Laura trocava de roupa pela quinta vez enquanto Janaína a observava jogada em sua cama com uma expressão divertida.

- E então? Estou bonita?

- Sempre, tão quanto com as outras cinco trocas, mas experimente até se sentir satisfeita, ainda está adiantada.

O nervosismo de Laura se apresentava desse jeito, confusão, ansiedade. Conferiu a bolsa dez vezes antes de sair.

- Maquiagem?

- Não... Isso só vai atrapalhar as coisas – Janaína diz com malícia na voz.

Quando percebe que faltam apenas 20 minutos para o horário combinado pega Laura pelo braço e a acompanha até a porta.

- Ah, sim. Não esqueça um pouco de coragem líquida – diz passando uma garrafa de vinho para a amiga - É um dos meus favoritos, aproveitem bem à noite.

Laura acabou escolhendo um simples vestido amarelo, com decote “V”. Embaraçava-se só de lembrar a lingerie branca e rendada, ela escolhera especialmente para a ocasião. Enquanto descia a rua uma série de pensamentos invadia sua mente: “Estaria se antecipando, achando que as duas dormiriam juntas?”. Passou no mercado escolhendo um macarrão com frango e molho bechedel, combinaria com o vinho e era uma das coisas que mais gostava de preparar.

Respirou fundo e tentou aproveitar a noite que estava com uma temperatura agradável, quando chegou ao prédio, Viviane já a aguardava na sacada, entre as plantas, como tinham trocado olhares pela primeira vez.

Abriu o portão pelo interfone e aguardou Laura na porta, com o coração querendo disparar descompensado, apenas sua imagem causava isso nela, ainda não sabia o que era, desejo, paixão, uma conexão carnal, mas queria descobrir o que se escondia por debaixo daquela expressão tímida.

Laura chegou e foi até Viviane cruzando o corredor do prédio, foi recebida com um abraço que a pegou de surpresa e deixou seu corpo incrivelmente quente. Viviane estava linda como sempre um micro short de tactel e uma camisa branca simples, com um sorriso no olhar que deixava Laura encantada.

A garota a convidou para entrar, seu apartamento era pequeno, mas bem dividido e aconchegante, havia uma rede na sala e outra na varanda, além de um sofá e uma tv na parede. A sala branca continha uma pequena mesa com um toca discos e uma grande coleção. Nas paredes reproduções de Frida Kaloh, frases de Nina Simone e Maya Angelou. A garota admirou cada detalhe tentando descobrir Viviane neles, até que Laura foi imediatamente atraída pela estante de livros. Passou a mão na lombada olhando os títulos, Octavia Butler, Virginia Woolf, Cidinha da Silva, além de alguns clássicos de Lélia Gonzalez e Angela Davis. Alguns livros e revistas de fotografia.

- Gostou do que viu? – Viviane perguntou rompendo o transe de Laura.

- Sim, de tudo. Obrigada por me receber.

- Venha deixar essas coisas na cozinha – falou enquanto pegava as sacolas das mãos de Laura.

A cozinha era pequena, mas bem organizada.

- Você disse que não gostava de cozinhar, mas tem todos os utensílios, muito dona de casa.

Viviane riu com o comentário.

- Vou abrir esse vinho, hmmmm Carmenere seco, um dos meus favoritos. – Serviu pouco nas duas taças e levou até Laura que preparava os ingredientes na bancada da pia – Brindamos?

- Ao que deseja brindar? – Disse Laura a encarando.

- Aos encontros, aos nossos encontros.

Cada uma tomou um gole e para a surpresa de Laura, Viviane juntou ainda mais o corpo no dela, tocando em sua cintura e colando seus lábios. O beijo era quente e a saliva se mistura ao sabor do vinho.

- Por muito tempo queria fazer isso. – Laura comentou quando cessou o beijo.

- Ué, mas foi eu que te beijei...

- Não seja por isso... – Laura colocou a taça de lado acariciando o rosto de Viviane enquanto beijava delicadamente seus lábios, Viviane colocou a taça na bancada e aproveitou para explorar o corpo da parceira que parecia completamente rendida.

O beijo ganhava mais intensidade e elas o aprofundaram explorando a língua uma da outra com os corpos cada vez mais colados, o coração já descompassado, Laura então beijou o pescoço de Viviane, correndo suas mãos por suas costas por baixo da camisa, o que a fez se arrepiar, suspirou no ouvido de Laura.

- Desse jeito não teremos jantar... - E se afastou – Quer ouvir algo?

- Sim, podemos ouvir na vitrola?

- Claro, é uma das minhas peças mais queridas. Venha escolher o disco.

Pegaram as taças e voltaram para a sala com Viviane segurando a mão de Laura que sorria boba.

Viviane a olhou e pensou “Olha a cara de boba de novo.”.

Sentou no sofá observando Laura bagunçar seus vinis, a mulher parecia encantada com as capas e foi distribuindo eles pelo chão.

- Álibi, de Maria Bethânia? – Laura perguntou para a mulher que a olhava de forma doce.

- Sofrível esse, não? Que tal algo mais doce?

- Entendi – Laura respondeu sorrindo – E tirando o disco “Mel” de Maria Bethânia de uma das pilhas.

O cd começou a tocar e Viviane se levantou estendendo a mão para a mulher que a olhava incrédula?

- Você quer dançar?

- Sempre, por que a timidez se só estamos as duas aqui... Me acompanha?

Começaram dançando afastadas, mas logo os corpos foram colando.

“Pois se é noite de completa escuridão
Provo do favo de teu mel
Cavo a direta claridade do céu
E agarro o sol com a mão
É meio dia, é meia noite, é toda hora
Lambe olhos, torce cabelos
Feiticeira vamo-nos embora”.

Ambas já dançavam abraçadas e começaram a trocar beijos ao tocar ela e eu, o sabor do vinho permanecia na boca, inspirando a sexualidade das duas. Tanto Laura, quanto Viviane percebiam as reações do corpo uma da outra às carícias que trocavam, o arrepiar da pele, a umidade que surgia entre as pernas, os suspiros. Viviane sussurrava trechos da música ao ouvido de Laura. Quando as duas não resistiram mais e caíram no sofá. Com o coração a mil, Laura tirou a camisa de Viviane beijando seu colo e os seus seios, enquanto Viviane aproveitava o curto vestido amarelo para subir as mãos em suas coxas.

- Será que esse jantar saíra hoje? – Laura perguntou afastando um pouco Viviane.

A mesma voltou a deitar-se encima da mulher que fazia cara de manhosa respondendo:

- Acho que não...

Fim do capítulo