Acordei sentindo o cheiro de café. Me espreguicei e peguei o celular em cima da mesa de centro, várias ligações perdidas algumas da minha mãe, outra de amigos e várias de números desconhecidos e todos com ddd de POA provavelmente deveria ser o traste do Leonardo tentado me ligar. Olhei a hora já passava das 11h. Me levantei e caminhei em direção a cozinha, o cheiro do café estava convidativo. Felippa estava de costas pegando algo dentro da geladeira, estava vestida com com um short curto e uma blusa regata bem larga que mostrava o top por baixo. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela estava com o fones de ouvido. Fiquei ali parada algum tempo admirando ela, quando senti uma mão pousar no meu ombro.

– Nossa que susto. - Falei em reflexo ao toque da Domi

– Desculpa não quis te assustar. Você estava aí tão concentrada olhando a Pippa que não quis atrapalhar.- Ela falou sorrindo.

– Eh...eu nao...quer dizer...

– Não esquenta, não sou ciumenta e outra concordo com você, ela é mesmo gostosa.- Ela falou aquilo como se tivesse lido meus pensamentos, ela piscou e foi abraçar a Pippa que até então não tinha percebido nossa presença.

 – Minha nossa senhora do infarto, você quer me matar do coração mulher.- Pippa se virou quase deixando cair as coisas que estava nos braços.

– Não resistir ver você nesse short minúsculo.- Beijou ela e viu para mim novamente. - Na verdade estávamos eu e Leticia admirando sua beleza.

Neste momento tenho certeza que meu rosto deve ter ficado da cor dos meus cabelos de tanta vergonha que senti, queria que um buraco abrisse no chão para que eu entrasse. Olhei para Domi e vi que ela se divertia vendo eu ficar com vergonha, nunca fui tímida e se eu deixasse ela ia continuar fazendo aquilo. Talvez estivesse na hora de mudar a estratégia.

 – É verdade eu estava admirando mesmo, você tem pernas lindas Fê. - Falei com tanta confiança, que as duas ficaram por um instante me encarando. Fui até o armário peguei uma xícara me servi de café, bebisquei e falei. - O café também está bem gostoso.

– Ahh, obrigada...eh eu acho.- Respondeu Felippa.

– Gostei mais dessa versão da ruivinha. - Demi também pegou uma xícara e se serviu de café. - E ela ta realmente certa o café tá tão gostoso como quem preparou.

– Uai as duas se juntaram hoje para tentar me deixar sem graça.- Ela colocou as coisas que estava segurando na  mesa. - Servidas...E quer saber eu concordo sou gostosa mesmo.

Nós 3 nos olhamos e caímos na risada, seguimos com as frases em duplo sentido por um tempo. Felippa disse que acordou cedo, foi correr no parque, arrumou e limpou o banheiro social. Começamos a conversar sobre coisas aleatórias quando o celular da Felippa começa a tocar.

– Oi, sim...e o que o Luca falou?...e quando você recebe alta?...okey Tom, estou indo e ainda resolvemos isso, me espera antes de decidir qualquer coisa.- Ela desligou o telefone. - Vou tomar um banho e vou ao hospital.

– Alguma coisa errada com o Tom? - Domi perguntou

– Não exatamente, mas vou ter que ir conversar com ele. Ele está com umas ideias de girico na cabeça, vou lá tentar convencer ele do contrário. Enfim vou tomar um banho. - Falou e saiu da cozinha.

– Será que é coisa séria?- Perguntei preocupada.

– Espero que não, mas digo uma coisa quando um Guerra põe uma ideia na cabeça não tem santo no mundo que ajude a mudar.

– Não seria melhor você ir com ela ao hospital?

– Talvez, vou lá perguntar.Volto já.

– Vou limpar aqui a cozinha.

– Ok, já volto.- Falou e saiu em direção ao quarto.

Comecei a limpar a cozinha, mas logo Demi voltou.

– Ela disse que não precisa, que está indo mais para conversar. Ela disse que conta tudo certinho quando voltar.

– Certeza?

– Sim, conheço Pippa se fosse algo mais grave ela estaria mais agoniada.Não se preocupe. Vou te ajudar aqui a limpar. - Disse e começou a retirar a mesa enquanto eu lavava a louça.

Já tínhamos limpado a cozinha e estávamos arrumando a sala quando Felippa apareceu. As roupas num estilo um pouco tomboy, mas ainda sim bem feminina.

– Tem certeza que você não quer companhia?-Domi perguntou assim que ela entrou na sala.

– Não está tudo bem. Eh Dona Ana queria enviar a sobrinha para arrumar o quarto de hóspedes, mas já que estamos as 3 em casa falei que não tinha necessidade. Vou aproveitar que estou saindo e arrumo umas caixas para empacotar as coisas do quarto.

– Fez certo, eu e a Letícia vamos começar a arrumar e te esperamos para empacotar tudo. - Disse Dominique

– Ontem quando voltamos vi algumas caixas no canto da garagem, posso ir lá dar uma olhada. - Disse

– Deve ser do 501, Pedro disse que tinha gente nova para se mudar para la. Fazemos assim vou descer se as caixas ainda tiver lá peço para o Pedro subir com elas. - Pegou a chaves e saiu.

Logo Pedro tocou a campainha trazendo algumas caixas.

– Se a Sra precisar de mais caixas só interfonar que eu subo com mais. - Disse o menino com um sorriso no rosto.

– Obrigada Pedro, se precisar eu interfono sim. - Peguei as caixas e levei para o quarto onde já tínhamos começado a tirar as coisas do guarda-roupa.

Passamos algum tempo empacotando as coisas que estavam no quarto de hóspede, durante esse tempo meu celular tocou várias vezes e eu sempre desligando. 

– Porque voce nao atende logo e fala que não quer conversar, ao que parece a pessoa não parece que vai desistir facilmente.-Domi falou quando eu recusei a chamada pela milésima vez. - Ou desliga o telefone.

Achei melhor não rebater, até porque ela tinha razão o Leonardo não ia parar de ligar até eu atender. Eu precisava trocar urgentemente de número. Pouco depois Felippa liga para Domi avisando que já estava voltando e que iria comprar comida. Não demoramos e terminar fomos para a cozinha preparar a mesa já que Felippa estava trazendo o almoço/quase janta.

– Me desculpe, mas preciso te perguntar uma coisa antes que a Pippa chegue.- Ela me encarou um pouco como não respondi ela continuou. - Porque você veio para Uberlândia.

– Bah eu já falei, estou procurando um lugar para recomeçar.

– Recomeçar de quê? Me desculpe, mas você não tem cara de quem simplesmente larga tudo na cidade que nasceu e foi criada para recomeçar em outro lugar.

Continuei calada, aquele não era um assunto que eu estava afim de conversar com ninguém, só queria deixar meu passado para trás e começar minha vida. Domi ficou me encarando esperando uma resposta, quando de novo percebeu que eu não ia responder continuou.

– Olha apesar de não ir com a cara da “Toco de amarrar jegue” sei que ela é uma boa pessoa e provavelmente estava tentando de ajudar. E se ela te mandou para cá já mandou sabendo que a Felippa ia te proteger de alguma maneira, então vou te dar um conselho...-ela parou um pouco pensou e continuou. - Vou te dar 2 conselhos na verdade. Primeiro, não é da minha conta do que ou de quem você está fugindo, porque tá na cara de que você está e a Pippa só é muito paciente e educada para perguntar. Então só espero que seu passado não volte, porque se por acaso voltar e ameaçar de alguma forma a Felippa acredite que não serei só eu a se levantar em favor dela e contra você.

– Isso é uma ameaça? - Perguntei com o sangue já fervendo, depois de anos sendo ameaçada pelo Leonardo de todas as formas possível, passei a ter uma intolerância a ameaças. 

– Como eu disse é um conselho, e aqui vai o segundo. Já vi a forma como você olha para ela...

– Eu não...- Interrompi Dominique, mas ela simplesmente ignorou e continuou.

– Como ia dizendo já vi a forma como olha para ela, então antes de querer saciar suas curiosidades sugiro pensar bem antes, porque apesar dela parecer forte tem um coração bem bobo.

– O que você quer insinuar com isso?

– Não estou insinuando nada, estou dizendo mesmo. E só estou te dando esses conselhos porque fui com a sua cara. Era isso que eu tinha para te falar, vou me jogar uma água antes de comer. - Falou isso e me deixou na cozinha sozinha.

Por um instante pensei em ir atrás dela e perguntar quem ela pensa que é para falar comigo daquela forma, mas quando me levantei vi Felippa entrando na casa com algumas sacolas e um sorriso que parecia iluminar o ambiente. “Pensando bem talvez Dominique tenha um pouco de razão”. Fui ajudar ela com as sacolas.

Fim do capítulo