POV FERNANDA

      As palavras de Camila pareciam socos dados em meu estômago, eu nunca ouvi algo tão perturbador em toda minha vida, eu não tive nem um tipo de reação no primeiro momento. Julia entrou em minha frente e empurrou Camila que vinha pra cima de nos duas.

-Garota quem você pensa que é pra falar assim com ela? Você esta louca? – Julia esbravejava com Camila enquanto Cláudio tentava segurar Camila.

-VAI DEFENDER A NAMORADINHA? QUE LINDO O CASAL SE DEFENDE. – Camila gritava ainda mais com ironia nas palavras, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam.

     Celio veio correndo quando viu a algazarra que estava rolando, eu ainda continuava aérea a tudo, mas meu rosto já estava banhado em lágrimas.

-Gente, mas o que é isso que está acontecendo, dá pra ouvir os gritos de vocês a quilômetros. – Celio chegou ofegante.

-Você sabia disso Celio? Sabia que Fernanda é uma aberração igual essazinha ai da Julia?

        Nessa hora meu sangue ferveu e eu fui pra cima de Camila, porem fui contida pelas mãos ágeis de Julia e Celio entrou no meio.

-Camila, cala essa boca, eu não te devo nada. O que eu sou ou deixei de ser não é da sua conta, você nunca se preocupou de verdade comigo, você sempre se colocou em primeiro lugar e nunca se deu o trabalho de olhar pra mim, de saber dos meus interesses. – Nesse momento Camila me olhou com espanto. – Eu não preciso ficar aqui ouvindo desaforos de uma pessoa volúvel como você.

-Vamos embora Camila, já chega. –Claudio pedia tentando amenizar as coisas.

-Agora quem não quer ser sua amiga sou eu mesmo, não costumo andar com esse tipinho como vocês, vocês são aberrações. Você Fernanda ainda vai se arrepender de trocar nossa amizade pra viver nesse pecado. – ela cuspiu essas ultimas palavras e saiu acompanhada de Cláudio.

      Eles saíram e eu desmanchei de chorar, Julia me abraçava e Celio segurava minhas mãos. Nunca poderia imaginar que Camila usaria palavras tão duras comigo, o fim da nossa amizade nem era o que pesava tanto, a forma com que ela chamou Julia e eu, o olhar de nojo que ela lançou em nós era cortante.

-Baby Não fique assim, ela é uma idiota que não merece a sua amizade. – Julia dizia beijando o topo da minha cabeça. – Vamos, vamos sair daqui, já demos muito palcos pra esses fofoqueiros.

-Fê, não fica assim minha linda! Camila é uma babaca preconceituosa que só merece nosso desprezo, eu posso imaginar a dor que você está sentindo, mas não vale a pena. - Apenas assenti com a cabeça e pedi que Julia me levasse embora.

     Primeiro íamos deixa Celio em casa, depois seguiríamos pra minha, eu precisava me acalmar antes de chegar em casa, se eu chegasse naquele estado minha mãe ia fazer um interrogatório.

-Baby você quer ir pra casa mesmo? – Julia me perguntou me tirando dos meus pensamentos. – Se preferir podemos ir pra minha casa, ou para o chalé.

-Eu prefiro ir pra casa se não se importar, eu quero ficar um pouco comigo mesma.- eu não tinha clima nenhum pra ser uma boa companhia pra Julia.

-Tudo bem, eu entendo, mas você não precisa passa por isso tudo sozinha. – ela me olhava dentro dos olhos quando parou o carro na casa de Celio.

-Fê, você sabe que estou com você agora, mesmo em pouco tempo eu já estou entregue á nossa amizade, saiba que pode contar comigo pra qualquer coisa. – Celio me envolveu em seu abraço.

-Eu sei disso Celio, eu gosto muito de você e sinto que nossa amizade é verdadeira. Estamos aqui um pelo outro sempre. E se algo acontecer você pode me ligar tá.

   Deixamos Celio em casa e seguimos, durante o caminho Julia tentava puxar assunto, mas eu só respondia o que ela perguntava monossilábica.

-Linda chegamos, tem certeza que quer ficar?

-Tenho, obrigada por me trazer. – Me virei pra ela e ela mantinha os olhos nós meus. - Julia, eu nem sei como te pedir desculpas por isso, eu estou envergonhada pelas coisas que ela disse.

-Fernanda, você foi vitima assim como eu, você não tem culpa nenhuma da ignorância das pessoas, ela é o que é e não cabe a você se envergonhar por ela. – Julia segurou meu rosto e depositou um beijo em minha testa. – Olha, não foi a primeira e nem a ultima vez que vou ter que enfrentar essas coisas, nos do meio LGBT sempre seremos taxados de aberrações e pecadores enquanto houver essas pessoas ignorantes.

-É que foi tão doloroso, tão cruel, eu não sei nem o que falar.

-Olha, eu entendo que foi cruel, mas não derrame lagrimas por alguém que não merece, e como diria o Celio: “chorar por gente que não presta enfeia a gente” rsrsrsrs. – ela disse me arrancando risos.

-Tabom, eu vou tentar esquecer esse dia, não vou ficar pensado nisso. Agora eu preciso entrar, eu trabalho amanhã.

-Vamos esquecer só essa parte horrível, pois nosso dia foi maravilhoso, pelo menos pra mim.

-Pra mim também foi, e obrigada por tudo que você fez hoje, você é incrível Julia. – Eu a abracei e ela deixou um beijo na curva do meu pescoço. – agora eu preciso entrar, a gente vai se falando ta bom?

     Ela antes de me deixar descer me deu alguns beijos, ela era incrível era engraçado como ela conseguia me alegrar tão rápido assim. Julia me deixava nas nuvens em minutos, estava perdida e não podia mais negar que eu estava apaixonada.

Fim do capítulo