Um
|Continue caminhando;|
Caroline
Era 12 de junho, dia dos namorados. Um dia romântico, feito para se comemorar com a pessoa amada, para celebrar o amor, os laços, a união. Um dia no qual eu deveria ser feliz. Deveria preparar um jantar à luz de velas, escolher a melhor roupa para impressioná-la, o melhor perfume, a melhor lingerie. Deveria me preocupar em despertar seus melhores sorrisos, pois Nicolle merecia. Merecia o melhor de mim, o melhor do dia, o melhor da vida.
Mas nada aconteceu como eu achava deveria acontecer: eu estava revoltada, havia trancado a faculdade e comprado uma garrafa de vodca. Fiquei tomando sozinha em casa enquanto minha mulher trabalhava em seu consultório particular atendendo pessoas que tinham o mesmo problema que eu ou parecido. Ela era a melhor psicóloga da cidade e, no entanto, sua namorada havia se tornado uma depressiva com crises de ansiedade e pensamentos suicidas. Isso, nem de longe, era algo que eu havia planejado para nós.
Sentia-me o pior dos lixos por estar arruinando a minha vida, mas eu não estava tendo controle de nada, era algo que parecia maior que eu, algo que me tomava. Carregava uma angústia terrível e ela me fazia sucumbir. Nicolle tentava me ajudar, pagando minhas consultas com a doutora Flavia Sabatella, a melhor psiquiatra da cidade, que tentava de diversas formas me resgatar dos abismos da depressão, fazendo uso de vários métodos terapêuticos. Porém, nada me ajudava.
"Que porr* que está acontecendo comigo, cara? Eu não era assim..." — divaguei, fitando a parede branca da minha sala, manchada pela umidade, enquanto uma lágrima fina escorria, traduzindo um pouco do que eu sentia.
Depois de tomar duas doses de vodca pura, em uma caneca velha verde-musgo, fiquei deitada de bruços no sofá, pensando no que fazer da minha vida. As coisas giravam vagamente, meu estômago estava vazio e minha cabeça doía. Sentia uma espécie de vazio por dentro, algo que não era bem um vazio, pois era cheio de dor. Meu celular vibrou e eu o olhei jogado no tapete gasto que eu mantinha ali há diversos anos. Comecei a chorar quando recebi uma mensagem dela e não consegui responder.
"Desculpe, amor. Desculpe..."
Ela me ligou e eu ignorei. Logo depois, outra mensagem escrita chega:
— Atende, Caroline! Está me deixando preocupada, não falou comigo durante a tarde toda. E aí, como foi na faculdade, conseguiu fazer as provas? Tinha prova de literatura inglesa, não é? Uma de suas preferidas. Me diz como foi, amor. Estou com saudade.
Não, não consegui fazer as provas, as deixei em branco e depois fui até a secretaria para trancar o curso. Cara, pior que eu nem sabia o motivo exato de fazer isso, já que lutei a vida toda para conseguir a porr* da bolsa na graduação de letras. Passei madrugadas inteiras estudando para conseguir entrar na faculdade e agora, o sonho da minha vida estava sendo jogado na lata de lixo.
Divagava sem parar, com um lado do meu rosto esmagando o forro xadrez fino do sofá. Comecei a puxar uma linha vermelha que estava se sobressaindo em meio as outras, na barra do tecido. Puxei até formar um pequeno buraco.
"Pois então, é isso que eu quero fazer da minha vida: ficar deitada desfiando o forro do sofá?"
O celular vibrou novamente, iluminando-se.
— Caroline, se não me responder, vou mandar uma viatura até sua casa. — Li pelo visor e logo respondi, pois não queria viatura na minha porta e eu sabia que ela falava sério. Nicolle não brincava em serviço. Ela era capaz de colocar a delegacia inteira atrás de mim se achasse que eu corria perigo.
— Acabei de chegar em casa. Que porr*! Vai ficar bancando a mãe desesperada, agora, Nicolle?
— Está brincando, né? Mãe? Só pode estar de brincadeira! Você bebeu, Caroline?
— Bebi. Sim, enchi a cara. E daí?
— Você tem se saído uma perfeita adolescente inconsequente, sabia?
— Adolescente?
— Sim, é o que tem parecido.
— Quer saber? Vá para o inferno, cara! Me deixa em paz, vou tomar um banho e sumir. Já estou cheia de tudo e de você falando merd* do meu ouvido. — Escrevia freneticamente, nem sabia ao certo o que dizia, pois o álcool começara a agir por mim.
— Quê? Está louca, garota?! Estou tentando te ajudar e me preocupando com você e você me manda ir para o inferno? Pois se é isso que quer, me afastar, você está conseguindo. Estou cheia de tentar te ajudar em vão, Caroline, pois ninguém é ajudado quando não aceita ajuda. Estou cheia, de verdade. Tchau.
— Tchau. Vai ser melhor mesmo se afastar de uma garota depressiva e inconsequente feito eu. Eu sou um fardo, um estorvo. Portanto, adeus. Fique bem.
— Fique bem.
Saí do aplicativo e não recebi mais nada dela. Foda que Nicolle é a pessoa que mais amo na vida, a mulher mais incrível, linda e inteligente que já conheci. A namorada mais dedicada, amorosa e protetora que já tive. Era horrível o que eu andava fazendo com ela e eu sabia.
Antes dessa fase, brigávamos vez ou outra, mas logo ficávamos bem. Eu daria minha vida por ela se fosse preciso, tinha confiança em nosso relacionamento, tinha confiança nela e em mim. Mas acontece que minha vida virou um caos e eu não estava conseguindo controlar minha angústia. Achava mesmo que já não valia mais a pena viver, a luta parecia invencível. Viver havia se tornado um martírio e eu via os sorrisos dela se apagando toda vez que olhava para mim e me percebia triste. A terapia não estava ajudando quase nada, eu afundava, me afogava em minha própria escuridão, em meu próprio abismo. Precisava reaprender a nadar, mas nem sequer sabia mais como levar meu corpo adiante.
"Desculpe, meu amor..."
Ligou-me dez minutos depois de minha última mensagem. Eu chorava, ainda deitada no sofá, mas resolvi atender.
— Oi.
— Amor, desculpe falar tudo aquilo. Eu estou preocupada com você, Caroline. Quero te ver bem, mas não sei mais como te ajudar. Não sei o que fazer mais. Por favor, só colabora...
— Não sei mais o que fazer, estou péssima. Não sei como colaborar. Tranquei a faculdade. Não consigo focar em estudar. Deixei as provas em branco hoje, pois minha mente apagou e eu não consegui me lembrar do conteúdo. Não consegui escrever nada. Estou me afundando, cara! Estou fodendo tudo, Nicolle... Como faz para desfoder tudo? Eu não aguento mais.
— Amor, isso acontece, a depressão faz a gente perder o foco no que é importante e nos induz a pensar só em coisas ruins. Ela é a vilã, quer te lavar paro o fundo do poço. Você precisa resistir, Caroline. Continue tentando ser forte. Você é forte!
— Eu sei, mas é difícil. Muito difícil. Parece que tem um monstro dentro de mim, m fazendo ter raiva de mim mesma, sabe?
— Eu sei, meu amor. Eu entendo. — disse, suspirando do outro lado da linha.
Suspirei junto, sentindo uma dor fina no peito.
— Você está cansada de mim...
— Não estou, não. Falei porque fiquei nervosa. Desculpa.
— Ok. Desculpa também. — falei, querendo abraçá-la forte.
— Tudo bem. Mas, não precisava ter trancado o curso. Sei que está cheia de coisas na cabeça, que tudo parece perdido, mas vai dar tudo certo. Porém, você precisa querer se ajudar, ok? Tem que resistir. Eu... Preciso de você.
— Só queria sumir, Nicolle. Estou vendo tudo cair pelo ralo e não estou conseguindo fazer nada. Sabe o quanto isso é deprimente?
— Vai dar tudo certo, meu amor. Por favor, tenta mudar o rumo de seus pensamentos, tenta ver o lado positivo das coisas. Sempre há um lado positivo. Qual é a coisa mais importante pra você, o que te deixa feliz? Deve haver algo ainda.
— Você — respondi imediatamente, pois sobre isso, eu não tinha a mínima dúvida.
— Então pensa em mim. Pensa em mim, pois eu quero te ver bem. Você me faz bem, por mais que não acredite nisso.
Ficamos em silêncio por um tempo, duas lágrimas quentes escorreram por meu rosto, queimando, feito brasa. Até que ela voltou a falar. Sua voz me tranquilizava.
— Vou tirar quinze dias de férias na semana que vem e podemos ir viajar. Que tal uma praia? Você adora praia. Podemos renovar nossas energias na praia. Está com saudade de surfar? Vai poder surfar. E eu amo te ver de biquíni em cima de uma prancha. Vai ser um máximo!
— Não sei. Ainda não consigo decidir nada, sair de casa tem sido difícil. Mas vou tentar, ok?
— Ok. Tudo bem... Tentar é ótimo já.
— Te amo, Nicolle.
— Também te amo, meu amor. Muito. E, tudo vai ficar bem.
— Vai.
Às vezes eu falava as coisas só para agradá-la, dizia que estava melhor, mostrava alguns sorrisos, mas a verdade era que eu me sentia cada dia pior, cada dia mais deprimida e ansiosa, cada dia mais desgastada e exausta da minha vida.
— Amor, hoje vamos jantar fora, ok? Depois você vai lá pra casa. Vou cuidar de você até ficar melhorzinha, então, prepare algumas coisas para levar. Amanhã pedirei folga para ficar com você.
— Não precisa disso.
— Precisa.
Ela costumava fazer isso, cuidar de mim, me levar para sua casa e me cuidar como se eu fosse uma garotinha desprotegida. Deve ser por que eu realmente havia me tornado uma garotinha desprotegida. A Caroline Oliveira forte, alegre e determinada que eu conhecia, havia se perdido em algum lugar dentro de mim. Foda que eu não conseguia encontrá-la mais, por mais que tentasse.
— Não podemos jantar no seu apartamento mesmo? Não estou a fim de sair, sério.
— Não. Você precisa sair, tomar ar puro, ver gente. Sua terapeuta disse que precisa se esforçar para sair, lembra? Vamos sair, amor.
Não quis discutir, para não a magoar.
— Ok... Nada que eu disser vai fazer você mudar de ideia, não é?
— Não.
— Tudo bem, então vamos sair...
— Recebeu as flores que mandei? Nem comentou nada.
— Ah, sim, recebi! É que cheguei e coloquei elas em um jarro com água, depois deitei no sofá e cochilei enquanto o celular carregava. — Menti. Essas pequenas mentiras tinham se tornado costumeiras — São lindas, amor. Eu amo girassóis. Obrigada.
— De nada. Também amei as que você enviou. Eu amo rosas vermelhas.
— Eu sei, por isso mandei.
Era nosso terceiro dia dos namorados e nosso terceiro aniversário de namoro. Eu estava com pouca grana, tinha pedido demissão há quatro meses, o condomínio estava atrasado, mas eu não poderia deixar de mandar flores para a razão de eu ainda tentar viver. Nicolle merecia um mundo inteiro florido e alegre.
O pensamento suicida volta e meia tomava conta de mim, era como se algo quisesse me levar para o túmulo e eu não estivesse conseguindo resistir. Mas precisava! No fundo eu sabia que precisava lutar. Precisava lutar contra meus monstros internos.
†
Havia escondido a garrafa de vodca e estava agora sentada no sofá, com o controle da TV na mão, pulando de canal em canal, sem prestar atenção em nada. Até que ela chegou com seu sorriso acolhedor, fraternal e carinhoso de sempre no rosto. Dessa vez ele manteve-se ali, não se apagou ao olhar para mim.
— Oi, meu amor.
— Oi, amor — respondi, tentando um sorriso verdadeiro. Eu a amava tanto, cara... Que não sabia o motivo de tanta tristeza, já que ela estava determinada a permanecer ao meu lado para sempre.
Aproximou-se, deixou sua bolsa no tapete e sentou-se ao meu lado.
— Que linda que você está! Cheirosa e linda... — Cheirou meu pescoço de forma sensual. Aposto que ignorou o cheiro do álcool propositalmente, pois ela tinha um olfato ótimo.
— Obrigada. Vamos? — chamei depois de dar um beijo de leve em seus lábios.
Ela é definitivamente a mulher mais irresistível que já conheci, seu estilo intelectual mexia comigo de um jeito que não dá nem para tentar explicar. Nem um dia cheio de trabalho a fazia parecer derrotada. Eu a admirava e tinha orgulho da mulher incrível que ela era. Ela era o sonho de qualquer um.
— Vamos, não. Você está irresistível... Estou com saudade. — Sorriu maliciosamente e deliciosamente, quebrando meu mau humor. Sorri de volta e ela começou a subir a mão pela minha coxa, acariciando de leve minha pele, provocando-me. — Podemos fazer isso agora?
— Podemos, safadinha. — falei e sorri, já rendida.
Ela era o meu melhor remédio.
— Se você não quiser, posso esperar até mais tarde. — falou, pois eu havia perdido também um pouco do meu desejo sexual. Havia duas semanas que não namorávamos assim.
— Quero agora, amor, também estou com saudade de tudo com você.
Segurei seu rosto com as duas mãos e a tomei num beijo quente. Ela continuou subindo a mão até alcançar minha nádega. Apertou e me fez arrepiar toda. Se a vida fosse resumida aos momentos junto dela, eu não precisaria de mais nada, mas o problema era o além disso.
— Minha garota linda. Eu te amo — falou, ao notar que meu corpo estava conseguindo corresponder às suas carícias. Acariciou um de meus seios por dentro do vestido. Eu estava sem sutiã então o acesso foi fácil.
— Me come, amor. — Pedi em seus lábios, pois a saudade disso era tanta que não estava conseguindo esperar.
— Com todo o prazer do mundo.
Tirou meu vestido, me fez deitar confortavelmente no sofá e ficou por cima de mim, com suas pernas entre as minhas.
— Deliciosa — sussurrou em meu ouvido, fazendo-me arrepiar novamente.
Suas mãos chegaram até minha extremidade, que já estava completamente molhada e pulsando, seus dedos começaram a acariciar a umidade. Comecei a rebol*r enquanto ela me massageava por dentro da calcinha, com movimentos circulares. Sua boca desceu por meu pescoço e alcançou meus seios. Beijou-os com carinho e logo em seguida sugou-os com vontade, fazendo-me soltar um gemido rouco.
— Amor, por favor... — pedi novamente, quase suplicando.
Ela levou os dedos até a borda da minha cavidade e parou ali, determinada a me torturar. Voltou a massagear o clit*ris e me mostrou um sorriso malicioso.
— Nicolle, você está...
— O que, amor? Diz...
— Me torturando. — falei entre gemidos finos.
— E o que você quer? — perguntou sem parar os movimentos lá embaixo.
— Eu quero... — Mais gemidos — Eu... — Ofegava.
— Diz, meu amorzinho. O que você quer?
— Que me coma.
Ela sorriu satisfeita e voltou a boca aos seios. Começou a morder meus mamilos, me causando pequenos espasmos, aumentando ainda mais o meu prazer.
— Nicolle, por favor...
Dessa vez ela obedeceu, deslizou o dedo indicador e o do meio para dentro de mim, bem devagar. Ela sabia perfeitamente como me provocar. Começou a estocar devagar, enquanto com o polegar continuava provocando meu clit*ris.
— Mais forte, amor — supliquei.
Obedeceu, começou a estocar com mais força e mais rapidez. Eu rebol*va em sua mão, enquanto ela me seguia com os movimentos. G*zei e soltei um gemido alto e fino. Ela retirou os dedos devagar, mas deixou que a mão ficasse em minha intimidade, acariciando-a de leve. Ergueu-se e me beijou com amor.
— Minha garota linda — Sorri, lhe olhando — Gostou? — perguntou.
— Amei. Foi delicioso. Mas quero mais, quero você.
Viramo-nos, a despi e fiquei por cima. Fiz uma trilha com minha boca até chegar à sua extremidade. Ela já estava completamente molhada, totalmente entregue a mim. Seu sabor era único, delicioso, indescritível. Fiquei por alguns instantes a sentindo e provocando com a boca e depois a invadi com dois dedos. Minha língua brincava em seu nervo. Ela rebol*va em minha boca e isso me fazia ficar ainda mais louca. Ela era irresistível. Nicolle era perfeita. Goz*mos juntas, ela com um gemido rouco e eu com a boca em sua intimidade; meu lugar de perdição... Um paraíso em seu corpo.
Subi e a beijei nos lábios, compartilhando o sabor de seu prazer. Ela tinha também o melhor beijo... Era toda perfeita.
— Gozou bem, amor?
— Muito. E percebi que você também, né? De novo...
— Sim. — Respondi com um riso frouxo, absolutamente satisfeita.
Olhou-me sorrindo e eu a beijei novamente. Deitei em seu peito e fiquei por um tempo enquanto ela acariciava meus cabelos. Senti vontade de chorar enquanto ouvia as batidas fortes de seu coração. "Como eu queria que tudo fosse diferente, amor" — divaguei, desejando com toda a força que me restou, que minha vontade de viver retornasse.
— Vamos? Dia dos namorados, se demorarmos muito, não vamos achar lugar nos restaurantes legais. E nem vagas nos estacionamentos.
— Não podemos jantar em sua casa? — perguntei, num tom de súplica.
— Não. Quero sair e você precisa ver gente, respirar ar puro... Precisa se distrair. Já falei isso.
Sorri sem dizer nada e me levantei para me vestir novamente. Nos vestimos e ela me puxou pela cintura, para me abraçar forte.
— Relaxa, amorzinho, é só um jantar, depois vamos para casa. Será rápido, prometo.
— Tudo bem. — A apertei no abraço.
— Vai ficar tudo bem, vida. Você está tentando. Daqui a pouco estará ótima.
— Verdade. Vamos?
— Vamos.
Saímos em seu carro e logo chegamos a um restaurante japonês. Comemos, conversamos algumas amenidades. Eu mostrava alguns sorrisos falsos, mas minha vontade era de sair correndo dali e chegar logo em casa. Queria ficar sozinha, não queria ver gente nenhuma. Queria ficar aninhada ao meu vazio. Por mais confuso e dolorido que seja dizer isso, até sua companhia, naquele momento, eu dispensava. As pessoas pareciam me observar e eu detestava isso, parecia que todos me julgavam, apontavam o dedo para mim e diziam que eu era uma fracassada.
"Ela precisa de alguém melhor que eu, alguém seguro e feliz" — pensei distraidamente, com o olhar distante, enquanto ela falava algo que eu não dava atenção.
A encarei com um olhar ainda perdido.
— Que foi?
— Só quero ir embora. — disse, com a voz dolorida.
— Mas você nem tocou na comida direito ainda. — Me encarava, perplexa.
Fiquei quieta e comecei a comer. Comemos caladas, ela se fechou, ficou desapontada. Foi impossível não perceber, até porque ela nem fez questão de disfarçar. Acho que ela também estava esgotada.
— Desculpe, amor, eu realmente não sei o que anda acontecendo comigo. — falei, com os olhos marejados e um nó gigantesco na garganta prestes a se desmanchar. — Acho que você merece mais que essa garota deprimida que me tornei. Não é justo que fique comigo só para que eu me sinta melhor.
— Cala a boca e come, Caroline! — Olhou em volta, chateada — Porr*! — Voltou a me encarar — Eu amo você — Limpou a boca com um guardanapo e manteve a cabeça baixa por um instante. Depois olhou-me novamente: — Vamos embora. Não quer ficar, então vamos para casa.
— Não, vamos ficar, Nicolle. Desculpe...
— Vamos embora.
†
Chegamos à sua casa e ela quase não falou comigo. Foi tomar banho e eu me deitei em sua cama, abraçando um travesseiro. Evitei chorar. Ela saiu do banho e se aproximou da cama mansamente.
— Quer tomar banho? Ou toma depois? Já tomou em casa...
— Tomei, mas vou tomar de novo.
Tomei um banho rápido e voltei para a cama. A encontrei quase nua debaixo do cobertor e me meti embaixo dele também, abracei-a forte e beijei seu rosto várias vezes. Seu corpo estava quente e acolhedor.
— Sinto muito.
— Tudo bem. Você não está bem, eu entendo. Mas por favor, se esforce para melhorar. Não adianta só eu querer te ajudar, você precisa se ajudar também.
— Eu sei, eu sei. Estou tentando.
— Se você ficar triste assim para sempre, minha vida não vai ter mais graça. Eu não aguentaria.
— Calma, vou ficar bem...
— Que bom. Por favor.
Fizemos amor ao som de 'Born To Die' de Lana Del Rey, que foi a primeira música que surgiu na playlist.
Depois de satisfeitas, ela deitou em mim e eu fiquei acariciando suas costas. Adormeceu em meus braços, pois estava cansada do dia intenso de trabalho e de tudo. Cansada de mim também.
"Você precisa de alguém melhor que eu, meu amor" — pensei, novamente.
Nicolle tinha o sono pesado, então consegui sair fácil debaixo dela. A cobri com o cobertor, lhe dei um beijo na altura da têmpora direita e me vesti. Fui até seu escritório procurar alguns remédios, mas vasculhei gavetas e prateleiras e não encontrei nada.
"Com certeza ela escondeu por minha causa" — afirmei. Sentei em sua poltrona e chorei com o rosto apoiado nas mãos e os cotovelos nas coxas. Frustrada. Por tudo.
Estava agindo no automático, a vontade de sumir me consumia.
Peguei um Uber e voltei para o meu apartamento, imersa em pensamentos pesados e dolorosos. Deixar Nicolle era absolutamente dolorido, eu não conseguia viver sem ela, mas achava que ela precisava viver sem mim, então decidi partir naquela noite.
†
Coloquei uma música alta e tranquei-me no banheiro do quarto. "Dark Paradise", da Lana Del Rey representava bem aquele momento. Peguei uma lâmina na gaveta da pia e, sentada sobre o vaso sanitário, comecei a fazer o que mais temia, mas que achava ser a saída ideal para toda aquela angústia que tomava conta de todo o meu ser. A dor física não era boa, mas nem se comparava ao estrago que a dor sentimental me causava.
— Caroline, se você fizer alguma besteira, eu nunca vou te perdoar. — Nicolle enviou pelo Whatsapp — Eu te amo, garota. Mas se tentar algo contra sua vida de novo, será o fim pra gente. Você vai acabar comigo, Caroline. Entende isso? Eu preciso de você. Por favor... Não faz nada.
Ela me ligou e eu não pude atender.
— Atende, inferno! Caroline, me responde! Carol... Por favor? — suplicou, com voz chorosa.
Eu não conseguia.
— Estou indo aí. — Continuei lendo no visor de notificações — Me responde, por favor, estou aflita, nervosa e ficando desesperada. — Li e quis responder, mas já era tarde demais. — Já estou a caminho...
Fim do capítulo
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