Pietra

 O aparelho pousou...  Ansiosa, virei-me para a minha vó que segurou a minha mão e deu um leve aperto e sorri...

- Vai na frente, minha neta. – Piscou pra mim.

Acenei com a cabeça.

Tremia por dentro, enquanto caminhava em direção a Bianca. Meu sorriso ampliou-se ao vê-la ajeitar seu vestido aparentando nervosismo em encontrar “sua cunhada...”

 

Ela me analisava de cima a baixo, seus olhos passearam em minhas madeixas curtas e naturalmente bagunçadas. Vi suas sobrancelhas se unirem avaliando-me seriamente enquanto eu fingindo segurança parava sorridente em sua frente.

 

- Bianca? – fingi questionar para certificar-me ser ela a minha “cunhada” com voz doce um e pouco rouca da emoção de estar diante dela como eu mesma, sem disfarces.

 

- Não ganho um abraço de minha cunhada? - Larguei a mochila que trazia nas mãos e abri os braços.

 

Com o coração batendo acelerado no peito vi Bianca um tanto quanto tímida, dar um passo em minha direção; sem aguentar mais um minuto a vontade de tê-la em meus braços dei outro passo encurtando nossa distância, abrindo mais os braços! Bianca então, sem mais receios lançou-se neles! Foi um abraço super apertado!

Sentir seu rosto afundar em meu pescoço me deixou mais trêmula do que já estava. Deliciada com o corpo dela colado ao meu, demorei mais tempo que o necessário para afastar-me. Beijei-lhe os cabelos e, enfim afrouxei o abraço afastando-nos enquanto lhe segurava os ombros admirando-a.

 

- Você é linda! – soltei presa na beleza simples que ela possuía e agora eu poderia admirar sem reservas.

 

Timidamente Bianca baixou os olhos e aqueceu meu coração com sua inocente resposta.

- Que nada! – disse no sotaque italiano suave me olhando fixamente como que impressionada – Diante da sua beleza sou uma pálida sombra... Pietro nunca mencionou o quanto são parecidos nem que sua irmã é uma beldade!

 

Cheia de prazer pela resposta, inclinei a cabeça para trás e deliciada soltei uma gargalhada. Quando voltei a encarar a italiana, ela mirava meus olhos.

Ficamos alguns segundos com nosso olhar mergulhado!

Até que minha avó surgiu repentinamente.

- Não vai me apresentar a minha mais nova neta? – disse delicadamente.

- Com certeza, dona Mari – Respondi

- Bianca, esse é uma das mulheres da minha vida, minha avó Mariana. – Apresentei

A italianinha estendeu a mão para a minha vó que a segurou e puxou para um abraço.

Ao se separarem, minha avó acariciou a barriga de Bianca e falou:

- Sejam bem-vindos a nossa família – sorriu – e agora vamos entrar que estou faminta!

De repente ouvimos um grito:

- Mari gostosa! E o meu abraço? – Andreia se aproximou da gente.

- Se enxergue, menina, que não sou para seu bico! – respondeu a mais velha fingindo-se ofendida.

As duas entraram abraçadas e conversando entre risadas.

O piloto do helicóptero que trazia as malas, tocou-me chamando minha atenção.

- Quer que coloque a sua mala de mão lá dentro também? – apontou para o objeto ao lado de meus pés – Entrarei com essa agora e partirei em seguida...

- Ah...Sim, por favor pode colocar na sala, um funcionário as deixará em meu quarto – sorri para o rapaz – Muito obrigada pela gentileza, tenha um ótimo retorno Rodrigo.

O rapaz abriu um sorriso e galante não deixou por menos.

- O retorno será triste, pois não terá sua presença. – Inclinando-se diante de Bianca partiu para o interior da casa.

 

Sorri observando o belo rapaz sumir dentro da casa. Rodrigo era um dos pilotos da nossa fazenda e foi meu colega no ensino médio. Como meu piloto estava com uma virose, Rodrigo o substituiu nesse voo. Ele, sempre que podia, discretamente dava um jeito de deixar evidente o seu interesse por mim. Nunca o estimulei a prosseguir com os avanços, mas em outros tempos pensei na possibilidade de um breve flerte.

- Vejo que tem um admirador! – a voz da Bianca me fez olhar espantada pra ela que me olhava de cenho franzido.

 

Antes que eu dissesse algo ela retomou a palavra cortando qualquer comentário a sua colocação anterior.

- Vem Pietra – disse passando em minha frente – Afinal a casa é sua, vamos entrar e sair deste sol.

Observei seus passos duros e o jeito como apenas acenou a cabeça quando o piloto que saia nos enviou um breve sorriso.

- Anete? – Bianca sentando-se no sofá e apontando o lugar ao seu lado para que eu tomasse acento – Traz um suco para nós, por favor?

- Claro! – a funcionária sorriu para mim alegre – Bem-vinda ao lar, Pietra.

- Obrigada, Anete! –sorri de volta – Agora voltei para ficar.

A funcionária saiu e voltei minha atenção para Bianca que estava mais reservada.

- Então cunhada – falei tocando sua mão que repousava em seu colo – Como está o bebê?

Ela abriu de novo o sorriso relaxando.

- Bebê está ótimo! – tocou na barriga com carinho – Vou começar o acompanhamento,  aqui no Brasil, na próxima semana, Pietro marcou a consulta!

 

Sorri concordando. Claro que eu marcara! Precisava ver se tudo estava bem com meu filho e minha mulher!

- Pietro fez muito bem – afirmei tocando carinhosamente em seu ventre –sua gravidez tem

que ser acompanhada...

 

Parei de falar com o salto que a barriga deu no local que minha mão tocava, meus olhos arregalaram-se e olhei imediatamente para Bianca.

- Ele, ele... – engoli em seco perdendo a voz.

- Sim!! – Bianca colocando sua mão por sobre a minha feliz – Ele se mexeu ao seu toque, Pietra... Olhe!!! De novo.

 

Meus olhos se encheram de lágrimas e me vi abraçando mais uma vez a Bianca.

- Ele disse oi para titia... – Bianca brincou enxugando minhas lágrimas – O primeiro chute foi para você, isso quer dizer que como eu, ele te acha especial.

- Acha? – olhei-a com amor nos olhos – Ele e você também são especiais para mim.

 

Ficamos nos encarando num silêncio confuso...

 

Anete interrompeu a nossa troca de olhares. Após tomar um delicioso suco de goiaba, Bianca me acompanhou até o meu quarto.

 

- Espero que goste das flores! – falou me mostrando – Escolhi para você. O Pietro disse que gostava destas, então as colhi e a arrumei para te dar as boas-vindas! Seu irmão ficou triste por não poder te esperar.

- Nos falamos por telefone – respondi – Obrigada por se preocupar em me recepcionar tão bem.

- A casa é sua – sorriu – Eu que te agradeço por nos receber em sua casa. Eu espero que a gente se dê muito bem! Quero ser como uma irmã para você...

 

Engoli em seco ao ouvir aquilo. Voltei-me para cama abrindo as malas para que ela não visse minha decepção diante daquelas palavras.

 

- Creio que nos entenderemos sim! – falei sem a olhar – Vou tomar um banho e me vestir para o churrasco que já sei que acontecerá daqui a pouco. Vovó está super empolgada. A Andréia gulosa como é, já deve está começando a devorar tudo.

 

Rimos nos encarando imaginando a Andréia. Bianca se despediu saindo. Fui ao chuveiro e mergulhei a cabeça na água quente.

 

- Vai dar tudo certo! – falei pra mim mesma confiante– Eu vou conseguir, ela irá me amar não como uma irmã e sim como mulher! A sua mulher...

 

Sai do quarto depois do banho e escolhi shorts e camiseta brancos para usar por cima do biquíni azul que comprara. Coloquei a parte de baixo e os shorts e lutava pra dar um laço no pescoço da parte superior da roupa de banho quando ouvi um toque na porta.

 

- Pode entrar – autorizei enquanto brigava com o maldito laço.

- Pietra – a voz de Bianca chegou a mim – Sua avó, Andreia e todos os demais convidados já estão lá embaixo.

 

Ela olhou-me lutando com as alças do soutien do biquíni e deu risada.

 

- Tenho esse problema também – falou postando-se atrás de mim e tomando de mim as alças começando a dar o laço – Pronto!

 

Nossos olhos se encontraram pelo espelho. Vi que ela usava uma saída de praia verde que a deixava extremamente sexy.

 

- Vamos? – convidei pra sairmos daquele quarto.

 

Quando cheguei na piscina, Andreia correu se jogando em meus braços.

 

- Oh minha amiga! – sorriu ironicamente – Quanto tempo sem te ver!!! Não aguentava mais de tanta saudade...

 

Gargalhei da desfaçatez da minha amiga.

 

- Saudades de você também sua doida! – futuquei – E essa mulher maravilhosa aí do teu lado? Não irá me apresentar?

 

- Prazer, eu sou Gabi – a moça sorriu estendendo a mão – Você é muito parecida com o seu gêmeo.

 

A saudei com beijinhos na face e um abraço.

 

- Ela é minha namorada – Andréia baixinho para que as outras pessoas não ouvissem – E deixe de presepada que já sabe de tudo sobre a Gabi pois lhe contei!

 

- Sim – gracejei cutucando-a – Eu sei, mas não podia perder essa oportunidade de te ver preocupada imaginando o que a Gabriela iria pensar do fato de você não ter comentado dela pra sua melhor amiga. Você precisava ver sua cara de desespero... Tá apaixonada né neguinha?

 

Aquilo rendeu-me umas tapas da Andreia e muitas gargalhadas da Gabi e da Bianca.

 

- Abestalhada! – Andréia revirando os olhos – Oxeeee, e esse churrasco hein? Sai ou não saí? Já vi que vou ter que dar uma ajuda de quem é expert em fazer “churras” pra estes funcionários.

 

Metida foi dar pitaco aos churrasqueiros.

 

Gabriela a olhava com um sorriso nos lábios e certa hora em que um churrasqueiro, a título de ensinar como colocar o espeto com carne na churrasqueira, se colocou atrás da Deia quase a abraçando, correu pra lá e carrancuda levou a morena dali.

 

Eu e Bianca que conversávamos com seu pai e Antônia, nos entreolhamos sorrindo cumplices com o que se passava com nossas amigas.

 

Tudo estava perfeito, Bianca cuidou e ainda cuidava de todos os detalhes para que todos forem bem servidos. Ela estava se saindo uma excelente anfitriã...

 

 

Bianca

Sentei-me ao lado da avó do meu noivo. Ela estava olhando em direção a sua neta que correu  e pulou nas costas de Andreia que caminhou em direção a piscina se jogando com Pietra agarrada nas costas!

 

- Parecem duas crianças, não é? - Sorri para a senhora.

 

- São assim quando estão juntas e longe do trabalho. – Olhou me informando - São amigas há muito tempo e irmãs de coração. Quando eram adolescentes – continuou com os olhinhos brilhantes – muitas vezes, as duas depois do colégio, iam lá pra casa. Uma certa vez, estavam estudando e lá em casa tem um quadro que é branco com uma mancha preta ao centro. Andreia fixou sua atenção no quadro e falou: o que seria do branco se não fosse o negro e Pietra foi rápida e disse: o que seria do negro se não fosse o branco! Uma completa a outra! Andréia é o Diamante Negro de Pietra e Pietra é o Ouro Branco de Andréia!

 

- Elas são unidas demais. Acho muito bonita a relação das duas. É como a minha com Gabriela. – falei emocionada.

 

-. Quando Pietra pensou em investir aqui na fazenda, imediatamente convidou Andreia pra ser sócia. Elas estão juntas em tudo, até mesmo nas confusões. - disse rindo D. Mariana.

 

- Diamante Negro...Ouro branco...isso cabe Prietro também? - Lembrei-me do aeroporto.

 

- Não! É algo só delas. Pietro e Pietra são totalmente diferentes. Ele nasceu primeiro e foi o filho tão desejado por Giovanni! O menino foi criado para ser o melhor, para sucedê-lo nos negócios da vinícola. Minha menina foi criada de forma diferente por minha filha, que tentou o mesmo com Pietro, mas o pai não permitia. Então Pietra foi criada com amor, atenção, liberdade para seguir os seus sonhos e ser feliz! Meu neto, quando completou a maioridade foi morar no Sul e por lá fiou, para desgosto do pai. Minha menina alçou voos mais altos e não abre mão de morar aqui no Vale do São Francisco. - Concluiu me olhando.

 

- Espero criar minha filha ou meu filho do mesmo jeito que minha sogra criou a dela - falei carinhosamente.

 

- Que bom que seu filho ou filha vai ter Pietra por perto - afirmou.

 

- E Pietro também- afirmei.

 

- Minha filha, sei o que levou você a se casar e lhe dou um conselho: não crie expectativa em relação ao meu neto. – Me fez um carinho no rosto - Se seu coração bater mais forte por outra pessoa, deixe acontecer, não se prive do amor por causa dele.

 

Olhei mais uma vez para Pietra, que ergueu a taça em minha direção.

 

Ergui meu copo de suco retribuindo o brinde enquanto me questionava por que gostava tanto de olhar pra ela...

 

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Fim do capítulo