Capítulo 7 - Conversa Pendente

_ Ih! Pela sua cara pelo visto lá vem chumbo grosso.

_ Sabe que isso é uma das coisas que mais gosto em você? A capacidade de conseguir me ler só em me olhar, e a que mais odeio é sua capacidade de me deixar contrariada, Búzios Tone? Autorizou Beatriz passar o carnaval com a Rafaela em Búzios sem falar comigo antes? - disse enfurecida.

_ Ah, é sobre isso? perguntei espantada.

_ E sobre o que mais seria? - respondeu, encolheu a sobrancelha pensando sobre o que mais poderia ser o assunto, quando em um lampejo lembrou da conversa que tivemos na noite passada.

_ Pera, você vai mesmo levar essa loucura de morar com Anne adiante? disse inquisitiva

_ Você quer a resposta simples e curta ou a complexa e longa? 

_ Vamos falar primeiro sobre a loucura 1 de deixar Bia ir para búzios. 

_ E Quando ficou sabendo disso? Foi ontem que falei com Rafa e Beatriz, com certeza não foi Bia quem falou, certamente ela iria deixar a bomba de te comunicar em minhas mãos - silenciei por alguns segundos enquanto repassava em minha mente todas as possibilidades de Helena ter tomado ciência da viagem

_ Não!!! Você colocou câmeras escondidas no coliseu, Lena?! perguntei assustada.

_ Não acredito que faria algo assim só para controlar o namoro da menina!

_ Argh, você é mesmo uma idiota Tone, não tem câmera alguma, esbarrei com a Rafa e a mesma acabou contando, bastou um minuto para arrancar dela toda a história, depois não sei por que ela tem um certo medo quando fala comigo, só precisei pressionar um pouquinho e ela largou tudo.  Como pode apostar algo assim com a Bia, Tone? 

_ Humm, preciso responder? ou vai fazer aquele negócio de ler a resposta no fundo dos meus olhos? - perguntei sem jeito me encolhendo ainda mais na cadeira, Helena quando queria também conseguia tirar de mim confissões até mesmo sem que eu abrisse a boca, entendia bem como Rafa se sentia, ela era altamente intimidadora, podia sentir seu olhar me perscrutando, tentava disfarçar e evitar que ela descobrisse a minha culpa. 

Sim eu era culpada sobre isso, sabia que Bia só teria ido me buscar aquele dia porque já tinha a solução e só queria poder me mostrar sua capacidade, já sabia que perderia a aposta quando a fiz, foi só meu jeito de apoiar o namoro ou quase namoro entre as duas, aquela forcinha de tiazona que poderia dar.   

_ Não acredito Tone! Você sabia que iria perder, foi sua forma de dar seu apoio, passando por cima de qualquer opinião que eu possa ter sobre.

_ Ah, Lena! Beatriz já tem 17 anos, está se descobrindo você deveria ficar feliz de ser com a Rafa - vi quando ela suspirou profundo cobrindo o rosto com as duas mãos, demonstrando que eu estava muito fudida.

_ Certo, Tone! Você já decidiu por você e POR MIM, não vou mudar sua decisão.

_ Humm, isso está fácil demais, siga por favor com o “NO ENTANTO” - frisei sabendo que ainda sofreria as consequências de não tê-la consultado .

_ NO ENTANTO, vamos todos para búzios, você fica responsável por arrumar o convite da Rafa para ficarmos todos hospedados na casa dela - disse triunfante.

_ Não acredito que vai querer melar o carnaval das meninas? Já pensou que constrangedor começar um namoro com você lá por perto?

_ E quem disse que será somente eu? pode estender o convite a família incluindo você, vamos todos para búzios neste carnaval, e você não sabe se vão começar algo lá, provavelmente já estão namorando e não sabemos, sabemos? - perguntou enfática encarando meus olhos.

_ Rafa e sua boca grande, assim fica até difícil ajudar e pelo que sei, elas não estão tendo nada  - rosnei entre dentes enquanto Helena sorria vitoriosa.

_ Resolva isso mais breve possível, o carnaval é daqui duas semanas e não quero Bia de cara fechada pra mim por sua culpa, você arrumou a confusão você resolve.

_ Okay, mas vou logo dizendo, Bia vai fechar o canal de comunicação com você nos próximos dias e isso é algo que não vou poder mudar.

_ Não se preocupe que consigo sobreviver a isso, agora me diz, vai mesmo morar com Anne?

Recostei ainda mais na cadeira, deixando os ombros caírem em derrota pelo visto não teria jeito, o assunto seria tratado aquela manhã.

_ Sim, pensei bastante nos últimos dias, ontem por fim decidi, já está na hora pra isso.

_ Já falou com ela?

_ Sim, falei - sorri maliciosa pensando na noite anterior e de quando disse sim 

_ Na verdade falamos depois de … 

_ Ah pelamor Tone, não preciso saber exatamente quando falou com ela, me poupe dos detalhes sobre terem feito sex*, está vendo como você é? não leva nada a sério, não consigo conversar um assunto importante como esse com você  sem ouvir suas gracinhas.

_ Ei! posso saber por que está tão nervosa? era você mesma quem vivia me dizendo que já estava na hora de levar uma relacionamento a sério, esqueceu? quando finalmente tomo uma decisão a esse nível, é isso? você deveria estar me dando apoio, caramba.

Helena levantou e caminhou até a janela, ficou algum tempo em silêncio, passou as mãos pelo cabelo, gesto que costuma fazer quando está tensa, depois virou-se em minha direção e disse:

_ Eu vou te apoiar, Tone. Só que... Tem certeza que é Anne a mulher certa para você? não está tomando uma atitude precipitada? você é impulsiva, já  pensou em como vai ser isso?

_ Sim e Não! claro sim, já pensei sobre isso, confesso que pouco sei lá, mas também já falei com ela e não tenho mais como voltar atrás, e “não” evidente não tenho a mínima idéia de como vai ser isso, a convidei para vir morar comigo e ela muda neste sábado - vi os olhos de inquisição vindo em minha direção, o que confesso me deixou novamente preocupada.

_ Sábado, Tone? assim daqui o que? três dias? Tone o que você tem na cabeça? E como assim ela vai morar com a gente? - disse furiosa

Levantei da cadeira e me afastei em volta na mesa, mantendo Helena distante, sabia que iria reclamar do curto prazo para a mudança, sabia que não esperava isso para daqui alguns dias, só não entendia porque tanta objeção.  

_ Por que não pode ser daqui três dias? estou decidida e ela topou, não é nenhum casamento ou coisa parecida, a gente só vai curtir um tempo maior juntas, e não é morar com a gente, é morar comigo Lena.

_ Você não mora sozinha naquela casa Tone - ela esbravejou contornando a mesa em minha direção, fazia o mesmo procurando me afastar, ela dava dois passos em minha direção, eu três buscando distância.

_ Não, claro que não moro sozinha, metade daquela casa é sua e dos meus sobrinhos e chato do Marcos que você resolveu incluir no pacote, porque não posso incluir a Anne?

Ela parou, também parei, me olhou incisiva.

_ Então é isso? Trata-se do Marcos novamente? Okay, ele mora conosco porque casamos, mas não foi algo que foi decidido em três dias e depois você concordou com tudo.

_ Ué e você não concorda que eu more com Anne?

_ Não, SIM, não! Tone não se trata disso, claro que não me oponho a você e ela estarem juntas, só não concordo com a rapidez que está fazendo isso, okay? - me deu um olhar tristonho.

_ Não quero que isso se torne um problema Lena, não pretendo que as coisas mudem entre nós, mas preciso do seu apoio, você não tem ideia do quanto tudo isso me assusta, nunca antes imaginei que pudesse estar com outra mulher assim.

_ Não? ela perguntou assustada.

_ Não, quer dizer, já! 

_ Já?

Levantei o olhar buscando o dela, será que conseguiria ler quem neles? não querendo arriscar desviei o olhar para minhas mãos sobre a mesa.

_ Já, mas isso não vem ao caso.

_ Quem? Você nunca me falou sobre isso.

_ Não importa é algo que de muito tempo atrás.

_ Você não saberia quem é, deixa isso pra lá é passado, o que importa é o hoje, hoje tenho Anne e estou decidida.

_ Você a ama tanto assim? Anne?

_ A verdade? - encaro seus olhos

_ A verdade - encara os meus

_ Não mais do que já amei essa mulher do meu passado, quem  gostaria estivesse comigo hoje, mas como te disse isso não importa, acho que amo Anne o suficiente para tentar.

Nesse momento Helena levantou, aproximou-se de onde eu estava, ficou de joelhos, segurou minhas mãos e de uma forma profunda fitou meus olhos:

_ Você não deveria dividir sua vida com alguém que diz “achar” amar Tone, isso é pouco para manter uma relação, se ama de fato ou amou essa mulher um dia, era com ela que deveria estar.

Segurei as mãos de Helena que seguravam as minhas fazendo um carinho com o polegar, disse baixinho enquanto a olhava:

_ Estar com ela é tudo o que eu mais queria Lena, mas é algo que não vai acontecer, estar com Anne, sim - confessei enquanto uma lágrima escorria pelo meu rosto, lágrima que Helena carinhosamente conteve com o dedo seguido de uma carícia com a mão.

_  Se é isso que deseja, vou dar o meu melhor para te apoiar, vou sempre estar do seu lado anjo - me deu um sorriso triste, beijou minha mão, levantou e retornou a sua cadeira.

_ Obrigada, não esperava menos de você - sorri tristonha retribuindo.

_ Que tal deixarmos a parte dramática de lado e falarmos em começar a organizar uma festinha de boas vindas para mais nova integrante da família Bellini? sábado a noite? Um jantar, o que acha? acho que consigo organizar tudo a tempo, será somente a gente certo? a não ser que queira chamar outras pessoas, talvez o Gui - disparou nervosa.

_ Não tudo bem, o jantar está ótimo e melhor ser somente os Bellini e o Excelentíssimo Sr. Marcos, só não chama sua mãe, por favor.

_ Claro - ela sorriu  

_ Certo melhor a gente tocar o dia, não esquece Búzios, vou te cobrar isso.

_ Okay, vou aproveitar e passar no Coliseu, ver como estão indo os resultados dos testes da última alteração e tratar desse assunto, nos vemos no almoço hoje?

_ Não, infelizmente hoje vou estar ocupada, fica pra outro dia.

Enquanto estávamos nos despedindo Marcos invade o escritório bradando:

_ Bom dia, Amor! Desculpa, não sabia que estava ocupada! Bom dia pra você também Antonella.

_ Bom dia, Marcos. Claro que não sabia, com certeza não se deu o trabalho de perguntar a Vilma se Helena estava ocupada, não é mesmo?

_ Marcos, quantas vezes vou ter que repetir para anunciar antes de invadir meu escritório? Poderia estar ocupada resolvendo algo importante como estou agora.

_ Reunião com Antonella importante? Ah Helena, tenha dó, desde quando suas conversas com ela são importantes? É você quem administra e toma todas as decisões importantes desta empresa, depois sou seu marido, não preciso ser anunciado para vir dar um beijo de bom dia na minha mulherzinha - falou com desdém indo em direção a Helena lhe forçando um beijo roubado.

Suspirei para conter minha raiva, tinha certeza que fazia de propósito, vi quando Helena sem graça se ajeitou reclamando do ato exagerado do marido.

_ Acho melhor ir Helena, terminamos esse assunto depois, melhor você dar um trato no Marcos, ele parece carente! Há quanto tempo não trans* Marcos? uns 6 meses? ano? - disse debochada o provocando.

_ Okay, podem parar os dois, nem pensa em responder Marcos - disse apontando o dedo para ele, virou-se e para mim enfurecida:

_ Sai, Tone! com você me acerto depois, que coisa? Parece uma criança implicante!

_ Ih, já não está mais aqui quem falou, tchau pros dois - disse pegando minha bolsa e saindo aborrecida.  

Saí de lá direto para o meu escritório, precisava de um tempo para pensar, esfriar, aquele demônio conseguia sempre me tirar do sério, e por que simplesmente não podia dizer a Helena que a mulher da minha vida era ela? Que foi, que era e sempre que seria ela.

***

Enquanto isso, na sala de testes o “Coliseu” ouvia-se alguns risos abafados, Beatriz e Rafaela estavam sentadas no sofá com as pernas esticadas apoiadas num puff testando uma nova fase do game, encostadas ombro a ombro e levando uma conversa animada.

_ Sério? vai morrer antes da 4 sala do calabouço? você já foi melhor nisso Bea - disse debochada. 

_ Meu forte não é jogar e você sabe, prefiro idealizar o game programando.

_ Com certeza seu forte não é jogar - pausou o jogo virando o corpo em direção a menor - seu forte é criar a jogada.

_ Melhor nem começar Rafa, já conversamos sobre isso, estamos trabalhando, me dá um tempo vai? preciso processar melhor isso.

_ Bia, eu estou louca por você linda! É insuportável estar assim pertinho e não poder te agarrar - falou enquanto aproximava mais o rosto.

_ Quero tanto um beijo seu - sua voz agora saia rouca, abandonou o joystick de lado para ter as mãos livres e com uma delas pressionava a coxa de Bea que soltou um gemido. 

_ Vai dizer que não está sentindo vontade? - inclinou ainda mais  o corpo sobre Beatriz a fazendo quase deitar no sofá.

_ Por favor, só um vai? - avançou a mão por cima da calça jeans em direção ao sex* da menor

 _ Isso está me enlouquecendo, sei que quer tanto quanto eu - Beatriz sentiu seu sex* pulsar, o coração acelerar, ela queria, olhava atenta os lábios carnudos de Rafaela, uma tentação que tinha certeza iria sucumbir, dos lábios encarou os olhos de Rafaela, diminuiu o espaço entre as bocas, podia sentir o hálito quente da maior,  o beijo ia acontecer então …

Fim do capítulo