Tempestade por Ana Pizani
CapÃtulo 16 – O impasse
“Berro pelo aterro, pelo desterro
Berro por seu berro, pelo seu erro
Quero que você ganhe, que você me apanhe
Sou o seu bezerro gritando mamãe
Esse papo meu tá qualquer coisa e você tá pra lá de Teerã”
Caetano Veloso
Caras leitoras, chegamos a um grande impasse que perpassa muitas idéias complexas que nos trouxeram teorias muito importantes e difíceis. Até onde podemos seguir com uma vingança tola que só faz machucar a todos incluindo nós mesmos? Seria o ser humano capaz de atitudes tão toscas, sendo muitas vezes indiferente ao que o outro sente?
E você há de concordar com esta simplória escritora que sim, se há alguma coisa que fazemos é magoar as pessoas, principalmente aquelas que amamos. A atitude de Aline foi pra lá de egoísta, mas quem nunca foi? Rosa entendeu bem tudo o que estava acontecendo bem rapidamente e impediu que o beijo tornasse algo maior ali mesmo, na sua sala de trabalho.
_ Aline, você está louca? _ o corpo de Rosa tremia dos pés a cabeça. _ Até ontem eu não era nada para você, não era digna nem sequer de um carinho, agora você invade a minha sala e me beija? O que você acha que eu sou? Algum brinquedo seu?
Aline àquela altura, totalmente consciente da merd* que tinha feito, calou-se. O que restava a alguém naquela situação além da vergonha?
_ E agora você vai ficar calada? Eu quero uma explicação, na verdade eu acho que nem preciso, não é mesmo? Posso ver pelos seus olhos que esse beijo é apenas uma vingança boba por causa de alguma merd* que sua “queridinha” Débora fez, certo?
_ Então você também sabia?
_ Sabia o quê, criatura? Eu lá converso com Débora? Na verdade depois de você a nossa amizade quase que acabou e não fosse a Luíza eu nem olhava na cara dela e ela na minha, claro.
_ Ela me traiu, ficou com alguém._ Aline disse quase que num grito.
Dito isso, desabou na confortável cadeira de Rosa. Apoiou a cabeça com as mãos e nem disfarçou as lágrimas que caíam.
_ E você acha certo, sabendo que eu amo você, vir até aqui e me beijar desse jeito? Cara, você está me saindo uma canalha de marca maior.
_ Eu sei, me desculpa, eu nem sei o que eu tinha na cabeça, acho melhor eu ir embora. Na verdade eu nem deveria ter vindo até aqui. _ Aline se levantou num ímpeto, mas antes de sair, sentiu uma mão segurar o seu braço.
_ Calma, vamos sair um pouco, conversar. Pelo menos para isso acho que sirvo para você, certo? _ Os olhos de Rosa estavam marejados, sabia que estava se maltratando mais e mais, porém estar perto de Aline, nem que fosse como amiga, era quase um sonho.
_ Bom, eu vou aceitar. Você pode sair assim da empresa?
_ Posso sim, posso porque eu estou quase “vivendo” nesta sala.
Saíram e sentaram-se num café que havia no centro da cidade. O que elas não podiam contar era que, com tantas ruas para se passar, Débora passasse exatamente naquela, que havia um semáforo bem na frente do lugar.
Parada, dentro do carro, Débora voltava de mais um plantão, ainda com o gosto agridoce na boca de outra boca, de outro corpo. Mais um para a sua lista, mais um para magoar alguém, só que dessa vez com um agravante: magoara a mulher da sua vida. Toda aquela indecisão de Aline a estava matando e não que isso fosse uma desculpa (nada era, afinal), mas ela precisava das coisas bem claras, bem estruturadas, estava ficando velha e queria alguém para chegar em casa e conversar, alguém para além do sex*.
Estava com o pensamento longe quando parou diante do semáforo da Avenida dos Andradas. Olhou para os lados e lá estava Rosa e ... seus olhos não puderam acreditar. Teve vontade de arrancar o carro e sumir, mas entrou na contramão e parou no mesmo instante na esquina daquele maldito lugar.
Aline empalideceu quando viu Débora se aproximando delas. A garçonete chegou bem no momento trazendo as bebidas fumegantes e Rosa tentou disfarçar a tempestade que estava prestes a se formar.
_ Eu esperava encontrar você na casa da Luíza, afinal é com ela que você reclama de mim, mas jamais eu pensei que você me pagaria na mesma moeda. _ a voz de Débora era estridente e as pessoas das mesas ao lado observavam a cena, curiosos_ Agora vir a um café com a Rosa me faz pensar que eu não fiz nada de grave, afinal vocês devem mesmo estar rindo da minha cara, certo?
Débora estava descontrolada, a garçonete assustada saiu sem dizer palavra e Aline tentava fazê-la sentar:
_ Débora, não é nada disso. Por favor, sente-se e pare de gritar. As pessoas estão olhando.
_ E daí? _ Débora riu maliciosa_ A “sapatona” mais assumida da cidade está com vergonha de mim agora? Você, a empoderada, a feminista, a conhecedora de todos os livros e teorias, quer dizer o que eu devo fazer?
_ Não é isso, apenas queremos conversar com calma. _ Rosa estava nervosa. Estavam próximas do seu local de trabalho e tinha medo de que alguém da repartição visse aquela cena.
_ E você cala a sua boca! Deve estar adorando essa bagunça, quem sabe assim você rouba a Aline de mim, seu sonho de consumo, certo? _ Débora enfim se sentara.
_ Eu não sou um objeto seu, Débora, acho que você precisa entender que não está falando com os seus policiais na delegacia. Então cala a sua boca e para de gritar e aí sim vamos conversar como mulheres civilizadas que somos. _ Aline fez sinal para a garçonete que se aproximou temerosa.
_ Por favor, traz um chá de erva-doce para essa mocinha agitada.
A mulher anotou o pedido em tempo recorde e sumiu de vista. Aline bebericou o café enquanto encarava os olhares curiosos das pessoas que pouco a pouco voltavam a seus assuntos chatos habituais em suas mesas monótonas.
_ Olha, eu acho que precisamos ter uma conversa séria. _ começou Rosa. _ Vocês duas sabem do meu sentimento e sabem bem que eu daria qualquer coisa para ter uma oportunidade com você, Aline, só que eu não sou um brinquedo nesse joguinho de mesquinharias que vocês criaram. Sinceramente, Débora, eu não sei o que você fez, mas seja lá o que foi, desculpe-se. Eu no seu lugar sequer erraria com o grande amor da minha vida. E você sabe que se você perder a Aline de novo pode ser a sua última oportunidade. Só Deus sabe o quanto me dói dizer isso, mas eu também estou cansada de gostar mais de você e menos de mim. _ Rosa olhava dentro dos olhos de Aline. _ Aline, eu amo você e você sabe disso, só que se for para ficar comigo quero você inteira, só para mim. E sinceramente, depois dessa cena de hoje cedo, eu tenho a certeza que isso será impossível porque você não me ama. Eu vou me levantar dessa mesa e eu não quero ver você tão cedo. Preciso de um tempo para mim e para a minha dor, chega de tanta humilhação. Você brincou com os meus sentimentos e talvez isso tenha sido bom para que eu acorde e veja o quanto você não me merece e nem merece o meu sentimento. Sei que você não é uma pessoa ruim, eu melhor que ninguém sei os motivos que me levaram a te amar, mas acho que já sei exatamente o que vai me ajudar a te esquecer. E você Débora, pare de ser uma otária porque outra mulher pode não ter a força de caráter que eu estou tendo.
Dito isso, Rosa se levantou e foi embora. O clima na mesa era tão pesado que Débora nem conseguia olhar nos olhos de Aline.
_ Pronto, você conseguiu o que queria: perdemos a Rosa. Agora vamos, me fale, quem você pensa que é para chegar aqui e falar desse jeito?
Débora deixou que as lágrimas escorressem silenciosamente. A garçonete trouxe o chá e ela o bebericou um pouco. Aline terminou o seu café e pediu a conta. Enquanto isso, Débora estava longe, tão longe que Aline nem ousava dizer mais nada.
Após pagar, segurou a mão de Débora e disse:
_ Vamos embora, não vou deixar vou dirigir neste estado.
Débora não disse nada. Elas entraram no carro e enquanto Aline acelerava, a delegada não conseguia sentir nada além de vergonha e muito, muito amor.
Fim do capítulo
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Alessandra
Em: 09/09/2019
Minha torcida vai pra rosa. Tem coisas q d tanto tentar não dar mas jeito.uma estória linda.grande personagens.esperando o próximo desenrolar.
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