Melissa

Ouvi dizer que você tá bem

Que já tem um outro alguém

Encontrei moedas pelo chão

Mas não vi ninguém pra me abraçar

Me dar a mão

   Eu dirigia meu Audi Q8 pela cidade de Los Angeles e era a milésima vez que minha mente me pregava uma peça me fazendo lembrar daquela que tanto me fez sofrer. Até hoje não entendia uma coisa, eu saí do Brasil, mas o Brasil não saiu de mim.

Eu chorei sem disfarçar

Quando vi seu carro passar

Vi todo o amor que em mim ainda não passou

Eu já não sei bem aonde vou

Mas agora eu vou

   Parece que quando estamos sofrendo a tendência é escutar músicas para fazer sofrer mais. Já fazia tantos anos, mas a ferida era tão recente...

Tentei falar, mas você não soube ouvir

Tente admitir!

Tentei voltar e pude ver o quanto errei

Te amei mais que a mim, bem mais que a mim

   Eu tinha conquistado tudo que nunca pensei em ter antes. Tinha uma casa grande e bonita, uma vida profissional extremamente glamorosa como modelo, sempre estava rodeada de pessoas sorridentes, não tinha muito do que reclamar a não ser um vazio que sempre me batia a porta.

- Bad Girl, que carinha é essa? Se anima, hoje é seu niver gatinha – Bruna falou animada entrando em meu carro quando parei em frente à sua casa. Ela era sempre assim, tentando me animar de todas as maneiras possíveis. Nos conhecemos em um dos desfiles e a afinidade foi de imediato, principalmente por ela também ser do Brasil.

- Hoje não tá sendo um bom dia pra mim Pretty Girl, mais cedo recebi uma proposta de um trabalho no Brasil e não estou nem um pouco afim de aceitar. – Eu estava preocupada e irritada ao mesmo tempo.

- Melzinha do meu coração, vem aqui e desabafa no ombro da amiga – Bruna falava de um jeito que sempre arrancava sorrisos de mim. Ainda estávamos com o carro parado em frente à sua casa. Não sei como ela tinha tanta paciência comigo, havia perdido as contas de quantas vezes falei da magoa e da dor que sentia.

- Pretty, não consigo superar, hoje vai fazer quatro anos e ela não sai da minha cabeça. – Falei agoniada.

- Gente o trabalho foi bem feito hein – Minha amiga realmente era puro escândalo. – Se eu falar que também fui convidada para o mesmo trabalho, você fica feliz?

- Sério? – Falei surpresa – Então a coisa é grande para terem chamado nós duas – Se tinha uma coisa que eu adorava era enriquecer meu ego.

- Bad girl, você sabe que somos perfeitas juntas – Bruna piscou para mim toda sedutora – E o pagamento vai ser muito bom, mesmo que a gente não precise de tanto dinheiro. – Jogou o cabelo de forma debochada.

- Pretty Girl, você é um nojo – Falei e rimos juntas. Dei partida e pisei fundo, Bruna me mataria se chegássemos atrasadas no ensaio fotográfico que seria uma super campanha.

Narrador

Natal, Brasil 2016

   A paisagem na Via Costeira era simplesmente incrível o contraste do mar com as plantações dava gosto de se ver, um cenário perfeito para um casal apaixonado trocar beijos e caricias. Brenda agarrava a cintura de Melissa com todo fogo que sentia, beijava sua boca com paixão.

- Calma Bê, alguém pode aparecer – Melissa falava com dificuldade.

- Amor, relaxa. Não vai aparecer ninguém – Brenda falou reiniciando os beijos.

   As duas mulheres namoravam a 2 anos. Brenda tinha conhecido Melissa quando tinha 21 anos enquanto a outra tinha 16 e morava em um orfanato. Foi uma atração mutua, Melissa sempre fora muito madura para a idade, e não resistiu as investidas de Brenda que na época estava fazendo um trabalho voluntario no orfanato.

- Daqui a duas semanas a senhorita vai fazer 18 e tá na hora de ir morar comigo. – Brenda falou para o espanto de Melissa.

- Como assim Brenda? – Estava pasma.

- Amor, quero casar com você, construir família – Falou toda apaixonada.

- Não é muito cedo para isso Bê? – Estava nervosa.

- Melissa se não quiser é só me falar e pronto – Já ganhava ares de irritação.

- Calma amor, vem aqui – Beijou a namorada tentando acalmar os ânimos. – Podemos conversar sobre isso depois? – Falou e Brenda apenas fez um gesto afirmativo – Não fica assim amor, tudo que mais quero é ir embora do orfanato e construir algo que nunca tive... – Fez uma pausa – Eu quero uma família com você, mas nada com pressa funciona. – Acariciou seu rosto.

- Acho que minha namorada tem 40 anos com corpo de 18, não tem outra explicação para essa maturidade toda – Sorriu beijando a outra.

   As duas ficaram namorando mais alguns minutos até Brenda deixar Melissa na porta do orfanato e ir embora.

- Por onde a mocinha andou? – Uma jovem senhora abordou Melissa assim que fechou a porta atrás de si.

- Desculpa a demora dona Carla. Prometo que não vai acontecer de novo.

- Vem aqui minha criança – Dona Carla puxou Melissa para se sentarem. –Daqui a alguns dias você vai fazer 18 e mesmo gostando muito de você, sei que tem que criar asas e não vê a hora de sair desse lugar;

- Também não é assim Dona Carla, amo todos vocês. Mas eu quero viver, ser um pássaro livre – Falava com tanto entusiasmo que contagiava quem escutava.

- Eu sei minha menina, por isso tenho um presente pra você. – A mulher levantou indo em direção a uma cômoda antiga, abriu a gaveta pegando um cartão.

- O que é isso? – Melissa pegou o cartão sem entender.

- Esse é o número de uma grande amiga minha que mora nos Estados Unidos, conversando com ela consegui uma bolsa de estudos por um ano. E ela disse que você poderia ficar em sua casa durante esse tempo. O que acha? – Olhou ansiosa para a garota – Fala alguma coisa Mel.

- Nem sei o que dizer Dona Carla – A primeira coisa que Melissa pensou foi em Brenda.

- Não precisa dizer nada agora, você tem um mês para pensar. – Levantou da cadeira – Agora tenho que ir, preciso resolver algumas pendencias do orfanato.

   Melissa foi para seu quarto e na sua cabeça não saia o questionamento... E agora o que eu faço?

***

- O que você faz aqui? – Brenda abriu a porta dando de cara com Amanda.

- Vim pegar o que é meu – Nem deixou a outra terminar e avançou em um beijo apressado.

- Sai fora Amanda, qual a parte do E-S-T-O-U N-A-M-O-R-A-N-D-O que você não entendeu? – Brenda afastou Amanda bruscamente.

- Vou sair se você me der mais um beijo – Amanda falou se atirando novamente.

- Garota me deixa em paz. – Brenda gritou e fechou a porta na cara da outra.

   Amanda era uma mulher extremamente linda, atraente e principalmente insistente. Quando colocava uma coisa na cabeça era difícil desistir e naquele momento ela queria Brenda. Amanda era o motivo de diversas brigas entre o casal, mas já fazia meses que ela não dava as caras...até aquele momento.

- Demorou para atender, tá ocupada? – Melissa falava ao telefone com sua namorada.

- Para você nunca estou ocupada amor – Falava tentando disfarçar o nervoso.

- Tá tudo bem Bê?

- Claro amor, não aguentou a saudade é?

- Tenho uma novidade, podemos nos encontrar amanhã no Rapadura? – Perguntou se referindo ao restaurante preferido delas duas que ficava a poucos metros da praia.

- Claro que podemos, mas será que a Dona Carla faz aquele cafezinho pra mim antes? – Falou toda faceira. A sexualidade de Melissa nunca foi um problema para ninguém no orfanato onde morava.

- Claro né amor. – Falou rindo.

- Te amo Mel, até amanhã amor. – Brenda falou e se despediram depois de alguns minutos.

   Melissa ao fim da ligação, colocou seus fones no ouvido e divagava por vários pensamentos.

Kiss me

(Kiss me) out of the bearded barly

Nightly beside the green green grass

Swing swing (swing, swing)

Swing the spinning step

You wear those shoes and

I will wear that dress

Fim do capítulo