Capitulo 2
Um emaranhado de cabelos negros sobre meu rosto mostra que eu não estou sozinha. O cheiro de sex* está impregnado pelo quarto, nas paredes, nos lençóis brancos e por toda pele da mulher deitada ao meu lado. Demoro um pouco para ajustar meus olhos à claridade, pois apesar das janelas estarem fechadas e as cortinas cerradas, um feixe de sol força passagem pelas arestas da janela. Eu não reconheço esse quarto como meu, nem poderia, uma vez que uma mulher dorme comigo.
Flashs da noite passada voltam a minha mente, junto com o momento exato em que chego àquele motel com Pâmela. Incialmente minha ideia não era trazê-la para cá, iríamos a um restaurante e talvez nos resolvessemos por lá mesmo, já que pareço ter uma tara por banheiros. Mas Pâmela estava tão bonita, toda apertadinha numa calça vinho de couro, com um decote tão grande que eu não resisti. Quis ter mais espaço com ela e acabamos aqui, nesse quarto de motel.
Passo os olhos por todo o cômodo e lembro de cada lugar em que fizemos sex*. Pâmela se revelou uma coisinha fogosa e insaciável, bem o tipo de mulher que me atrai. Ela dorme nua ao meu lado, me oferecendo uma bela visão de seu corpo. Aperto meus dedos em sua bunda, uma vez e outra e outra. Sensacional. Mas tudo sempre chega ao fim. Salto da cama da forma mais silenciosa possível. Cato minhas roupas pelo chão e as visto conforme vou saindo do quarto. Me dirijo a recepção do motel e pago nossa diária. Vou para o meu Jeep, seguindo em direção ao meu apartamento.
***
Preparo uma xícara de chá e sento em frente ao computador, preciso mandar para o comprador algumas amostras de minhas pinturas. Separo quatro quadros que estão em andamento e anexo ao e-mail. Feito isso, checo o celular e o nome de Pâmela salta na tela, indicando oito chamadas perdidas. Mulher insistente. Eu não repito foda, a não ser com Samantha, por ela ser tão desapegada quanto eu. Bloqueio o número de Pâmela e largo o celular sobre a mesa. Um barulho de e-mail vindo do computador indica uma mensagem nova de John, o comprador.
“Esther, prazer em contatar você. Devo dizer o quanto suas obras me encantam. Queria lhe fazer um pedido especial, caso esteja aberta a novos desafios. Aguardo resposta.
John Mayo.”
Que pedido especial seria esse?
“Boa tarde, John!
É sempre uma satisfação ver que minhas obras agradam.
Estou curiosa quanto ao desafio, porém aberta.
E.”
“Esther, sou um cara direto, não curto rodeios, então vou direto ao ponto. Gostaria que pintasse um quadro da minha esposa nua.”
Por essa eu realmente não esperava. Eu nunca pintei um nu artístico antes. Fico um pouco reticente, mas não dou para trás.
“Aceito. E.”
O telefone continua tocando, agora com um número privado. Suspeito que seja Pâmela, ou Evita, ou Ramana. Sempre tem uma mulher me ligando, insistindo por algo que eu não posso oferecer a elas. Eu não posso oferecer algo a mais a nenhuma delas porque simplesmente eu não sinto nada. Todas essas mulheres o tempo todo acabam sendo meu grito de desespero para sentir alguma coisa, mas nenhuma delas me toca. Eu não sinto nada além do tesão e da excitação pertinente ao momento em que estou com elas.
Quando estou sozinha, tento prender minha mente em qualquer outra coisa. Tento beber, ler, ouvir música, pintar, gritar, chorar até perder os sentidos. Tento com todas as forças afastar a minha mente dela, daquele rosto borrado que eu conheço tão perfeitamente. Poderia pintar seu rosto tantas e tantas vezes porque mesmo depois de tanto tempo ele ainda continua vívido e limpo em minha mente. Mas são raros os momentos em que me permito pensar nela, pois sempre acabo fodida depois. Por isso, afasto o pensamento de minha cabeça e ligo para minha mãe. Ela atende no segundo toque.
- TETEEEE, MEU AMOR.
- Oi, mãe. Como a senhora está?
- Com saudades e animada para a viagem. Já arrumamos tudo, partimos amanhã às 15h25. Seu pai está uma pilha de nervos, sabe como ele é. Está checando tudo há uma semana e parece sempre se esquecer de alguma coisa importante. Eu acho mesmo que ele está ficando velho, isso é mania de velho.
Minha mãe continua a falar fazendo jus ao seu jeito tagarela de ser. Ela continua falando sobre a viagem, sobre a vizinha que vai tomar conta das plantas dela, pergunta se eu quero que ela traga alguma coisa para mim do Brasil até que ela faz uma pausa brusca.
- Mãe?
- Filha... como você está?
Eu sabia o que ela queria realmente saber. Mas não estava preparada para falar sobre isso e talvez nunca tivesse.
- Eu estou bem, mãe. Espero vocês então. Façam uma boa viagem. Irei busca-los no Aeroporto.
- Está bem, filha. É só que...
- O que, mãe?
- Eu me preocupo com você.
Eu não falo mais nada. Ela também não. Desligamos o telefone.
***
No dia seguinte de manhã, resolvo dar uma passada na galeria para falar com Samantha. Quando chego lá, ela está ocupada com um menino que, pelo que vejo, está fazendo a entrega de alguns quadros novos. Espero até que ela termine e caminho até ela. Ela me recebe de braços abertos e com um sorriso no rosto.
- E aí, Esther! Que milagre você por aqui.
Cumprimentamo-nos com um selinho, como de costume.
- Aquele comprador falou comigo.
- John?
- Sim.
- Humm, ele parecia bem interessado em falar com você, mesmo.
- Queria que eu pintasse um quadro da mulher dele. Nua.
Samantha quase cospe a bebida que tinha em mãos, depois solta uma risada. A acompanho.
- Caralh*!!!! Nem precisa dizer que você aceitou.
Passo a mão pelo cabelo e pisco para ela.
- São ócios do ofício.
- Como se fosse um sacrifício para você. – Ela mostra a língua de forma brincalhona.
Gosto de Samantha e do jeito dela, é o que tenho mais próximo de uma amizade.
- E quando vai ser isso?
- Provavelmente depois do Natal. Ele disse que a mulher dele vai entrar em contato comigo. – O mesmo garoto entra trazendo mais quadros. – Mais quadros?
- Sim, tem uma pintora nova fazendo sucesso com os quadros na internet. Comprei alguns para expor aqui, também.
Olho para ela desconfiada. Ela aperta minha bochecha.
- Você vai ser sempre minha pintora preferida.
Faço bico, fingindo ciúmes.
- Onde vai passar o Natal? – Pergunto a ela.
- Provavelmente sozinha em casa, com uma garrafa de vinho e sonhos e expectativas quebradas.
Dou uma risada.
- Não vai passar com sua família?
- Nah, dia vinte e seis eu preciso estar aqui para resolver uns pepinos da galeria. Não tenho como ir. E você? Vai para o Brasil?
- Não! Meus pais vem para cá, vamos passar em casa, mesmo. Comprei até uma árvore.
- Não me diga!!! Não consigo te imaginar no espirito natalino.
- Nem me fale! O que acha de passar lá em casa?
- Será?
- Sim. Vamos ser só nós três. Meus pais falam inglês, não se preocupe.
- Mas será que eu não iria atrapalhar?
- Óbvio que não! Está resolvido, você vem!
- Então tá bom. – Samantha parece animada. – E o que eu levo para ceia?
- Apenas seu corpinho delicioso. – Pisco para ela, em tom de brincadeira. – Leva a sobremesa, se quiser. Foi a única coisa que ainda não tive tempo de pensar.
- Ok. Estarei lá, então.
Fim do capítulo
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