Capítulo 20 – Reencontro

 

- É assim que você costuma resolver as coisas?

 

Vitória se assustou quando Laísa jogou um buquê de rosas sobre sua mesa.

 

- Laísa, o que é isso? – Vitória levantou da cadeira, surpresa e sem entender a atitude da namorada. – Que flores são essas?

 

- Você deve achar que sou uma idiota, não é, Vitória!? – Laísa estava irritada de uma forma que Vitória nunca tinha visto. –São para você, leia o cartão.

 

Vitória respirou fundo, já imaginando que aquilo tinha algo a ver com Rebecca e o pior tinha acontecidos. Assim que leu, suas suspeitas se confirmaram.

 

"Se você está lendo isso é porque já estou longe e a saudade já me consome o peito.

Obrigada pela maravilhosa noite, levo comigo seu cheiro e seu gosto.

Sempre sua,

Rebecca."

 

Vitória passou a mão no rosto, sem saber o que dizer. Não estava esperando que Laísa ficasse sabendo do que aconteceu, menos ainda que as coisas acontecessem daquela forma. Com raiva, rasgou o bilhete e o jogou no lixo.

 

- Laísa, por favor, me deixa te explicar tudo?

 

Vitória tentou se aproximar de Laísa, mas a loira a impediu e se afastou novamente.

 

- Não precisa me explicar nada, Vitória. – Laísa falou ao enxugar uma lágrima. – Eu percebi que tinha algo acontecendo aqui ontem, você não fez questão nenhuma de negar as coisas, mas eu aceitei quando você me pediu um tempo para resolver o que quer que fosse. Eu já vi e entendi tudo que precisava!

 

- Eu juro que está tudo resolvido, Laísa. – Vitória falava nervosa, sem saber o que falar para convencer sua namorada. – Essa mulher não vai nos atrapalhar mais, acredita em mim.

 

- Você resolveu tudo na cama dela, não foi? – Laísa revirou os olhos, desacreditando naquilo que ouviu. – Chega de tantas mentiras, Vitória!

 

- Eu não quero mais mentir pra você, Laísa. Me deixa explicar, por favor? – Vitória novamente foi até a namorada, que estava de cabeça baixa. – Por favor, me dá só uma chance de explicar tudo?

 

Laísa passou a mão no rosto, limpando algumas lágrimas e respirou fundo, encarando novamente Vitória.

 

- Eu não quero explicação nenhuma, Vitória! Você não merece que eu escute nada. – Laísa sentia as mãos tremerem por seu nervosismo. – Eu passei a noite mais agoniante da minha vida e não pude contar com você. Enquanto meu pai estava numa mesa de cirurgia, correndo risco de vida, e eu estava aflita sentada naquele hospital, você estava passando a noite com aquela mulher. – Laísa falou tudo de uma vez, sem tirar os olhos de Vitória, que a olhava surpresa e nervosa. – Você não tem o direito de me pedir qualquer coisa, Vitória!

 

- Meu Deus! Eu.. Eu não sabia. O que houve com seu pai? Ele está bem? – Vitória perguntou nervosa. – Você sabe que eu posso ajudar, caso precise.

 

- É claro que você não sabia, estava ocupada demais para estar ao meu lado. – Laísa falou irônica. – Olha, Vitória, eu não tenho nem cabeça para pensar nisso aqui agora. – Apontou para Vitória e para o buquê que ainda estava sobre mesa. – Eu só vim aqui te pedir para me liberar nesses dias antes do congresso, quero estar ao lado do meu pai antes da viagem.

 

- Você pode tirar quantos dias quiser, Laísa. Eu mando outra pessoa ao congresso no seu lugar. – Vitória se aproximou e segurou uma das mãos de Laísa. – Você pode tirar o tempo que quiser, mas eu não quero que você saia do escritório.

 

- Não, eu vou ao congresso! E não pretendo sair do escritório, sei separar as coisas. – Laísa puxou a mão para si e foi em direção a porta. – Eu preciso ir agora.

 

- Laísa! – Vitória chamou quase em desespero, chamando atenção de Laísa. – Não vai embora assim, me fala o que eu preciso fazer para consertar as coisas.

 

- A única coisa que você pode fazer agora é ficar longe de mim, Vitória. Nosso namoro acabou, a partir de agora nosso relacionamento é apenas profissional.

 

Vitória ficou sem reação ao ver Laísa sair de sua sala e bater a porta. Não estava esperando que aquilo acontecesse e não sabia como reparar seu erro. A morena olhou em volta e percebeu que o buquê de rosas ainda estava sobre sua mesa. Furiosa, pegou aquele buquê e o destruiu, deixando as lágrimas de tristeza molharem o seu rosto.

 

Laísa saiu da sala cabisbaixa e foi até a sala de Luciano, precisava de um ombro amigo naquele momento.

 

Luciano viu a amiga entrando em sua sala e pelo seu semblante era notável que algo havia acontecido. Carinhoso, o amigo foi até Laísa e a abraçou.

 

- Oi, Lu! Desculpa te atrapalhar, mas eu tô precisando tanto de você.

 

Luciano deixou a amiga chorar um pouco até se acalmar e pegou um copo d'água para ela.

 

- Pronto, agora senta aí e me conta tudo que aconteceu.

 

Laísa contou para o amigo sobre a cirurgia de seu pai e também sobre toda a situação com Vitória. Luciano ficou decepcionado com a chefe, que parecia estar se tornando uma pessoa melhor.

 

- Eu não acredito que a Vitória continua sendo a mesma cafajeste. Eu poderia jurar que ela estava um pouco melhor com você.

 

- Acho que ela enganou nós dois então. – Laísa comentou chateada. – Mas eu não quero ficar falando sobre a Vitória, ela fez a escolha dela e eu preciso focar em outras coisas agora.

 

- Então, você ainda vai participar do congresso anual?

 

- Vou sim, Lu! Eu até pensei em deixar de ir por causa da situação do meu pai, mas mamãe me aconselhou a não deixar essa oportunidade passar e não vai ser essa idiotice da Vitória que vai me fazer mudar de ideia.

 

- Então vai mesmo, amiga. Aproveita muito lá, vai ser ótimo para sua carreira e quem sabe você não tem boas surpresas por lá.

 

Luciano falou aquilo com um sorriso misterioso, o que chamou atenção de Laísa, que não entendeu do que ele falava.

 

- Surpresas boas? Tá falando do quê, garoto?

 

- Ah, nada demais, é só para você manter o otimismo, a positividade, entendeu? – Luciano enrolou a amiga, mas em sua cabeça já desejava muito um certo reencontro. – Mas, falando sério agora, me espera um pouco que eu te acompanho até o hospital.

 

- Não precisa, Lu. Eu não quero te trazer problemas com a Vitória.

 

- Eu duvido muito que a Vitória tenha a cara de pau de pegar no meu pé por causa disso. – Luciano falou ao pegar sua carteira na gaveta. – E eu estou mesmo com saudades dos seus pais, então vamos logo!

 

Luciano aproveitou o caminho até o hospital para tentar animar um pouco a amiga, que estava muito cabisbaixa e distraída, mas não surtiu muito efeito, a mente de Laísa estava em Vitória.

 

Os dois chegaram ao hospital e foram informados que deveriam aguardar o horário de visitas na sala de espera. Adriana estava lá, praticamente fazendo campanha no hospital, querendo estar o mais pr

 

- Oi, mãe!

 

Laísa passou pela mãe e foi sentar numa cadeira próxima.

 

- Luciano, meu querido, quanto tempo! – Adriana falou ao ver sua filha chegando com o amigo ao lado e não deixou de perceber a chateação de sua filha. – Está tudo bem? Algo aconteceu?

 

Luciano abraçou Adriana e desejou melhoras a Marcelo, que ainda estava na UTI em recuperação.

 

- Ela e Vitória terminaram. – Luciano contou apontando para a amiga visivelmente abalada. – Ela está pensativa, chateada, por isso não a deixei vir sozinha para cá.

 

- Obrigada por cuidar dela, Lu! Vou conversar com ela.

 

…

 

Vitória tentou se concentrar em seu trabalho, mas estava consumida por tristeza e fúria. Tinha raiva de Rebecca por ter aparecido quando ela já estava feliz com outra pessoa e tinha raiva de si mesma por ter se deixado enganar mais uma vez por aquela que já lhe causou tantas tristezas no passado.

 

Tentou ligar para Laísa por algumas vezes, mas nenhuma ligação era atendida. Não estava acreditando que foi capaz de estragar seu relacionamento e perder a única pessoa por quem se apaixonou e foi verdadeiramente correspondida.

 

Ao chegar em casa, Vitória se entregou a dor do abandono de Rebecca e do fim de seu namoro com Laísa e procurou logo pela bebida mais forte que tinha em sua casa, bebendo de uma só vez vários goles. Acreditava que aquilo de alguma forma tiraria de seu peito a agonia que o consumia.

 

Mas não fora o que aconteceu. Vitória bebeu tanto que perdeu a consciência, estava completamente entregue ao sofrimento que os últimos acontecimentos lhe causaram.

 

E assim os dias seguiram para a arquiteta, que sequer tinha forças para sair de casa e ir trabalhar, deixando todos no escritório sem entender o sumiço da chefe.

 

…

 

Laísa aproveitou sua família e passou todo tempo que pode ao lado do pai no hospital, se certificando de que ele estava bem o suficiente e que poderia viajar tranquila.

 

Sua mãe havia lhe chamado para uma conversa sobre Vitória, preocupada com a tristeza que viu nos olhos da filha, e Laísa se abriu para a mãe e contou sobre a traição de Vitória. Adriana consolou a filha e a aconselhou.

 

- Filha, boa viagem e qualquer coisa você me ligue, ok? – Adriana estava no estacionamento do aeroporto, deixando Laísa, que só confirmou com a cabeça. – Eu tenho muito orgulho de você, meu amor! – Falou ao abraçar a filha.

 

- Obrigada, mãe! Pode ficar tranquila, tenho certeza que respirar novos ares e me ocupar um pouco vai me fazer voltar para casa renovada.

 

Adriana sorriu realmente orgulhosa de sua filha, que mostrava ter se tornado uma mulher firme e determinada.

 

- Me avise quando chegar, filha.

 

- Tá bom. Te amo, mamãe!

 

Laísa ainda estava triste e chateada com o fim do relacionamento com Vitória, mas estava decidida a não se deixar abalar com aquilo e aproveitar ao máximo aquela oportunidade que lhe fora dada.

 

Durante a viagem, Laísa não conseguiu evitar que seu pensamento fosse até Ana Júlia, já que estava ali representando e assumindo uma responsabilidade antes ocupada por ela.

 

Sentia saudades de Ana Júlia todos os dias e ainda não entendia seu sumiço repentino. Era difícil esquecer os momentos que passaram juntas e as sensações que a presença dela lhe causava, mas Laísa também não queria se prender aquele sentimento que acreditava não ser correspondido, já que Ana Júlia foi embora sem sequer se despedir.

 

Desistiu de pensar naquilo tudo quando escutou o piloto anunciar o pouso. Estava ali para crescer e se tornar mais experiente profissionalmente e aproveitaria cada segundo.

 

Como estava chegando na quinta-feira a noite, iria aproveitar aquela noite para descansar um pouco e andar por perto do hotel.

 

Depois de chegar ao hotel e tomar um longo banho, Laísa sentiu seu corpo dar sinais de fome e resolveu procurar um restaurante.

 

- Boa noite! – Cumprimentou o recepcionista ao sair de seu quarto. – Será que você pode me indicar algum bom restaurante aqui por perto?

 

- Boa noite, senhorita! – O recepcionista solícito a cumprimentou. – Vou te indicar as melhores opções.

 

O recepcionista contou para Laísa que devido ao congresso que aconteceria naquele final de semana, que atraía gente de todos os cantos, estava acontecendo uma feira gastronômica no bairro, além de várias programações especiais nos pontos turísticos da cidade.

 

Depois de agradecer, Laísa decidiu ir até a feira gastronômica, já que lá teria várias opções para escolher o que comeria.

 

Quando a loira decidiu parar numa lanchonete e estava prestes a fazer seu pedido, olhou distraída para o lado e se surpreendeu com o que viu.

 

Atônita e sem ter certeza, pegou seu celular.

 

- Alô?

 

- Luciano, a Ana Júlia está aqui? Perguntou incerta, já que havia muita gente andando por ali. – Eu acho que a vi, Luciano.

 

Luciano sorriu do outro lado da linha, mas teve receio do que poderia acontecer quando aquelas duas se encontrassem.

 

- A Ana Júlia está aqui! – Constatou Laísa quando da demora de uma resposta do amigo. – E você já estava sabendo disso. Luciano, você é um péssimo amigo!

 

Luciano gargalhou antes de finalmente falar.

 

- Sim, ela está aí e sim, eu sabia! – Laísa revirou os olhos nada surpresa. – E eu só não te contei porque você já estava com muita coisa na cabeça.

 

- Você não podia ter feito isso, Luciano. E se eu tivesse dado de cara com ela?

 

- Vocês iriam agir como adultas que são e ao menos se cumprimentariam. – Luciano falou como se fosse óbvio. – Relaxa, amiga, e aproveite tudo que puder por aí, ok? Eu preciso desligar agora, estou no meio de um encontro. Beijos e depois me conte tudo!

 

Laísa revirou os olhos ao escutar a ligação sendo finalizada. Não estava acreditando que aquilo estava acontecendo e em sua cabeça estava confusa por não saber se aquilo era uma enorme coincidência ou se Ana Júlia sabia de sua presença ali e não fizera questão de se aproximar dela.

 

A loira comeu por ali mesmo e voltou para o hotel, sem conseguir tirar aquela atenção da cabeça.

 

A noite foi difícil de pegar no sono, nada tirava da cabeça de Laísa que no dia seguinte ela e Ana Júlia estariam no mesmo local e poderiam se esbarrar a qualquer instante.

 

Laísa acordou com os olhos pesados pela noite pouco dormida, mas estava animada para o primeiro dia do congresso. Era a primeira vez que participava de um congresso tão importante e representando um dos maiores escritórios do país, a loira não poderia estar mais feliz.

 

- Ana Júlia está aqui, será que ela sabe que também estou? Será que ela falará comigo? Eu preciso encontrar a Ana Júlia! – Pensou quando terminava de se maquiar em frente ao espelho.

 

Quando se deu por satisfeita, saiu do quarto e passou na recepção para buscar sua credencial. Foi quando estava indo para o restaurante do hotel que Laísa avistou aquela que era sua saudade diária.

 

…

 

Ana Júlia chegou ao Brasil na quinta-feira pela manhã, disposta a não se afugentar e fugir novamente. Sentia que estava em casa novamente e dali não sairia mais, o que deixou sua mãe imensamente feliz.

 

Depois de passar em seu apartamento e acomodar sua mãe, logo Ana Júlia já estava no aeroporto novamente, dessa vez partindo para o congresso anual, agora como convidada especial, o que a deixava orgulhosa do caminho que já havia construído profissionalmente.

 

Assim que chegou ao hotel onde aconteceria o congresso, Ana Júlia acabou encontrando alguns colegas de profissão, que conheceu em edições anteriores do evento.

 

Feliz por não estar sozinha naquela cidade que não conhecia, Ana Júlia aceitou o convite deles e saiu para procurar algo para comer, já que tinham sido informados da feira gastronômica que estava acontecendo na cidade.

 

Ana Júlia aproveitou a noite e se divertiu, o que a fez acordar ainda mais disposta naquele primeiro dia de congresso.

 

A moça fez questão de se arrumar e saiu feliz de seu quarto. Quando chegou ao evento e reconheceu vários rostos ali, lembrou-se que Luciano dissera que alguém do escritório estaria ali lhe substituindo e resolveu ligar para o amigo.

 

- Oi, lindeza da minha vida! – Luciano falou animado ao atender aquele telefonema. O rapaz estava empolgado com aquele congresso e tudo que poderia acontecer ali. – Como está tudo por aí?

 

- Oi, Lu! Estou com saudades de você e desse seu exagero! Assim que eu chegar a gente vai se ver, hein! – Falou também empolgada. – Mas, Lu, eu tô te ligando pra saber quem é que veio para cá aí do escritório, porque ainda não encontrei ninguém por aqui.

 

Luciano pensou um pouco sem saber se deveria falar, mas antes mesmo que ele tomasse uma decisão e pudesse responder, Ana Júlia escutou uma voz que reconheceria em qualquer lugar do mundo.

 

- Ana Júlia?

 

Fim do capítulo