ela é. - Ela tentou se justificar. - Ela foi tirando informações de mim e de repente já estava contando minha vida pra ela, mas eu não disse em nenhum momento que era você, fica tranquila.

 

Sim, minha mãe era assim mesmo. Ela sabia de longe quando alguém não estava bem e não sossegava enquanto não conversava com a pessoa.

 

- Mas enfim, você disse que estava confusa... O que te deixou confusa?

 

- Você ser trans.

 

Óbvio, né Milena. Pensei comigo.

 

- Eu acho que fiquei um pouco chocada com todas as coisas que procurei esses dias no Google. - Ela disse e levei as mãos à cabeça, só imaginando as coisas que ela devia ter visto. Ela então continuou - Mas logo que te vi hoje, parece que tudo se desfez na minha cabeça, sei lá, sabe? Você é a mesma pessoa de sempre...

 

- Sério, se você tiver qualquer dúvida, me pergunte. Têm coisas que só eu vou poder te responder.

 

Ela assentiu e depois ficou em silêncio. 

 

Ela parecia um pouco nervosa, estava com suas mãos em seu colo. Ela brincava com um anel prateado com uma pedra azul em seu dedo. Segurei em sua mão, trazendo-a para perto de mim, igual sempre fazíamos, fazendo-a parar com aquilo com o anel. Eu nunca tinha tentado enxergar nela algo além de uma amiga e eu tentei fazer isso naquele momento. Olhei para suas mãos, seus braços, seu rosto, ela era bonita, isso era fato. Nós sempre estávamos grudadas e eu gostava de estar perto dela. Será que eu acharia muito estranho me envolver com ela? Olhei para seus lábios e senti um misto de medo e euforia.

 

Isso era loucura. Eu me envolver com uma mulher. Onde já se viu. Conseguia ouvir até o comentário maldoso de algumas pessoas ecoando na minha cabeça. Tentei afastar aquilo no mesmo momento.

 

- Têm tantas mulheres bonitas naquela sala, Vanessa... Eu sou a mais complicada de todas. Por que foi se apaixonar justo por mim?

 

- Tem coisa que a gente não escolhe. – Ela olhava para nossas mãos entrelaçadas - Só acontece. E eu não te acho nem um pouco complicada. Na verdade, eu sou muito mais complicada que você. Você sempre tira as melhores notas, é mega responsável, inteligente, é legal, engraçada, carinhosa... e – Fez uma pausa, olhando pra mim, disse meio sem jeito. – Sei lá...terrivelmente linda.

 

Senti meu rosto corar com aquela última frase. Eu já tinha ouvido isso inúmeras vezes, mas ouvir isso da boca de Vanessa teve uma conotação diferente em meus ouvidos.

 

- Você entendeu o que eu quis dizer. – Eu disse de cabeça baixa.

 

Ela aproximou seu corpo do meu e eu fiquei meio paralisada com aquilo. Ela disse então com uma voz meio rouca:

 

- Eu quero você, Milena...

 

Senti um arrepio percorrer meu corpo inteiro. Aquilo era novidade pra mim. Não sabia há quantos anos não sentia nada parecido com aquilo. Acho que tinha me fechado tanto para novas possibilidades que também tinha esquecido que eu era capaz de sentir aquele tipo de coisa.

 

Eu tinha muito medo de me envolver com alguém e muito mais medo ainda de me machucar.

 

Ela me olhou, me analisando.

 

- Eu não tenho nenhuma chance com você? Qual a probabilidade de 0 a 100?

 

Eu ri, nervosa. Gente, era só a Vanessa, eu não precisava ficar nervosa. Eu confesso que naquele momento não descartei totalmente a possibilidade de... quem sabe, né? Por mais loucura que aquilo tudo pudesse parecer.

 

- Isso é difícil de responder. - Disse.

 

Ela riu.

 

- Mas estou mais perto dos 0 ou dos 100?

 

Eu ri e nem acreditei no que disse em seguida.

 

- Diria que 55%, só porque você me faz rir. E porque seu café é bom.

 

- Fico feliz por não estar abaixo dos 50.

 

- Na verdade 65%, lembrei agora que tem um bom gosto musical.

 

- Um bom gosto musical vale só 10%?

 

- O café conta mais.

 

- Quanto vale o café?

 

- 30%

 

- Se eu fosse a dona da Starbucks você casaria comigo então?

 

Eu ri alto. Ela então perguntou.

 

- E um beijo bom, quanto vale?

 

Eu fiquei paralisada.

 

Nossos olhares se encontraram. Eu estava nervosa. Muito nervosa. Era só a Vanessa. Não precisava ficar nervosa desse jeito. Ela ia me beijar. Ela estava se aproximando. Se aproximando. E então eu fechei os olhos. Tenho certeza que ela nunca deve ter se empenhado tanto em um beijo quanto aquele, pois tenho que falar que aquele beijo foi gostoso demais. Foi uma sensação muito diferente. Beijar uma mulher foi algo... mágico. Foi um beijo doce. Macio. Ela era delicada em tudo o que fazia, seu beijo também não seria diferente.

 

Estava esperando o momento em que eu surtaria, ou que alguma luz vermelha fosse acender, fazendo-me sentir horrível comigo mesma, mas nada disso aconteceu. Ela ia se afastar, mas eu a puxei pela nuca, dando continuidade com aquilo. Queria sentir ela perto de mim mais um pouquinho. E com minha iniciativa ela pareceu ficar um pouco mais relaxada e pude sentir seus movimentos mais soltos, mais naturais, suas mãos em meu rosto, em meu cabelo, até que grudei minha testa na tela. Ela respirou fundo.

 

- Tudo bem? – Ela perguntou, correndo os dedos no meu rosto.

 

Não consegui nem responder, apenas a puxei para perto de mim, unindo novamente nossos lábios.

 

 

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 1 - Vanessa e Milena:
Lea
Lea

Em: 19/04/2023

Adoro quando tem aquela mais que,"sabe" quase tudo.

 

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alexvause
alexvause

Em: 11/03/2023

Sensacional! Estou lendo agora sua história nova Amanda Amanda, fico muito feliz que tenha dado continuidade a essa temática. Você escreve muito bem!

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Nenete
Nenete

Em: 22/11/2020

Legal o conto, tem muita sensibilidade....

Responder

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Marinavlana
Marinavlana

Em: 20/07/2020

Olá. Eu adorei o seu conto, achei tão delicado e sensível. Essa foi a primeira vez que li qualquer coisa com uma personagem trans, o que só deixa ainda mais óbvio como essas pessoas têm pouquíssima representatividade. Enfim, obrigada por essa escrita.

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Manuella Gomes
Manuella Gomes

Em: 09/07/2020

Você mostrou um assunto sério de uma maneira tão mais leve, despretensiosa e agradável. Adorei a sua escrita e gostei bastante do conto. Sua sensibilidade impressiona.

 


Resposta do autor:

Oi Manuella! Fico lisonjeada com seu comentário e muito feliz por ter passado essa impressão pra você do conto. Tenho planos de fazer um romance futuramente com essa temática, quem sabe não coloco no papel rs  

Responder

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rhina
rhina

Em: 04/06/2020

 

Olá

Boa noite.

De uma sensibilidade......

Parabéns.

Rhina


Resposta do autor:

Oi Rhina! Fico muito feliz que tenha gostado! Agradeço pelo seu comentário! Futuramente estou pensando em escrever uma história, quem sabe! Obrigada!

Responder

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Danielle Kaori
Danielle Kaori

Em: 04/06/2020

Foi perfeito o jeito que abordasse esse tema, sério, foi tão perfeito que eu fiquei querendo mais. 


Resposta do autor:

Oi Danielle! Fiquei surpresa com a receptividade das meninas em geral aqui com esse conto, talvez futuramente até faça uma história, quem sabe, já estou com algumas ideias! Fico muito feliz que você tenha gostado e muito agradecida pelo carinho! Obrigada!

Responder

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cidinhamanu
cidinhamanu

Em: 01/06/2020

No Review

Responder

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Jubileu
Jubileu

Em: 30/05/2020

 

Parabens pela delicadeza com a qual você escreveu, algo tão sofrido as vezes , que causa tanta dor, só os que já passaram por certas situações é que sabem, já sentiram na pele. Nenhuma dor é maior que o desejo de ser feliz.


Resposta do autor:

Ei, agradeço por você sempre estar por aqui lendo meus escritos (; Fico feliz por você ter gostado, escrevi com muito carinho. Tenho certa proximidade com o mundo trans, vivenciei algumas coisas dentro desse meio, o que me possibilitou ter algum conteúdo para poder compartilhar por aqui. Beijão, linda.

Responder

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May Poetisa
May Poetisa

Em: 30/05/2020

Parabéns por escrever com tanta sensibilidade, saiba que foi tocante e obrigada por compatilhar conosco um conto tão belo. Ficou com gostinho de quero mais, no mínimo uns 20 capítulos kkk fiquei com sensação de 'tudo que é bom dura pouco', mas, feliz com o final feliz "Will you still love me"!


Resposta do autor:

Oi May! Fiquei um pouco receosa na hora de colocar aqui, mas estou feliz pela receptividade que esse conto teve. Quem sabe eu desenvolva algo maior parecido com o tema futuramente. Fico feliz por você ter gostado! Agradeço pelo comentário! um beijo!

Responder

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gabi12
gabi12

Em: 30/05/2020

como assim acabou, merece uma continuação...

gostei muitooo continua por favor!!


Resposta do autor:

oi gabi! inicialmente pensei em um capítulo único, não tinha planos de dar continuidade as duas, mas quem sabe futuramente, né? fico feliz pelo seu interesse e por ter gostado! um beijo!

Responder

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kasvattaja Forty-Nine
kasvattaja Forty-Nine

Em: 30/05/2020

Ola! Tudo bem?

 

Gostei do conto. A Transexualidade envolve muita discussão na área medica, imagina quando envolve sentimentos. Mas na ficção resolvemos todos os problemas... Ou quase todos.

 

É isso!


Resposta do autor:

Bom seria se pudessemos resolver todos os problemas, tristezas e dores da vida real como os resolvemos na ficcção, não? Gosto de histórias felizes, então pensei em deixar as coisas um pouco mais leves do que elas podem ser de fato â¤

Responder

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Rosa Maria
Rosa Maria

Em: 30/05/2020

Quando a "química" vem; nada importa e detalhes não tem importância nenhuma. 

Belo e sensível conto

Beijo

Rosa 🌹


Resposta do autor:

Concordo totalmente com seu ponto de vista, Rosa (;

Fico feliz que tenha gostado!

Um beijo!

 

Responder

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