O Beijo
Maya
“Convites? Ok. Bebidas? Ok. Buffet? Ok. Dj? Ok.” Estava fazendo o checklist mental dos preparativos para a minha festa e mesmo assim a sensação de que estava esquecendo algo não desaparecia. Tem que está tudo perfeito afinal é a primeira festa que faço desde que tudo aconteceu.
— Maya você precisa superar, já faz três anos que a Alice se foi. — Ouço a voz de Debby, minha melhor amiga, mas me recuso a sequer me virar para olhá-la.
Desde que Alice, minha esposa, morreu minha rotina era trabalho para casa e casa para o trabalho, afinal tinha contas para pagar. Fato é que Alice levou consigo minha vontade de ser feliz. Aquele maldito acidente tirou de mim minha razão de viver.
— Vai embora, Debby.
— Não me venha com ‘vai embora, Debby’ você vai se levantar dessa cama e começar a viver. A Alice iria querer isso.
Me virei para ela com os olhos cheios de lágrimas.
— Não fale o que a Alice iria querer.
— Desculpa. — Ela se sentou do meu lado na cama. — É sábado, vamos dar um passeio, vai. Me dói te ver se acabando mais a cada dia.
Eu sabia que ela se preocupava comigo.
Fui retirada das minhas lembranças pelo som do meu celular. Olhei o visor e vi que era a minha amiga.
— Oi, Debby... Não eu não desistir da festa... Debby, a gente só faz qualquer idade uma vez... — sorri feliz por ter uma amiga igual a ela — Te encontro mais tarde, tenho quer ir a minha consulta. Tá, saio às 16h de lá então. Te espero, beijos.
Desde aquele sábado eu comecei a minha luta para superar a morte da minha esposa. Comecei a ir à psicóloga. Doutora Marcela me ajudou muito. Já fazia um ano que eu fazia tratamento com ela e foi ela e Debby que me convenceram a fazer a festa de aniversaria. Afinal segundo elas só se faz 34 anos uma vez.
Cheguei ao consultório da doutora Marcela e vi uma mulher lá que nunca tinha visto. Ela era baixinha, cabelos pretos e usava um boné, linda. Acho que fiquei olhando tanto que ela sentiu, pois levantou a cabeça e nossos olhares se encontraram, mas não sustentei e desviei. Péssima ideia, pois meus olhos foram diretamente para os seios dela. Fechei os olhos na hora. “Droga, o que está havendo comigo, parece que nunca vi mulher na vida”.
— Maya? Vamos?
Ouço a doutora me chamando e agradeço aos deuses por me salvar.
— Oi.. vamos.
Entro na sala, mas consigo ouvir a doutora falando com a mulher desconhecida.
— Andy, ela é a última do dia, aí já vamos.
— Tá bom.
“Andy”. A mulher desconhecida agora tem nome e uma voz linda também.
As consultas com a doutora sempre me faziam bem, ela me deu os parabéns e falamos sobre a festa e eu contei que tinha sonhado com a Alice essa noite. Esses sonhos eram como se a Alice me visitasse e isso me fazia tão bem.
Saí do consultório me despedindo da doutora e da Andy com um simples aceno com a cabeça. Minha amiga já estava me esperando do lado de fora.
— Oi, como foi hoje?
— Foi bom.
— Você está bem?
— Estou, Debby. Sonhei com a Alice hoje, estou com a sensação de que estou esquecendo algo para hoje a noite e vi uma mulher linda no consultório da Marcela. Tudo normal.
— Pera. Que mulher é essa?
— Não sei, só a vi no consultório. Vamos logo para onde ia me levar. — Tento mudar de assunto.
Eu já fiquei com outras pessoas desde que comecei o tratamento, mas nunca durava mais que duas semanas. Nenhuma delas eram a Alice, e por mais que eu tenha evoluído com o tratamento eu ainda não me sentia pronta para um relacionamento.
Minha amiga me levou para um salão de beleza e lembrei do que faltava no meu checklist: eu não estava ok e nem tinha pensado nisso. Minha sorte é que Debby pensou em tudo, passamos o final da tarde nos arrumando e ela me mostrou a roupa que tinha comprado para mim. Ela disse que já era meu presente de aniversário. Ela me conhecia tão bem que comprou exatamente o que eu compraria para mim. Uma calça preta linda, um salto 10 azul e uma blusa cinza básica. Minhas três cores reunidas em mim.
— Eu te amo, sabia? — Disse me olhando no espelho e vendo ela através dele também.
A verdade é que eu tinha muita sorte em ter a Débora em minha vida. Debby e eu somos amigas desde os tempos de faculdade, a conheci no primeiro dia de aula e nossa amizade só cresceu desde então. Ela estava comigo quando conheci a Alice, quando a gente se casou e quando eu a perdi. Se não fosse por ela eu já teria desistido de tudo. Meu emprego, minha vida.
— Sei também que não seria nada sem mim. — Fala e eu reviro os olhos. Ela me abraça por trás. — Eu também te amo.
A festa seria na minha casa, Debby queria que fosse em um salão de festa, mas eu queria dar novas lembranças para aquela casa. Foi Alice que escolheu ter uma casa, por mim a gente moraria em um apê com uma bela varanda. Mas ela sempre conseguia o que queria de mim então compramos a casa. A casa não era enorme, mas caberia todas as pessoas que convidei, nunca fui de ter muitos amigos.
As primeiras pessoas foram chegando e estava indo tudo muito bem. As músicas foram escolhas de Debby, já que meu gosto era muito drepê, palavras que ela fala desde que a gente se conheceu. Eu estava me divertindo, não bebo, mas a comida estava uma delícia e a soda italiana não deixava a desejar.
Ouço a campainha tocar e vou receber quem estava chegando. Quando abro a porta encontro a doutora Marcela, que estava linda em um vestido vermelho, e ao seu lado ao invés de ver seu marido eu vejo a mulher do consultório. Andy.
— Parabéns de novo, Maya. — disse sorrindo e me abraçou. — Essa é a Andressa, minha cunhada. O Léo está viajando a trabalho e não pôde vim. Espero que não se incomode por eu tê-la convidado.
— Claro que não. Oi, Andressa.
— Oi e feliz aniversário. — Ela fala e me abraça. Não esperava aquele contato que me fez estremecer.
— Sintam-se em casa. — Digo olhando para Andy que estava mais linda com um short preto, que deixava suas pernas a mostra para sempre apreciadas, e uma blusa verde.
Elas entram e eu vou procurar pela minha amiga. A encontro no bar que foi montado pela equipe do buffet.
— Ela está aqui, Debby. — Falo em seu ouvido por conta da música alta.
— Ela quem, mulher?
— A mulher do consultório. — Falo e olho na direção de Andy para minha amiga ver.
— Eita! — fala tomando mais um gole de sua bebida.
— Eita mesmo.
— Mas como ela veio parar aqui? Tu convidou? — fala e pede mais uma dose para o barman.
— Não. Acredita que ela é cunhada da Marcela?
— É o destino, minha amiga. Vai lá e oferece uma bebida para ela.
Antes que eu fale mais alguma coisa, Debby é puxada para o meio da sala por uma loira. Fico pensando no que ela me disse sem conseguir parar de olhar em direção da mulher, que conversava com a doutora. Quando vejo Marcela se afastando sigo o conselho de Debby e vou até a mulher.
— Tá gostando da festa? Falo bem próximo a ela e ao respirar sinto o cheiro de seu perfume. “Além de linda, ela é cheirosa”.
— Estou sim.
— Quer beber alguma coisa? Vamos até ao bar. — Sem esperar uma resposta dela seguro sua mão e a puxo até o bar. Não sei por que mais eu estava gostando daquele contato.
— Vai querer o quê?
— Uísque. — Foi a vez dela de falar próximo a mim. Tenho certeza de que ela viu minha pele se arrepiando.
Conversamos e descobri que ela trabalhava como gerente em um café, que ela tinha 30 anos e era a irmã mais nova do Léo. Contei para ela que dava aulas de história e percebi o quanto se encantou com isso. Geralmente não era esse tipo de olhar que eu recebia ao falar minha profissão.
— Cadê sua namorada? Ou é esposa? Nunca fui boa em saber o que significa o anel em cada dedo. — Fala olhando para minha mão, mais precisamente para minha aliança.
Dou um gole na minha soda e desvio o olhar dela.
— Ela morreu.
— Porr*, sou muito idiota. — Ouço ela falar baixinho. — Me desculpe.
— Tudo bem. Vou ver se estão todos se divertindo. — Digo e saio sem olhar para trás.
Falar da Alice ainda mexia comigo, aproveito para dar atenção aos outros convidados. Cantamos parabéns e assopro as velinhas fazendo um pedido. Não conto agora por que senão não realiza.
Já era quase 3h da madrugada e eu escapei dos convidados que ainda restavam na festa. Não vi mais Andy, acho que ela deve ter ido embora. Sento-me no banco do jardim de inverno que eu e a Alice projetamos, era meu lugar favorito na casa inteira.
Perdida em meus pensamentos e lembranças me desperto quando sinto alguém se sentar ao meu lado.
Andy.
— Oi, eu queria te pedir desculpas. — Fala com a voz enrolada.
— Não precisa se desculpar.
Ficamos uma olhando para a outra, eu conseguia sentir o cheiro do álcool, mas eu sentia algo além disso. O olhar dela me hipnotizou, tentei desviar e olhei para sua boca. Que boca, me peguei pensando como seria o gosto dela e sem me controlar a beijei.
O gosto do álcool não fez o beijo ser menos prazeroso, minhas mãos seguravam seu pescoço e senti as delas em minha cintura. Quando o beijo ficou mais intenso senti suas mãos apertando minha cintura e sua língua brincando com a minha. Um beijo que me fez sentir o que a muito tempo eu não sentia. Ouvi ela gem*r em minha boca e isso me fez despertar e parar o beijo e sair correndo dali.
Fim do capítulo
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Rosa Maria
Em: 12/08/2020
Um encontro despretencioso e um beijo quepelo jeito vai mudar a história de Maya...
Beijo
Rosa
Donaria
Em: 05/02/2020
Olá autora!!! você não atendeu meu pedido em dar continuidade em "dando asas a imaginação" mas pelo menos nos prestigiou com uma nova historia....bora acompanhar e aguardar as cenas dos proximos capitulos, e torcer pra ser uma historia longaaaa....beijos!
Resposta do autor:
Fico muito feliz em te ver por aqui. Agora tô apreensiva de nao gostar do final e nao ler mais nada meu kkkkkk ainda nao consigo fazer uma historia longa, mas um dia eu chego la.
Hoje tem capítulo.
Beijos
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