Parecia que foi ontem que nos conhecemos, já estávamos juntas a 3 anos. Não mais estávamos, só pegar na mão e beijinhos, só para matar a curiosidade de vocês, rs. Ana e eu nos víamos raramente aos fins de semana, ela estava no último ano de faculdade e para completar ainda tinha se envolvido na comissão de formatura. Ficávamos juntas mesmo, apenas nos fins de semana. Durante a semana, quando ela estava mais folgada sempre me fazia uma surpresa ou aparecia do nada no escritório para almoçarmos juntas ou como já tinha a chave do meu ou melhor nosso apartamento ia preparar um belo jantar bem romântico para nós. Não queria mais nada, tinha o amor da minha vida comigo o resto corria atrás. 

Bom, seu pai foi o primeiro a ficar sabendo da homossexualidade de Ana e também do nosso relacionamento. Como ela previu, sua mãe não aceitou e não aceita até hoje. Sempre diz que fui eu quem levei Ana para o mal caminho, lembro que no dia em que ela contou, as duas brigaram e Ana foi para o meu apartamento transtornada, passou a noite chorando e eu claro fiquei a consolar. No começo aquilo me chateava, mas com o passar do tempo nem ligava mais. Estava namorando a filha e não a mãe- pensava. Sabia que no fundo, Ana ficava dividida com toda aquela situação tínhamos o apoio do seu irmão, no início pensava como a mãe mais depois que me conheceu, que percebeu o quanto fazia sua irmã feliz começou a aceitar tanto Ana como também nosso relacionamento. Já saia até conosco, era uma figura meu cunhado. Ana deixou bem claro que fazia questão da minha presença tanto na cerimônia da formatura quanto na festa da turma. Não me deixou muita escolha então para não contrariar, aceiteo ambos os convites. Ela se formou em uma tarde de verão de Junho...

Ela estava uma pilha de nervos a semana toda. Ela apresentaria seu tcc (trabalho de conclusão de curso) e adivinhem seu trabalho era sobre o projeto de lei que esta no congresso a respeito sobre os casais gays terem os mesmo direitos que os casais heteros. Quando me falou qual seria o tema, lembro que estávamos jantando tanto que engasguei com o vinho quando falou o assunto do seu tcc. Minha linda era maluquinha mesmo, em momento algum deixei de apóia-la, mesmo sabendo que o tema levantaria muitas discursões, era o que ela queria, eu como namorada me sentia no dever de esta a seu lado. Apesar de ser conhecia, já tinha sofrido na pele a descriminação por conta da minha orientação sexual...

-Amor, já escolhi sobre o que será meu tcc...

-Que bom, minha linda...você estava cheia de dúvidas...não sabia qual tema escolher...

-Poisé...fui ao cometer GLBTI aqui de Belém e me informei sobre o processo que esta em andamento no congresso a respeito da igualdade nos direitos dos casais homoafetivos...

-Você o que? estava tomando vinho que engasguei...quando me recuperei perguntei o por que dela não te me chamado para ir com ela...estava chateada por não acompanhado ela ...

-Desculpa, amor...sei que se tivesse lhe convidado irias comigo, mas preferi ir sozinha...apesar de já aceitar o fato de gostar ou melhor amar uma mulher, ainda é complicado para mim o fato de não poder andar de mãos dadas com você na rua, não pode lhe beijar em público…

-Entendo...mesmo aceitando sua explicação,me sentir excluída, pedir o apetite na hora...levantei e peguei o copo de vinho...fui para a sala..

Ana veio atrás de mim, como estava na janela de costas, ela me abraçou por trás. Fiquei sentindo sua respiração quente no meu pescoço, nada mais falamos. Os meses se passaram e ela a cada dia estava mais empenhada em entender melhor sobre o assunto, não saia do comitê, cheguei a ir buscá-la algumas vezes. Tudo que ela escrevia a respeito, era a primeira a lê antes mesmo do seu orientador. 

Chegou o grande dia, liguei para ela pela manhã, tentando lhe acalmar, lhe passar força e claro prometendo que iria assistir a apresentação do seu trabalho. Seria às 14: 00 hrs, no auditório David Mufarreg na faculdade onde estudava. O nervosismo foi tanto que ao 12: 00 ela me ligou avisando que já estava na faculdade. Gustavo e eu fomos juntos para dar o máximo apoio para minha Ana. Chegamos lá e ela quando nos viu veio imediatamente ao nosso encontro, primeiro me abraçou e depois o amigo. Como o tema pode se dizer que divide opiniões, o auditório estava lotado, estava na capacidade máxima. Mesmo eu e Gustavo estando sentados na primeira fila, podíamos vê que o auditório  lotou para sua apresentação. Os professores que iriam avaliar o trabalho, já estavam a posto. Seu orientado também e pontualmente a sua apresentação teve início.

Ela estava perfeita e como prevíamos o assunto dividiu opiniões, alguns contras outros a favor. Respondeu as perguntas da bancada com total segurança, da platéia e por fim antes de agradecer a todos, revelou que o que a inspirou a produzir aquele trabalho foi a descoberta da sua homossexualidade e seu relacionamento com uma mulher. Ela se assumiu perante umas 200 pessoas. Estava sentindo muito orgulho dela, Gustavo e eu levantamos juntos e de pé aplaudirmos Ana. Bom, para alguns que a conheciam foi um choque quando ela se revelou lésbica para outros foi uma festa. Ouvíamos aplausos em meio as vaias. Mas Ana não se deixou abater, Terminou a apresentação agradecendo a presença de todos. Desceu do palco em que apresentou o trabalho e veio em direção onde eu e Gustavo estávamos. Abraçou o amigo e depois pegou em minha mão. Saímos de mãos dadas do auditório, em meio aos aplausos e as vaias.

Entramos no meu carro e fomos comemorar o sua excelente atuação. Mas antes nos abraçamos e nada como um beijo para selar aquele momento. Fomos interrompidas com Gustavo que tinha se sentado no banco de trás fazendo o maior escândalo. Sugeri que fossemos almoçar, visto que nós três, principalmente Ana não almoçamos, e ela por ser diabética não podia ficar muito tempo sem se alimentar. No carro Ana, ligou para o pai avisando foi um sucesso sua apresentação, ocultou apenas o fato de ter se assumido para a platéia. Se resumiu a falar que tinha encerrado sua apresentação com “uma surpresinha”. Chegamos no restaurante, pedimos o melhor champanhe da casa, tínhamos que comemorar. Como era a chefa do Gustavo, lhe dei dia de folga. Almoçamos e ficamos um bom tempo conversando e Ana contando como seria a cerimônia da formatura e a festa, todas no mesmo dia e no mesmo local. Ambas, aconteceriam no final do mês. Deixamos Gustavo na sua casa e Ana foi comigo para nosso apartamento.

Continua..

Fim do capítulo