Alguns dias se passaram desde aquele encontro triplamente desastroso no apartamento de Duda. A jornalista evitou todas as ligações dos amigos que também eram amigos de Lívia, mas a ligação que mais esperava era de Anabelle e essa era uma ligação que não existiu.

         Heloísa seguia a aconselhando sobre esquecer de vez a loira fatal, só que coração é terra que não tem razão e Duda seguia sonhando com a boca de Anabelle, o toque de Anabelle, o corpo nu de Anabelle.

         Após um cansativo dia no trabalho, Duda chegou em casa exausta. Com fome, pediu um lanche em um aplicativo enquanto tomava um demorado banho. Seu corpo ardia de desejo, ardia de desejo por um só corpo, uma só boca.

         E como se o pensamento se transformasse em realidade, a campainha soou num eco pelo apartamento. Ela saiu ainda enrolada na toalha para atender a porta e lá estava o furacão Anabelle caminhando até a sala completamente encharcada de uma chuva que começara há pouco.

         _ Eu larguei a organização. _ Anabelle desabou numa cadeira_ Eu acho que eles não gostaram muito da minha decisão, mas eu não agüentava mais ficar longe de você e se era aquela merd* de trabalho que estava nos separando, não será mais isso. E eu sei que talvez você queira ficar com aquela menina, ainda assim eu me sinto mais leve agora. Nos últimos tempos eu sentia que estava lutando do lado errado, entende? Não estava mais concordando com os métodos, com as ordens.

         Ela parecia exausta. A roupa molhada estava grudada ao corpo e Duda sentiu seu corpo arrepiar quando seus olhares se encontraram.

         _ Por que você não me ligou? _ perguntou Duda enquanto se sentava de frente para Anabelle. _ Você quer tomar um banho? Vai acabar adoecendo se ficar molhada assim.

         Anabelle a olhou mais profundamente, como se um rio caudaloso estivesse preso dentro dela:

         _ Eu não vou trans*r com você novamente para ter que sair daqui correndo enquanto a Lívia fica aqui com você.

         _ Então foi por isso que você não me ligou mais?_ Duda agora estava furiosa_ Tudo por causa de um ciúme bobo?

         _ Ciúme bobo? Eu estava nua no seu banheiro e aquela garota me disse coisas horríveis, coisas que você nunca me disse e sabe o que você fez, Eduarda? Você nem sequer me defendeu, por que não a mandou calar a boca? Eu saí daqui transtornada, eu pensei em nunca mais voltar, em ir embora do Brasil definitivamente.

         _ E o que você queria que eu dissesse? _ Duda cruzou os braços sobre a toalha.

         _ Qualquer coisa, menos o silêncio, o seu silêncio ressoou mais que todas aquelas palavras. Era uma desconhecida falando da nossa história, falando mal de mim como se eu fosse uma espécie de Judas, sei lá!

         _ Eu sinto muito por tudo o que aconteceu, eu não sabia que você esperava alguma atitude minha.

         Anabelle estava cabisbaixa. Cansada, o peso inteiro de um mundo desabando sobre as suas costas e o medo do futuro, um futuro incerto. Ela tinha uma boa reserva de dinheiro, poderia ficar muitos anos sem trabalhar, mas ainda assim desejava poder fazer alguma coisa da sua vida. Não poderia voltar para o Exército e na verdade, ela nem queria isso. Ao mesmo tempo não conseguia se imaginar fazendo outra coisa.

         Precisaria recomeçar do zero e não era mais nenhuma garota. E ainda tinha seu relacionamento com Duda que parecia que nunca funcionaria.

         _ Hoje eu fiquei pensando. _ Duda disse.

         _ Pensando o quê? _ Anabelle perguntou cabisbaixa.

         _ Em você enquanto tomava banho.

         A voz safada de Duda contrastava com o clima, mas ainda assim Anabelle sorriu.

         Duda foi se aproximando, se aproximando, se aproximando lentamente de uma Anabelle tristonha.

         _ E se eu voltasse para o meu banho e você ...

         _ Duda, eu não sou mais esse tipo de mulher. _ Anabelle segurou a mão de Duda que estava na sua coxa. _ Se eu ficar, eu quero tudo o que tenho direito. Relacionamento exclusivo, nada de contatinho antigo seu, apenas nós duas, nenhuma mulher  a mais.

         _ Claro, Anabelle, do jeito que você fala parece que eu saí pegando geral.

         _ Não saiu pegando geral, mas conseguiu que alguém se apaixonasse por você a ponto de me xingar.

         _ Não vamos voltar mais a este assunto, por favor. O que nos separava era esse emprego maldito, agora você está livre, eu sei que você deve estar se sentindo perdida, mas eu estou aqui e eu estou ao seu lado independentemente de relacionamento.

         Anabelle abraçou Duda bem forte. Começou a chorar porque o seu coração estava apertado

Fim do capítulo