Nanda
Naquela noite Fernanda não foi direto para casa, estava inquieta e precisava descarregar. Foi para crossfit, era seu santuário. As vezes sentia que apenas atividades físicas intensas a faziam relaxar, era o jujitsu, o muythai, o Crossfit e as corridas de fim de semana que fazia seu corpo soltar a tensão que sempre lhe perseguiu. Fez os exercícios até o esgotamento físico, mas o cansaço muscular não foi o suficiente pra fazê-la pegar no sono quando finalmente chegou em casa, o contato maior com a produtora havia conseguido deixar seus pensamentos conturbados, e isso fazia sua vontade de dormir ir embora. Adormeceu já de madrugada e acordou com os choramingos do seu pitbull do lado da cama.
- Que foi Thor? - resmungo mau humorada e sonolenta ainda enrolada no coberto - Que horas são? - Olhou para o relógio que marcava 11 horas e pulo da cama - Ai droga... desculpa filho - abriu a porta da varanda e viu o cachorro sair em disparada desesperado para fazer xixi no cantinho destinado para tal. Logo depois o cachorro voltou ficando parado em sua frente aguardando um agrado - Que menino educado - passou a mão na cabeça do bicho. Olhou para a caminha dos cachorros e se aproximou acordando a vira lata Natasha - E você uma dorminhoca... como eu - sorriu.
Desceu para primeiro andar de sua casa a procura de uma fruta que engana-se o estômago até o almoço, mas a primeira coisa que viu foi a cara emburrada de dona Marta e logo em seguida um grito.
- FERNANDA! Escuta aqui ou essa peste sobe pro seu quarto ou dorme no quintal, ele já comeu quase todos os sapatos dessa casa e hoje decidiu atacar o sofá - apontava pro pequeno boxer que morava naquela casa a menos de um mês, vindo de um canil clandestino que maltrata os cachorros e a morena havia denunciado.
- HULK, me ajuda né? - pegou o filhote no colo - Calma dona Marta já já ele vira um lorde inglês - brincou.
- Sei... O que aconteceu que acordou tarde?
- Fui dormi mais de 4 da manhã...
- Nanda... eu sei que tá trabalhando pra neta do seu Erik, mas por favor vê se não se mata de trabalhar filha - disse preocupada - Você sabe que não queria que voltasse a trabalhar com isso... ainda mas para quem é - suspirou - Não quero ver você correndo perigo, qualquer que seja...
- Estou bem mãe - deu um beijo na cabeça da senhora.
Depois do almoço Fernanda seguiu do bairro de São Cristovão, onde morava, para a Tijuca em sua boa e velha Saveiro branco. Iria aproveitar sua sexta livre pra passar na clínica.
- Olha só quem tá aqui - disse Carlos surpreso e rindo - Achei que a patroa ia se ausentar por mais tempo.
- Tô de folga hoje - abraçou o amigo.
- Assim é mole, num tá nem há uma semana trabalhando e ganha folga.
- Qual é? Quer arrumar um bico de segurança pra mim não? Olha o shape do moleque - Junior levantou a camisa orgulhoso do tanquinho - Mete uma bronca, num mete não?
- Ai como você é idiota Júnior. Bom dia chefinha - Babi se pendurou no pescoço da morena e deu um beijo em sua bochecha.
Há 2 anos Fernanda era dona de uma clínica veterinária de preços populares, que também funcionava como pet shop e uma pequena ONG nos fundos, e desde que se aposentara da vida de segurança particular se dedicava exclusivamente aquilo. Era seu sonho realizado, que foi construído com a ajuda dos amigos que fez durante os regates e campanhas animais ao longo dos anos, um grupo da mesma faixa etária que de amigos passaram a colegas de trabalhava. Carlos se tornou o responsável pela ONG, Luciana responsável pela clínica e Júnior pela parte administrativa, Fernanda a gestora de tudo, por último veio a caçula do grupo, Bárbara que entrou como estagiária e depois de formada ficou responsável pelo site, redes sociais e marketing do "Amigo Bicho". Junto os 5, com ajuda dos funcionários, faziam aquilo funcionar perfeitamente.
Foi um longo caminho até aquele momento, a morena trabalho durante 8 anos como segurança particular e modelo fitness, para juntar grana suficiente e abrir a clínica. O pet shotp veio pra conseguir lucro e ajudar a implantar uma tabela de preços populares na clínica e por último veio a ONG graças ao seu último serviço como segurança, que lhe rendera uma grana extra. Trabalhava apenas 2 meses para um dos homens mais ricos do país quando seu filho sofreu uma tentativa sequestrado, que graças a Fernanda não passou de uma tentativa, no fim dessa historia o menino saiu salvo, a segurança com cicatrizes de tiro e uma bolada na conta bancaria. Foi o suficiente para se aposentar e finalmente se dedicar ao que mais amava.
Jurou que a partir daquele momento em frente apenas trabalharia com aquilo, mas sua promessa não durou 1 ano e meio, só foi necessário ouvir Erik dizer "Lara está sento ameaçada" para ela se desfazer do seu juramento sem pensar duas vezes. Teve que voltar para sua antiga profissão. Avisou seus amigos que trabalharia em sigilo para alguém e que passaria uns meses distantes da clínica e da ONG. Os 4 segurariam as pontas.
- Não vai me dizer que resolveu o tal caso sigiloso em 2 dias Fê? - disse Lu chegando na sala e escritório da ONG onde todos costumavam ficar.
- Ainda não bati meu recorde não, tô apenas de folga - brincou - Eai o que temos para hoje?
- Vamos pegar uma doação de ração pra ONG e ligaram avisando que o programa que gravamos vai ao ar daqui a 2 semanas - avisou Carlos.
- Nossa que bela hora para eu aparecer na TV - bufou.
A maior emissora do país tinha acompanhado o dia-a-dia deles por 2 semanas para passar em um programa juntamente com outras ONGs e clínicas veterinárias populares do país.
- Já vi que o cliente dessa vez é famoso pra você estar com medinho de aparecer na TV - Carlos gargalhou - Olha lá em Nanda... se for mulher famosa é melhor você correr, a gente sabe do probleminha que aconteceu da última vez.
Dessa vez a gargalhada de Carlos foi seguida pelas de Júnior, Babi e Lu, todos pareciam ter lembrado da cena de uma ruiva enfurecida empurrando Fernanda dentro da piscininha de cachorros da ONG, para sorte dela só os 4 amigos tinham visto aquela cena.
- HAHAHA - riu ironicamente - Como vocês são engraçados, nossa vou rir até amanhã.
- Quem manda ser gostosa? - Júnior continua com a zoação - Os cara pira, as mina pira e os amigos? Os amigos se divertem.
- Cara eu vou bater em vocês - disse indo em direção a Júnior e Carlos.
- Vai nada, vamos trabalhar Fê... to indo lá agora pegar a doação - disse Lu já puxando-a pra saída.
- Se safaram dessa vez, mas vai ter volta - saiu rindo e apontando para os dois - Borá lá Lu.
A protetora passou a sexta toda na ONG e clínica. Tirou o sábado para arrumar a casa, por incrível que pareça ela amava fazer isso, um gosto peculiar, mas que a deixava feliz e dona Marta aliviada, já que na cozinha a filha era um verdadeiro desastre e mesmo quase chegando aos 30 nesse quesito ela era completamente dependente da mãe e dos aplicativos de entrega de comida em casa.
No domingo, foi praticamente obrigada a sair de casa por Júnior, o amigo de infância queria companhia pro jogo do Vasco e espertamente uma motorista para que ele pudesse beber.
- Ué cadê Tio Maneco? - pergunto Júnior assim que entrou no carro da amiga.
- Boa Tarde Júnior, tudo bom que você? - disse debochando do amigo.
- Ah para de drama que isso nem combina com você... mas Boa Tarde - colocou o cinto - Mas eai... cadê o velho?
- Pressão tá alta proibi ele de vir... mandei minha mãe nem deixar ele ver o jogo hoje.
- Ai é foda, ele tem que se cuidar bicho, se não vai passar mal de novo.
- Nem me fala, já briguei com ele mas parece que não adianta pior que criança - falava enquanto enquanto dirigia - Tô estressada e pra completar você ainda me obriga ai vi pru jogo que tenho certeza que vai me estressar mais - bufou.
- Calma gatinha que é hoje é tudo nosso - beijo a cruz de malta na camisa.
- Tomara mesmo ...
- Você tá pilhada e não é do por causa do tio... manda ai... já é por causa do trabalho? Alias pra quem você tá trabalhando?
- Deixa quieto Júnior, deixa quieto - aproveito o sinal fechado e colocou AC/DC pra tocar a todo volume no carro.
E assim foram pelo resto do breve caminho, cantando e não conversando.
- Você não vai mesmo me contar para quem está trabalhando? - perguntou Júnior enquanto tomava mais um gole de cerveja em um barzinho perto do estádio de São Januário.
- É... não - a morena riu e voltou a comer sua batata frita, já que finalmente estava no dia do lixo da sua dieta.
- Você é uma chata... não me admiro que esteja encalhada - provocou.
- Cala a boca seu ridículo - valou ainda de boca cheia.
- Fefa... 4 anos sem ninguém é foda. Desde que terminou com o Dudu nunca mais teve nada sério, e quase não sai com ninguém...
- Não que você saiba ...
- Paaara, mete outra cara. Se me conta tudo gatinha, sou seu melhor amigo - piscou pra ela.
- Quem te disse?
- Eu sei - riu - Pow... se já teve tá uns 6 meses sem ninguém e até hoje não acredito que dispensou aquela atriz gata... Ai ai Fefa... você é um caso a ser estudado.
- Beleza não é tudo Júnior, e não vou sair indo pra cama com qualquer um como CERTAS pessoas...
- Blá Blá Blá... tá mas sérião agora... - fez suspense - Deve estar criando teia ai embaixo já - caiu na gargalhada e como resposta recebeu uma batata frita na cara que acabou caindo pra roupa - Qual foi Fefa? Minha camisa novinha do Vasco - resmungou tentando limpar a gordura no tecido branco.
Júnior e Fernanda eram melhores amigos desde que a morena havia se mudado da favela da Mangueira para o bairro de São Cristovão, aos 11 anos de idade. Para a tristeza da família dos dois a amizade sempre foi apenas isso, amizade. O homem de 30 anos com pinta de malandro e fama de cafajeste era uma das poucas pessoas com quem a reservada morena conseguia se abrir e conversar. Foi ele quem havia escutados seus medos de infância, suas descobertas na adolescência, dado apoio aos seus projetos e apresentado a ela os esportes radicais que tanto amava.
- Bem feito! - riu da cara emburrada do amigo.
- Vou deixar na sua casa pra você lavar... trouxa. Agora come logo isso que o jogo já vai comer.
O jogo terminou com o time da cruz de malta vencedor, para a felicidade dos amigos, que voltaram extasiados para casa.
Fernanda quando deitou para dormir no fim daquele dia, mesmo cansada, viu seu sono novamente fugir. Sua mente estava focada demais em rever uma loira tatuada, no dia seguinte, para descansar.
Fim do capítulo
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Fernanda Santos
Em: 23/03/2020
Vou começar a ler, a partir da continuação da outra....BJ's que bom que voltou
nany cristina
Em: 23/03/2020
Bom dia
Que bom que você voltou com a história
ðŸ˜ðŸ˜˜
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