Olá Garotas,
Como me senti super acolhida e bem recebida por vocês neste novo projeto, hoje vou presentear as leitoras com a publicação de dois capitulos ao invés de apenas um. Então mantenham a escritora animada, comentem e curtam a história que quem sabe semana que vem talvez role mais um presentinho.
Beijos e boa leitura!
Ps: Hoje vocês vão conhecer Victoria!
Capitulo 2 - EM MOVIMENTO
Julia acordou depois de mais um pesadelo, sentindo falta de ar e com o coração disparado. Como depois de tanto tempo ainda podia ter estes sonhos? Como depois de 5 anos ainda sentia aquele dia no hospital como se fosse hoje? Pelo menos 2 ou 3 vezes na semana ela tinha pesadelos sobre aquele fatídico dia no qual a sua vida desmoronou, fez um contratempo, mas nunca mais voltou para o tempo certo, o tempo que deveria ter seguido, aquele que ela e seus pais haviam planejado para si mesma.
Julia Levantou, foi até a cozinha simples mobiliada com moveis de segunda mão, tomou um copo de agua com açúcar pra acalmar, na verdade ela sempre considerou isso uma superstição boba, mas como sua mãe falava que agua com açúcar acalmava, ela continuava tomando sempre que julgava necessário, pois depois da morte de seus pais, tudo o que se referia a eles tomara um valor, um grau de importância maior.
Saiu da cozinha e foi até o quartinho de Maria Clara, sua pequena, sua princesa, estava com 3 anos em poucos meses faria 4 anos. Não era por que a menina era sua filha, mas nunca tinha visto uma menina tão linda e esperta. Olhos verdes como o seu, mas cabelos castanhos claro com mexas que pareciam luzes naturais como os do pai. Julia riu de si mesma com esse pensamento. Pai, tá aí uma coisa que Maria Clara nunca saberia quem é o seu, pelo menos não se dependesse de Julia.
Kevin foi para Londres e nunca mais voltou, mesmo depois de saber da morte de seus pais e das dificuldades que estava passando, Kevin nunca a procurou, nunca quis saber da filha e deixou as duas passarem as piores necessidades que uma jovem mãe pode passar com seu bebê. Então na certidão de nascimento da menina constava apenas seu nome e era assim que seria para sempre.
Ficou ali observando sua pequena Clara dormindo serenamente. Pensou na falta que sentia de seus pais e lembrou que o nome de sua pequena era em homenagem ao seu pai Mario e sua mãe Clara que e também é o nome de uma famosa personagem do ballet o Quebra Nozes um dos seus favoritos. Como em um pesadelo Julia perdeu tudo o que mais amava em questões de horas, sua família e a dança... em compensação ganhou um novo amor, sua garotinha linda e foi apenas por ela que teve forças para suportar todas as dificuldades que passou. Observando-a dormir pensou:
- Quem sabe um dia eu poderei te colocar no ballet, quem sabe um dia eu posso te oferecer a educação de qualidade que meus pais me deram.
Isso era uma das coisas que mais agoniava Julia. Não poder oferecer a sua pequena acesso aos bens culturais e materiais que seus pais a oportunizaram. Sabia que o amor por sua filha era único e imenso, mas queria dar mais para sua menina e sabia que se continuasse trabalhando como balconista na padaria da Dona Rita, que era uma segunda mãe que a acolheu no meio da tempestade, jamais poderia sequer pagar uma aula de ballet, quanto mais de inglês, escola particular, viagens e plano de saúde. Por isso, buscando uma vida melhor para si e sua filha, fazia faculdade EaD em Ciências Contábeis, estava no último ano e estudava a noite sozinha em casa, enquanto sua pequena dormia e quando precisava ir para aula presencial, Dona Rita cuidava da Clarinha. Sabia que o mercado e a concorrência eram cruéis, por isso se esforçava muito, para quem sabe conseguir uma vaga em algum bom escritório que lhe pagasse um pouco mais do que Dona Rita podia lhe pagar na padaria. Porém sabia que em um processo de seleção, já saía atrás dos seus concorrentes, pois muitas empresas evitavam contratar mulheres solteiras e com filhos. É um preconceito velado, que tem raízes profundas no machismo, mas todo mundo sabia que acontecia e Julia já sabia bem disso por experiência própria, por isso tinha tomado a decisão que na próxima entrevista de emprego não diria que tinha uma filha, pois queria aumentar suas chances em relação a concorrência.
Julia terminou a faculdade, começou a fazer diversas entrevistas em diferentes escritórios, mas ainda não havia dado certo em nenhum, sempre sentia que por mais que os empregadores estivessem interessados em seu currículo, percebia que quando liam na ficha que ela tinha uma filha e não era casada, davam um passo atrás. Dona Rita sempre a apoiava e dizia que enquanto ela precisasse ela teria seu emprego de balconista e que poderia morar na Kitnet nos fundos do prédio da padaria sem pagar o aluguel pelo tempo que precisasse, mas Julia não achava justo não contribuir com um aluguel para Dona Rita e também queria oferecer uma vida com mais condições de acesso a sua pequena Maria Clara.
Sua rotina era desgastante, cuidava de Clara enquanto atendia na padaria, pois ainda não tinha conseguido uma vaga em um CMEI[1] e também não tinha condições de pagar uma escolinha particular. No final da tarde até a noite arrumava tudo na padaria e ia para seu pequeno apartamento nos fundos do prédio, o lugar não era nem um palácio, mas era limpo, organizado e com tamanho suficiente para ela e sua filha, além disso não precisava pagar aluguel e nem pagar o transporte coletivo para ir trabalhar, assim conseguia guardar um pouco de dinheiro caso acontecesse alguma emergência com sua pequena. No período da noite cuidava de Clara e estudava. Após terminar a faculdade, já emendou direto em uma pós-graduação sobre Consultoria Fiscal e Tributária, pois não podia perder tempo, sua pequena estava crescendo e ela precisava de um emprego melhor. Assim sua vida se resumia a trabalhar, estudar, cuidar de sua filha e as conversas com sua mãe de coração. Julia não tinha amigos e as amigas do ballet a única que ficou ao seu lado foi Carol, que agora morava nos Estados Unidos, pois estava dançando no Ballet de Los Angeles e as vezes ainda conversavam pela internet.
Julia era uma jovem solitária que foi forçada pelo destino a abrir mão de uma vida social e de seus sonhos para cuidar integralmente de sua filha, pois como elas não tinham mais ninguém olhando por elas, Julia sabia que precisava se virar sozinha, mesmo quando estava exausta e se sentindo sem força para continuar. As vezes na escuridão da noite chorava por tudo o que havia acontecido, mas nunca deixava a sua pequena perceber sua angustia e sua tristeza.
Num sábado pela manhã quando chegava para a aula presencial da pós-graduação, viu no mural da faculdade que a empresa Kramer Advocacia e Contabilidade, estava selecionando profissionais de ciências contábeis para compor seu quadro de funcionários. Julia se animou e concluiu:
- Esta é a minha oportunidade, trabalhar na maior empresa do estado com certeza irá me proporcionar um salário melhor para que eu possa cuidar bem da minha filha,
Então decidida em confiante, tirou uma foto do cartaz, para em casa poder organizar todos os documentos solicitados pela empresa para a seleção.
Assistiu sua aula e voltou para padaria animada. Chamou Dona Rita e contou a novidade para sua mãe adotiva, que prontamente a incentivou e a estimulou a participar da seleção.
- Julia minha querida, você é uma moça linda, extremamente inteligente e esforçada, tenho certeza que essa vaga será sua, pois você vem se preparando muito para este momento. Vou fazer uma declaração de trabalho para que conste no seu currículo que você é contadora aqui da padaria, talvez isso ajude um pouco, já ter alguma experiência na área. Por que a muito tempo além de trabalhar atrás do balcão você vem me ajudando com a contabilidade da empresa.
- Sério mesmo, Dona Rita? A senhora é maravilhosa, isso com certeza ajudará muito.
Com um largo sorriso abraçou sua mãe de coração e agradeceu.
- Julia esta padaria é pequena demais para o seu talento, você verá que logo, logo você conseguira se estabelecer melhor na vida, conquistar as coisas que tanto planeja dar para Clarinha, quem sabe volta a fazer aulas de dança e talvez até arrume um bom rapaz que ame você e nossa menininha como vocês merecem.
- É quem sabe né? Mas disso tudo aí eu só dispenso a parte do rapaz viu? Antes só do que mal acompanhada.
As duas riram da fala da mais jovem, mas a senhora continuou:
-Você diz isso agora, mas quando as coisas estiverem mais organizadas na sua vida, eu sinto que alguém aparecerá... você é uma guerreira, merece ser feliz e ter tudo o que sempre sonhou.
- Para isso precisaríamos voltar no tempo Dona Rita, mas isso não é possível, então tudo o que eu mais quero agora é ser selecionada para este emprego e poder cuidar bem da Clara. Mas pode ficar tranquila Dona Rita que eu ainda continuarei ajudando a senhora na contabilidade da padaria e também atrás do balcão durante os finais de semana.
- A menina você não existe, obrigada por estar sempre disposta a ajudar esta velha aqui.
E em uma conversar amigável, continuando tomando café e comendo pão de queijo, até que a Clara chamou:
- Mamãe, Mamãe, vamos no parquinho?
Julia, olhou para Dona Rita que disse:
- Vai lá menina, curte um pouco sua filha. O Movimento esta fraco hoje e eu e Beatriz damos conta de tudo por aqui.
Julia agradeceu sorrindo, pegou na mãozinha de sua filha, a vestiu com um casaquinho, pois aquele sábado estava fresquinho em Curitiba e saíram para o parquinho na pracinha do bairro.
A padaria de Dona Rita, ficava no Batel, um bairro nobre de Curitiba onde havia muitos bares, baladas e restaurantes e muita gente rica transitava ou morava por ali, mas era um lugar que ao mesmo tempo mantinha um ar de bairro familiar devido a pracinha com o parquinho na qual muitas crianças iam brincar sendo levadas, por suas mães, pais e babás.
Julia ficou com Clara no parquinho até o final da tarde, brincaram e se divertiram. A criança estava muito feliz, pois não era sempre que sua mãe podia dedicar tanto tempo a ela.
Voltaram para a padaria, Julia ajudou Dona Rita a fechar o caixa e arrumar tudo para o próximo dia, depois a senhora foi embora e a jovem foi para sua kitnet, deu banho em Clara, deixou a pequena assistindo o desenho da Barbie Bailarina, que era o preferido da menina, foi tomar seu banho e preparar o jantar para as duas. Depois do jantar a pequena ainda assistia desenho e Julia foi separar os documentos necessários para a entrevista na Kramer Advocacia e Contabilidade, enquanto pegava sua pasta olhou para a pequena que dançava em frente à televisão tentando imitar os passos da Barbie, sorriu ao lembrar de si mesma. A criança ao notar que estava sendo olhada pela sua mãe fez uma posse e perguntou:
- É assim mamãe? Estou fazendo direito?
Julia sorriu e respondeu:
- Sim meu amor, está linda!
Foi ao encontro da sua pequena a pegou no colo e as duas ficaram rindo e dançando juntas a Valsa das Flores que tocava no desenho as duas caíram no sofá dando risada e mais velha disse:
- Está uma delícia dançar com a senhorita prima ballerina, mas acredito que já está na hora de ir dormir princesa.
- AAAAAAA mãe deixa eu ficar só mais um pouquinho vendo o desenho.
Julia olhou no relógio, já passava das 21 horas. A menina geralmente dormia esta hora, mas como era sábado resolveu abriu uma exceção.
- Ok, bailarina, pode terminar esse desenho e depois vamos pra cama, heim? Nada de ficar me enrolando.
A menina deu um salto e um giro de felicidade e caiu de bumbum no chão dando risada, depois pulou no sofá e deitou para terminar de ver o desenho.
Julia sorriu. Amava aquela criança, mais que tudo. Foi a chegada de Maria Clara que a deu forças para seguir em frente, aquela criança lhe trouxe um novo sentido para a vida mesmo que com isso tenha trazido tantas dificuldades e responsabilidade, pois em um dia era uma adolescente e no outro teve se transformar em uma mulher adulta e responsável. Pensando em sua pequena, a jovem mulher olhou os documentos e pensou:
- Eu preciso fazer isso dar certo!
E canalizando toda sua energia e os seus pensamentos positivos começou a preparar o seu currículo e separar a documentação necessária para a entrevista. Quando terminou, foi olhar a sua pequena que dormia tranquilamente no sofá. Passando a mão nos cabelos de sua menina jurou para si mesma:
- Eu prometo minha filha, que nós vamos conseguir fazer tudo dar certo. Você me dá forças para enfrentar o mundo.
Pegou a menina no colo, já com alguma dificuldade pois ela já estava com quase 4 anos então não era mais tão leve, a levou para o quarto, colocou-a na cama, acendeu o abajur de unicórnio e depositou um beijo na testa de sua filha desejando boa noite. Saiu do quarto deixando a porta entre aberta, para caso ela acordasse a noite não ficasse com medo.
Voltou para cozinha, pegou um vinho que tinha aberto na geladeira, encheu uma taça para dormir mais relaxada, não era acostumada a beber, mas quem sabe uma taça ajudaria a passar noite mais tranquila e sem acordar com o seu corriqueiro pesadelo. Tomou o vinho pensando em tudo o que mudou na sua vida nestes últimos cinco anos, fez planos para o futuro e já perto da meia noite foi dormir, mas não sem antes fazer uma oração pedindo luz para o seu caminho e o de sua filha.
Na segunda feira logo pela manhã Julia recebeu uma ligação, da secretaria do CMEI do bairro, informando que uma família havia se mudado e abriu uma vaga para encaixar Clara na turma de período integral e se ela ainda tinha interesse de matricular a criança, pois a fila de espera estava enorme. Julia respondeu que tinha interesse sim e que estava muito feliz com a notícia e que passaria lá ainda pela manhã para realizar a matricula e pegar a lista de materiais necessários.
Julia desligou o telefone pensando:
- Isto é um sinal, minha sorte esta mudando. As coisas vão começar a dar certo.
Saiu correndo feliz contar a novidade para Dona Rita e pediu para ela se poderia ter a manhã de folga para ir ao CMEI fazer a matricula de Clara e também para ir levar os documentos para se inscrever na seletiva da Kramer A.C.
Dona Rita apenas respondeu:
-O que você está fazendo aqui ainda? Vai logo garota. O Mundo está te dando novas oportunidades. Vai logo e pode deixar que eu cuido da Clarinha.
Julia a abraçou e uma lágrima escorreu do seu rosto. Agradeceu e saiu correndo para ir trocar seu uniforme da padaria e poder ir aos lugares que necessitava.
Pegou os documentos para a entrevista e também os documentos de Clara. Passou primeiro no CMEI realizou a matricula teve uma breve explicação sobre as regras e rotinas da instituição, ficou sabendo que não precisaria se preocupar com refeição da pequena, pois a instituição fornecia diariamente. Percebeu que os horários de entrada e de saída de Clara na escola seria compatível com o horário de trabalho que teria caso fosse aprovada na seleção da Kramer e isso a deixou imensamente feliz, pois não dependeria do favor de ninguém para ir buscar sua filha na escola. Pegou a lista de material escolar, mas a secretaria informou:
- Senhora esta lista não é obrigatória, caso a senhora não possa comprar estes materiais, não tem problemas, pois os materiais extras que constam aí são apenas para ajudar a instituição que também nem sempre recebe verbas o suficiente para manter a escola funcionando de forma adequada. Solicitamos apenas que a senhora providencie os materiais de uso individual como mochila, toalhinha, garrafinha de agua, travesseirinho e uma mantinha. Todos os demais materiais necessários nós disponibilizamos aqui.
Julia sorriu com a simpatia e com a atenção da secretaria em esclarecer todos os detalhes a ela e respondeu:
- Ok entendi, mas eu vou ajudar em tudo o que eu puder, afinal se esta vaga não tivesse aberto eu não teria condições de arrumar um emprego melhor.
Ambas sorriram e Julia olhou a secretaria e pensou como essa moça era bonita e simpática, deu mais um sorriso, agradeceu novamente saiu feliz da vida sabendo que já no próximo dia sua menininha teria o seu primeiro dia na escola.
A secretaria ficou observando aquela jovem e linda mulher saindo, deu um suspiro e pensou: - ôôô lá em casa, a mama iria adorar uma nora desça! A jovem riu do próprio pensamento, balançou a cabeça e pensou melhor voltar ao trabalho.
Julia pegou um ônibus e foi até o escritório da Kramer que ficava no centro da cidade. Não era muito longe de onde morava, mas ir de transporte coletivo seria necessário para dar tempo de deixar Clara no CMEI e chegar a tempo no trabalho caso passasse na seleção, então ela já estava mentalizando tudo positivamente para quando isso desse certo ela já estivesse preparada.
Chegou em frente aquele prédio imponente, todo de vidro espelhado, com uma recepção lindamente decorada, piso de mármore um lustre enorme no teto que tinha um pé direito duplo, segurança na porta e duas recepcionistas atrás do balcão que era em uma cor de madeira escura, coisa mais linda do mundo. Entrou no espaço e foi direto falar com a recepcionista, uma moça linda que combinava com aquele lugar imponente, então a moça a cumprimentou repetindo um texto decorado.
- Olá Bom Dia, bem-vinda a Kramer Advocacia e Contabilidade, em que possa ajuda-la?
-Olá Bom Dia. Meu nome é Julia Mendes e eu vim trazer os documentos para participar da seleção de contadores que a empresa está fazendo.
A recepcionista estendeu um papel dizendo:
-Ok senhora. Preencha este formulário aqui e depois neste envelope guarde os seus documentos juntos com o formulário que nós encaminharemos para o RH. Se quiser pode se sentar ali naquele sofá para preencher com mais calma.
- Ok, muito obrigada.
Se deslocou para o local indicado. Sentou para preencher o formulário. Até que viu aquela pergunta: Você possui dependentes? Quantos? Nome e Idade? Julia ficou pensando se deveria ou não mentir e como já tinha se dado mal em tantas outra vezes, resolveu omitir a existência de Clara e marcou o item Não, como resposta.
Antes de levar o envelope para a recepcionista, fez uma breve oração mentalizando energia positiva para aquele envelope e repetiu as palavras que sua mãe sempre dizia:
-Meu Senhor me ilumina, me guia e me proteja! Se este emprego for para ser meu, guie meus passos senhor!
Julia não se considerava uma pessoa religiosa, pois não frequentava e não acreditava nas “igrejas dos homens”, mas sem dúvida nenhuma tinha fé e acreditava em uma energia suprema que regia nossa simples vida terrena e após tudo o que lhe aconteceu sua fé se tornou ainda mais forte, as vezes entoava o ho’ponopono o que a ajudava a acalmar e aceitar as dificuldades pela qual passou.
Se levantou e foi caminhando em direção ao balcão com os olhos fechados fazendo um mantra: Vai dar certo, serei contratada! Vai dar certo, serei contratada! Vai dar certo, serei contratada! Quando de repente sentiu um impacto. Esbarrou em alguém e o seu formulário e o envelope caíram no chão se misturando aos papeis da pessoa na qual ela havia esbarrado.
Julia, na mesma hora pediu mil desculpas e se abaixou para juntar os papéis e a pessoa se abaixou junto. Quando ela escutou a voz de uma terceira pessoa que havia ficado em pé dizendo:
- Você não olha por onde anda não mocinha?
Então Julia olha para a outra mulher abaixada e pede desculpas, já haviam recolhido todos os papéis então ela levanta e olha para mulher forte e imponente que estava em pé.
Quando seus olhos se cruzam com aqueles olhos cor de mel, Julia sentiu um arrepio pelo corpo todo não sabe se por medo, ansiedade ou qualquer outro motivo.
- Desculpa senhora foi sem querer eu estava caminhando e relendo os dados do meu formulário e não vi que alguém se aproximava.
A mulher que tinha os olhos fixo nos verdes da jovem, foi baixando o olhar e a olhou de cima em baixo, analisando aquela figura interessante a sua frente e pensou: - Uma menina ainda, provavelmente recém-saída da faculdade.
Julia sentiu quase como se estivesse sendo despida com o olhar e aquilo a incomodou profundamente, sentiu um novo arrepio, nunca ninguém a havia olhado daquela forma tão intensa e profunda. Então a mulher mais velha disse pousando os olhos mel nos verdes da jovem novamente:
-Neila, já recolheu tudo? Temos uma reunião e eu não posso mais me atrasar.
- Sim, senhora Kramer.
A secretaria disse isso segurando os papeis na mão, então viu que estava com o formulário de Julia na mão e o devolveu, enquanto Julia devolvia um documento no qual pode ler a assinatura: Victoria Kramer
Neste momento a jovem pensou fudeu, fudeu, fudeu vou ser demitida antes de ser contratada.
Enquanto Neila, a secretaria, estendia o formulário para devolver para a candidata a vaga, Victoria o puxou lendo o nome escrito nele e disse:
- Julia Mendes, candidata a vaga de contadora?
Mas não deu tempo para jovem responder, por que não foi uma pergunta, apenas uma constatação, então devolveu o papel a secretaria e saiu caminhando e já de costas disse:
-Boa Sorte na seletiva, senhorita Julia!
A secretaria olhou para jovem com uma cara de “sinto muito” e saiu caminhando a passos rápidos atrás da chefa.
Julia que até então ainda não tinha conseguido respirar, soltou todo o ar que havia guardado nos pulmões e balançou a cabeça negativamente, pensando na mancada que havia dado.
Quando olhou para a recepcionistas, estas a olhavam com cara de pena. Provavelmente pensavam que ela não teria chance nenhuma na entrevista.
Julia caminhou até elas, entregou seu envelope e seu formulário e quando já estava saindo voltou e perguntou:
- Ela é muito brava?
As recepcionistas se olharam e uma respondeu:
- Brava não, mas perfeccionista e exigente.
- Aí meu Deus, me ferrei.
As duas recepcionistas sorriram, um sorriso amarelo, mas uma delas respondeu:
- Dona Victoria é uma mulher muito justa e correta, se você for a melhor pessoa para o cargo, não será um incidente bobo como este que irá lhe prejudicar. Fique atenta ao telefone que vamos ligar informando o dia da sua entrevista provavelmente será antes do final de semana.
Julia simpatizou com a moça, agradeceu e saiu do prédio meio desnorteada.
Sentou-se no banco que ficava próximo ao ponto de ônibus, tirou seus sapatos de salto e colocou o tênis que carregava dentro da bolsa, decidiu que ir caminhando seria melhor para pensar no que havia acontecido, além disso economizaria no valor da passagem e também pararia para comprar os materiais de Clara precisaria levar para o seu primeiro dia de aula.
Julia sabia de todos compromissos que tinha a cumprir, porém a força do olhar daquela mulher, a imponência que ela demonstrava e aquela beleza singular, estranhamente não saíram de sua cabeça. Talvez estivesse apenas impressionada com aquela que poderia ser sua futura chefe. Vai saber não é mesmo?
[1] CMEI: Centro Municipal de Educação Infantil.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
olivia
Em: 07/03/2020
Bom dia Ana, sou apaixonada por classicos , admirando seu trabalho, Julia uma mulher de fibra e coragem. Em meio a tanto sofrimento , reparei que , você não mencionou nada relacionado bem como ,nada deixado pelos pais , ficou um vazio nesse período? Desculpe minha curiosidade se eles deram a ela segurança para que, chagasse quase bailarina! Então não sei se ela ficou desmparada financieramente também? Tenha certeza que estou amando cada paragrafo desse lindo romance!! Abraço carinhoso!!!
Resposta do autor:
Olá Olivia
Eu achei que tivesse dado uma pista sobre a Julia ter ficado sem nada após a morte dos pais, mas agora com sua pergunta, vou ter que verificar, nos capitulos iniciais. Entretanto, teremos mais pra frente uma conversa sobre este momento da vida de Julia que foi tão dificil e provavelmente isto ficará mais claro.
Fico muuuito feliz que você esta gostando, este é o melhor retorno que uma autora poderia querer. Muito Obrigada de coração.
Beijos e até o proximo capitulo!
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