As Amazonas por RAY F
Capitulo 5 O dia D
As guerreiras amazonas cavalgaram em direção ás fronteiras do reino por todo aquele dia, no início da noite acamparam próximo ao muro da fronteira. Era um muro mágico forjado no meio da floresta totalmente recoberto por uma hera que encobria o império dos olhos do homens. Um presente da deusa "Para um reino de mulheres um muro só visto por mulheres".
Com a construção do muro de proteção as guerreiras puderam se despreocupar quanto á defender a fronteira, pois a mesma era invisível á outros olhos.
E a pouco mais de 1.000 anos as amazonas haviam decidido que uma vez que a extensão territorial era suficiente e que o desenvolvimento e a prosperidade do império eram as prioridades em detrimento das atividades de guerra, não haveriam mais expedições para conquista de novas terras, as únicas batalhas travadas pelo exercito amazônico seriam para as direcionadas a solidariedade e libertação de outras mulheres vitimas de tirania ao redor dos muros do império.
Assim, uma vez por ano um grupo de espiãs saia em missão se infiltrava nas cidades onde as notícias relacionadas á situação de vida das mulheres eram mais esdrúxulas, se integravam e promoviam conversas e reuniões de organização com as mulheres daquela localidade apresentando soluções referentes aos direitos das mulheres e até mesmo as possibilidades de intervenção militar por parte do exercito amazônico no sentido de libertá-las.
Os grupos organizados iam sendo fortalecidos, reunindo cada vez um grupo maior de mulheres e ante o firmamento do pacto que consistia na escolha da data do ataque e de uma articuladora do grupo á ser liberto para que no dia comprometido a espiã voltasse junto com o exercito amazônico para o ataque.
O acampamento foi montado no lado norte do reino, pelo lado de dentro do muro. Aguardavam o retorno das espiãs que haviam cruzados os muros em busca da articuladora. Uma fogueira acessa e um violão, embalavam a noite e aqueciam o coração das mais de 5.000 guerreiras que compunham este destacamento. A noite estava fria, mas o céu estava claro, coroado com algumas constelações visíveis.
- Mãe, a Fabi voltou trazendo a articuladora. - A princesa adentrou a tenda privativa da general.
- Obrigada querida, mande-as entrar. – sentou no banco posicionado de frente á outros dois no centro da tenda.
Com um gesto da morena, Fabiana reverenciou sua princesa e a rainha consorte e tomou assento.
Denise, ainda meio perdida ensaiou uma reverência, sem entender ainda a profundidade do gesto, fez assim mesmo, pois pareceu o certo diante daquelas mulheres que exalavam poder.
Júlia sorriu ante a mesura, quebrando a formalidade do momento foi até a recém chegada e deu dois beijos na bochecha, como era o costumeiro cumprimento das amazonas.
- Bem vinda! Sou Júlia, general do exército amazônico e rainha consorte, minha filha Camila, comandante imediata desta brigada e a Fabiana e Aline, nossas embaixadoras você com certeza já conhece. – Apresentou todas no recinto. - Sente-se Suzy, e vamos terminar os ajustes.
- Me perdoe corrigi-la senhora, eu sou Denise, a Suzy foi presa hoje pela manhã numa de nossas mobilizações, mas eu estou muito envolvida com o processo e fui escolhida para representar a nossa articulação. A pressão estava muito forte aqui na cidade, os últimos dias não foram fáceis, confesso que é um imenso prazer e alívio finalmente conhecê-las.
- As represálias são esperadas. Mas, não se preocupe somos mulheres de palavra e honraremos o acordo firmado pelas nossas embaixadoras. Cá estamos, armadas e dispostas á luta.
Combinaram mais algumas questões referentes aos procedimentos á serem adotados no dia seguinte. Como responsabilidade das mulheres da fronteira ficou a reunião e retirada das mulheres da cidade por volta das 06 hrs da manhã, seriam ajudadas pelas guerreiras e tão logo as mulheres estivessem organizadas na fronteira seriam encaminhadas ao acampamento para que se mantivessem em segurança e então o ataque ocorreria sob responsabilidade do exército. Esperando contar com a surpresa do ataque e com a ajuda da deusa se despediram desejando sorte em ambas as tarefas. E Fabiana e Aline saíram levando a articuladora de volta á cidade.
- Boa noite, querida vamos descansar que amanhã o dia promete. Quero que você tome todo o cuidado Camila, essas mulheres merecem a liberdade, mas, pressinto que será uma luta dura e quero que tome o dobro de cuidado. – Júlia se aproximou e abraçou sua menina, que mesmo com toda altura e idade não conseguia ver de outra forma. – Morreria se algo te acontecesse e não teria como encarar sua mãe. - Sorriu bagunçando os cabelos da mais nova e apertando o abraço.
- Pode ficar tranquila mãe, não acredito que haja algum homem capaz de me fazer frente nessa cidade e você sabe disso. Voltaremos intactas pros braços de dona Mariana. – Sorriu pra mãe aproveitando o aconchego que não dispensava nem nesses momentos de tensão pré-batalha, mesmo sendo a guerreira dura que era, carinho e colo das mães sempre foram seu fraco. – Eu estou no primeiro turno de guarda, não vou descansar agora, tenho que me reunir com as outras. – Beijou a mãe e foi tomar seu posto junto á fogueira.
Canções de amor, batalha e saudades eram entoadas acompanhadas dos suspiros de mulheres que ou sonhavam com a letra das canções, ou sonhavam retornar para os braços das que deixaram em casa. Camila, nunca entendeu bem esses suspiros, achava o tempo de campanha tão curto e a batalha tão cheia de adrenalina que não entendia como as outras tinham tempo de sentir saudades de quem quer que fosse. Talvez fosse só um problema com ela que não era dada a muita sentimentalidades, ou talvez já tivesse sentido essa saudade e houvesse esquecido como era.
Foi acordada de seu devaneio por uma jovem ruiva que do outro lado da fogueira solicitava uma canção.
Recebeu o violão das mãos da outra guerreira, ensaiou a vibração da nota e puxou, uma canção de batalha, coisa que pra ela fazia mais sentido.
“Ninguém vai legislar sobre a minha liberdade
Disciplinar minha conduta, minha vontade
Cuspir em cima do que você respeita Abraçar aquilo que você rejeita
Fazer da vida algo mais que uma mortalha
Histórias de combate, hinos de batalha
Correr de peito aberto e a cabeça erguida
cansaço dá lugar à força da batida!
REFRÃO:
Liberdade é combate
Alegrar-se é saber
Que a vida é necessidade Entregar-se é morrer!”
Os suspiros aumentaram, a voz era simplesmente maravilhosa e a dona, o sonho de consumo da maioria do exército de mulheres reunidas.
- Que voz minha deusa, á se ela me desse bola. – Foi o comentário espirituoso de Bianca, a responsável pelo pedido da canção.
- Ela é noiva e você sabe disso, devia se dar ao respeito. – O comentário mal-humorado de Fabiana que já havia retornado ao acampamento.
Em geral a guerreira nunca se aborreceu pelo fato da prima ser a preferida das mulheres, pelo contrário sempre ajudou a mesma a se livrar dos rolos em que se metia por conta de suas conquistas, mas ultimamente não entendia, os suspiros especificamente da jovem soldada pela princesa estavam irritando-a sobejamente.
Não obteve resposta além de uma cara de enfado da outra, Camila não chegou a ouvir nem o comentário e nem a pequena reprimenda e emendou mais umas duas canções e passou o viola saindo para sua ronda em volta do acampamento, a noite seguiu, os turnos de vigília foram trocados. O sol saiu no horizonte e com ele o retumbante barulho da tropa montada se encaminhando para mais uma batalha.
Fim do capítulo
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