Como Lobos por Maya Silva
Capitulo 2
Os primeiros raios solares incidiam pela janela trazendo uma luminosidade ao pequeno quarto. Zuhri abriu os olhos preguiçosamente e xingou Ayo em seu primeiro pensamento da manhã. Ele ainda não havia colocado as malditas cortinas. Fez um esforço para levantar e sentiu a cabeça pesando sobre o corpo igualmente dolorido. Uma rápida análise mental lhe dizia que não havia exagerado na bebida noite passada, desta vez a ressaca era moral. Era seu corpo tensionado pelos dias mal dormidos na floresta, o sono leve, atento ao menor barulho próximo à barraca e a agora os acontecimentos de horas atrás.
Seus olhos se recusavam a desviar do corpo nu de Olívia. Estavam atentos a toda a sua movimentação, todos os contornos do seu corpo, assim como suas reações aos toques que recebia. Tal como fogo, ela queimou a sua pele, seus pensamentos e sua sanidade. Não foi capaz de contar todas as vezes que seu corpo reagiu ao desejo mental que lhe despertava. Gozou várias vezes imaginando que eram seus toques lhe oferecendo aquele prazer que sabia não ser pra si e, mesmo assim, só saiu do esconderijo quando viu Ayo a pegando no colo e ela, ainda embalada pelo prazer, passou suas pernas pelo corpo dele, posicionando o membro rígido dentro de si. Ele seguiu para o quarto enquanto Zuhri procurava sair de seu estado inanimado, vencendo os poucos centímetros até a cama. Ainda sentia sede, mas não teve mais vontade de sair. Encarou o teto escuro até conseguir ser vencida pelo cansaço.
Levantou cambaleante e consultou as horas em seu relógio. Eram 7 horas da manhã. Arrumou as poucas coisas que estava consigo e caminhou silenciosamente até o banheiro para lavar o rosto. Ao ir em direção à porta, passou pelo sofá e parou, encarando-o por alguns instantes. Na pequena mesa de centro, um álbum de fotografias chamou a atenção. Abriu-o e viu diversas fotos de Olívia, algumas acompanhada e outras sozinha. Uma em particular chamou a atenção: Ela em um sorriso muito aberto e olhos fechados, com os cabelos sendo carregados pelo vento. Pegou-a, guardando dentro do casaco antes de tomar a estrada.
Olhou ao redor, os moradores aos poucos iam acordando e aparecendo na rua conforme caminhava discretamente para o lugar onde deixara o carro. Sempre que ia visitar Ayo ou qualquer outra pessoa mais próxima, preferia deixá-lo a algumas quadras de distância por questões de segurança. Quando encontrou a caminhonete, fez uma inspeção visual, desembaçou os vidros e seguiu para casa. Morava há cerca de 40 minutos de Ayo, nos limites da capital, onde as casas costumam ser isoladas e os vizinhos mais próximos estavam há 1km.
A propriedade se localizava em um terreno repleto de árvores e vegetação nativa com uma discreta estradinha de granito direcionando para a garagem. A casa em formato de cabana era bem menor se comparada com as outras da região, mas não perdia em conforto e nas necessidades que as baixas temperaturas exigiam de seus habitantes. Considerava-a seu refúgio pessoal, de forma que apenas algumas pessoas tinham acesso a ela. Evitava ao máximo, pois se sentia demasiadamente exposta uma vez que cada móvel, cor ou decoração havia sido escolhido por si.
Preparou um café forte e algo para comer já que havia saído de barriga vazia. Separou água quente do chuveiro e encheu a tina para banho que havia no quarto. Apenas uma de suas poucas excentricidades, uma vez que adorava relaxar olhando as montanhas que reinavam majestosamente atrás da longa extensão de árvores. Tirou as roupas com as janelas descortinadas, sem se preocupar em ser vista e sentiu o corpo retesar inicialmente pelo contato com a quentura para logo em seguida relaxar completamente.
Zuhri abriu os olhos e sentiu o rosto arder, colocou a mão no local e viu o sangue escorrer, vasculhou o ambiente e não havia mais ninguém. O atirador acreditou ter acertado o alvo e agradeceu mentalmente pela mira ruim. Fez esforço para levantar e sentiu a perna. Estava quebrada. Procurou o aparelho no bolso e o encontrou há algumas distâncias de si, ao lado do corpo do desconhecido policial que fazia a guarda do depósito. Infelizmente ele não tivera tanta sorte assim. Pressionou os dedos no ferimento tentando conter o sangue e com o braço livre foi rastejando até o telefone.
- Sinto muito parceiro – Deu leves tapinhas em seu ombro.
Soltou o ar quando constatou que ainda tinha área, discou os números e aguardou.
- Zuhri? – A voz masculina atendeu euforicamente.
- Sim, sou eu.
- Graças a Deus, pensamos que estivesse morta.
- Quase, não foi desta vez, mas preciso de ajuda, estou perdendo muito sangue.
- Eles já devem estar chegando ai. Aguente firme, não ouse morrer agora, está me ouvindo?
- Vou tentar – Falou com a voz mais baixa.
Sentia-se enfraquecer e já não conseguia sustentar a cabeça, precisou deitar a fim de tentar contar a tontura e o escurecimento das vistas. Prestes a desmaiar, a única coisa que ouviria eram os barulhos da sirene.
A ajuda havia chegado.
Acordou sobressaltada com a água já em temperatura ambiente. Fora um pesadelo. Apenas isso. Mergulhou o rosto mais uma vez e já passava das 10 quando se vestiu e catou as roupas do chão. A pequena fotografia escapou do bolso e a analisou mais uma vez com um suspiro condescendente.
Seguiu para o closet e afastou os grossos casacos de inverno que escondiam uma pequena porta cuja chave estava escondida sob o assoalho. O espaço abrigava uma mesa com cadeira, uma estante com várias pastas e um quadro com diversas fotos, reportagens e linhas, muitas linhas ligando umas às outras. Deu uma olhava para o celular sobre a mesa e fez uma chamada.
- Espero que desta vez seja algo sério – a voz do outro lado respondeu.
- Os arquivos que enviei na semana passada são sérios. Conseguiu dar uma olhada?
- Já conversamos sobre isso. Por que não está pescando, montando em alces ou fazendo coisas normais, só para variar?
- Você sabe das minhas razões.
- Eu sei disso, mas já faz algum tempo que isso se tornou pessoal demais.
- É por isso que quero, mais do que ninguém, que isto se resolva o mais rápido possível.
O homem do outro lado respirou bem fundo. Zuhri conseguia ser incansável e muitas vezes não sabia dosar os limites. Características que sempre admirou em seu trabalho, mas que agora a tornavam uma pessoa difícil de controlar dadas as circunstâncias.
- Já faz mais de dois anos. É possível que nada mude, sabe disso, não sabe?
Ela não respondeu, o que só confirmou a teoria de que ela realmente acreditava que as coisas seriam diferentes.
- Parou de ter aqueles pesadelos? – Tentou mudar de assunto já que a convencer do contrário seria difícil.
- Eles nunca foram embora – Disse com a garganta fechando.
Pegou uma garrafa que tinha na prateleira e deu uma enorme colada direto do gargalo.
- Você poderia ir ao médico, quem sabe tomar alguns remédios, pelo menos por um tempo.
- Eu não quero me drogar.
- E qual é o nome que dá pro que está fazendo agora?
Não podia ver o que ela estava fazendo, mas imaginava que estivesse bebendo. Sempre o fazia desde que saira do hospital. Tudo havia tido um impacto muito grande para ela, tinha ciência e é por isso que a afastou, precisava que descansasse e colocasse os pensamentos novamente no lugar.
- Eric...
- Não fale o meu nome, sabe que é perigoso. – A repreendeu.
- Desculpe – Deixou algumas lágrimas rolarem – Alguns dias sãos mais difíceis.
- Talvez devesse sair mais, conhecer pessoas novas, sair desse isolamento do qual se mantém.
- Eu prefiro assim.
- Mas não está te fazendo bem. Já pensou na proposta que fiz? Sobre se mudar? Os rapazes sentem sua falta, quem sabe se você participasse dos treinamentos, recomeçasse devagar.
- Estar atrás de uma mesa enquanto meus colegas estão nas ruas não é exatamente a minha ideia de recomeço.
Um barulho em sua porta a silenciou. Não costumava receber visitas. Tentou olhar pelo pequeno basculante, mas o visitante estava fora do campo de visão.
- Está me ouvindo? – Escutou do outro lado.
- Estou. Preciso desligar, depois falo com você melhor.
Desligou sem esperar resposta. Olhou mais uma vez para ter certeza e desta vez viu o pedaço de um casaco, não parecia ser de ninguém próximo. Pegou a arma que guardava e andou silenciosamente em direção à porta, tomando o cuidado de fechar o quartinho e esconder a chave. Abriu uma pequena brecha na janela da sala e constatou que era Ayo.
- Finalmente me atendeu! Sabe quanto tempo estou aqui parado? - Respondeu entrando e já tirando as botas e o casaco.
Revê-lo era um sentimento dúbio para Zuhri. Embora não fosse de demonstrar, amava-o demais e, no fundo, ele sabia disso, por isso não pedia permissão e nem se intimidava com os olhares críticos ou o mau humor constantes em sua irmã. Entretanto, a noite passava ainda martelava em sua mente e só de pensar nisso, sentia vontade de esganá-lo.
- O que faz aqui? – Colocou a arma em cima da mesa.
- Pra que essa arma? – Olhou desconfiado.
- Pensei que fosse um estranho, não reconheci o casaco.
- Se não tivesse sumido, teria visto que Olívia me deu ele hoje de manhã. O que acha? – Perguntou bobamente.
- Horrível – Respondeu secamente.
- Você está precisando se apaixonar.- Ayo falou seriamente e se arrependeu no instante seguinte pelo olhar que recebeu. – Certo, desculpe.
- Não se preocupe. Não quero parecer grossa, mas o que faz aqui? – Pegou duas cervejas na geladeira e entregou uma a ele.
- Preciso de um favor. Apareceu um trabalho e o cara vai me pagar bem, só que Olívia precisa comprar algumas coisas na rua hoje. Todos estão ocupados hoje, exceto você.
- E não pode deixar isso para outro dia?
- Hoje é um dia importante, alguns parentes dela irão lá. Me faz esse favor?
Zuhri pensou que se Ayo foi até ali para lhe fazer aquele pedido, é porque realmente precisava.
- Tudo bem.
A simples resposta o pegou totalmente de surpresa, jurava que ela iria negar.
- Obrigada. – Ele a puxou para um abraço apertado – Ah, ela está no carro.
- Ela já veio com você? – Passou a mão no cabelo em sinal de nervosismo.
- Sim, eu já tenho que ir daqui direto senão perco a hora.
- Certo.
- Vou ajudá-la a sair do carro então, tudo bem? - Perguntou cautelosamente, temendo que Zuhri mudasse de ideia.
- Ok.
O seguiu até o veículo mantendo uma distância segura enquanto eles trocavam algumas palavras e selando o final com um beijo. Respirou fundo pensando no longo dia que isso daria. A ajudou a chegar até a irmã, trocou mais algumas palavras sussurradas e desta vez foi embora.
- Obrigada por fazer isso, sei que sua vontade era de negar – Falou dando um sorriso.
- Eu jamais negaria.
Olívia não fazia ideia o quanto de verdade tinha aquelas palavras, mas de alguma maneira, o jeito com que havia dito lhe fez sentir-se mais segura.
- Posso me apoiar no seu ombro? – O sorriso aberto não saia de si.
- Claro.
Zuhri alcançou a mão que Olívia mantinha no ar e a colocou o mais delicada que pôde em seu ombro.
- Suas mãos são macias. – Falou enquanto entravam pela casa.
- Eu tenho alguns calos. - A ajudou com as botas e os casacos.
- Sua casa é linda. – Zuhri levantou uma sobrancelha imaginando que Olívia estivesse brincando consigo, mas ela continuava com o olhar doce. – Tem um cheiro agradável.
- Obrigada – Olhava-a sem reservas, já que não poderia ser vista. – Gostaria..hum..de conhecer a casa?
Olívia ponderou o pedido considerando o fato de que levara dois anos para trocar mais do que meia dúzia de palavras com ela em razão da descrição e solitude que aparentemente gostava de nutrir.
- Não precisa fazer isso por educação, sei que não gosta desta invasão.
Não poderia deixar de admirá-la mais. Poucas pessoas, para não dizer nenhuma, tiveram a coragem de dizer em voz alta as esquisitices de sua vida.
- Não vai fazer muita diferença.
“Porque sou cega”
“Porque já me sinto invadida por você”
Pensaram ao mesmo tempo.
- Talvez outra hora, não quero ocupar muito o seu tempo.
- Tá bom. Vou me arrumar, não demoro.
Ajudou-a a sentar no sofá e trocou de roupa na velocidade da luz. Se insultou mentalmente por esquecer de ao menos perguntar se ela gostaria de beber ou comer alguma coisa. Havia esquecido completamente e, além disso, soube que houvera sido levemente mal educada no final das contas. Droga, precisava tentar apagar os flashes que vinham em sua cabeça, ela não tinha culpa.
- Estou pronta, gostaria de comer ou beber alguma coisa antes de irmos?
- Não, estou bem, obrigada.
Ofereceu o ombro novamente e ela recusou desta vez. Foi se guiando pela muleta e apenas quando precisaram ir para o carro é que aceitou ajuda. Fizeram o caminho em silêncio. Ela mantinha as mãos no colo, as unhas curtinhas, muito bem cuidadas, os cabelos ruivos muito selvagens e diversas pintinhas espalhadas pelo corpo.
- Devia prestar mais atenção na rua.
Virou-se em direção à estrada, ainda pega de surpresa pelo flagra.
- Como percebeu isso?
- Senti a sua respiração. - Na verdade havia sentido seu olhar em si e não era a primeira vez que tinha essa sensação, de estar sendo observada por ela. Havia sentido hoje em sua casa e durante a madrugada enquanto ela e Ayo faziam amor na sala.
Zuhri manteve os olhos fixos na estrada durante todo o resto do trajeto, olhando em sua direção apenas quando precisava conferir o retrovisor ao lado. Dirigiu para o maior mercado da cidade onde teria certeza que encontraria tudo que precisasse. Embora houvesse uma boa quantidade de pessoas, tinha muito espaço para circular. Pegou um carrinho e puxou a mão de Olívia para seu ombro, desta vez ela não reclamou.
- Tem alguma lista com os itens que precisa?
- Tenho, mas não acho que consiga ler, está em braile – Ela puxou um papel do bolso e mostrou a sequência organizada de pontos.
Zuhri passou a mão, tomando o cuidado de esbarrar suavemente seus dedos no dela.
- Cinco tomates, duas cebolas...
- Não sabia que conhecia. – A voz com um misto de surpresa e empolgação.
- Há muitas coisas que não sabe. – Falou empurrando o carrinho devagar.
- E por que você não me conta?
- Porque sou reservada.
- E por que é assim? – Insistiu dando um de seus sorrisos infinitos.
- Porque tenho motivos para ser. Que tal se você ir escolher as frutas e legumes enquanto eu pego as outras coisas?
- Tudo bem
Zuhri a acompanhou com os olhos para ter certeza de que ela ia na direção correta. Quando chegou e começou a escolher o que queria, saiu para buscar os itens e entre uma coisinha e outra, verificava se Olívia estava bem. Sim, ela estava. Dentro de suas limitações, era uma mulher muito independente e parecia ter super poderes.
Enquanto escolhia as bebidas, dois caras se aproximaram de Olivia. Em um primeiro momento Zuhri achou que pudessem ser conhecidos, mas prestando um pouco mais de atenção, viu que um deles passou a mão por sua cintura. Uma carícia muito íntima, em sua opinião. Ela pareceu se assustar e ao tentar desviar, esbarrou na bancada ao lado, indo direto ao chão.
O monstro em Zuhri avançou pesadamente até a dupla.
- Se afastem dela – Gritou chamando a atenção deles e das outras pessoas.
- Só estávamos conversando. – Um deles deu um sorriso sacana.
- Pois eu acho melhor vocês darem o fora daqui – Falou segurando o colarinho dele.
- Calma gata que assim você me excita - O outro falou.
- O que uma mulher como você pode fazer? – O do colarinho continuava com o sorriso cínico.
- Zuhri.. – Olívia dizia se levantando com a mão no braço. Havia se cortado.
Foi a gota d’água.
-Vou mostrar o que uma mulher como eu pode fazer.
Deu um soco de mão cheia na cara dele fazendo-o cambalear e escorregar enquanto o outro avançou segurando-a pelas costas. Conseguiu dar uma cotovelada em seu estômago e quando se viu livre, chutou suas bolas. Ele deu um gemido de dor e se arrastou para o chão. Zuhri agachou e falou para que apenas ele escutasse.
- Nunca mais toque em mim, ouviu bem?
- Piranha – Ele dizia engasgado de dor e ódio.
Olívia a chamou mais uma vez, trazendo-a para a realidade.
- Estou aqui, você está bem? – Perguntou preocupada olhando para o braço e ela fez que sim.
Alguns seguranças do mercado apareceram para verificar o acontecido e dispersar os curiosos. A dupla jazia no chão, gem*ndo de dor e Zuhri percebeu o anel com um brasão. Conhecia-o perfeitamente. Droga!
- Vem, vamos sair daqui – Segurou-a pela cintura e passou o braço bom ao redor de seus ombros.
- Esperem, não podem sair daqui - O segurança barrou – Precisamos saber dos detalhes.
- Com todo o respeito senhor, se quer detalhes, pergunte a esses dois cidadãos e a quem mais quiser aqui. O que acabou de acontecer foi uma clara cena de abuso em uma mulher que não é capaz de ver e muito menos de poder se defender da maneira que gostaria.
E saiu andando decididamente. Que fossem para o inferno, todos eles, pensou. Entraram no carro e Zuhri lembrou-se dos homens com o anel. Não era possível que estivessem pela região. Resolveu dirigir por alguns quilômetros e parou no acostamento.
- Me deixa ver o braço – Pediu e ela lhe ofereceu. Felizmente não era um corte profundo.
- Obrigada – Ela disse encontrando sua mão e segurando-a, fez um leve carinho.
- Não precisa agradecer, você está bem? Seja sincera.
- Estou, só um pouco assustada
- Ainda quer fazer as compras? Vamos comprando pelo caminho.
- Quero, não vamos deixar isso estragar o dia.
- Tem razão.
Foram passando pelos diversos mercados na direção de casa e quando não encontravam o que queriam em um, passavam em outro até juntarem todas as coisas da lista. Seguiram para a casa de Ayo, desta vez quebrando a regra de não parar na porta. Ajudou-a a descarregar as coisas e foi estacionar na rua ao lado. Quando chegou ela estava abrindo a caixinha de primeiros socorros.
- Deixa eu que faço isso pra você – Falou puxando um branco de frente para ela.
- Não precisa, posso fazer isso. – Disse enquanto ia separando os itens.
- Eu sei que pode, mas eu gostaria de fazer, você me permite? – Zuhri perguntou mansamente. Queria verdadeiramente lhe ajudar e esperava que ela deixasse.
Olívia a encarou como pudesse vê-la e ofereceu o braço em sinal de concordância. Zuhri pegou o frasco de remédio e deu algumas borrifadas no ferimento, passando o algodão com cuidado.
- Obrigada por ter me defendido. – Falou docilmente.
- Sei que teria feito o mesmo por mim – Retribuiu com um sorriso na voz. – Você foi muito corajosa hoje.
- Não tanto quanto eu poderia – Deu um suspiro triste com os olhos começando a marejar.
Sem saber o que dizer, a puxou inesperadamente para um abraço. De início ela ficou rígida pela surpresa, mas aos poucos foi relaxando.
- Para quem não gosta de intimidade, você tem um ótimo abraço – Sorriu em meio às pequenas lágrimas que escorriam e iam parar na blusa de Zuhri que não soube o que dizer, então preferiu ficar em silêncio.
A campainha tocou fazendo-a interromper o abraço.
- Zuhri? - O homem do outro lado da porta apresentou uma súbita palidez.
- Papai, o senhor chegou? – Se levantou animadamente indo encontrá-lo.
Zuhri e ele trocaram mais um olhar e ela apenas levou o indicador aos lábios em sinal de silêncio.
- Já, minha filha. Conseguimos adiantar o nosso vôo. Espero que não se incomode – Deu-lhe um abraço apertado, sem desviar os olhos da mulher ao seu lado.
- Imagina, mas ainda não temos nada pronto. Espero que não estejam mortos de fome.
- Não se preocupe, eu e sua mãe comemos na estrada.
- Onde ela está?
- Estou aqui, minha querida! – A senhora igualmente ruiva entrou pela porta e quase teve um treco assim como o pai, ao perceber quem estava ali. – Pode me ajudar com a bagagem filha?
- Claro que sim, mas antes queria apresentar a Zuhri. Ela é irmã do Ayo. Zuhri, estes são meus pais: Ester e Leon.
Zuhri agradeceu internamente por Olívia não enxergar, pois certamente veria seus pais extremamente pálidos e igualmente surpresos pela recente notícia.
- Muito prazer – Iniciou o assunto já que eles ainda tentavam processar a informação.
Após algumas palavras, Olívia ajudou a mãe com a pouca bagagem até o quarto de hóspedes.
- O que faz aqui? Sabe que é perigoso. – Leon sussurrava alarmado.
- Eu sei – Falou passando as mãos no cabelo nervosamente – Não sei como, mas esta situação acabou acontecendo.
- Ele é seu irmão mesmo? – Aparentava uma preocupação evidente, sabia que Zuhri tinha um irmão, mas daquele jeito...eram muitas coincidências negativas.
- Sim. – Soltou um longo suspiro.
- E ele sabe?
- Ele não faz ideia sobre esta parte da minha vida. É mais seguro desse jeito.
- E ela? Nenhum progresso...lembrança?
- Não...nada. – Respirou fundo, querendo muito uma bebida. Olhou ao redor e nada à vista.
- Parece que ainda não desistiu. – Deu um olhar paternal.
- Ela é minha mulher doutor, eu jamais vou desistir dela.
- Olívia sequer é capaz de lembrar.
- Mas eu lembro e, enquanto uma de nós lembrar, isso jamais poderá ser esquecido.
“Jamais”, pensou.
Fim do capítulo
Confesso que gostei bastante de escrever o primeiro capítulo que era apenas para ser um conto já que estou com uma história em andamento no site, mas me vi escrevendo essa...então resolvi postar para quem gostou e quis uma continuação. Obrigada pela leitura. bjos
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loyane hellen
Em: 04/05/2020
oie! estou amando, espero que continue. bjs que venha os proóximos capitulos. :)
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