Olá leitoras,
segue mais um capítulo da história.
Espero que estejam gostando, afinal de contas há visualizações mas não há comentários, e sem eles não consigo saber se devo continuar ou não.
Aproveitem o capítulo. Comentem xD
Abraços,
Di.
Capítulo III - Promessas
Luana
Já se passavam das dez horas da manhã. Após terminar de beber um café quente, resolvi fazer o que estava me deixando aflita: pegar os resultados dos exames que Bianca havia feito mais cedo para analisar e finalmente dar um veredicto.
Fui até o laboratório que se encontrava acoplado no hospital e retirei os envelopes fechados, levando-os até minha sala.
Servi-me de mais uma xícara de café (esse é meu remédio para toda e qualquer situação) e sentei-me na cadeira. Pus meus óculos de grau para conseguir ter uma análise mais precisa, e constatei o que temia.
Juntei a documentação e exames para ir falar com ela. Estava nervosa, precisava me acalmar, neste momento tinha que ser mais profissional do que nunca, pois já previa que isso iria me afetar.
Cheguei em seu quarto e ela estava adormecida por conta dos remédios que tomara para a dor passar. Sua perna estava elevada em 45° graus e o pé/ tornozelo estava com uma compressa de gelo para auxiliar na lesão.
Havia uma mulher sentada lendo um livro, entretanto aquela não conhecia. Julguei ser
sua mãe. Ela se levantou estendendo a mão para me cumprimentar, a qual eu retribui e em seguida ouço ela falar:
-Dra. Luana, não é? Prazer.
-Isso, e você..? – eu perguntei, curiosa.
-Estela, mãe de Bianca. – ela disse, rodeando a cama e indo para perto da filha.
-Certo, dona Estela. Prazer. – eu disse educada. Após os devidos cumprimentos, expliquei a situação da filha, repetindo a análise que havia feito dos exames à ela.
A expressão de Estela era de um misto de tristeza e angustia, isto era nítido.
No mesmo tempo em que sua mãe se sentava para digerir as informações, Bianca despertava. Minha nossa, se acamada a mulher já é linda imagina acordando.
Suspirei tentando afastar esses pensamentos que insistiam em permanecer na minha cabeça.
-Suponho que as notícias não sejam muito boas, Dra. – Bianca disse, melancólica e ao mesmo tempo dando um sorriso encabulado.
-Então, Bianca. – eu disse pausadamente, medindo as palavras para não vê-la (mais) triste. – Vou lhe explicar detalhadamente seu caso, qualquer dúvida pode me interromper, certo? – continuei.
Ela apenas acenou com a cabeça, parecendo uma criança com aqueles enormes olhos esverdeados. Então prossegui.
-Você, como sabe, sofreu uma lesão no tornozelo, até o momento não sabíamos o quão grave era, entretanto, com os exames que fez (ressonância/ raio-x), conseguimos apurar o seguinte: se trata de uma lesão grave no ligamento talofibular anterior e no calcâneofibular também. Essas duas entorses se deram pelos seguintes fatores: a força do chute que seu treinador lhe deu e a maneira que você caiu no chão, pois neste ato, o pé (já lesionado) flexionou de maneira errada. Isso contribuiu ainda mais para que o caso seja de terceiro grau, ou seja, mais complexo.
Finalizei meu monólogo e esperei sua reação. A única pergunta que saiu de sua boca foi a que eu já esperava.
-Mas...eu vou voltar a lutar?
Suspirei, mexi nos cabelos, olhei minhas anotações. Fiz qualquer coisa para fugir daquele questionamento, porém, infelizmente, tive que responder:
-Bem, Bianca. – tentei amenizar – isto é muito complexo pois se tratam de duas lesões no mesmo local! O tempo que você deve ficar com o pé imobilizado dobra, e com isso...
Ela me olhou aflita e interrompeu-me.
-Quanto tempo? – ela questionou, áspera.
-Você, definitivamente, não vai poder lutar por, no mínimo, três meses.- eu disse, e sua reação não foi outra além de...nada. Ela ficou totalmente imóvel, acredito que tenha sido um baque enorme.
-Mas, algum dia eu poderei retomar de onde parei? – ela me fitou.
-Não, Bianca. – eu finalmente respondi, expirando o ar que nem sabia que havia prendido – As lesões causaram fragilidade e instabilidade no tornozelo e possivelmente haverá sequelas, possibilitando que outras entorses ocorram novamente. Se isso ocorrer, o seu tornozelo vai sofrer mais danificações, dificultando a total recuperação, então estas, além de causarem com mais facilidade fraturas (das quais você terá que passar por cirurgia), vai virar uma dor crônica. Somente com muito repouso e muita fisioterapia você poderá voltar a lutar, mas apenas por hobby e não mais competitivamente.
Segurei sua mão, instintivamente, e pude ver que ela perdera as forças. Então Bianca apenas engoliu em seco e eu decidi dar um espaço para ela digerir as informações.
-A tarde, após eu lhe passar algumas instruções, lhe darei alta para que possa descansar em casa. – eu disse, soltando sua mão e saindo em direção a porta.
Sua mãe me agradeceu e, quando sai do quarto, consegui ouvir seu choro abafado pelo abraço de dona Estela. Aquilo me doeu na alma.
Bianca
-[...] você poderá voltar a lutar, mas apenas por hobby e não mais competitivamente.
Essas foram as palavras que me destruíram.
Lembrei de uma cena que ocorreu quando eu comecei a lutar, com nove anos.
-Mãe, mãe, olha o golpe que eu aprendi hoje. -falei entusiasmada após chegar do primeiro dia de treino.
Atrapalhada, ensaiei o primeiro golpe que o professor havia me ensinado. Após finalizar, minha mãe aplaudiu, como se fosse a coisa mais linda que tinha visto.
-Eu ainda vou ganhar o mundo lutando Muay Thai, mãe. – disse, com um sorriso enorme no rosto e ganhando um grande abraço de dona Estela.
E com lágrimas nos olhos e este mesmo abraço encerrei meu ciclo de onze anos de luta e vários títulos conquistados. A notícia havia me atingido em cheio.
É impressionante como, em um belo dia ensolarado, seus sonhos podem desmoronar em questão de segundos, seus objetivos são destruídos, e você volta a ser apenas mais uma mera mortal sem metas, com o destino vazio.
Sei que podia estar exagerando, mas Muay Thai nunca me abandonou, estava comigo nos momentos tristes, de raiva, de felicidade e, sobretudo, no meu crescimento e formação pessoal.
-Calma, filha, não é o fim do mundo. Você não ouviu que vai poder lutar como passatempo?
Ouvi as palavras de minha mãe e apenas me afundei mais em seus braços, molhando sua roupa com as lágrimas que desciam de meu olho.
-Mãe, me deixa sozinha por favor. – vou tentar dormir um pouco.
E assim ela o fez, me deixou sozinha, apenas com meus pensamentos.
Adormeci, triste.
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Minha visão estava turva, semicerrei os olhos para tentar enxergar o que estava acontecendo na minha frente.
-Então, Bianca. – Dra. Luana falou e eu me ajeitei para escutá-la – Vim aqui dar sua alta.
Senti felicidade e ao mesmo tempo tristeza. Teria que voltar a minha rotina mas sem Muay Thai e sem Luana.
Eu apenas soltei um sorriso sem jeito, por não saber o que fazer, ela percebeu e continuou falando.
-Vou te passar algumas orientações. Preciso que você siga ao pé da letra para que este tornozelo melhore sem nem um imprevisto, certo? – ela disse, parecendo estar desanimada.
Acenei com a cabeça, agora parecíamos estar mergulhadas em um único sentimento, a tristeza. Era notável que ela estava abatida por algo, por isso questionei:
-Você está bem?
Ela, que estava escrevendo algo em meu prontuário, levantou a cabeça e, antes de responder-me, pareceu pensar por um instante.
-Seria loucura diz que estou triste porque você não vai mais lutar? – ela disse, me deixando surpresa e ao mesmo tempo alegre por saber que ela se importava comigo.
Não esqueça Bianca, ela é sua médica, óbvio que iria se importar.
Respondi, sorrindo mais do que o normal:
-Não, Luana, muito pelo contrário. – peguei sua mão, que estava apoiada na cama.
Fiz um carinho de leve, imaginado estar passando dos limites, mas não me importava, ela não se contrapôs então continuei.
-Agradeço pela preocupação e empatia que teve comigo. – disse, sincera.
-Imagina. – ela disse, agora corada, retribuindo o carinho em minha mão.
Estávamos imersas nos olhos uma da outra, apenas sorrindo e falando com o olhar.
Não podia ser loucura da minha cabeça, ela realmente estava retribuindo as investidas. Luana se aproximou de meu rosto, nossas respirações já se misturavam de tão perto que estávamos. Sabia o que ela iria fazer e eu queria, e como queria. Nossas bocas estavam quase coladas, quando uma voz pareceu ecoar em minha consciência e lembrar de quem eu não gostaria.
Paola, Paola, Paola.
Ainda que ela não fosse a melhor namorada do mundo, não podia fazer nada que contribuísse para o nosso término. Ainda que eu quisesse muito.
Afastei Luana e soltei sua mão, logo em seguida acredito que fiquei tão vermelha quanto um pimentão.
-Desculpa, desculpa. – eu disse e ela logo repetiu as mesmas palavras.
Ambas estávamos constrangidas, sem saber para onde olhar, até que ela fala:
-Desculpa Bianca, não queria ter forçado nada, desculpa. – ela disse, visivelmente encabulada.
-Não, tudo bem. É só que... bem, eu namoro. – eu disse, dando um sorriso amarelo.
Não que você quisesse né.
A voz continuava a falar, sem saber de nada. Ora.
-Vamos esquecer isso, ok?- ela pergunta.
Mas você não quer esquecer Bianca, muito pelo contrário.
Eu quase me mandei calar a boca na frente da Dra.
-Certo. Esquecido já.
Háá, até parece.
Realmente, eu não ia esquecer. Não duvidava que até iria sonhar.
-Vamos voltar onde estávamos. Você vai para casa hoje, mas precisava seguir algumas instruções. – ela me estendeu umas folhas, as quais folhei e questionei em seguida:
-“Não forçar o pé e tornozelo”- repeti – como que vou andar?
Ela riu, aliviando a tensão que havia se instaurado no ambiente.
-Você não vai – dito isso, saiu do quarto e retornou em um momento com duas muletas. -Essas serão suas pernas temporariamente.- disse estendendo elas a mim.
Minha mãe adentrou o quarto neste momento, me ajudando a sair da cama.
Corei ao ver a roupa de hospital que estava, quase havia beijado a mulher mais linda que já havia visto e estava com aquele traje.
Com a ajuda das muletas e de minha mãe, fui ao banheiro trocar de roupa. Botei uma calça de moletom, uma blusa cinza e estava ótimo, melhor do que a de antes.
Dra. Luana continuou citando as instruções, me alertando sobre possíveis dores mesmo tomando o remédio, e quanto a fisioterapia, falou:
-Você irá fazer fisioterapia uma vez por semana, te indico esta- me deu um cartão com detalhes em branco e verde. “Dra. Luiza”, repeti mentalmente.
-Obrigada Dra, por tudo que fez e que vai continuar fazendo por mim.- eu disse, a deixando com cara de surpresa. – Ah, então você acha que vou te deixar em paz? Muito provavelmente vou aparecer aqui de novo porque desobedeci alguma de suas ordens.- disse rindo, e ela também riu gostosamente.
-Espero que não, mocinha. Se for pra nos vermos, espero que seja em um bar, restaurante, ou algo do gênero. – ela disse, e eu brinquei:
-Isso foi um convite? – questionei, enquanto minha mãe olhava com um ponto de interrogação na cabeça.
-Se você quiser. – ela disse, me ajudando com as muletas. Nossas mãos tocaram-se sem querer e pude sentir a eletricidade que havia entre nós.
A atração era nítida. Mas infelizmente tinha uma barreia muito grande entre nós.
-Quando você quiser. – eu respondi, mesmo sabendo os empecilhos, uma saída agradável com uma pessoa mais agradável ainda não ia fazer mal.
Ingênua.
Encerramos nossa conversa por aí com uma promessa de reencontros. Eu, sinceramente, esperava que saísse da promessa e se concretizasse, mas só o destino iria dizer.
-Tchau, Luana – disse, olhando em seus olhos.
-Tchau, Bianca, foi um prazer. – ela disse, retribuindo e sustentando o olhar.
Minha mãe já havia ido na frente para passar na recepção e acertar os valores, portanto, decidi ousar e fazer algo que queria uma vez pra variar.
Como Luana era mais alta que eu e não conseguia ficar na ponta dos pés se não ia ser dolorido, tive que pedir ao invés de ser espontânea.
-Posso te dar um beijo?
A sua expressão foi de alegria, mas tive que interrompê-la.
-Na bochecha. – eu disse rindo. Ela corou e respondeu:
-Já é válido. – eu ri ainda mais, enquanto ela se abaixava para receber o beijo.
Me ergui para beijá-la, e me surpreendi quando ela ousou mais ainda.
Luana virou o rosto e o beijo consequentemente foi nos lábios.
E que lábios, meus amigos.
Antes de cair em si, saboreei sua boca carnuda e, mesmo contra minha vontade, mas com minha mente me repreendendo, afastei-a com uma das mãos.
-Luana! – eu disse, áspera.
-Agora eu não peço desculpas, pois eu sei que você gostou e queria. – e ela estava certa afinal de contas, mas não podia transparecer.
Virei as costas pra ela e disse em seguida:
-Até mais, Dra.
-Até muito breve, Bianca. – ela disse rindo e pude sentir seus olhos me acompanhando até sair na porta do hospital, rezando pra que ela estivesse certa e quase esquecendo o motivo de minha angústia e tristeza. Quase.
Fim do capítulo
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olivia
Em: 07/09/2019
Bom dia autora, estou gostando muito de , sua estória . Não sou boa para comentar! Manda essa namorada da Bianca passear porque, ninguem merece uma sombra negra rondando!! Meus parabéns! Sou velha demais , minha visão é difernte dos jovens! Adoro mulhers empodeiras , inteligentes e gostosas! Gosto das personagens e mais ainda da autora!!!
Brescia
Em: 06/09/2019
Boa noite mocinha.
Demorou, já estava com saudade dessas duas,rs. Já deu para perceber que algo nasceu entre essas duas, tem atração, tem vontade e nenhuma das duas parece querer esconder o que sentem . Vamos ver se conseguirão ficar longe uma da outra.
P.S: está tudo ótimo, é o seu terceiro capítulo e espero arduamente que continue, pois estou adorando.
Bacia piccola.
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