Metamorfose por Deby
Passado e Presente
Finalmente, a casca quebrou e, para surpresa da mamãe pata, de lá saiu um patinho muito diferente de todos os seus outros filhos.
- Este patinho feio não pode ser meu! Exclama a mamãe pata.
- Alguém te pregou uma peça. Afirma a vizinha galinha. (O patinho feio.)
–Chegamos, finalmente.
Olho com atenção a típica cidade de interior: ruas estreitas, comércio em torno da praça, piso de paralelepípedo, o riso de crianças, uma praça central com igreja. Isabelle respirou fundo, transportada por lembranças nebulosas do seu passado. Ela viu a luz da lua, sentiu cheiro de algodão doce, das flores florescendo na primavera, ouviu a música de um violão e o sorriso da garota de olhos cinza esverdeados que ela amava desde que passou a entender o significado da palavra amor. Em um mundo onde tudo que ela desejava era inalcançável.
-Você acredita que depois de 10 anos estamos de volta? – A voz do seu melhor amigo a trouxe de volta para o presente.
Isabelle respirou fundo. Não respondeu nada.
– Isa... Gabriel olhou para ela surpreso, pensava que as mágoas tinham se dissolvido tal como o período da adolescência de ambos.
–Não Gabriel, eu não acredito que estamos de volta, principalmente pelo fato que eu não queria voltar.
–Você sabe que não poderíamos negar. – Gabriel deu um pequeno sorriso, saindo do carro, sendo acompanhado por Isa, ambos olhando para o local em que iriam trabalhar a partir da próxima semana.
Caapuã é uma cidade do interior, o Tenente-general Rodolfo Ferreira Cavalcante, veio de Minas Gerais com a finalidade de fixar residência no pequeno município em busca de paz para a família, quando se estabeleceu construiu uma fazenda de gado, em meados de 1860 uma grande seca ameaçou exterminar o gado da região, devoto de santa Luzia, Rodolfo Cavalcante prometeu construir uma capela para a santa se surgisse água para a manutenção de sua fazenda. Cavando então um poço perto do riacho de sua fazenda, água jorrou em abundância e nunca mais secou.
A partir desse momento o poço passou a ser chamado de Poço de Santa Luzia. Construída a capela, as festas religiosas e as romarias atraíam para o local um grande número de fieis, que vinham até mesmo dos mais distantes sertões e, como a fazenda do tenente-general não tinha nome, todos diziam que estavam indo para Caapuã, primeiro nome dado pelos índios para aquelas terras, que significa “a pessoa ou a coisa que mora no mato.”
Ao passar dos anos, famílias influentes foram se estabelecendo nas terras de Caapuã, enriquecendo o comércio local e as garras da globalização conseguiram alcançar a pacata cidade causando transformações. O que surpreendeu Isabelle, quando recebeu o telefonema com a proposta de emprego para lecionar na faculdade da cidade e descobriu que Gabriel também recebeu uma proposta, depois de muita insistência do seu amigo aceitou a vaga.
Ambos concluíram o doutorado há pouco tempo, Isabelle em psicologia e Gabriel em artes visuais. Desde a juventude o grande sonho dos amigos inseparáveis é lecionar em uma universidade, para Gabriel não importava se a universidade é na cidade que Isabelle jurou nunca mais voltar.
–Misericórdia, eu sei que é uma universidade do interior, mas a diretora precisava decorar tudo com mato? –Gabriel reclamava enquanto andava pelo local.
A mulher que andava pacientemente ao seu lado, dona de um longo cabelo vermelho que despencava pelas suas costas como um céu acobreado, apena deu de ombros.
-Biel, são flores.
- Flores, rosas, mato... Não importa a denominação, parece que essa mulher tá querendo criar a própria Amazônia aqui dentro, a minha sensibilidade artística... –Gabriel interrompeu o que estava falando, pois a diretora do Campus mais conhecida por eles como Dona Socorro, a excêntrica professora de história, se aproximava.
–Eu reconheci Gabriel de longe. –Falou a mulher de meia idade, com o cabelo em corte Chanel e o olhar amigável ofuscado pelos óculos fundo de garrafa, automaticamente se concentrou em observar a ruiva ao lado. –Meu Deus, essa é mesmo Isabelle Cavalcante?
–A minha garota passou por uma transformação que só foi possível por eu ser a fada madrinha dela. –Respondeu um Gabriel sorridente abraçando a sua amiga. –Isabelle lançou um olhar fulminante ao amigo, só ele sabia o quanto ela se sentia desconfortável quando as pessoas começavam a falar sobre a aparência dela. –Eu juro que em sala de aula ele consegue se controlar. –Respondeu à ruiva.
Dona Socorro olhou para ambos e sorriu ao se lembrar dos alunos que por muito tempo em seus momentos de solidão relembrando sobre sua vida se perguntava o que tinha acontecido com eles. Aqueles dois jovens automaticamente tinham conseguindo cativar a professora. Aparentemente apesar da grande mudança física da garota, a essência continuava a mesma, Gabriel de sorriso fácil, funcionando paradoxalmente como uma barreira protetora e uma ponte de acesso entre Isabelle e o mundo.
– Eu definitivamente ainda estou com dificuldade de assimilar essa Isabelle com a minha aluna do passado, mas eu aprendi a nunca duvidar da capacidade de transformar as coisas que o Gabriel tem.
– A senhora lembra quando me deu permissão para dirigir a peça do auto de Caapuã?
– Como eu esqueceria? Você transformou o grande Pajé em gay.
–Eu não transformei em nada, os sinais já estavam na história, ninguém prestou atenção.
A voz indignada de Gabriel foi se distanciando cada vez mais e Isabelle sentiu que entrava em um túnel do tempo, sendo transportada para outros corredores, diferentemente dos da universidade, a caminhada por esses corredores era cruel.
– Deus, ela engordou mais nas férias? –Perguntava uma aluna alto suficientemente para a garota cheia de sardas e cabelos trançados escutar, ela tentou andar mais rápido para chegar à sala e se esconder de todos, mas não adiantou, um dos alunos parou em seu caminho. – Ei Isabelle, você sabia que gordura só era sinal de ostentação na idade média né? –Com o dinheiro que sua família tem você bem que poderia cuidar da sua aparência. – Debochou outro aluno.
Ela correu para fugir daquela situação, mas acabou esbarrando em alguém e perdeu um pouco o equilíbrio, quando olhou para frente, olhos cinza esverdeados a miravam com pena.
Fim do capítulo
Meninas, essa é a primeira história que eu publico aqui, então comentário são mais que bem vindos para eu saber o que vocês estão achando.
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